Eu nunca imaginei... escrita por alicinha


Capítulo 2
A viagem


Notas iniciais do capítulo

Olá, trouxe mais um capitulo pra vocês, espero que gostem. Quero agradecer a Sombra da Noite por ter comentado. Obrigada!



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— Como assim vamos nos mudar? - Falei atônita - Sem mais nem menos? Não podemos nos mudar, eu tenho emprego, amigos e toda uma vida que construímos! O que vai acontecer com a casa? Eu não quero ir por favor, é brincadeira não é? É isso, tem que ser brincadeira!

— Calma Elizabeth, não é brincadeira e não se preocupe, você consegue outro emprego. E também não precisa parar de falar com seus amigos daqui, além do mais você pode arranjar outros amigos lá em Costa Mar. - Disse ele muito calmamente.  

 

— Costa Mar? - continuei- Vocês não estão falando sério mesmo. Trocar uma cidade como o Rio de Janeiro por Costa Mar que não tem nem o que, 10 mil habitantes? 

— Na verdade tem 12 mil e uns quebrados - Corrigiu minha mãe, de cara feia.

— Grande diferença! - Rebati. - Eu não vou sair daqui pra ir pra um fim de mundo onde não tem absolutamente nada, podem ir tirando o cavalinho da chuva. Vou alugar uma casa e morar sozinha. - Mas eu sabia que isso era impossível, meu salário mal dava para minhas continhas, nunca daria pra pagar aluguel, contas e todo o resto. Mas eu estava muito irritada com isso. - De quem foi essa ideia de se mudar? Mãe e as suas irmãs, vai ficar longe delas? Pai, o senhor tem seu emprego, vai largar tudo pra se mudar para uma cidade fantasma?

— Minhas irmãs são adultas, nenhuma precisa de mim pra nada. E além do mais, Costa Mar não é muito longe, e elas vão nos visitar sempre que quiserem. E o seu pai arrumou um projeto lá que vai durar bastante tempo, então tudo está arranjado. - Disse minha mãe. - E Hadrian, continue falando com a Liz porque eu estou muito cansada e com sono. Boa sorte amor. - E ela saiu assim, plena como se o assunto fosse banal.

— Lizzie - Começou meu pai e eu não gostei muito do seu tom de voz - Queremos que você desacelere um pouco. Eu e sua mãe achamos que vai ser melhor pra você no interior, você sai muito, gasta todo o seu dinheiro em bebidas e futilidades que não acrescentam em nada. Eu sei que falei mais cedo sobre a importância de curtir e tudo o mais, mas a vida não é só isso minha filha. Queremos que você gaste seu dinheiro de maneira responsável, faça algum curso, compre materiais para pintura, você adora pintar e é muito boa, mas não vejo você fazendo isso há muito tempo, nem lembro a última vez que ouvi você cantar. Confie em mim, essa mudança vai ser benéfica pra nossa família, 

— Com você falando assim até parece que eu sou uma daquelas meninas horríveis e fúteis. Eu não sou assim e nunca vou ser! E se vocês querem tanto que eu mude meu jeito, porque não continuar aqui? Não entendi o porquê de termos que nos mudar. Eu posso fazer um curso, sei lá, de administração ou qualquer coisa que vocês quiserem, mas por favor, que fiquemos aqui. Por favor pai.

— Impossível, já aceitei o projeto em Costa Mar. Mas acredite Liz, vai ser bom pra todo nós. Sem contar que é uma cidade muito bonita, com praias exuberantes e o povo é muito hospitaleiro.

— Eu quero que o povo se dane! Olha, vocês podem ir, mas nem pensem em me levar junto. 

Fui para o meu quarto chorando. Quem eles pensavam que eram? Como puderam decidir uma coisa tão importante sem nem me consultar antes? Eu queria desaparecer. Imagina só, largar todos os meus amigos, meu emprego                 e tudo mais por causa de um capricho dos meus pais. Que coisa mais ridícula. 

 

(...)

