Amor Cego escrita por Cas Hunt


Capítulo 47
Tetsuro como amigo?




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Dentro do campus, finalmente ficamos em segurança. Tetsuro me põe de volta no chão e me apresso na direção da lixeira mais próxima derramando todo o resto de vida que resta pelos lábios, a sensação amarga e inibidora de sentidos fazendo meu corpo inteiro estremecer com sua força.

—Meus céus.

A mão de Tetsuro passa para cima e para baixo nas minhas costas.

—O quanto você bebeu pra ficar assim?

—Eu não sei.

Ele dá ainda algumas palmadinhas nas minhas costas.

—Ainda tá muito ruim?

—Não, tô bem melhor.

Ergo-me, quase conseguindo ficar de pé normalmente. Vomitar parece ter me renovado. Percebendo minha dificuldade com o equilíbrio Tetsuro ainda se disponibiliza para me ajudar a andar. Não faço mais uma careta ao encostar nele.

—Acho que quebrou o nariz.

—Quebrei?

—Não sei. Mas tá sangrando muito.

Passo a mão sobre o lábio, o líquido ainda escorrendo.

—Não vai me matar.

Tetsuro solta uma risada. Andamos devagar, ele acompanhando meus passos desajeitados e tentando fazer com que fiquemos confortáveis.

—Não me odeia mesmo?

Semicerro os olhos pra ele.

—Claro que não. Só achava detestável esse jeitinho de que sempre sabe de tudo.

—Não é que eu sei — Tetsuro olha para o céu, fazendo bico — Eu só decifro. Estudei tanto o corpo humano, gestos e expressões que as pessoas me são quase um livro.

—Então por isso meus instintos me diziam pra te dar um soco. Deve saber coisas que eu não conto nem pra Charlie.

—Talvez. Leitura e interpretação são sempre incertos.

—Irritante.

Ele mantém o sorriso travesso.

—O que acha de mim? — questiono franzindo o cenho para ele — O que leu de mim?

—Hum...

Tetsuro desacelera o passo.

—Você é determinada. Tem coragem. Cega para algumas coisas e atenta a outras.

—Cega como Noah ou cega como lesada?

—Isso é uma piada?

—Talvez. Me sinto cruel ultimamente.

Ele solta uma risadinha baixa e maléfica.

—Cega como “você não percebeu isso ainda?”.

—Eu me acho bem lenta, na verdade — minhas pernas se atrapalham e Tetsuro aperta o braço ao meu redor — Não sou determinada. Nem corajosa.

—Não aprenderia 3 instrumentos se não fosse determinada.

—E por isso sou corajosa também?

—Não — Tetsuro fica sério — Eu te vi defender o Noah mais de uma vez.

—Viu?

—É. Desde que conheço o Noah nunca vi ele se abrir tão rápido pra alguém como fez contigo.

Meu peito dói.

—A não ser a Kya.

Tetsuro junta as sobrancelhas.

—Eu sei que parece ser mais do que é — Tetsuro me ergue alguns centímetros acima do chão para que eu suba o degrau da escadaria — Só que Noah não gosta da Kya como gosta de você.

—Então por que ele não me diz isso?

—A história dele com paixões não é lá das melhores.

Recordo-me do cara que o enganara com uma atriz. Ou ator. Não consigo reformular a memória de Andrea me contando com todos os detalhes.

—Faz sentido.

—Tá cansada?

—Um pouquinho.

Tetsuro olha ao redor.

—O que tá fazendo?

—Conferindo se caso eu te levante não derrube o copo de outra mulher furiosa.

Solto uma risada baixa. Ele o faz, erguendo-me do chão em um movimento limpo e preciso. Apoio a cabeça em seu ombro, sentindo uma estranha familiarização com Tetsuro.

—Impressão minha ou a gente é amigo agora? — ele me questiona.

—Pode ser.

—Vai parar de fazer careta como se eu fosse uma doença ambulante?

—Provavelmente não.

—Sabe, até que eu gosto da ideia de você e Noah ficarem juntos.

Minha mente vaga até Samir.

—É tarde demais.

—Hum? Por que?

—Porque já fui trouxa demais pro Noah.

Tetsuro fica em silencio.

—Isso aí depende de você.

O ambiente passa ao meu redor. Me faz ficar tonta. Fecho os olhos.

—E se não der certo?

Escuto ele inspirando fundo, talvez pensando em uma boa resposta.

—Aí a gente te consola. E ri depois.

—Mas você não é amigo do Noah?

—A gente acabou de virar amigo também, esqueceu?

Perdi Samir. Talvez nunca consiga estar com Noah. De alguma forma, essa ideia da presença de Tetsuro chega a me acalmar. Saber que caso eu tenha meu coração inteiramente partido vou poder contar com Yuri, Louis. Charlie vai estar lá. E agora Tetsuro também. Talvez perder Samir tenha sido um baque, mas como tantos outros fatores emocionais, não vai me matar. Não ainda.

Só percebo o tempo passar assim que Tetsuro me pousa em uma superfície macia. Abro os olhos, a falta de calor humano me causando calafrios momentâneos. A mão de Andrea pousa em minha testa e passa para o meu rosto, sua expressão amável.

—Como se sente?

—Tô bem — minha voz sai rouca.

—Noah, água. Tetsuro, remédio pra ressaca.

O toque dela é tão gentil. Andrea sorri quando me inclino na direção de seu afeto. Põe uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e passa o polegar pelo meu lábio superior.

—Não quebrou, mas talvez tenha deslocado.

—Meu nariz?

—Isso.

Suspiro.

—Volto em dez minutos — Tetsuro avisa e sai fechando a porta devagar atrás de si.

—O que te fez beber? — Andrea pergunta.

Nego com a cabeça, evitando responder. Andrea me ajuda a sentar. Evito olhar para Noah andando no quarto e estendendo por cima da cama o copo, sem saber onde deveria parar, apesar de estar bem próximo. Bebo alguns goles quase vomitando pelo gosto amargo ainda estar presente na minha boca.

—Precisa beber muita água ainda, ok? Vem, vou te dar um banho.

—Eu tenho que tomar banho?

—Você vomitou tanto no Tetsuro quanto em si mesma. Anda, vai logo.

Solto um gemido. Por que estou obedecendo ela? Andrea me acompanha até o banheiro e ajuda a tirar minhas roupas, a porta encostada. Imagino Noah do outro lado, inquieto ou indiferente. Qual seria dessa vez? Importava, na verdade? Suspiro, tentando me concentrar em ficar de pé. Andrea primeiro me faz tomar uma ducha de água geladíssima para então me mergulhar na água morninha da banheira.

—Vou limpar seu nariz, tá?

Assinto. Andrea joga a agua por cima da minha cabeça e vira meu rosto para si. Passa devagar os dedos pelo lábio superior e o espaço entre ele e o nariz. Ela massageia ao redor e mais sangue aparece. Faço uma careta, sentindo-o doer.

—Tá bem, realmente não quebrou. Vai ficar dolorido por alguns dias. Quer que eu pegue suas roupas?

Assinto.

—Noah! Tem primeiros socorros aqui?

Uma voz abafada pela porta, preocupada, responde.

Ela tá bem?

—O nariz é o problema. Tem ou não tem?

Não.

—Você tem? — ela se volta pra mim.

Meneio a cabeça em concordância outra vez.

—Vou pegar.

Andrea se levanta. Volto a atenção para meu corpo. Começo devagar a esfregar os braços, as pernas. Me contorço tentando pegar cada parte das costas e faço uma careta por não encontrar o shampoo ali perto.


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