BOIN - Amor das Profundezas escrita por AJFrancklyn


Capítulo 17
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Não. Pedro nunca se aproveitou de Firela pelo fato dela ser tão sujeita a ele. Também nunca fechou a porta definitivamente. Não que considerasse a possibilidade de retorno, mas tinha em mente:

“Nunca diga: dessa água não beberei…”

Até porque sentia um grande apreço pela garota que conhecia de longa data. Mas não ia muito além desse sentimento. E ele já sentia assim há algum tempo. Era tudo muito bom quando estavam juntos, mas era apenas bom. E, lá no fundo, Pedro sentia que podava o potencial de Firela. Foi com esse pensamento que a encontrou numa noite há dois meses:

— Eu não acredito que está me dizendo isso. — Mas havia uma dose de compreensão na voz da garota.

— Você sabe que estou certo.

Firela o amava e, em sua mente, achava que o seu sentimento era suficiente para os dois.

— Não queria que terminássemos assim. Eu acho que ainda podemos…

— Não! Não podemos, Firela. Eu já não sei o que fazer ou que te falar, então é… fundamental… — Ele gostava dela, por isso a dificuldade em terminar a relação.

— Pedro!

— Adeus! Fique bem.

Ainda com essas lembranças, ele parou numa lanchonete de rua, pegou dois sanduiches baguetes, um chá gelado e retornou para casa. Na cozinha lanchava quando ligou o rádio:

 

“— …Boa parte das religiões acredita nisso.” — Dizia o entrevistado.

“— Mas… um salvador? Nos dias de hoje? Como seria isso?”

“— Sim! Nos dias de hoje, mas de uma forma diferente. Muitos já seguem os seus preceitos. Ou seja, ele não vem para ensinar, mas para buscar os seus separados.”

“— Sr. Júlio, eu sei que o senhor é um grande estudioso do assunto além de líder de uma das maiores religiões do planeta. Então pergunto: Há espaço para uma fantasia como essa na vida do ser humano.”

“— Por tudo o que estamos vendo nesses momentos, e pelo que o senhor acaba de falar, respondo que sim. Mas nem todos estarão preparados ou aceitarão isso.”

“— Confesso para o senhor, que estou pasmo.”

“— Não fique. Ainda não.”

“— Eu gostaria de perguntar…”

 

Pedro desligou o rádio e foi para o banheiro. Ele nunca foi muito religioso. Fazia uma ou outra reza ensinada pela família, mas nada além disso. Até gostaria de seguir alguma religião, mas não conseguia o apego para se disciplinar. Foi para o banheiro, entrou no box e ligou o chuveiro. Entre a toalha e o espelho, o ser mantinha a atenção focada nele, como se aguardasse o momento certo.

Terminado o banho, o rapaz saiu se enxugando. O ser permanecia parado, observando todo o corpo de Pedro mas, principalmente, olhava para a sua cabeça.

Ele vestiu o short e foi para o quarto. No armário pegou lençol e fronhas limpos. Tirou os sujos e colocou do lado da cama.

“Amanhã eu coloco pra bater na máquina.”

Deitou e esperou o sono chegar. Tudo isso sob o olhar atento de quem aguardava o momento chegar. O que não demorou.

Fazia algum tempo que passara por uma quantidade considerável de arbustos. A vegetação, outrora rasteira, foi dando lugar a árvores maiores, o que o fez questionar:

“Onde se escondiam?”

Pensou ao analisar que o declive deixado para trás fora muito acentuado. E não só isso. Sentia também outra mudança: a de temperatura. Sim. O frio aumentava a medida em que Pedro avançava. E mais. O que lá atrás, se iniciou em uma planície e chegou em um profundo declive, agora dava lugar ao aclive, suave, mas perceptível. E o próprio frio obedecia a isso pois, à medida em que o rapaz caminhava subindo, a temperatura baixava. Tanto que não foi surpresa quando começou a nevar. Flocos de neve balançavam de um lado para o outro, numa queda suave e sem vento, apenas descendo e se depositando sobre galhos, folhas e solo. Um manto branco que agora se estendia para todos os lados que ele olhasse, e que já comprometia a sua visão do horizonte. Foi assim que, ao chegar ao topo daquela colina, Pedro vislumbrou uma cadeia montanhosa que começava ali e se estendia por milhas e milhas, até se perder de vista. Eram muitas elevações, vales, desfiladeiros, mas principalmente neve e frio. Pedro mantinha o deslumbramento quando, de repente, ouviu passos rápidos sobre a neve, e ele voltou a si, atento ao que se passava. Sua atenção agora estava ao seu redor, tentando localizar alguma coisa que não sabia bem o que era, mas que o cercava, o seguia. E ouviu novos passos e, de relance, viu algo bem escurecido, que se chocou contra várias árvores ao seu redor, causando a queda de muita neve, o que quase o isolou. O rapaz se manteve atento ao barulho dos passos, mas ele foi diminuindo até desaparecer, e não mais ouvi-lo. Sentiu breve alívio pensando em retomar a caminhada. Mas desistiu. Deu poucos passos, até se recostar em uma árvore e acordar.

 

[Cadeia Montanhosa Setentrional (de Melian)]


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