 

Duas semanas depois, num sábado chuvoso, cá estávamos eu e meu pai no carro, indo em direção a nossa nova vida. Minha mãe já tinha ido alguns dias antes de nós, para organizar a mudança e tudo o mais. Depois de uma semana inteira sem falar com eles, eu não tive outra escolha a não ser acompanhá-los, infelizmente. Passei uma 8 dias treinando a menina que iria me substituir no trabalho e usei meus últimos dias para me despedir dos meus amigos. Laysa chorou muito e disse que iria me visitar sempre que pudesse e Jhon, bom, ele foi ele mesmo e só disse que iria sentir minha falta. O restante do pessoal queria marcar de sair quando eu voltasse pra visitar. Foi tudo muito difícil. Mesmo sendo só algumas horas de viajem até Costa Mar, estava me parecendo que o lugar nunca chegava. Eu já estava completamente entediada, principalmente por não poder ver direito a paisagem, já que estava chovendo. Depois do que me pareceu uma eternidade, a chuva cessou e eu fiquei aliviada por estar conseguindo ver algo diferente que não fosse nuvens. A estrada era cercada de coqueiros e plantinhas litorâneas. Até que era bonito, admito. Mas muito deserto para o meu gosto. Agora faltavam apenas alguns quilômetros pra chegar e após a descida de uma serra, pude avistar a cidade minúscula lá em baixo, e a frente apenas o mar sem ilhas. A vista era de tirar o fôlego. Fiquei pensando no que poderia ter de bom pra se fazer nessa cidade e em como as pessoas se divertiam e mais um monte de outras coisas.

— Não é lindo Elizabeth? - meu pai me tirou dos meus devaneios.

—  É sim, é lindo.

Chegamos na cidade e logo depois passamos pelo centro, observei algumas lojinhas minúsculas e um mercado bem pequeno em comparação com os da capital, depois passamos por várias ruas arborizadas até chegarmos na casa alugada - era relativamente perto da praia, meu pai dissera, mas afinal toda a cidade era perto da praia de qualquer maneira. - Observei que a maioria das casas eram pequenas, mas muito bonitas, com jardins floridos e árvores no quintal. Nossa casa não era diferente, uma construção baixa e bem feita, com um muro baixo completamente dominado por trepadeiras e apenas um portãozinho de madeira no meio, o que significava que o carro ficaria na rua. A casa que era pintada de verde claro, era muito bonita, com uma árvore enorme na área do jardim e muitas plantas na entrada. Meu pai me ajudou a pegar minhas coisas no carro e entramos.

— Amor, chegamos! - Gritou meu pai.

— Finalmente! Demoram muito.

— Foi por causa da chuva, tive que vir bem devagar, você sabe como a estrada é cheia de curvas. - disse ele.

— Isso é verdade amor. E você Elizabeth, o que achou da cidade? Não é bonita? - perguntou ela.

— Até que é sim, os paralelepípedos dão um ar praiano legal. Parece uma ótima cidade pra passar férias. A questão é morar, né. - Falei um pouco irritada. - Onde é o meu quarto? 

Ela me conduziu até o quarto que era bem menor do que o meu antigo e também não tinha banheiro, mas era aconchegante e eu gostei. Tinha uma janela com vista para a rua e  Era pintado de azul claro, o que me deixou feliz - azul era minha cor favorita. 

O guarda roupa e a escrivaninha já estavam montados, a cama estava nos conformes, eu só precisaria colocar minhas coisas no lugar, daria trabalho mas pelo menos iria ocupar minha mente. Era quase hora do jantar e eu só tinha arrumado a cama e metade do guarda roupa. Já estava entediada e estressada. 

— Liz - Meu pai me chamou. - Sua mãe precisa de uns temperos pra terminar de preparar o jantar, vai no mercado pra ela. 

— Mas eu não sei onde é! - rebati.

— É só você seguir até o final da rua, virar a esquerda, depois direita e seguir reto. - disse minha mãe da cozinha. 

Meu pai me deu a chave do carro e eu fui devagar, para tentar gravar o caminho. Depois de cinco minutos, cheguei ao mercado que se denominava “Hiper”, o que eu achei bastante engraçado dado o tamanho pequeno do mesmo. Depois de escolher as verduras, fui para a fila do caixa e percebi que tinha umas pessoas me olhando. Eles já deviam saber que alguém novo se mudou, cidade pequena era assim, todo mundo sabia de tudo de todo mundo. Quando chegou a minha vez, a menina do caixa - uma loira com cara de deboche - me olhava com desdém. 

— Nunca te vi por aqui, você é da família nova que se mudou? - perguntou ela com falsa simpatia.

— Sim, sou sim - Respondi com um meio sorriso. - Acha que eu vou gostar daqui?

— Acho que você vai odiar.

— Então tá, obrigada. - Menina estranha. Torci para que não fossem todas assim ou senão seria difícil fazer alguma amizade. 

