Meu telefone tocou em algum lugar do quarto. O relógio digital ao meu lado me mostrava que já eram oito e meia da manhã. Achei o telefone e olhei para a minha colega de quarto. Ela se remexeu um pouco, mas não acordou.

— Alô? - Nem olhei o visor.

— Alô pai, bom dia pai. - Jackson me saudou. Relaxei na cama.

— Oi filho. Como está, já tomou café da manhã?

— Eu já, mas titia Alice já está comendo outro pedaço de bolo. - Ele sussurrou. Sorri cúmplice.

— Guarda dois pedaços pro pai?

— Guardo papai, a titia Bella vem?

— Ela vai. Vamos estar aí antes do almoço, tá bom?

— Tá. - Ele ficou em silêncio. - Papai?

— Diz.

— Eu ainda vou ser seu bebê?

— Que pergunta é essa? Claro que vai.

— Mas a mamãe disse que você vai ter outros bebês.

— Sua mãe está certa, mas eu sempre vou amar meu primeiro bebê, até você implorar para eu não te chamar de bebê.

— Eu deixo papai, mas eu sou muito grande já.

— Não importa bebê.

— Papai?

— Diga Jackson. - Suspiro. Ele está com medo de algo.

— Será que a tia Bella vai me perdoar por ter falado "aquilo" naquele dia? - "Aquilo" foi há quase seis meses atrás.

—Vai ter que perguntar para ela.

— Aí papai, estou preocupado. - Prendi a risada. Preocupação devia ser problema só dos adultos.

— Eu vou falar com ela por você, tudo bem?

— Tá bom. Tia Alice, não come mais não, é pro meu pai e pra minha tia também. Tchau papai! - E a ligação caiu.

Jackson ganhou um celular que só faz ligações, tira fotos e faz gravações, tem um rastreador também. Ela anda com ele para todo lado e sempre me liga quando não estamos juntos. Desde o dia em que Bella quase perdeu o bebê, Jackson estava pisando em ovos, ele pediu desculpas a ela, mas era difícil lidar com a culpa, então ele não a tratava como tratava a todos. Ele tinha medo de magoa-la. Ele pediu desculpas e eles recomeçaram. Eu sabia que sempre que batia a insegurança, Jackson culpava o que ele tinha feito de errado. Agora, depois do casamento, Bella sempre tenta incluir ele em tudo. Jane não acha ruim e mal fala conosco, só nos vemos em datas importantes para o nosso filho. Eu tinha medo de chegar ao momento mais difícil da minha vida.

Jane e Félix ainda estavam juntos, mas o bebê tinha efeito "tóxico" nela, é um modo rude de dizer, mas ela teve eclampsia e sofreu uma grande hemorragia. Eles foram recomendados a não mais ter filhos. No mês passado, eles foram para um cruzeiro e estão incomunicáveis. Jackson está feliz, mas todos sabem que ele se importa com a falta da mãe.

Depois de finalmente encontrar a mulher da minha vida, perdê-la e depois reencontrá-la, eu tinha medo de Jackson não me ver como pai. Antes eu nem sabia que ele não era biologicamente meu, mas isso não fazia diferença. Ele é parte de mim. Ele é um Cullen e só Jane foi a errada ali. O acerto mesmo foi me dar a paternidade dele. Jackson é meu. E agora também é dela: Da minha esposa.

Ela suspirou ao meu lado e ficou de costas para mim. Me encostei ao seu corpo quente e cheirei seu pescoço. Ela vestiu uma blusa folgada e uma calcinha e eu sabia que ela estava acordando agora. Ela virou e ficou de barriga para cima. A blusa escorregou e seu ventre avantajado apareceu. Estava ali o motivo da conversa de Jackson sobre bebês.

Em alguns meses, ele teria uma irmã.

A barriga de Bella estava paradinha. Até que umas ondulações apareceram. Ela resmungou um pouco e alisou a barriga. Minha filha se mexeu de novo e a mãe abriu os olhos. Ela parecia sentir dor.

— Está tudo bem?

— Bom dia amor. - Ela diz evitando a pergunta. Eu a encaro sério. - Ela está muito agitada, estou ficando com falta de ar. Me ajuda? - Ela piscou os olhinhos e eu não pude resistir. Beijei rapidamente os lábios dela e a ajudei levantar.

— Caminhada?

— Caminhada.

Nos vestimos e saímos do chalé. Morávamos ali, no acampamento. Mas era temporário. Consegui trazer muitas das minhas coisas para Forks e consegui a guarda majoritária de Jackson. Jane entendia e ela até mesmo agradeceu, iria iniciar uma nova etapa no trabalho, depois das férias que estava tendo, e não daria atenção devida ao nosso filho. Então passei a reformar a casa que encontrei aqui perto, mais perto que a casa dos meus pais. Quando acabar, nos mudaremos. Eu queria uma cozinha maior, pois Bella ama grandes espaços, e eu amo Bella. Minha mãe sempre aparece para colocar suas mãos sobre o jardim e essa é mais uma surpresa para a minha esposa.

