A sirene da escola soou anunciando o fim das aulas, os alunos rapidamente pegaram seus materiais e se dirigiram até os corredores onde se encontravam os armários. Sans tentou abrir seu armário algumas vezes sem sucesso, após errar a combinação pela décima vez, deu um soco no armário e praguejou.

─ Esqueceu sua combinação de novo? ─ Olhou na direção da voz e avistou Chara.

─ Bem...Sim. ─ Disse coçando a nuca um tanto sem graça. ─ Pode me ajudar? ─ Sans e Chara se conheciam desde o primeiro ano do ensino médio, então era bastante natural eles compartilharem coisas como a combinação do armário.

─ Claro. ─ Segurou o pequeno cadeado que mantinha a porta fechada e colocou a combinação, o que fez o cadeado se abrir imediatamente. ─ Voilá.

─ Como sempre, você salvando minha pele. ─ Retirou seu casaco do armário e o vestiu, depois o trancou novamente com o cadeado.

─ Me pergunto o que você faria sem mim. ─ Soltou um risinho. Então os dois logo fizeram seu caminho para fora da escola, em direção as suas respectivas casas, que ficavam bem próximas uma da outra. ─ Hey, você gosta de lasanha, certo? ─ Disse Chara puxando assunto.

─ Hã... Sim? Mas você não já sabia disso?

─ Foi só pra confirmar. Bem, já que você gosta, que tal aparecer lá em casa pra jantar? Eu irei fazer lasanha. ─ As está altura os dois já haviam parado de caminhar. Sans arqueou as sobrancelhas e a encarou, Chara o olhava com expectativa, a espera de sua resposta.

─ Você, Chara Williams, está me convidando pra jantar? E o jantar é uma das minhas comidas favoritas? Quem você quer que eu mate e por quê? ─ Os dois riram da afirmação. ─ Mas falando sério, eu sei que você quer me pedir alguma coisa, pode ir falando.

─ Tá, você me pegou, tem uma coisa sim. ─ Fez uma pausa para procurar as palavras certas. ─ Daqui a duas semanas vai ser o baile de formatura e como eu sei que você não tem par, pensei em te chamar para ir comigo. Então, o que me diz? ─ Sans ficou em silêncio apenas para aumentar o suspense, o que fez Chara inflar as bochechas e se irritar. ─ É pra hoje.

─ Ok, ok. Desculpa. ─ Disse rindo. ─ A resposta é sim.

─ Sério? ─ Acabou demonstrando mais empolgação do que queria, então tapou sua boca com ambas as mãos e se repreendeu mentalmente. ─ Q-quer dizer, que bom. ─ Chara sorriu e os dois voltaram a andar.

─ Não acredito que ia me fazer uma lasanha só por isso. ─ Chara deu de ombros.

─ Você nunca foi fã de dançar. Então pensei em usar seu ponto fraco, o estômago. ─ Deu tapinhas na própria barriga. ─ Mas se você ainda quiser ir, o convite ainda está de pé. ─ Pararam a caminhada quando chegaram em frente a casa de Chara.

─ Pode apostar que irei. ─ Deu uma piscadela.

─ Então nos vemos mais tarde, até. ─ Chara foi até a porta e acenou para Sans, em seguida adentrou a residência. Sans ficou encarando a porta fechada por alguns segundos e quando foi se virar para ir embora deu alguns pulinhos de alegria, o mesmo estava tentando criar coragem há dias para convida-la para ir ao baile, agora ele tinha uma preocupação a menos. “Agora vem a parte mais difícil, criar coragem para me declarar, mas ainda tenho bastante tempo até lá.” Pensou.

                            [...]

Sans estava em frente ao espelho tentando inutilmente arrumar sua gravata. Havia chegado, enfim, o dia do baile, o que fez com que ele ficasse mais nervoso do que nunca, pois esse seria o dia que iria pedir Chara – que tinha sido seu amor secreto desde que se lembrava – em namoro. Depois de alguns minutos, finalmente conseguiu arrumar sua gravata, deu uma última olhada no espelho e respirou fundo, indo para fora do quarto.

Assim que chegou na sala, Sans ouviu o som de uma buzina de carro, presumiu ser sua amiga Rachel, a quem ele pediu o carro emprestado. Sans foi até a mesa de centro e recolheu seu celular e carteira, os guardando no bolso, em seguida foi até a porta e saiu da casa, trancando-a. Já do lado de fora, foi até Rachel, que estava com as costas apoiadas em seu carro.

─ Toma cuidado com meu carro heim. ─ Disse Rachel enquanto entregava a Sans a chave do veículo.

─ Relaxa. Seu carro não vai ficar com um único arranhão, dou minha palavra.

─ Tô falando sério, não quero marcas de batom ou fluidos suspeitos no banco. ─ Sans corou um pouco e deu um soco de leve no ombro de Rachel que riu do ato. ─ Bem, divirta-se e boa sorte com o seu crush. ─ Sans deu um último aceno para Rachel e adentrou o carro, dando partida logo em seguida rumo a casa de Chara, o que não demorou muito.

