BOIN - Amor das Profundezas escrita por AJFrancklyn
Dentro do ônibus, ela admirava a própria coragem. Talvez não fosse apenas questão da coragem em si, mas tinha também a curiosidade e a necessidade. Porém o que realmente conectava tudo isso era a forma tão empolgante com que Alessandra lhe contava as coisas.
“Será mesmo que os homens daqui são diferentes?”
Ela se lembrava das poucas experiências, tempos atrás, e que não foram tão agradáveis. Talvez por serem garotos novos, mais perdidos do que ela.
Déboras olhava pela janela contando as paradas. A nova amiga disse que, depois do grande arco no centro da cidade, era só contar mais cinco paradas de ônibus e descer na seguinte.
“Será que ela já esteve com muitos homens? Ou mulheres? — Talvez nunca viesse a saber. — Ela é tão bonita.”
Pode ser que essa veneração por Alessandra, a tenha impulsionado a seguí-la, quase obedecê-la. Com uma ponta de preocupação ela se recordou do pedido que fez e da resposta da nova amiga:
“— Como é a minha primeira vez, encontra alguém legal, tá?”
“— Fica sossegada.”
E sentia que seria atendida.
A parada chegou e ela desceu. Foi com sorrisos nos rostos que se encontraram:
— Oi!
— Olá! — Se abraçaram.
— Estamos na hora?
— Temos folga, Déboras. Agora vamos ao shopping de rua.
— Pra quê?
— Vem!
Segurou em sua mão e a puxou. Ambas caminharam para o comércio que ficava um quarteirão abaixo. Na verdade o local era mais como um pequeno centro comercial com lojas de acessórios, roupas, decoração, alimentação. E tinha o que elas precisavam:
— Um espelho? Tenho um aqui comigo. — Déboras enviava a mão na bolsa.
— Não garota! Um grande espelho. — A loira praticamente a arrastava para dentro do banheiro. Já dentro, Alessandra retirou um pacote de dentro da mochila e entregou — Veste isso.
— Mas…
— São roupas.
— As minhas não servem?
— Déboras, você não pode entrar num lugar daqueles vestida como uma adolescente.
E a conduziu até um dos box. A garota entrou e, em minutos, saiu.
— E então? Como estou?
— Uau! Ficou bem demais. — A loira a observava com olhos cobiçosos.
— Como você acertou na numeração da saia, blazer, blusa e sapatos?
Déboras ainda ajustava a roupa no corpo.
— Confesso que foi golpe de vista. A sua sorte é que tenho algumas peças em casa.
A garota ouvia a amiga enquanto fazia alguns ajustes diante do espelho.
— Mas, preciso de tudo isso?
— Até você completar 18 anos? Sim! Precisa se passar por uma mulher mais madura para não ser abordada em recepções e entradas.
Agora Alessandra fazia a maquiagem de Déboras.
— Entendo.
— Olha, eu mesmo já passei por situações desastrosas, porque não tive quem me explicasse. Foi quando encontrei a Vera. Ela me ensinou a usar a maquiagem e as roupas certas para dar esse ar mais maduro.
Quando terminou, mirou-a no espelho, gerando fascínio em Déboras.
— Uau! Nem eu mesmo me reconheço. Estou… divina.
— Tá bom, amiga. Menos.
Ambas riram.
— Tão menos assim?
Alessandra a acariciou nos cabelos.
— Não tão menos.
Mas havia alguma outra coisa em seu olhar. Disfarçando, pegou as roupas de Déboras, as suas maquiagens e os e colocou na mochila.
— Você quer me dizer algo mais?
E buscava o olhar da amiga.
— Não há tempo. Vamos!
— Tá! — Déboras deu uma última olhada no espelho e ajustou saia e bolsa.
A loira pegou sua mão e saíram do banheiro. Enquanto caminhavam rumo à rua, Alessandra a instruía:
— Lembre-se: movimentos serenos; mantenha o equilíbrio sobre os saltos; respire com calma; não rebole enquanto anda; fale pouco e; não tenha pressa.
— Nossa! Porque tudo isso?
Ambas pararam do outro lado da rua, já próximas da entrada do hotel.
— Faz parte do seu “novo eu”. Agora é o seguinte: cabeça erguida e mão na alça da bolsa. Na recepção, com a voz firme, avise que é aguardada no apartamento 511, pelo senhor Amaury. Se tudo der certo, a pessoa vai te direcionar para o elevador.
— Mas e se der errado?
Alessandra hesitou por um instante.
— Dará certo!
Déboras sorriu pouco insegura.
— Eu estarei aqui fora, te esperando — Alessandra passou um pouco de confiança à amiga — Agora vai para não se atrasar.
A morena arrumou os cabelos e foi saindo. A loira procurou por um banco e se sentou nele. Só viu a amiga novamente, horas depois.
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