Seguimos e paramos na casa de Jessica e Mike, os dois fizeram um tipo de chantagem emocional conosco e sempre fazíamos nossas refeições por lá. Bella só ajudava no almoço e no jantar, mais sentada do que antes. Culpa minha, fiz uma filha grande. Mike entrou com uma caixa de donuts açucarados e coloridos. Minha esposa pulou no lugar e se sentou no sofá na frente da mesinha onde ele depositou a caixa e saiu. Tinha pedido isso para ele ontem, sorte a minha ter um amigo assim. Justo quando o que eu menos queria era sair de perto dela.

— Só um e depois outro mais tarde.

— Dois agora e não reclamo.

— Bella. - Cocei a nuca.

— Amor da minha vida, razão do meu viver... - escutei as risadinhas de Mike e Jéssica da cozinha. Bella estava passando os dedos sobre os meus cabelos e terminava atrás da orelha, onde um repentino arrepio surgiu.

— Um e o outro nós dividimos. - Ela fez bico, mas aceitou. Beijei o biquinho e ela sorriu.

— Quando vão para casa do seu pai? - Jessica perguntou enchendo a mesa de comida.

— Dez horas saímos. Preciso ver como está a reforma e quero chegar para o almoço.

— Tem que trazer o pequeno J aqui Edward. Assim como seu avô fez com seu pai e ele com você.

— Jackson é muito urbano. Ele não gosta de nada que não precise de internet.

— Ele é só um garoto, a hora de fazê-lo mudar de ideia é agora. - Ela resmungou e nos sentamos ao redor da mesa.

— Saia para pescar com ele, aceite uma das ofertas do meu pai e do seu avô. - Bella sorriu e mordeu o donut, ganhou um bigodinho doce.

— Eu não acho que quero passar vergonha na frente do meu filho. - Limpei o doce e lambi o dedo. Todos eles riram e Mike se ofereceu para assistir eu ser arrasado por meus parentes no lago. Eu neguei. Acharia outra tarefa.

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Dobrei a esquina da casa dos meus pais e um carro passou buzinando. É o carro do meu pai. Buzinei de volta. Paramos na frente da porta da casa. Bella tocou a campainha e Jackson atendeu. Minha mãe apareceu, nos cumprimentou e levou a caixa de donuts para a cozinha. Parece que minha filha adorava eles. Subi para pegar as almofadas especiais de Bella, sempre tinha elas por perto para que ela não ficasse desconfortável. A deixei na companhia do meu pequeno. Quando voltei, hesitei nos passos para escutar a conversa na sala.

— Mas e se ela não gostar de mim? - Jackson tremia a pena direita em total sinal de ansiedade.

— Como não? Você é todo bonitão, inteligente e esperto, até eu queria ter um irmão como você. - Bella cantarolava em sua resposta.

— Você não teve irmãos? - A postura de Jackson relaxara. A perna mesmo assim tremia.

— Tenho um irmão sim. Mas ele é da marinha e vai demorar um tempo até ele aparecer aqui.

— Você gosta de ter um irmão mais velho?

— Sim. Ele me protege até hoje, me aconselha, me dá bronca, mas tudo pelo meu bem. Me ensinou a brincar e andar de bicicleta. - Ela conta suas memórias de Emmett.

— E sua mamãe? - Ele a olhou nos olhos dessa vez. Queria muito saber daquela resposta.

— Eu perdi ela quando era bem pequena. Ela ficou dodói. - Ela fala, mas em momento algum sua voz demonstra tristeza. Talvez saudade.

— E você? Não vai embora cedo também? - Ele se aproximou pesaroso. Vi Bella pegar levemente a mão do meu filho.

— Espero que não. Mas eu já fiquei doente. Bem mal. Mas sabe quem me estendeu a mão primeiro? - Ele negou. Não repelia o contato com Bella. - Meu irmão. - Ele se surpreendeu, mesmo com todo o contexto anterior. - E ele sempre vai estar lá por mim quando eu chamar.

— Quero ser assim. - Jackson olhava fixamente a barriga de Bella.

— E você vai. Se esforce, mas não tanto, sua cabecinha jovem não precisa de preocupação. Seu pai, sua mãe e eu estaremos aqui por você. - Ela acariciou a cabeça dele.

— Mamãe disse que sempre quis que eu tivesse um irmão. - Ele sorriu. Bella colocou a mão dele sobre, provavelmente, mais uma ondulação da nossa filha.

— Viu só, até ela sabe que você está pronto.

E o que me fez perceber que tinha lágrimas nos olhos foi piscar de susto. Se é que isso é possível.

Mas Bella e Jackson estavam se abraçando.