Sans buzinou algumas vezes e logo viu Chara saindo da casa, a mesma estava deslumbrante, seu cabelo estava preso em um coque, usava uma meia calça e um vestido preto rodado que ia até os joelhos, nos pés estavam sapatos que combinavam com o vestido. Ela rapidamente foi até o veículo entrando no banco do passageiro.

─ Uau, você está incrível.

─ Você também não está nada mal. ─ Sorriu. ─ Bem, vamos. ─ Sans deu partida no carro e dirigiu em direção à escola. O percurso demorou cerca de 20 minutos.  Ao chegarem no local, Sans desceu do veículo e foi até a porta de Chara, a abrindo, então ele travou o carro e os dois foram em direção ao prédio da escola.

Eles atravessaram alguns corredores até chegarem à quadra, onde estava ocorrendo o baile. O local estava todo decorado e havia até um globo de discoteca que piscava nas mais variadas cores. Chara acabou atraindo alguns olhares e assobios, isso acabou deixando Sans com o sangue fervendo, mas ele se esforçou para não deixar isso transparecer, ele queria que aquela noite fosse perfeita.

─ Então, tá afim de ir atacar a mesa de comidas? ─ Falou apontando para uma mesa branca, que estava repleta de comidas e bebidas. Chara revirou os olhos e riu.

─ Você não existe. Qual é? Isso é um baile, vamos dançar um pouco. ─ Ela o puxou pelo braço e o levou até a pista de dança, onde alguns casais dançavam animadamente.

─ Mas vou logo avisando, eu não levo jeito pra dançar e você sabe bem disso. ─ Chara fez uma expressão pensativa e segundos depois estralou os dedos.

─ Espera um pouco, eu já volto. ─ Chara disse, sumindo na multidão, deixando para trás um Sans confuso, minutos depois a música agitada deu lugar a uma música lenta, então todos os casais começaram a dançar com seus corpos colados. ─ Voltei, sentiu minha falta?

─ Você tinha saído? Nem notei. ─ Os dois riram e Chara lhe deu um soco de leve no braço, Sans fez uma falsa expressão de dor.

─ Essa música nós podemos dançar, é só você seguir os meus passos. ─ Segurou uma das mãos de Sans, colocando a outra em sua cintura, então os dois começaram a se mover lentamente no ritmo da música. ─ Viu? Você já pegou o jeito. ─ Chara sorriu. Sans reparou que logo atrás dela, estava um casal cujo garoto estava lançando alguns olhares mal intencionados em direção a Chara, ele removeu sua mão da cintura da garota e mostrou o dedo do meio ao rapaz, que desviou o olhar sem graça.

─ Sabe, você está realmente muito bonita.

─ Sua mãe não te ensinou que mentir é feio? ─ Falou dando uma risada.

─ Eu to falando sério, você está linda. Muito linda... ─ Ele a olhou nos olhos e começaram a aproximar seus rostos lentamente, quando seus lábios estavam quase selados. A música acabou e novamente uma música agitada começou a ecoar pelos autofalantes. A mudança repentina de música fez com que o casal saísse do “transe”, então ambos ficaram um tanto sem jeito.

─ Quer ir comer agora? ─ Disse Chara tentando amenizar o clima.

─ Ah, claro. Vamos!

                           [...]

Era perto de meia noite quando o baile acabou, mas em vez de irem para casa, Chara e Sans resolveram ir até uma colina que havia ali perto, onde dava para ter uma ótima vista do céu. Os dois ficaram lá sentados sem fazer nada por um tempo, apenas admirando o céu noturno.

─ Ainda não acredito que Josh e Heather foram coroados rei e rainha do baile. ─ Chara falou com a indignação clara em sua voz.

─ Por que liga tanto pra isso? Vamos estar formados daqui a pouco tempo e ninguém mais irá dar uma foda pra isso.

─ Só achei zoado, principalmente pelo fato de que todo mundo sabe que a Heather é uma chifruda. ─ Chara deu uma risadinha baixa.

─ Se isso serve de consolo, você sempre vai ser a minha rainha.

─ Uau, isso foi tão gay. ─ Ela continuou, enquanto apoiava sua cabeça no ombro de Sans. ─ Mas uma rainha não pode ser uma rainha sem um rei. ─ Chara segurou a mão de Sans e entrelaçou seus dedos, dando um aperto firme.

─ Você é bem lerda às vezes. ─ Sans disse e Chara levantou sua cabeça encarando-o, confusa. ─ Se eu te disse que você é minha rainha, obviamente é porque eu sou o seu rei. ─ Ela sorriu com a afirmação e fechou os olhos, se aproximando um pouco do rosto de Sans que pareceu entender o recado, então logo acabou com a distância que existia entre eles, selando um beijo, que durou alguns segundos. ─ Então, agora somos oficialmente namorados?

─ Seu bobo. ─ Chara lhe acertou um soco de leve no braço, em seguida apoiou sua cabeça no colo de Sans.

Desde o primeiro momento em que viu Chara, Sans cultivou um sentimento por ela, que, de alguma fora, julgou ser amor, então ele sempre achou que no momento em que se beijassem iria sentir alguma coisa diferente, mas naquele momento, tudo o que sentiu foi o vento frio da noite. Tão frio quanto ele mesmo era por dentro, só não havia descoberto isso ainda.