Aretha e a criança de Atena escrita por Chalé de Atena
— Quem é você? — Aretha acordou com essa pergunta. Olhou ao redor e viu olhos cinza tempestuosos a encarando de forma desafiadora. Era evidente que a criança dona deles estava com medo, mas era corajosa o suficiente para esconder o máximo possível.
— Aretha. — Ela sorriu amigavelmente e se espantou ao ver a menina arregalar os olhos.
— A do sonho?
— Sonho? — Aretha ficou confusa.
— Do jardim pegando fogo. — Os olhos tempestuosos abandonaram o semblante de desconfiança e foram tomados por uma onda de desespero. — Eu me lembro da mamãe gritando por alguém… Aretha. — A criança falou como se apenas falar em voz alta pudesse fazê-la ter certeza. — Ela chamava você. — Novamente a menina encarou Aretha nos olhos, dessa vez buscando respostas.
— Então foi ela, uh? — Aretha deixou-se tombar em um tronco.
— Quem é você? — A menina continuava ajoelhada e cada vez mais insegura. — Por que eu estou aqui? Foi você que me trouxe pra cá? E cadê a mamãe? Por que ela não está aqui também?
— Uau, são muitas perguntas. — Aretha coçou a nuca.
— Eu te conheço? — A menina insistiu.
— Não exatamente.
— Então por que estou com você?
— Bem… — Aretha não sabia como dizer.
— Você me sequestrou?
— O quê? Não!
— Então por que estamos aqui? — A menina olhou ao redor, para os galhos, para os passarinhos e novamente para Aretha. — Por que me trouxe para cá? O que aconteceu com a mamãe?
— Olha… Sofia, certo? A sua mãe, ela… Ela…
— Ela que me mandou pra cá? -- A menina parecia estar com medo da ideia de ter sido deixada.
— Não, não foi isso, ela… — Aretha abaixou o olhar. — Ela… Virou uma estrela…? — A mulher-coruja se praguejava mentalmente. Onde já se viu dar uma notícia dessas dessa forma?
— A mamãe… Foi pro céu? — Os olhos cinza foram inundados por lágrimas.
— Sim. — Aretha suspirou pesadamente. Não havia o que fazer, a menina tinha o direito de saber.
— Então… Vou ficar com você agora? — A menina olhava para o céu como se pudesse, de alguma forma, encontrar a imagem da mãe.
— Por um tempo.
— Por quê? Por que não posso ficar com a vovó e o vovô? — A menina olhou para baixo.
— Não é seguro.
— Por que não?
— Porque… — Aretha pensou no que poderia dizer, chegou mais perto da menina e pensou em pegar a mão dela, mas desistiu quando lembrou que elas não eram próximas assim. -- Sua mãe já deve ter falado de mim para você, não?
A menina olhou para o rosto de Aretha, que sorriu e abriu as asas. Os olhos acinzentados, ainda que tristes, ficaram arregalados. Como ela não havia prestado atenção nisso antes?
— A moça com asas. — A criança sussurrou.
— Então ela já falou. — Aretha sorriu.
— Você é a minha fada madrinha? — A menina loira perguntou.
— O quê? — Aretha pareceu confusa.
— A Aurora tem uma fada madrinha, e ela se parece com você. Você é a minha? — A voz da garota saía entre soluços, quase impossível de ser compreendida.
— É, podemos dizer que sim. — Aretha tentou se aproximar mais e, quando viu que a menina não iria recuar, sentou-se ao lado dela.
— Por isso me salvou. — A menina deitou a cabeça no colo de Aretha.
— Sim. — Aretha começou a fazer carinho na cabeça da menina.
— E por que não salvou a mamãe? — Aretha conseguia sentir as lágrimas tocarem suas pernas. Seu coração apertou e sentiu vontade de chorar também.
— Não era mais possível. — Disse com dificuldade.
A menina então começou a soluçar e a chorar ainda mais. Aretha não falou mais nada porque não queria piorar a situação, apenas apertou os olhos para não ceder às lágrimas e continuou a fazer cafuné na órfã.
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