[18 DE JULHO, SÁBADO]

10:59 AM

 — TÁ FALTANDO ALGUÉM? 

Alice, pela décima quarta vez, gritou, segurando-se firme no corrimão enquanto olhava para fora na tentativa de achar algum pestinha foragido. Eu, Roxanne, Rose e o professor Baldrick tínhamos sido incumbidos de verificar os dormitórios e pegar todos os objetos que parecessem ser de crianças esquecidas. Por sorte, eu voltava ao ônibus com os braços cheios de inutilidades: ursinho de pelúcia, sacolinha de doces, guarda-chuva, óculos de sol, boné e duas camisetas vermelhas e fedidas. 

A boa notícia do fim do acampamento era que todos tinham sobrevivido  — a maioria sem nenhum arranhão  —, estavam felizes, falantes, tinham até conquistado uma corzinha, e já não eram mais os esquisitos de uma semana atrás. Eram, apenas e simplesmente, crianças voltando de um acampamento de verão. A má notícia era que tudo tinha chegado ao fim: atividades cansativas, banhos nas duchas externas, indigestão de marshmallows, megafones ensurdecedores, horário de dormir, crianças petulantes, cubículos claustrofóbicos e calor infernal. Subindo no ônibus sob o efeito dos berros de Hooch, eu torcia para não ter deixado nada por ali. 

 — Ah não  — foi tarde quando notei, já dava para ver os portões se distanciando pela janela. Passei a mão pelo rosto, num suspiro dramático, enquanto me encostava numa das poltronas no corredor; as cobrinhas me olhavam interessadas. 

 — O que você esqueceu, senhor monitor?  — Hilliard perguntou melodiosamente, causando risos na trupe do bolo do dragão. 

 — Aparentemente, o meu boné.

 — Que cor ele é? 

 — É preto!  — Jones respondeu de imediato, arrumando o óculos remendado no rosto.  — Eu acho que você não esqueceu, Scorp, eu vi ele com uma das monitoras. 

 — Ufa! Sua mãe ia brigar muito com você, Scorpius.

Concordei com ele, me rendendo às risadas. 

Cambaleando pelo corredor em passos lentos, ocupei um lugar vago. Alice conversava com as meninas da lufa-lufa lá no fundo, e não me restava nada a fazer além de tirar um longo cochilo. Não tive muitas horas de sono naquela noite e o horário de acordar foi cruel; seria uma boa oportunidade, e foi. Só abri os olhos quando senti alguma coisa me cutucar nos braços, ou melhor, os dedos de alguém.

— O que foi, Weasley? — sorri. Primeiro por vê-la sorrindo também, segundo por encontrar o meu boné. — Você fica ótima com ele. 

— Fico ótima de qualquer jeito. 

— Não posso discordar — tentei sentar direito, bocejando. 

— Só vim mostrar o que eu achei na cabana dos monitores — apontou para a própria cabeça. — Já ouviu dizer que achado não é roubado?

— Pode ficar com ele, se quiser — após olhar ao redor, Rose se inclinou para me dar um beijo na bochecha. — Eu tenho uma coisa para você — enfiei a mão no bolso da bermuda e peguei um papel pequeno dobrado. — Ele extraviou por alguns anos, mas… 

— Isso acontece com os melhores remetentes. Prometo garantir que ele volte para as suas mãos. Ok? — Rose deu uma piscadela antes de se levantar; suas ferinhas estavam no andar de cima. 

A ideia de ter uma resposta de um bilhete — mesmo que reescrito — fazia meu estômago revirar em borboletas e arco-íris. Após a conversa da noite passada, nós não tivemos a chance de conversar sobre como as coisas seriam após o acampamento; ou melhor, decidimos aproveitar as horas restantes de uma forma mais legal. Porém, nenhuma placa neon conseguiu tirar da minha cabeça o fato de que eu não podia, tampouco queria, ficar longe dela durante o nosso último ano de colegial. Reescrever o bilhete pareceu uma boa forma de abordar o assunto.

Quando chegamos em Londres, uma onda de lágrimas atingiu a maioria das crianças, que se despediram em abraços calorosos, tanto de afeto quanto de suor — os pestinhas estavam grudando. Tiramos uma última foto com o grande ônibus roxo atrás e, aos poucos, todo o tumulto infantil foi se dissipando. Após ajudar as minhas queridas amigas monitoras a pegar as mochilas, já consegui avistar o carro da minha mãe de longe, restava apenas me despedir delas e de Rose. 

— Aqui está a sua resposta — ela me estendeu o pedaço de papel. — E uma resposta da sua resposta. 

— Perfeito — Rose respirou fundo antes de se aproximar para me envolver num abraço. — Acho que chegou a hora de eu agradecer por todo nervoso que você me fez passar nesse acampamento. 

— Idem — após um mísero selinho, ela se afastou. — Leia o meu bilhete e, depois disso, conversamos. 

Concordei, é claro. 

Ela pegou suas coisas, acenou para mim, foi correndo até o carro onde o irmão de Alvo a esperava, e lá de dentro jogou um beijo. Num suspiro demorado — para não dizer estupidamente apaixonado —, peguei os bilhetes para ler; como sempre, meu coração pareceu ter sido jogado num liquidificador junto com algumas borboletas. 

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De: S.M. 

Para: R.W. 

Eu pensei em perguntar a mesma coisa de anos atrás, mas consegui achar sozinho a resposta, então tenho uma nova pergunta para você. 

Você quer namorar comigo?

[ X ] SIM     [ X ] CLARO     [ X ] COM CERTEZA 

(outras respostas não são aceitas) 

♥

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De: R.W. 

Para: S.M.  

Querido Malfoy, também tenho uma pergunta... 

O que vai fazer amanhã? 

Me mande uma mensagem no whatsapp com a resposta... Elas chegam mais rápido do que bilhetes e não extraviam.

Por favor, não demore. Já estou com saudade! 

Rose ♥

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FIM