Em Tempos de Guerra escrita por Slinwood


Capítulo 5
Audiência com Hakuja Sennin




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Duas horas se passaram desde que entraram na boca da Serpente.

Como prometido, Macao viajava com extrema rapidez, tanta que o trio precisou se sentar em lugares melhores para não saírem deslizando pelo chão. Kazuko estava acostumada com o vai-e-vem, mas Minato tinha ataques de ansiedade a cada curva que faziam; já Mei vomitava tudo o que tinha no estômago e além para a irritação de Macao:

—O que foi que eu disse sobre sujeira aqui dentro, hm!? Senhorita Kazuko, ajude-a AGORA! - a voz dele ecoou.

—Mil desculpas senhor, mas não sei mais o que fazer! - respondeu a kunoichi enquanto ajudava a Raíz a se deitar.

—Acha mesmo que gosto disso!? Quem está perdendo as tripas aqui sou- - ela não conseguiu terminar a frase sem jogar a cabeça pro lado e vomitar mais uma vez. Kazuko suspirou e deixou que ela pusesse tudo para fora. Vez ou outra ela espiava Minato no outro banco. Estava deitado com um dos braços cobrindo os olhos fundos e murmurava sem parar. Preocupada com o amigo, perguntou em tom sarcástico para aliviar o clima:

—Hey, isso é bem diferente de viajar com os sapos, não acha?

—Você não faz ideia... aaan, sem ofensa, Macao-sama – ele logo completou.

A Serpente apenas bufou e não disse nada. Kazuko sabia que depois de tudo aquilo o preço da próxima viagem seria ainda mais alto. Ela teria de preparar mais um pergaminho com coelhos selvagens.

—Kazuko-san, eu... eu não me sinto nada bem – o amigo comentou baixinho. De longe, a kunoichi podia ver que ele suava feito louco, além de ter a pele tão pálida quanto papel.

Urg, Maldito Sasori, pensou ela.

—É o veneno. Parece que não foi feito para matar de cara, mas sim incapacitar – respondeu Kazuko, agora conferindo a outra ao seu lado – Como se sente-

O olhar gélido que a Raíz lançou em sua direção foi o bastante para que ela calasse a boca. Mei estava sentada com os cotovelos apoiados nas pernas e o rosto entre as mãos. Seus longos cabelos de cor púrpura pareciam desbotados, exatamente como os de Minato. Vê-los naquele estado era quase desesperador, ainda mais quando não conseguiam bolar nenhum plano decente para achar o antídoto. O tempo que passavam lá dentro era completamente improdutivo e desanimador:

—Aqui, Mei, deite-se um pouco. Vai ajudar – Kazuko a inclinou até que estivesse confortável no longo banco de madeira. Agora até mesmo ela murmurava, o que fez Kazuko pensar se aquilo era um dos efeitos do veneno.

X

Passado mais algum tempo, Macao foi diminuindo a velocidade até parar de se mover. Tanto Minato quanto Mei dormiam pesadamente, mas Kazuko continuava alerta para qualquer mudança no estado dos dois. Sabendo que ainda não deviam ter chegado ao destino, perguntou em voz alta:

—Senhor, o que houve? Alguma coisa no caminho? Se quiser posso sair e ajudar.

—Não, não é nada disso..., mas vocês estão com problemas, senhorita Kazuko – a kunoichi franziu o cenho com a resposta hesitante.

—Como assim? Explique.

—A Cobra Branca Sábia solicita uma audiência agora mesmo. Mandou que eu a avisa-se antes de invocá-la na Caverna Ryuchi.

A garganta da kunoichi se fechou no momento em que ouviu aquele nome. Nada de bom podia vir de um encontro com a Sábia, mas ninguém tinha a audácia de negar seu chamado, até por quê seriam invocados mesmo a contragosto. Aquilo tudo era apenas um teatrinho, uma cortesia da parte dela:

—Senhorita Kazuko? O que devo dizer a ela?

—Aham – pigarreou antes de falar – Diga a ela que... que eu aceito.

—Muito bem, mas leve seus amigos. Não quero nenhum me sujando de novo, hm – completou a Serpente em tom de desgosto.

—Eles estão desmaiados, senhor. Não poderia deixá-los aqui até eu voltar? Prometo que vão se comportar – a Serpente sibilou ao ser contrariada, mas após alguns segundos o sibilar parou e ela voltou a falar:

—Sim sim, mas eu juro que se a outra fêmea vomitar mais uma única vez vou-

Antes que Macao completasse a ameaça Kazuko desapareceu numa nuvem de fumaça branca. Pelo visto a Sábia estava impaciente para vê-la, o que definitivamente não era bom sinal. No segundo seguinte em que abriu os olhos a kunoichi já não estava mais no salão, mas sim numa câmara subterrânea afundada na escuridão.

