Summer Camp escrita por Tahii


Capítulo 2
O Monte Merlin


Notas iniciais do capítulo

OOOOOIEEE!! Tudo bem com vocês? ♥

Estou muito, muito feliz com o feedback de vocês, de verdade ♥ escrever essa história não foi e não está sendo tão fácil, porque me vejo fora da minha zona de conforto, massss está sendo muito divertido e eu estou colocando muita fé nesses dois rs

Esse capítulo ficou meio grandinho porque me empolguei, provavelmente os demais serão menores. Espero que gostem! ♥ ♥ ♥

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[12 DE JULHO, DOMINGO]

07:29 AM

— BOM DIA, SONSERINOS! QUERO TODO MUNDO LEVANTANDO, COLOCANDO UM TÊNIS CONFORTÁVEL, PASSANDO PROTETOR NO ROSTO  PORQUE HOJE É DIA DE TRILHA! — como prometido, eu estava com um megafone no dormitório dos garotos. Uma certa alegria e bem estar tomou conta de mim quando vi os rostos atordoados de sono. — VOU ACORDAR AS MENINAS E, QUANDO VOLTAR, QUERO TODO MUNDO LÁ FORA PARA IRMOS PARA O REFEITÓRIO, ENTENDIDO? SE NÃO, MENOS CINCO PONTOS PARA CADA ATRASADINHO. 

Alguns começaram a se levantar bocejando, coçando o cabelo, cutucando o nariz para tirar meleca; estavam semi acordados, de fato, e a minha missão estava cumprida. Fui para a casa ao lado, acordei as meninas do mesmo jeito, e fiquei do lado de fora esperando todos enquanto segurava uma prancheta com a lista de nomes para fazer chamada e descontar pontos. 

— Está faltando dois meninos. Travers e Hilliard — bati o lápis na prancheta, olhando em direção à cabana. Estreitei os olhos assim que um menino loiro gordinho apareceu amarrando o tênis no ar, e um magrelo ao lado cambaleando em direção aos degraus. Peguei o megafone. — ACORDA, TRAVERS! JÁ NÃO BASTA ESTAR ATRASADO? 

— Foi culpa dos grifinórios, eles demoraram demais no banheiro — reclamou coçando os olhos. Escrevi o nome no papel para reclamar posteriormente. 

— SE ESTIVESSE ACORDADO PROVAVELMENTE TERIA ENTRADO PRIMEIRO QUE ELES. MENOS CINCO PONTOS PARA OS DOIS. VAMOS! 

— Temos que acordar cedo assim todos os dias? — uma menina perguntou, a voz quase diabética de tão melodiosa. 

— VOCÊ ESTÁ NUM ACAMPAMENTO, NÃO RESORT, PARKINSON.  

Seguimos para o refeitório, então, as crianças conversando baixinho com medo de eu gritar em seus ouvidos novamente — fator que garantiu uma bela organização durante todo o café da manhã. Eles pegaram seus pratos, sentaram-se nas mesas sinalizadas com uma bandeira verde e uma cobra prateada, e se comportaram; diferente dos outros que pareciam mais agitados. Talvez pelo fato de que Roxanne era mais agitada do que qualquer ser humano normal, Alice era boazinha demais e Rose… Rose era um dragão.

Peguei feijão vermelho, ovos, suco de laranja e fui o primeiro a chegar na mesa dos monitores. 

— Bom dia — Alice ficou ao meu lado com seu típico sorriso alegre. — Como passou a noite?

— Com calor — respondi enquanto mastigava. — Bom dia. 

— Você não é tão elegante quanto dizem — o dragão alfinetou, aparecendo com uma bandeja cheia de ovos na minha frente. — Engole antes de falar, Malfoy.

— Desde quando você se tornou parâmetro de educação? Pelo menos eu respondo as pessoas quando elas me perguntam alguma coisa — ela revirou os olhos, apertando o rabo de cavalo antes de começar a comer como uma troglodita. 

— Não se cobrem tanto  — Roxanne riu, sentando-se ao lado da prima. — O fato de vocês não terem se matado a noite ou transado — sussurrou —, já é o suficiente.  

— É mais provável que nos matemos, devo dizer — não que eu não cogitasse uma remota possibilidade disso acontecer um dia, é claro. Nunca se pode cuspir pra cima, muito menos ser hipócrita — E vocês? Dormiram bem?