Peguei o carro no estacionamento e saí. Olhei para os comércios e tentei ver alguma loja em que eu poderia colocar um currículo, até que uma coisa chamou minha atenção. Uma oficina mecânica até bastante grande para a cidade, achei que era uma boa, talvez eles estivessem precisando de alguém para atender e ficar no caixa e pelo menos eu já tinha uma experiência. Fiz uma anotação mental de depois levar um currículo lá. Dobrei umas ruas erradas na volta pra casa - as ruas eram muito parecidas - mas no fim deu tudo certo e eu consegui chegar. 

 

(...)

 

Acordei com a claridade incomodando meus olhos. Olhei a hora no celular e já passava das 11:00. Eu nunca acordava assim tão tarde, mas também pela hora que eu fui dormir não tinha nem como acordar cedo. Mas valeu a pena, terminei de arrumar tudo, até instalei meu computador velho que eu raramente usava. Levantei ainda bastante sonolenta, fiz minha higiene pessoal e fui procurar algo pra comer.

— Olha, apareceu a margarida. Bom dia dorminhoca - Cumprimentou minha mãe.

— Bom dia - respondi reprimindo um bocejo. - Cadê o pai?

— Tá lá na varanda colocando os ganchos da rede que eu comprei.

— Rede? Nunca tivemos rede - refleti.

— Mas essa é uma cidade praiana que combina com redes.

— Ai mãe, a senhora pensa em cada coisa - Nós duas rimos.

 

O dia transcorreu normalmente, meu pai colocou duas redes na varanda da frente e cuidou das plantas do jardim, minha mãe arrumou a área de lazer no quintal com os nossos móveis de varanda e eu fiquei alternando entre ajudar um e outro. Ao final, todos estávamos muito cansados e minha mãe decidiu que iríamos jantar fora. Nos arrumamos e saímos.  Meu pai tinha dito que a cidade tinha uns restaurantes bons, por causa do turismo na cidade, o que me animou um pouco. 

Seguimos em direção à praia, que segundo soubemos, abrigava os melhores restaurantes. Me surpreendi com o movimento na praia, aparentemente a cidade se concentrava nela, já que nem o centro era tão cheio, mas também, era domingo à noite e imaginei que não houvesse outras coisas pra se fazer na cidade que não envolvesse algo na praia. Avistei um grupo de jovens ao redor de uma fogueira, estavam longe para eu reparar nos rostos, mas era nítido que estavam cantando. Um rapaz tocava violão e todos pareciam estar se divertindo. Eu gostava de coisas assim, talvez pudesse conhecê-los em breve. 

 

(...)

 

Depois de jantar, meus pais quiseram tomar uns drinks e como só tinha velhos no restaurante, decidi que iria caminhar na praia e disse a eles que me ligassem quando quisessem ir embora e saí para a praia. 

 

A orla estava bem iluminada o que era ótimo, também estava ventando e um pouco frio, o que me fez me arrepender de ter vindo de short e camiseta, achei que as noites de verão deveriam ser quentes. Depois de ter caminhado por uns dez minutos, decidi me sentar na areia. O oceano estava lindo, com ondas altas e revoltas, um mar bem diferente do de casa;lá o mar era liso e calmo. Casa. Doeu pensar nisso, agora minha casa era outra e eu senti tanta falta da antiga. Estava em Costa Mar só tinha um dia e já sentia uma saudade imensa da minha verdadeira casa, derramei algumas lágrimas e me levantei pra ir embora. Enquanto caminhava voltando, chorei ainda mais e minha visão ficou turva. Andei de cabeça baixa por um momento e esbarrei em alguém, quando me dei conta estava estatelada no chão. Uma mão surgiu na minha frente para me ajudar a levantar.

— Moça, me desculpe, eu não estava prestando atenção no caminho, mas se bem que você também não estava não é? - disse o rapaz num tom bem humorado. Eu aceitei a mão dele e me levantei limpando a areia.

— Me desculpe,  desculpe mesmo, eu não tinha te visto…- Foi quando olhei para o seu rosto e me surpreendi. O rapaz era muito bonito. Corei e abaixei a cabeça pra limpar os resquícios de lágrimas.

— Você não parece bem. Está chorando? - perguntou ele

— Não, eu estou bem. Obrigada por me ajudar e me desculpe mais uma vez - Falei rápido e saí apressada.

— Espere! - Chamou ele - Mas eu já tinha ido.  

 


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Notas finais do capítulo

É isso gente, comentem o que estão achando, em breve retorno, bjs.



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