Sem ter como enxergar, resolveu apelar para outros sentidos. Seu nariz pinicava com o forte cheiro de cigarro, mas não tinha como saber com certeza de que direção ele vinha. A ideia de uma cobra fumando era estranha, então para ter certeza de que não estava ficando louca Kazuko ativou suas habilidades especiais. Ela quase teve um ataque cardíaco ao sentir um chakra tão esmagador, tão intenso quanto o de uma Bijuu. Engolindo em seco, seguiu para onde a Sábia repousava, tomando cuidado para não tombar de cara no chão.

Seus passos hesitantes e batimentos aceleradíssimos eram os únicos sons naquela câmara; a sensação era de estar caminhando direto para uma armadilha. Ela não podia deixar de se perguntar o que Mei e Minato diriam se soubessem que fora sozinha para um local como aquele. 

Não demorou muito para que ela chegasse até seu destino. Literalmente seu destino. Tochas começaram a se acender ao longo das paredes e aos poucos os olhos de Kazuko se acostumaram com a luz. O local era enorme, ainda mais alto do que tinha imaginado. Alguns metros à sua frente estava um trono de pedra, e sobre ele a origem daquele chakra monstruoso. Mesmo sabendo que a cobra era capaz de sentir seu medo, Kazuko expôs a melhor máscara de tranquilidade que conseguia e seguiu em frente.

Mais de perto a kunoichi podia ver como a cobra era única: por todo o corpo coberto de escamas brancas haviam anéis dourados, além de um colar e um chapéu pontiagudo bem no alto na cabeça; ambos exibiam esferas de cores diferentes no centro. Seus olhos eram amarelados e, assim como um ser humano, tinha cabelos longos e ruivos. Em sua boca carregava um cigarro que era a origem do cheiro que Kazuko sentira mais cedo. Toda a sua aparência era imponente, e a kunoichi fez questão de abaixar a cabeça e se ajoelhar ao se dirigir a ela:

—Hakuja Sennin. É uma honra vê-la pela primeira vez - não havia sequer um traço de nervosismo em sua voz, o que pareceu divertir a Sábia.

—He, tenho certeza que sim. Seja bem vinda, Sasaki Kazuko – a voz dela era forte e feminina, assim como a kunoichi imaginou – Levante-se.

—Ah sim, obrigada. Macao-sama me informou que desejava uma audiência. O que posso fazer pela senhora?

—Direto ao ponto, gosto disso. Vejo que vamos nos entender – ela parou e tragou fundo o cigarro no canto da boca. A fumaça fazia o nariz da outra arder – Tenho observado você e seus... companheiros desde que invocaram Macao. Pelo que entendi àqueles dois não irão durar muito, não é?

—... temo que não.

—E o que planeja fazer para salvar as vidas deles? Afinal, você é a líder.

—Esperava chegar a nossa base e pedir a ajuda de Tsunade-sama, senhora. Ela está em missão, mas eu poderia facilmente chamá-la de volta.

—Oh, a Princesa Lesma! Aquela criança tem bastante potencial, tenho de admitir.

—Mas...? - Kazuko não estava gostando nem um pouco do rumo daquela conversa.

—Mas não será o suficiente. Não para o veneno de Sasori da Areia Vermelha.

—E o que acha que devo fazer? Tsunade-sama é nossa única salvação - quando a Cobra Sábia sibilou de satisfação, Kazuko se deu conta de que dissera mais do que devia. Isso dera brecha para algo que mudaria completamente sua vida.

—E se eu oferecer minha ajuda? Conheço a cura de todos os venenos que existiram, existem e existirão - ela deu mais uma longa tragada – Ah, e sei que O Raio Amarelo de Konoha é essencial para o fim da guerra, estou errada, Sasaki-san?

—... não senhora.

—E também sei que se essa missão falhar, você perderá a cabeça pela incompetência, além de ter o nome de seu pequeno clã manchado por toda a eternidade. Até agora disse alguma mentira? - Kazuko engoliu em seco antes de responder.

—Não senhora.

—Então podemos concluir que eu sou sua única salvação - se cobras pudessem sorrir, ela com certeza teria um largo sorriso sádico estampado no rosto – Mas como tudo na vida tem um preço, lhe direi o meu.

Kazuko encarava os próprios pés, esperando pela proposta:

—Você deverá invadir cada um dos esconderijos de Orochimaru, matar todos os experimentos humanos e não-humanos que encontrar e trazê-los até mim.

—Nada feito – a jovem respondeu sem hesitar.

—O que foi que disse?

—Eu disse... nada feito. Senhora.

Um clima de tensão dominou o ambiente, e enquanto levantava o olhar do chão para encarar bem fundo nos olhos da Cobra, ela começou a rir, mas a rir tanto que deixou o cigarro escapar da boca. Com rapidez, ela o recuperou com a calda e o pôs novamente em seu lugar, tragando profundamente:

—Hehe, nada feito? E por que não? Estou curiosa, Sasaki-san.