— Mais ou menos, esse lugar é quente demais. Além de que eu não consegui dormir até a senhorita Longbottom parar de mexer no celular.

— Hm, não conseguiria nunca dormir com a senhorita Weasley visto que ela tem medinho do escuro — zombei, levando um pisão no pé por debaixo da mesa. — Estou mentindo?

— Não é medo, é costume.

— Ai, Weasley — suspirei, negando com a cabeça —, você é péssima.  

O que Rose Weasley mais sabia fazer era revirar aqueles olhos verdes como se fosse uma forma de deixar bem clara a sua antipatia natural pela minha pessoa, por motivos não muito bem esclarecidos. Eu nunca tive nada contra ela, muito pelo contrário; mas era difícil estabelecer uma convivência mediana levando em conta o nosso histórico e alguns apontamentos muito relevantes sobre seu comportamento, como o mau humor, a implicância comigo e sua constante tentativa de me aborrecer com comentários ácidos. Tirando isso, ela era legalzinha, e apesar de não mais achá-la a melhor pessoa do mundo, eu deveria reconhecer que ela continuava tendo uma aparência agradável, com os cabelos ruivos ondulados batendo na cintura, pernas bonitas e peitos. Rose tinha peitos

Durante grande parte do café da manhã, não teve como eu desviar o olhar para outro lugar. Rose estava na minha frente, com uma camiseta cinza colada, uma legging azul com o símbolo da corvinal, o cabelo preso e eu não tive recursos para enganar minha mente ou distraí-la do fato de que ela estava gata. Pra porra. Comi meu feijão meio alienado da história que Roxanne contava, observando de longe Travers e Hilliard quase dormirem em cima da mesa. 

Após o café da manhã, mandei todos irem ao banheiro porque subiríamos o Monte de Merlin e não queria ninguém reclamando que estava apertado. Já estávamos no marco zero — lugar onde uma estaca de madeira cheia de setas apontava para todos os lugares do acampamento — quando ainda faltavam alguns minutos para às nove horas; todos os sonserinos de um pouco mais de um metro e meio de altura ostentavam os lenços verdes que ganharam de presente embaixo de seus travesseiros. 

— Coloca ele junto com o elástico — uma garota dizia enquanto eu tentava amarrar o lenço em volta do seu rabo de cavalo. — Apertado para não cair. Aí! Não tão apertado! 

— Seu cabelo está frouxo, vai cair de qualquer jeito, precisa prender de novo — resmunguei, soltando os fios. Nunca havia feito um rabo de cavalo na minha vida, pelo simples fato de que nunca segui as inclinações da minha família de ter cabelo comprido. 

— Ai! Está puxando demais! 

— Está todo embaraçado, o que eu posso fazer? 

— Não puxar! 

— Segura a onda, Winnie.

— Meu nome é Rebecca! 

— Tá bom. Segura a onda, Rebecca — o ato de passar o cabelo no meio dos dedos exigiu um certo tempo, mas no fim ficou razoavelmente bom e com o lenço verde. — Vê se penteia direito esse cabelo amanhã, heim.

Garotas, chacoalhei a cabeça, focando a minha atenção nos pirralhos.  

Hooch e Baldrick logo chegaram — com ótimas roupas de trilha, inclusive; viseiras neon, óculos de sol, meias quase nos joelhos — e nos conduziram até um caminho no meio de um bosque, até chegarmos numa ponte de madeira que ligava o acampamento e o início da trilha. Ela era toda mole e desengonçada, parecia que iria nos derrubar a cada passo, ainda mais com as gracinhas dos moleques para fazer as meninas gritarem de medo. 

— O próximo que balançar esse negócio vai virar comida de jacaré! — ameacei enquanto me segurava nas cordas laterais, nem sabia se havia jacarés lá embaixo e não tive coragem de olhar, já que estava crente que realmente sofreríamos uma grave e dramática queda. 

A subida foi a parte menos pior. Cada um estava concentrado em não tropeçar nos próprios pés, ou em algum galho ou bicho. É claro que teve um estudante — corvino, pra variar — que teimou para pegar um sapo por achar que era uma espécie raríssima. Por sorte, Roxanne conseguiu convencê-lo de que era um sapo assassino e ele largou de mão com medo que ele invadisse seu dormitório. A cada dez alunos, mais ou menos, havia um monitor; Rose Weasley era a primeira depois da professora Hooch, Alice a segunda, Roxanne a terceira e eu por fim antes do professor Baldrick que parecia se arrastar por causa de uma súbita dor nos joelhos. 

