Aretha e a criança de Atena escrita por Chalé de Atena
— Sofia? Ei, acorde. Está na hora de irmos.
A noite já havia caído quando Aretha levantou e começou a mexer na sua tiracolo para se preparar para viajar.
— Para onde vamos? — Sofia perguntou esfregando os olhos, ainda com sono
— Para um lugar onde você ficará segura.
— Ah. — A menina balbuciou. — Estou com fome. — Aretha a olhou e se culpou por não pensar que ela estava há quase 24 horas sem comer.
— Vamos parar numa macieira, pode ser? — Aretha perguntou enquanto fechava a bolsa e a ajeitava ao lado de seu corpo.
— Não pode ser hambúrguer? — A menina se levantou cambaleando.
Aretha suspirou.
— Eu não posso deixar que outros humanos me vejam.
— Ah. — A menina ainda estava desanimada por conta de tudo o que acontecera com ela nas últimas horas.
Aretha deu um sorriso triste.
— Vamos? — Aretha virou de costas, agachou e fez sinal para que Sofia subisse em suas costas.
Sofia subiu de forma desajeitada e não falou nada até que chegaram na macieira.
— Quer quantas? — Aretha perguntou quando começou a colher as maçãs.
— Só uma. — Sofia disse sentada nas raízes da árvore.
— Aqui. — Aretha entregou a maçã à menina e colheu mais algumas. As últimas ela colocou na bolsa.
— Não quer também? — Os olhos cinzentos perguntaram preocupados quando a mulher com asas se sentou.
— Não, obrigada. — Aretha sorriu amigavelmente e, mais uma vez, o silêncio as inundou até o momento da partida.
— De onde você é? — Sofia perguntou enquanto subia nas costas da mulher-coruja.
— Da Itália. — Disse com orgulho.
— Itália?! — A menina pareceu chocada. — Uau, isso é incrível! Como é lá?
— Era… Bom. — Aretha disse com um pouco de pesar. — Na verdade eu passei muito pouco tempo lá. — Um sorriso melancólico apareceu em seus lábios.
— Por quê?
— Quando eu tinha sete anos sofri um acidente de carro. Meus pais morreram e eu nunca mais voltei pra lá. — De alguma forma aquilo era fácil contar sobre isso.
— Ah, eu… — A criança tentou.
— Tudo bem. — Aretha olhou para trás e sorriu para tentar aliviar a menina. — Depois do acidente eu fui dada como morta. Como não encontraram o meu corpo deduziram isso. Mas na verdade eu estava na floresta. Fiquei por lá por muito tempo, nunca consegui encontrar a saída. — Ela falava naturalmente. Sentia o pesar, é claro, mas não tanto quanto quando lembrava da vida que tinha em Veneza. — As corujas me deram comida e…
— CORUJAS? — Sofia gritou. — Isso é incrível! — Ela estava tão animada quanto quando viu um urso polar pela primeira vez. — É como com o Mogli, só que com corujas ao invés de lobos. — Os olhos dela brilhavam sob o pensamento de ter corujas a alimentando.
— Pois é. — Aretha riu, feliz pela menina não estar tão triste quanto antes. — Mas cá entre nós, corujas são muito mais legais que lobos. — Disse se lembrando de quando assistiu Mogli e de como desejou ter um lobo para chamar de seu.
— Eu gosto dos dois. — Sofia soltou uma gargalhada que aqueceu o coração de Aretha. — Mas e depois? O que aconteceu? — A loirinha estava curiosa para saber o resto da história da mulher-coruja.
— Bem, depois eu aprendi a me virar e comecei a cuidar dos filhotes de coruja. Até que Atena me acolheu e me transformou no que sou hoje. — Disse com altivez.
— Então você não tinha asas antes? — Sofia parecia confusa.
— Não. — Aretha riu. — Eu era uma criança como você.
— E Atena te transformou?
— Isso.
— Mamãe já me falou sobre ela. — Disse olhando duvidosa para o céu.
— Disse?
— Uhum. — Sofia balançou a cabeça. — Disse que ela era uma deusa, linda e apaixonante. — Aretha riu ao imaginar Atena ouvindo isso. — Mamãe sempre me falou dela, sobre como se apaixonaram e me tiveram.
— Então você sabe que sua mãe é Atena? — Aretha se espantou.
— É o que a mamãe sempre me falou. — Sofia encostou a cabeça nas costas de Aretha. — Disse que elas se apaixonaram e ficaram um tempo juntas, mas que ela teve que ir embora, que não podia ficar muito tempo com a gente porque tinha coisas para resolver na casa dela.
— Entendo. — Aretha sussurrou tentando assimilar tudo o que a menina disse.
— Quando a mamãe me contou eu fiquei triste. Por que minha outra mãe me abandonaria? Mas ela disse que eu devia entender, que tudo tinha um bom motivo e que um dia eu iria conhecer ela. — Disse Sofia.
— Bem, acho que em breve você irá conhecê-la.
— Está me levando pra ela? — A menina loira pareceu animada.
— Não exatamente. — Aretha se embolou. Como explicaria?
— Ah. — A animação foi embora na mesma velocidade com que apareceu.
— Mas confie em mim, você irá conhecê-la. Atena é uma deusa incrível e ama todos os seus filhos. Tenho certeza que ela quer te ver tanto quanto você quer vê-la. — Foi o suficiente para a menina se sentir um pouco melhor. — Olha, chegamos. — Aretha disse antes de pousar.
— Chegamos? — Sofia olhou para a floresta à sua frente sem entender.
— Sim. — Aretha deixou que Sofia descesse de suas costas. — Agora você só precisa seguir em frente por um tempo e logo estará lá. Quando chegar lá diga seu nome, sua idade, de onde veio, quem a trouxe e o nome de suas mães, ok?
— Eu? Sozinha? — A menina se sentiu um pouco assustada. — Você não vai comigo?
— Eu não posso. — Aretha se agachou de frente para Sofia. — O lugar para onde você vai não é para mim. — Lágrimas surgiram nos olhos das duas.
— Você vai me abandonar? — Sofia choramingou.
— O quê? Não, não, não. É claro que não. — Aretha colocou a mão no rosto da menina. — Eu nunca vou te abandonar, pequena. Estarei com você sempre que precisar.
— Jura? — Sofia colocou a mão por cima da mão da mulher.
— É só me chamar. — Aretha sorriu.
— E como eu faço isso?
— Só pense em mim. E eu virei.
Sofia então abraçou Aretha e começou a chorar e, dessa vez, a mulher não conseguiu se segurar e acompanhou a menina nas lágrimas. Depois do que pareceram horas elas se separaram e Aretha enxugou as lágrimas da menina. Sofia fez o mesmo com a mulher e ambas sorriram.
— Muito bem. — Aretha disse batendo de leve nos ombros de Sofia. — O que você vai dizer quando chegar lá?
— Meu nome é Sofia, tenho nove anos e sou de Albany, Nova Iorque. Minhas mães são Olívia Carter e Atena e quem me trouxe para cá foi Aretha. — Sofia disse de uma vez só.
— Isso. — Aretha deu mais um de seus sorrisos tristes. — Agora vá, já está amanhecendo.
— Você promete que vamos nos ver de novo?
— Sim. — Aretha sorriu quando recebeu o último abraço da menina.
— Tudo bem então. — Sofia se virou para a floresta e começou andar. Aretha se levantou e ficou olhando a menina caminhar.
Sofia olhou algumas vezes para trás apenas para ter certeza que Aretha ainda estava lá a olhando. Aretha foi embora apenas quando a menina não era mais visível.
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