—Não causo extermínios e muito menos genocídios. Não sou esse tipo de ninja – a Sábia pareceu bem surpresa com aquela resposta.

—E que tipo de ninja você é, então?

—Do tipo que tem um código moral, senhora.

Hakuja Sennin apenas a encarou sem responder de imediato. Nunca havia conhecido um humano que tivesse um "código moral" e houvesse sobrevivido para contar sua história. A Sábia percebeu que a subestimara, e por isso resolveu dá-la mais uma chance:

—Muito bem, então vamos negociar. Qual é o seu preço pela vida de dois shinobis habilidosos a beira da morte?

—A senhora aceitaria minha vida?

—Pff, sem querer ofender, criança, mas você não me valeria de nada a não ser encher o estômago por uma hora no máximo. Vai ter que lançar uma proposta melhor.

Frustrada com toda aquela conversa, Kazuko precisou parar e pensar com clareza. O que poderia ser valioso o suficiente para satisfazer uma Sennin milenar?

Ao invés de uma ideia, um nome surgiu em sua cabeça. O nome de alguém tão desprezível que fez o estômago de Kazuko revirar.

Shimura Danzo.

A partir dali ela sabia o que fazer:

—O que me diria se oferecesse espionar Shimura Danzo de Konoha, líder do ANBU, criador das Raízes? - aquilo chamou a atenção da Cobra Sábia.

—Hm, continue.

—Se a senhora está interessada nas pesquisas de Orochimaru com certeza está em Danzo também, certo?

—...

É, foi o que pensei, refletiu a kunoichi. Ela podia sentir que estava apostando certo, e por isso continuou falando:

—Servi como ANBU por cinco anos e descobri muitos podres sobre esses dois. Kinjutsus, sequestros, experimentos proibidos, e principalmente o uso de técnicas especiais que a senhora ensinou pessoalmente a Orochimaru. Tudo isso para os piores fins possíveis, não é verdade?

—... sim, é verdade. Ótimo, você tem meu interesse. Qual a sua proposta final?

—Espionar Danzo, descobrir o máximo que puder e trazer as informações para a senhora - a Sábia bufou, balançando a cabeça em negação.

—Ainda não é o suficiente. Veja bem, Kazuko-san, não me importo nem um pouco com sua vidinha de ninja e muito menos com suas guerras, mas não posso tolerar os abusos que meros humanos fazem com as técnicas que ensino - ela parou por um instante, tentando se acalmar enquanto tragava de seu cigarro, agora perto do fim - É uma ofensa à o que represento.

—Eu... eu entendo.

—Por isso aqui está minha contraproposta. Você deverá fazer tudo o que me falou, capturar Danzo e trazê-lo até mim quando a hora chegar. Também irá até os esconderijos de Orochimaru e queimará tudo o que tenha a ver com suas pesquisas.

Bem, com aquilo Kazuko poderia lidar. A parte de capturar Danzo seria a mais desafiadora, já que o homem nunca tinha menos de dois guardas do ANBU o escoltando, mas ela daria um jeito. O que realmente a deixou sem chão foi perceber que tudo aquilo seria considerado traição contra o País do Fogo e a Vila da Folha, por mais que Danzo fosse a escória do mundo ninja.

Ela nunca mais poderia pisar em casa.

Respirando fundo e tentando se acalmar mais uma vez, Kazuko olhou fundo nos olhos da Sábia e respondeu com toda a convicção:

—Temos um acordo, fechado.

A Cobra Branca sibilou satisfeita e respondeu:

—Fechado – uma aura verde surgiu em volta dela mesma assim que disse a palavra. Lentamente, um fio de chakra partiu de seu colar e veio até o peito de Kazuko, bem na altura do coração.

Energia natural, pensou.

A sensação era boa, mas ela tinha noção de que aquilo era como um selo entre as duas:

—Isso irá reforçar o contrato de invocação com as serpentes da Caverna Ryuchi, além de impedi-la de descumprir o acordo. A partir de hoje seu destino está traçado, sua vida e a de seus companheiros estão em minhas mãos, e você deverá obediência apenas a mim – quando acabou de dizer a última palavra o fio verde desapareceu, e Kazuko sentiu seu poder crescer.

—Entendido, senhora.

—Aqui está o antídoto para aqueles dois desgraçados. Aplique as seringas no pescoço, e eles se recuperarão dentro de algumas horas – duas serpentes de cerca de um metro de comprimento surgiram detrás do trono de pedra e, com objetos pequenos na boca, se aproximaram de Kazuko e os deixaram na palma de sua mão.

—Muito obrigada, Hakuja Sennin, não esquecerei do que fez por nós hoje.

—Tenho certeza que não. Agora vá, vejo que eles não têm mais do que alguns minutos de vida.

Com uma reverência final, a kunoichi se afastou, segurando firme as cápsulas com o antídoto até ser mandada de volta para junto de Macao.  

 


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