O Monte Merlin era o lugar onde o grande feiticeiro Merlin havia morado e escrito a maior parte de seus grimórios. Era um monte com várias árvores em tons de roxo e laranja, flores esquisitas e pedras brilhantes, realmente parecia algo que um dia foi mágico. Havia apenas uma dúvida pairando no ar. 

— Mas ele subia e descia isso aqui andando? — um deles perguntou, gerando um imenso debate que findou a paz do que era para ser uma tranquila caminhada. 

Levamos um bom tempo para chegar ao topo do monte, meus pés já estavam cansados e eu só tinha um pingo de água na garrafinha. Todas as crianças foram na beira do monte junto com os professores para olhar a vista numa perspectiva mais intimidadora; eu fiquei para trás, sentando no chão para descansar as pernas. Alice, ao me ver, desmoronou ao meu lado.

— Scorpius, estou morrendo — pelas bochechas coradas, pele suada e respiração ofegante, talvez ela realmente estivesse. — Você tem um pouco de água?

— Um pingo e estou guardando para um momento de extrema necessidade — ela virou a garrafinha dela na boca, na esperança de que ainda houvesse um restinho. 

— Ninguém merece — murmurou abraçando os joelhos. — Dormi pouco e muito mal essa noite, não estava preparada para subir uma montanha. 

— O lado positivo é que todos vão dormir cedo hoje — Alice riu, abanando-se com a mão. — Falou com o Alvo?

— Não, nós não estamos conversando muito. 

— Pensei que estavam, ele até comentou sobre você antes das férias — os olhos castanhos se arregalaram de surpresa. — Comentou que vocês estavam se falando e tudo mais. 

Estávamos — ela murchou, apoiando a testa no joelho —, mas agora que ele está ficando com a Hubi é meio estranho. 

— Até onde eu sei às vezes eles ficam, mas nada sério — dei ombros. — Não é estranho.

— É sim, tipo… Ele sabe que eu tenho interesse, só que não tem reação, então talvez eu não deva insistir, entende?

— A reação dele é de se esquivar, e o seu pai é professor na escola, amigo do pai dele… E o Al não leva muito jeito com coisas sérias, ele acha que não iria cair bem. 

— Ele disse isso?

— Não. É o meu resumo das coisas que ele fala. O Alvo não é bom em assumir coisas ou falar diretamente o que pensa, mas não significa que ele não curta você. Se não curtisse, eu não saberia — o que era uma grande verdade. Alvo gostava dela, só que estava muito envolvido com os hormônios sexuais para pensar sobre questões relativas a um gostar de coração, era estranho para ele sentir borboletas no estômago. Eu não podia criticá-lo, afinal, o que eu mais queria era que as minhas borboletas continuassem bem quietas onde estavam — Manda uma mensagem pra ele puxando um papo. 

— E se ele não gostar?

— Isso não vai acontecer. Pode me usar de assunto, fala que o meu celular pifou e que eu pedi para você avisar ele. 

— E depois?

— Depois ele vai perguntar como estão as coisas.

— E se não perguntar?

— Ele vai — deitei no chão, fechei os olhos. — Pode confiar. 

— Vocês dois morreram ou o quê? — a voz de Roxanne, de repente, pareceu bem próxima. Ela estava pulando no lugar com um sorriso que quase rasgava o rosto moreno. — Não vão ver a paisagem? 

— Não, valeu — respirei fundo. 

— Qual é, Malfoy, uma subidinha dessa acaba com você? — abri os olhos apenas para encarar a irritante pessoa ruiva que se aproximou. Rose segurava um dos pés atrás de seu corpo, numa tentativa de alongamento. Ergui minha cabeça, pondo as mãos no chão como sustentação para continuar inclinado. — Se quiser eu posso te empurrar na descida, vai chegar no acampamento mais rápido. 

— Tão engraçada. Será que não deveria estar num circo? 

— Não posso roubar seu emprego, Malfoy, infelizmente — ela abriu um largo sorriso, apoiou-se no ombro de Roxanne para trocar a perna. — Por que não tiramos uma foto aqui em cima?

