Aretha e a criança de Atena escrita por Chalé de Atena


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792365/chapter/3

—  Sofia? Ei, acorde. Está na hora de irmos.

A noite já havia caído quando Aretha levantou e começou a mexer na sua tiracolo para se preparar para viajar.

—  Para onde vamos? —  Sofia perguntou esfregando os olhos, ainda com sono

—  Para um lugar onde você ficará segura.

—  Ah. —  A menina balbuciou. —  Estou com fome. —  Aretha a olhou e se culpou por não pensar que ela estava há quase 24 horas sem comer.

—  Vamos parar numa macieira, pode ser? — Aretha perguntou enquanto fechava a bolsa e a ajeitava ao lado de seu corpo.

—  Não pode ser hambúrguer? —  A menina se levantou cambaleando. 

Aretha suspirou. 

—  Eu não posso deixar que outros humanos me vejam.

—  Ah. —  A menina ainda estava desanimada por conta de tudo o que acontecera com ela nas últimas horas. 

Aretha deu um sorriso triste.

—  Vamos? —  Aretha virou de costas, agachou e fez sinal para que Sofia subisse em suas costas.

Sofia subiu de forma desajeitada e não falou nada até que chegaram na macieira.

—  Quer quantas? —  Aretha perguntou quando começou a colher as maçãs. 

—  Só uma. —  Sofia disse sentada nas raízes da árvore. 

—  Aqui. —  Aretha entregou a maçã à menina e colheu mais algumas. As últimas ela colocou na bolsa. 

—  Não quer também? —  Os olhos cinzentos perguntaram preocupados quando a mulher com asas se sentou. 

—  Não, obrigada. —  Aretha sorriu amigavelmente e, mais uma vez, o silêncio as inundou até o momento da partida. 

—  De onde você é? —  Sofia perguntou enquanto subia nas costas da mulher-coruja. 

—  Da Itália. —  Disse com orgulho. 

—  Itália?! —  A menina pareceu chocada. —  Uau, isso é incrível! Como é lá? 

—  Era… Bom. —  Aretha disse com um pouco de pesar. —  Na verdade eu passei muito pouco tempo lá. —  Um sorriso melancólico apareceu em seus lábios.

—  Por quê? 

—  Quando eu tinha sete anos sofri um acidente de carro. Meus pais morreram e eu nunca mais voltei pra lá. —  De alguma forma aquilo era fácil contar sobre isso. 

—  Ah, eu… —  A criança tentou. 

—  Tudo bem. —  Aretha olhou para trás e sorriu para tentar aliviar a menina. —  Depois do acidente eu fui dada como morta. Como não encontraram o meu corpo deduziram isso. Mas na verdade eu estava na floresta. Fiquei por lá por muito tempo, nunca consegui encontrar a saída. —  Ela falava naturalmente. Sentia o pesar, é claro, mas não tanto quanto quando lembrava da vida que tinha em Veneza. —  As corujas me deram comida e… 

—  CORUJAS? —  Sofia gritou. —  Isso é incrível! —  Ela estava tão animada quanto quando viu um urso polar pela primeira vez. —  É como com o Mogli, só que com corujas ao invés de lobos. —  Os olhos dela brilhavam sob o pensamento de ter corujas a alimentando. 

—  Pois é. —  Aretha riu, feliz pela menina não estar tão triste quanto antes. —  Mas cá entre nós, corujas são muito mais legais que lobos. —  Disse se lembrando de quando assistiu Mogli e de como desejou ter um lobo para chamar de seu. 

—  Eu gosto dos dois. —  Sofia soltou uma gargalhada que aqueceu o coração de Aretha. —  Mas e depois? O que aconteceu? —  A loirinha estava curiosa para saber o resto da história da mulher-coruja. 

—  Bem, depois eu aprendi a me virar e comecei a cuidar dos filhotes de coruja. Até que Atena me acolheu e me transformou no que sou hoje. —  Disse com altivez. 

—  Então você não tinha asas antes? — Sofia parecia confusa. 

—  Não. —  Aretha riu. —  Eu era uma criança como você. 

