Lover. escrita por Jones


Capítulo 10
daylight. - Dean e Parvati


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=u9raS7-NisU



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Meus relacionamentos foram cruéis como as cidades em que eu vivi.

Nova York. Londres. Mumbai. 

Eu tentei algo novo em todos os lugares, até começar a pensar que o problema talvez fosse eu, mas todo mundo parecia pior quando se via mais de perto. 

Talvez fosse karma.

Abraçada as minhas pernas, usando a camisa masculina do homem que dormia ao meu lado, eu pensei nas muitas linhas que eu ultrapassei que não seriam perdoadas. Lembrei das portas de hotel que bati a caminho da saída em Nova York, por um homem que me via como uma criatura exótica e flexível e que me escondia como uma amante – o que eu descobri tempos depois que de fato eu o era. 

Lembrei do meu primeiro namorado de Londres, que dizia que me amava como se fosse nada e pelas costas dizia que eu era apenas a transa fácil. 

Lembrei do noivo que meus pais me arranjaram em Mumbai quando eu desisti de tentar com os ocidentais. Padma era feliz com o dela, por que eu não seria? 

Porque eu não sou Padma.

E então eu o abandonei por causa dele. Dean. Dean Thomas. 

Nos conhecemos em Hogwarts, nos anos 90. Ele sempre fora uma graça, porém vivia agarrado a Ginevra Weasley – atualmente Potter. Lembro que minha melhor amiga na época, me fez odiá-lo porque ele andava com o ex-namorado "babaca" dela. A verdade é que ele tinha um sorriso tão bonito que era impossível sentir algo abaixo de admiração ou até mesmo atração por ele e quando eu o vi novamente, quase dez anos após a última vez – depois daquela batalha que me dera pesadelos por anos – eu não consegui olhar para nada que não fosse ele. 

Eu simplesmente não quero olhar para nada agora que eu o vi. 

Ele estava numa maca levada às pressas para meu andar no St. Mungus. Azaração problemática, me disseram enquanto eu checava seus sinais vitais. 

— Vinte e sete anos, auror. - Me passaram a ficha enquanto eu o reconhecia de alguma forma no seu rosto desfigurado. - Foi atingido em uma apreensão. Não me deram uma identificação para ele ainda, mas Weasley o trouxe e disse que voltaria. 

— Dean. - Falei de repente e ele confirmou com os olhos abertos, mas sem conseguir falar. Parecia uma daquelas crises alérgicas dos trouxas. - Ele está com dificuldades para respirar, tragam e apliquem a poção de desobstrução. 20mg diluídas em soro. 

— Sim, Patil. 

— Dean? Você está no St. Mungus, quarto andar. Consegue me entender? - Falei para ele que só me olhou de volta com os olhos aflitos tentando confirmar desesperado com a cabeça. - Está tudo bem, ok? Vamos apenas desobstruir suas vias respiratórias e então vamos começar os contrafeitiços para resolver sua... Situação. 

Seus lábios estavam inchados e enormes, sua pele num tom arroxeado e esverdeado ao mesmo tempo, com algumas bolhas saindo de seus braços e pernas musculosos. Não era a primeira vez que eu lidava com algo assim, afinal éramos o andar especializado nisso. 

Se foram horas até que eu conseguisse fazer suas feições voltarem ao normal. E mais outras horas até eu conseguir tirar as bolhas do corpo. Várias azarações combinadas... Seu rosto estava perdendo o tom esverdeado quando ele me disse: 

— Obrigado. - Tentou sorrir, mas imagino que seu rosto ainda estivesse dolorido. 

— Não há de quê. - Eu encolhi os ombros. Já passava de meu horário e eu continuava ali, monitorando suas poções e sua respiração.

— Não sabia que tinha se tornado medibruxa. - Ele murmurou, com a voz rouca. 

— Quem me conheceu na época da escola jamais imaginaria. - Sorri, timidamente. Uma das enfermeiras até me encarou... Não era conhecida como a pessoa mais sorridente do hospital. - Padma parecia a mais indicada para o trabalho, mas Hogwarts nos mudou.

— O que aconteceu com ela? - Ele disse tentando se sentar na maca. Levantei a parte de cima dela com a varinha. 

— Usa sua inteligência para o bem em seu casamento feliz. - Falei, me sentando na cadeira para acompanhante ao seu lado. - E você, o que tem feito além de ser azarado por aí? 

— Eu? - Ele riu emendando uma tosse em seguida. - Só tentando sobreviver a mais um dia no trabalho. Como você vê, não estou sendo tão bem sucedido nisso. 

— Hey, é por causa de vocês aurores descuidados que não conhecem uma anti-azaração que eu ainda tenho um emprego! - Sorri mais uma vez, girando os olhos. 

— E você? O que tem feito, além de salvar aurores estúpidos como eu? - Riu, tomando o copo de água ao lado da cama e fazendo uma careta. Provavelmente sua garganta ainda ardia. 

— Nada demais. Dividida entre Londres e Mumbai. - E por algum motivo seus olhos olharam para o anel de noivado que eu usava no dedo, pois já era fim do expediente e eu deveria estar de saída. - É, tem isso. 

— Ah. - Respondeu num muxoxo. 

Continuamos conversando, Dean me contou histórias fascinantes sobre seu trabalho de auror, disse que trabalhar com Potter e Weasley o fazia se sentir na escola novamente: eles eram muito implicantes. Eu me sentia leve como há tempos não me sentia e ele me fazia rir. Meu rosto doía com o tanto que sorria. 