— Alguém trouxe celular? — eu neguei com a cabeça, a ruiva também, Alice tirou o dela da beirada da legging. — Ótimo, vamos.

— Onde? — grunhi, confuso e preguiçoso.

— Não vai querer tirar no chão, né? — Rose ralhou. 

— Vou. Estou perfeitamente acomodado — não pareceu uma boa justificativa. A loira me estendeu a mão para irmos até a beirada, de onde era possível ver várias árvores e um lago. 

Uma prima das Weasley, Lucy, tirou a foto. Fiquei ao lado de Alice, Rose na outra ponta junto com Roxanne. Isso me lembrou da minha viagem a Hogsmeade quando estava na quinta série. Eu e Adam quase rolamos montanha abaixo por causa das gracinhas do Potter, e alguém registrou o momento em que pegávamos Alvo para lhe dar uns tabefes. Era uma bela foto. 

— Alguém tem água? — perguntei enquanto elas verificavam se a imagem havia ficado boa. O sol estava começando a ficar ardido, meu rosto parecia ferver mesmo com o tanto de protetor solar que eu havia passado; talvez eu realmente devesse pedir para Rose me fazer rolar montanha abaixo. 

— Um gole — a dita cuja me estendeu sua garrafa. Arqueei a sobrancelha, só podia estar envenenada. — O quê? Não está com sede?

— Estou — peguei antes que ela mudasse de ideia. 

— Não encoste sua boca aí — ralhou me observando, as mãos na cintura como de costume. — Nem beba tudo! 

— Onde? Aqui? — lambi a garrafa, é claro, sorrindo cínico do jeito que sempre a irritava. Foi nojento, mas satisfatório, principalmente quando ela revirou os olhos e ameaçou me bater. Só não conseguiu porque dei passos largos até onde os sonserinos estavam ouvindo as histórias que o professor Baldrick contava. 

As crianças quiseram tirar fotos — comigo, inclusive! —, fizeram gracinhas, ficaram mendigando água e, por fim, começaram a reclamar de fome. Pela altura do sol eu supus que já devia ser meio dia, mas o caminho de volta dava a impressão de ser ainda mais longo e mais mortífero, tanto pelo tempo que levaríamos para chegar ao refeitório quanto pela probabilidade de alguém cair, já que a terra parecia mais escorregadia, propícia para acidentes, além de que fazia um calor danado e não havia um vento, um fator bom para que morrêssemos todos fritos. 

Ao todo, apenas cinco alunos levaram tombos e, por sorte, nenhum era sonserino. 

— Se vocês estão com fome, imagina esses jacarés! — falei alto e despretensiosamente. — Devem estar doidos para que alguém balance essa ponte e dê um grande banquete para eles — alguns deram gritinhos de pavor, e eu me diverti com isso. 

Todos chegaram semi-mortos no marco zero: suados, vermelhos, cansados, fedidos e quase mortos de fome, eu até conseguia ouvir alguns estômagos roncarem. As crianças tiveram um tempo para irem ao banheiro, devendo logo irem para o almoço. O prato do dia era batata com frango. Por alguns minutos todos ficaram em silêncio, ocupados demais com a belíssima refeição. 

Na mesa dos monitores, Rose mal havia tocado na comida; tinha um canudinho na boca e tomava uma lata de coca-cola como se fosse água.

— Será que os garotos que caíram vão conseguir brincar? — Roxanne perguntou, olhando fixamente o além. 

— Assim que eles verem os demais uma súbita disposição vai fazer com que eles consigam.

— Uma vez meu irmão quebrou o braço, mas quando viu os amigos jogarem pebolim ele não aguentou e jogou com um só — deu para ouvir o barulho do canudo na latinha vazia de Rose. — Eles vão sobreviver. 

Alice e Rose estavam certas. 

O grande evento da tarde, que começou às duas horas, foi um handball de sabão — uma ótima ideia para higienizar as criaturinhas obrigatoriamente. A sonserina ficou com a grifinória numa quadra que dava para ver o lago de esmeralda, sob a supervisão da professora Hooch. Em cada gol havia um latão com água, todo o chão estava molhado e o grande desafio era acertar sabonetes nesses latões. Jogamos várias vezes, dividindo os alunos para que uma equipe pudesse ser a finalista. 