—  E Atena te transformou? 

—  Isso. 

—  Mamãe já me falou sobre ela. —  Disse olhando duvidosa para o céu. 

—  Disse? 

—  Uhum. —  Sofia balançou a cabeça. —  Disse que ela era uma deusa, linda e apaixonante. —  Aretha riu ao imaginar Atena ouvindo isso. —  Mamãe sempre me falou dela, sobre como se apaixonaram e me tiveram. 

—  Então você sabe que sua mãe é Atena? —  Aretha se espantou. 

—   É o que a mamãe sempre me falou. —  Sofia encostou a cabeça nas costas de Aretha. —  Disse que elas se apaixonaram e ficaram um tempo juntas, mas que ela teve que ir embora, que não podia ficar muito tempo com a gente porque tinha coisas para resolver na casa dela. 

—  Entendo. —  Aretha sussurrou tentando assimilar tudo o que a menina disse. 

—  Quando a mamãe me contou eu fiquei triste. Por que minha outra mãe me abandonaria? Mas ela disse que eu devia entender, que tudo tinha um bom motivo e que um dia eu iria conhecer ela. —  Disse Sofia. 

—  Bem, acho que em breve você irá conhecê-la. 

—  Está me levando pra ela? —  A menina loira pareceu animada. 

—  Não exatamente. —  Aretha se embolou. Como explicaria?

—  Ah. —  A animação foi embora na mesma velocidade com que apareceu. 

—  Mas confie em mim, você irá conhecê-la. Atena é uma deusa incrível e ama todos os seus filhos. Tenho certeza que ela quer te ver tanto quanto você quer vê-la. —  Foi o suficiente para a menina se sentir um pouco melhor. —  Olha, chegamos. —  Aretha disse antes de pousar. 

—  Chegamos? —  Sofia olhou para a floresta à sua frente sem entender. 

—  Sim. —  Aretha deixou que Sofia descesse de suas costas. —  Agora você só precisa seguir em frente por um tempo e logo estará lá. Quando chegar lá diga seu nome, sua idade, de onde veio, quem a trouxe e o nome de suas mães, ok?

—  Eu? Sozinha? —  A menina se sentiu um pouco assustada. —  Você não vai comigo? 

—  Eu não posso. —  Aretha se agachou de frente para Sofia. —  O lugar para onde você vai não é para mim. —  Lágrimas surgiram nos olhos das duas. 

—  Você vai me abandonar? —  Sofia choramingou. 

—  O quê? Não, não, não. É claro que não. —  Aretha colocou a mão no rosto da menina. — Eu nunca vou te abandonar, pequena. Estarei com você sempre que precisar. 

—  Jura? —  Sofia colocou a mão por cima da mão da mulher. 

—  É só me chamar. —  Aretha sorriu. 

—  E como eu faço isso? 

—  Só pense em mim. E eu virei. 

Sofia então abraçou Aretha e começou a chorar e, dessa vez, a mulher não conseguiu se segurar e acompanhou a menina nas lágrimas. Depois do que pareceram horas elas se separaram e Aretha enxugou as lágrimas da menina. Sofia fez o mesmo com a mulher e ambas sorriram. 

—  Muito bem. —  Aretha disse batendo de leve nos ombros de Sofia. —  O que você vai dizer quando chegar lá? 

—  Meu nome é Sofia, tenho nove anos e sou de Albany, Nova Iorque. Minhas mães são Olívia Carter e Atena e quem me trouxe para cá foi Aretha. —  Sofia disse de uma vez só. 

—  Isso. —  Aretha deu mais um de seus sorrisos tristes. —  Agora vá, já está amanhecendo.

—  Você promete que vamos nos ver de novo? 

—  Sim. —  Aretha sorriu quando recebeu o último abraço da menina. 

—  Tudo bem então. —  Sofia se virou para a floresta e começou andar. Aretha se levantou e ficou olhando a menina caminhar. 

Sofia olhou algumas vezes para trás apenas para ter certeza que Aretha ainda estava lá a olhando. Aretha foi embora apenas quando a menina não era mais visível.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aretha e a criança de Atena" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.