Quando nos despedimos naquele dia e eu resolvi ficar no meu apartamento de Londres enquanto ele permanecia de observação, eu percebi que eu não conseguia pensar em nada mais agora que eu estava pensando nele. 

Era como se eu estivesse dormindo por vinte anos numa noite escura e sombria e de repente tivesse amanhecido. E eu queria aquela luz. 

E era loucura. Não sei se era kāma ou se algo finalmente tinha se despertado em mim... Algo como o desejo de ter alguma felicidade. Meus dramas amorosos me fizeram ver a vida de uma maneira cínica e infeliz, mas agora era diferente.

Eu conseguia ver. 

E por isso o esperei ter alta no dia seguinte e o levei para almoçar. E no dia seguinte. E no dia seguinte... Até o dia que eu decidi que eu o diria sempre a verdade, mas nunca adeus. Mesmo se ele não me quisesse. 

— Eu não vou mais me casar. - Falei durante o almoço, estávamos experimentando comida tailandesa trouxa no restaurante a dois quarteirões do St. Mungus. Estava de plantão hoje, então aquele era meu horário de almoço... Às três da tarde. - Quer dizer, eu quero um dia. Mas eu estou a fim de você. 

Ele se engasgou com a comida. Seus olhos saltaram e adquiriram um tom vermelho, estava lacrimejando e tossindo. Tomou um gole do chá gelado. 

— Você está bem? - Perguntei preocupada, enquanto dava mais uma garfada da comida estranhamente deliciosa que não tinha nada de tailandesa. Eu já estive na Tailândia. 

— Você não pode me soltar umas bombas assim do nada e continuar comendo de boa. - Ele disse, regulando a respiração.

— Eu só estou te falando a verdade e estou morrendo de fome. - Encolhi os ombros e ele começou a rir. - O que foi? 

— Você me disse "estou a fim de você" como quem diz "vou comprar pão depois do trabalho". - Apertou os lábios prendendo o riso. 

— Você sabe que eu não como pão. - Franzi o cenho e entendi o que ele estava dizendo, finalmente. Como pude ser tão indelicada?  - Você gostaria que eu tivesse sido mais romântica? 

— Não é isso. - Ele abaixou a cabeça rindo. - Como seus pais encararam a notícia? 

— De que eu estou a fim de você? Não contei pra eles. - Limpei meus lábios com o guardanapo enquanto ele revirava os olhos rindo. - Ah, do casamento? Nada bem. Talvez eu deva esperar uns anos para vê-los novamente. Afinal "eu trouxe vergonha para nossa família". 

— Você cancelou o casamento por minha causa? - Ele apertou os olhos fazendo uma careta enquanto eu imitava a voz do meu pai. 

— Sim e não. - Encolhi os ombros de novo e dei mais uma garfada. - A verdade é que se eu tenho sentimentos por outra pessoa eu não devo me casar, e eu tenho sentimentos por você. 

Eu não costumava me sentir insegura em relação ao sexo oposto. Eu sou inteligente, bonita e sensual de acordo com algumas pessoas e com o espelho que eu tenho em casa. Eu tenho um bom salário e sou bem viajada. 

— Você sente alguma coisa por mim? - Mordi o lábio inferior e ele apenas sorriu. - O que foi? 

Estar com ele era como estar num dia constantemente ensolarado. Dourado. Mesmo naquela massa cinzenta que era Londres... Eu me escondia na máscara de prática, fria e direta porque aquele era o único relacionamento em que eu realmente gostaria de estar, depois de todos esses anos que eu afastei e feri pessoas boas e confiei nas erradas. 

Ele me dissera que sempre se recusou a se acomodar com alguém. De repente era isso. E isso me fez perder o apetite enquanto ele levava minutos que pareceram horas para me dizer algo.

— Eu estou almoçando com você às três da tarde. - Ele me disse simplesmente e sorriu aquele sorriso deslumbrante. - Estou com fome desde às onze. 

Ri enquanto ele dava a volta na mesa para me levantar e me beijar a boca com gosto de pimenta e molho de soja. 

Me esperou do lado de fora do hospital aquela noite com flores e me levou para jantar. Fez eu sentir o meu corpo como nenhum homem tinha sido capaz até aquele momento. Ficou para o café da manhã e para o almoço, e eu pedi para que ficasse para janta. 

Pedi para que ficasse para sempre.

E agora eu olhava para seu corpo maravilhoso e torneado à luz da lua... Pensando em como um dia eu pude acreditar que o amor era algo preto e branco que ou você escolhia sentir ou não, ou até mesmo que deveria ser uma paixão avassaladora em tons de vermelho. Mas na verdade, apesar dos tons de vermelho que apareciam todos os dias em nossa cama, o amor era dourado como o corpo negro dele na luz fraca do meu abajur misturado a da lua. Era dourado como os olhos dele, cor de âmbar quando se acendiam felizes por me ver. Como a luz brilhante da sua alma boa, solícita e amorosa. Era dourado como as bordas e bainhas do meu sári vermelho no nosso casamento. 

O amor era dourado como a luz do dia.

E ele era minha luz.


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Notas finais do capítulo

Esse foi o capítulo final! Obrigada a todos que acompanharam e a Is, pelos comentários em todos os capítulos, mesmo sendo sempre a primeira a ler minhas historinhas ♥



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