Dentre várias quedas engraçadas, Roxanne roubando no árbitro para a grifinória, e alguns moleques ficando nervosos pela literal lavada que levaram, a sonserina conquistou os primeiros 20 pontos da competição pela Taça das Casas e a quadra ficou cheirando a sabonete de lavanda. Passava das quatro horas quando eu e Roxanne pegamos duas mangueiras para tirar o sabão do corpo da criançada. 

— SONSERINA E GRIFINÓRIA! — peguei emprestado o megafone de Hooch. — VOCÊS ESTÃO LIVRES ATÉ O JANTAR, ÀS SETE HORAS. MAS SÓ VAI COMER QUEM ESTIVER COM BANHO TOMADO.

— ESCUTOU MACMILLAN? — Roxanne o tomou de minha mão. — SEM BANHO, SEM COMIDA.

Parecia uma boa regra, em geral. Hooch nos dispensou para que tomássemos banho também, já que deveríamos ficar de olho neles de um jeito ou de outro. Chegando na cabana dos monitores, Roxanne deixou que eu fosse o primeiro, visto que as outras duas não estavam ali. O banheiro era consideravelmente pequeno, assim como tudo daquela casa. Tinha um chuveiro com uma cortina marrom, uma pia e um vaso sanitário; tudo bem apertado. Porém, a água gelada foi revigorante. 

Enrolei a toalha no quadril, já que deixei minha roupa no quarto — o que não era algo tão inteligente, mas meus neurônios haviam sofrido um sério dano pelo sol do Monte. A porta de Roxanne estava fechada, tudo parecia vazio, nem me preocupei em correr, até mesmo porque o espaço já era, isso mesmo, pequeno. Abri a porta do quarto e dei de cara com Rose tirando a blusa cinza, que parecia encharcada. 

— Ai, Malfoy, que susto — ela levou a mão ao coração, respirando fundo. Ela realmente tinha peitos. 

— Que susto digo eu — fingi demência e me virei para pegar uma troca de roupa na mochila. — A segunda na fila do banheiro é a Roxanne. 

— Ela está ocupada conversando com a Kira, não vai fazer questão. 

— E Alice?

— Foi com uma menina que bateu o queixo no chão na Ala Hospitalar. 

— Então — suspirei cansado —, por que ainda está aqui? Não quer assistir eu me trocando, ou quer?

— Talvez eu quisesse, se você não fosse tão chato — resmungou saindo do quarto. 

— Você que é irritante — fechei a porta, imediatamente pondo a minha cueca. Joguei a toalha em cima da cama, passei desodorante e, de repente, o quarto foi invadido por um pimentão. — Meu Deus, você realmente quer me ver de cueca! — fingi incredulidade, sentindo a toalha que ela segurava ricochetear no meu braço. 

— Esqueci meu shampoo, idiota. 

Logo saiu, dando risada. 

Tive alguns minutos de paz para me vestir, deitei na cama para esticar as costas, fechei os olhos, mas fui abruptamente acordado para a realidade quando o celular da Weasley começou a tocar em cima do criado mudo. Quatro vezes. Na quinta vez me levantei para ver quem era. Na tela tinha uma foto de um idiota sorridente, de cabelo batendo nos ombros e um piercing na sobrancelha: Brian Wood, o cara mais idiota do time de basquete do colégio, ou melhor, do planeta Terra. A única coisa verdadeiramente surpreendente no meio disso tudo — porque a habilidade de Rose de fazer escolhas ridículas já estava evidente há um certo tempo! — era o celular dela ter sinal no meio de um monte de árvore. Mas nenhum dos dois problemas eram meus, claro. 

Quando decidi ir cuidar dos sonserinos para que não se matassem nem nada, Weasley saía do banheiro com uma toalha enrolada na cabeça, devidamente vestida, envolta por um vapor extremamente cheiroso.

— Você tomou banho quente?  — arregalei os olhos. 

— Sim, senhor. Talvez se você também tomasse sua chatice diminuiria. 

— Hm — segui meu caminho. — Tomara que sua água fervente tenha te preparado para as cinco ligações perdidas do seu namoradinho. 

Ela falou alguma coisa e eu fingi que não ouvi. 

