BOIN - Amor das Profundezas escrita por AJFrancklyn


Capítulo 51
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— Alô! Pedro…

— Olá.

Querendo ou não, do outro lado da linha estava a garota com quem ele imaginou se casar, o que não era pouca coisa.

— …Você está bem?

— Estou sim. E você?

— Já estive melhor. — Ela deixou escapar. Mas buscou outra abordagem. — E o seu trabalho?

— Ah! Sei não! A gerente nova é muito exigente. Eu acho que o pessoal de lá não vai aguentar ela por muito tempo.

Ela sentiu que até o tom de voz do rapaz mudara.

— Cobra tanto assim?

— Se apenas cobrasse era bom. Vez ou outra demite um e quando contrata é só estagiário ou técnico “meia-boca”.

— Nossa! Então vocês estão sobrecarregados.

— Sobrecarregados? Sobrecarregados? — Ele riu nervosamente. — Já perdi a conta de quantas vezes, nesses últimos dias, pensei em abandonar aquilo lá. Tá asfixiante.

E ela sabia o quanto Pedro era dedicado e gostava do trabalho e, para ele estar falando daquele jeito, é porque as coisas não iam bem. Contudo ela não se deixou tomar pela empolgação.

— Avalie com calma essa possibilidade. Você é um profissional muito especializado. Tenho certeza de que não encontraria dificuldades em conseguir vaga em outra empresa.

— Verdade…

— Ou então você tenta outra coisa. — Firela achou que agora deveria arriscar mais.

— Outra coisa? — Aquilo o deixou curioso. — Que outra coisa?

— Você pode tentar o cargo de gerente de operações.

— Olha… até poderia. Mas não me agrada a ideia de ter a Mirtis na minha sombra. Sem contar que aumentaria a minha cota de responsabilidade e desgaste. Boa tentativa, Firela.

— Desculpe! Eu só queria…

— Vai ser sempre assim. Você me empurrando e eu empacando. Isso vai te frustrar. Acredita em mim.

— Como você quiser, Pedro. Tudo bem pra mim.

— Eu preciso ir. Vou dormir. Boa noite!

— Boa noit…

Ele desligou antes que ela o respondesse. Foi à cozinha, se sentindo aborrecido com a conversa, colocou água para esquentar no bule e sentou-se à mesa. A exaustão foi tanta que apagou ali mesmo, antes de preparar o chá.

 

A sensação era de um prazer tamanho, que não sabia se era sonho ou se estava vivo. Ele abriu os olhos e viu que já não estava no mesmo lugar de outrora e que, à sua frente, havia algo muito grande, que tapava quase que completamente a sua visão do céu dos céus. Ficou admirado pois, quem olhasse de fora, tinha a impressão de ver uma cidade que flutuava em algum lugar do espaço-tempo. Mas sentia que não era apenas aquilo. Havia muito tubos, canhões, antenas e, talvez, propulsores.

“Será uma na…”                  

Seu movimento de subida estancou e, logo em seguida, iniciou o de descida. Era algo que ele não controlava.

Distante dali, a criatura caminhava em retorno para o ponto de origem para tentar sair, e também porque temia retaliações. Por isso, agora, ao invés de caminhar, corria. E, com pouco tempo, chegou às praias do mar. Entrou na água, mas nada aconteceu. Foi à montanha e às docas, nada. Olhou tudo por ali, mas não havia saída, estava presa naquele lugar. Sem ter mais o que fazer, esgueirou o seu corpo acinzentado por sobre uma moita e se deitou. Foi depois de algum tempo que viu a forma humana descendo pelo céu. Era o rapaz. E os olhos dela brilharam numa chama fria de desejo, afinal era uma alma o que ela via. Então o seguiu, se ocultando na vegetação litorânea, até a beira da praia, onde ondas espumadas lambiam a areia e, quando já estava bem baixo, com a cauda, aquilo o prendeu pelo pescoço, e o arrastou para além das docas. Um lugar há muito esquecido, e que talvez um ou outro além dela soubessem onde era.

Após a longa corrida, e se sentindo asfixiado, Pedro acordou.

 

[Godship]


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