Não aconteceu nada de extraordinário no fim da tarde e após o jantar fomos para o salão de jogos, onde me envolvi numa partida de pebolim com o Hilliard, Travers e Bones, e detonei Roxanne no ping pong. A sonserina estava na frente da corrida para a Taça das Casas junto com a Lufa-Lufa, ambas com trinta pontos, contra a Grifinória e a Corvinal que estavam com dez pelo empenho no Monte Merlin; os pontos negativos seriam contabilizados apenas no final. Embora a maioria estivesse com uma animação sobrenatural, justamente por ser o primeiro dia, alguns pediram se já poderiam ir deitar quando o relógio ainda marcava nove horas. Ficamos enrolando ali até o horário de dormir, estabelecido como sendo às dez e meia, enquanto alguns gatos pingados jogavam uno. 

— Então você e a Kira estão namorando sério? — Alice perguntou, claramente distraída com o celular enquanto ouvia Roxanne falar da namorada. 

— Estamos ficando sério — corrigiu, mexendo em seu cabelo encaracolado. — Ela ainda não está pronta para falar para os pais que está namorando uma menina.

— Mas ela não contou pra eles? — o que eu sabia de Kira Perks era apenas que o cabelo dela era muito maneiro e que ela tocava guitarra nos shows de talento de Hogwarts. Ela era baixinha, magricela, de cabelo preto curto abaixo das orelhas, aparentemente meio torto, pintado de verde e rosa; tinha notas mais ou menos. Ah, ela usava óculos também. 

— Contou, mas ela acha que é meio cedo para falar que está namorando — Roxanne deu ombros. — Eu não ligo, sabe, cada um no seu tempo e é isso. Quando ela estiver pronta, também vou estar. E também eu não a pedi em namoro exatamente, apenas cogitamos a hipótese. 

— As pessoas tem medo de relacionamentos sérios — essa foi a minha grande contribuição para a conversa. A Weasley ruiva me olhou como se eu fosse um alienígena. — Eu não tenho medo, se é o que está pensando. Vocês sabem que eu namorei a Karen Nott um tempão. 

— É, realmente — Rose assentiu, revirando os olhos — Não sei quem precisou de mais coragem, você ou ela. 

— Ai, cabeça de tomate, corajosa é você que fica dando trela pro Wood desde o fundamental — neguei com a cabeça, teatralmente, vendo a ira em seu rosto. Roxanne gargalhou. 

— E eu lá tenho cara de quem dá trela para ele? — foi uma questão que me coloquei a pensar. 

Gostando ou não dela, Rose era uma boa aluna, mais ou menos interessante, bonita, um pouco violenta às vezes, visionária, insistente, determinada em tarefas como me aborrecer, e nem de longe fazia o tipo do Wood, e nem fumava maconha embaixo da arquibancada… Não havia como dizer que ela poderia ter algo com um trasgo daquele, era demais até para ela… Embora isso não a impediu de beijá-lo na oitava série… E nas demais séries… Claro.   

— É, Weasley, me desculpe, acho que a ofensa foi muito pesada — ela revirou os olhos, mas deu um sorrisinho antes de me descer o tapa no braço. — Mas então, Rox, se você não pediu ela em namoro, tem que pedir. 

— Scorpius tem razão — Alice murmurou sorrindo para o celular. 

— Tive algumas ideias… Só que não a ideia. 

Ficamos tentando pensar em algo até dar dez e meia. Fomos para a cabana dos monitores, o assunto se dissipou depois que Hooch e Baldrick elogiaram o nosso empenho e deram as instruções para o dia seguinte.

Ao deitar na cama percebi como estava com o corpo mole, os olhos pesados de sono; não vi Rose se deitar, mas imaginei que ela apagaria a luz e ligaria o ventilador, visto que estava um calor infernal dentro daquele cubículo. 

— Sim, está tudo bem aqui... — ouvi a tentativa de sussurro da garota na cama ao lado. Abri meus olhos, a luminária estava acesa, Rose sentada na cama, encostada na parede, o celular em seu ouvido. — Ah… Assistir o jogo semana que vem? Hm… Tenho planos com a Domi... — ela revirou os olhos, fez um bico enorme com a boca, aparentemente irritada com o que ouvia. — É, eu sei que estamos combinando faz tempo e que nunca dá certo... — Rose olhou em minha direção por um tempo, talvez tentando enxergar se meus olhos estavam abertos e se eu prestava atenção na sua adorável conversa. — Olha, a ligação tá péssima… Vou dormir, Brian. 

— Coloca seu celular no modo avião, Weasley — pedi, virando de barriga para cima, colocando o braço em cima da cabeça. O ventilador estava fraco demais. — Ele fica vibrando e acendendo durante a noite. 

— Faça o mesmo com o seu. 

— Ele está desligado e dentro da gaveta, Weasley, além de que não costumam me mandar mensagens desesperadas de madrugada.

— Como sabe que que são desesperadas? — ela riu, deitando-se. 

— Intuição. Deveria desligar o seu também, é um bom método para fugir de pessoas

— Sua vida perfeita está complicada? — eu virei de lado, para encará-la. 

— Ai, Weasley, está muito difícil — suspirei teatralmente.  

— Você é um molenga — riu, virando-se de lado na cama também. — Agora me fala, de quem está fugindo?

— Se fosse para fugir de alguém, certamente eu fugiria de você — numa velocidade acima de duzentos km por hora, sem olhar para trás. — Eu vi uma boa oportunidade de ficar em off durante o acampamento, estou cansado de gente me enchendo o saco como se eu tivesse a responsabilidade de resolver problemas alheios. Preciso decidir o que eu quero fazer, as faculdades que eu quero entrar, coisas que não dá para fazer com a cabeça cheia. 

— Você sabe que vamos ficar aqui uma semana, não um ano, certo?

— O que vale é a tentativa. Eu não sou o tipo de pessoa que toma decisões no calor do momento, eu preciso estar de boa, estar com a cabeça fresca. 

— Sei. Também estou me sentindo pressionada.... A cada hora parece que esse teto está mais baixo — revirei os olhos, esticando meu braço por debaixo do travesseiro, ouvindo sua risada meio abafada. — Mas, eu entendo, até. Não sabia que você era intelectualmente capaz de pensar nessas coisas, ou de sentir. 

— A vida é feita de surpresas — e tudo se tornava mais estranho por causa disso. Ficamos em silêncio por alguns instantes, talvez porque falar não era a melhor opção para se manter fresco, talvez porque tê-la ali deixava as coisas mais quentes de uma forma bem espontânea. 

— Também não sei o que vou fazer esse ano, minha única certeza é que quero ter bons NIEMs e tentar entrar em Oxford, ou Cambridge. 

— Oxford não é uma boa ideia. 

— Por que não?

— Porque é o meu alvo principal, não acho que merecemos nos suportar por mais meia década. 

— Pensei que fôssemos amigos, Malfoy — seu tom de voz realmente mostrava um pingo de indignação. Rose sempre foi muito boa em me enganar.   

Sério? 

— Além da sua arrogância, prepotência, infantilidade, falta de educação, cinismo e sarcasmo, você é uma pessoa mediana e eu te conheço desde o maternal. 

— É, você grita comigo há muito tempo mesmo e não consigo lembrar de nenhuma dia de raiva intensa que você não esteve envolvida — um bom exemplo foi quando a fofoca de Hogwarts era que Rose tinha beijado o Wood, logo no início da oitava série. 

— Você tem nervos pobres e frágeis, Malfoy, a culpa não é minha se você é altamente sensível a minha capacidade de tirar você do sério. Já vi pessoas mais resistentes. 

— Eu não saio do sério — era uma meia verdade. — Embora você seja altamente habilidosa.

— Sei — ela pareceu achar divertido. Lógico, sempre foi seu hobby ver a desgraça alheia. — Acho que tenho que me empenhar mais, então, para tirar você da linha. 

— Da linha você tira fácil… — senti meu coração trepidar, e o anjinho do lado direito do meu ombro acender uma placa neon na frente dos meus olhos: “NÃO CAIA NESSA!”. — Do sério, eu já não tenho tanta certeza. 

— Vou ver o que posso fazer, então. 

Como se eu tivesse levado uma martelada na cabeça, eu apaguei depois disso, incerto se foi um delírio ou se eu realmente flertei com Rose Weasley por alguns instantes. 

 


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Notas finais do capítulo

Aiai esses hormônios adolescentes... O que dizer sobre eles? kkkkkkkkkk Espero que tenham gostado do capítulo. Alguém tem alguma opinião sobre esse histórico deles? hehehe Me contem o que acharam ♥

Amanhã, provavelmente, teremos capítulo novo! Então, até logo ♥ um grande beijo para vocês ♥ ♥ ♥