Tales of Star Wars escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 11
Frustração (Anakin)


Notas iniciais do capítulo

Mais um conto! Espero de verdade que gostem.

Vou adiantar um pequeno spoiler: estou trabalhando no prompt proposto pela Pugamegold e espero postá-lo em algum momento ao longo da próxima semana!

Espero que aproveitem a leitura ♥



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Padmé Amidala observava o lago pela varanda, debruçada sobre o guarda-corpo de pedra, vendo a fumaça de seu chá dançar ao lado. Era uma noite fria em Varykino. Fria a ponto de precisarem acender as lareiras e colocar uma coberta a mais na cama. Mas, para ela, apesar do clima extremo e congelante que era prometido para os próximos dias, ela estava feliz. Feliz porque, após meses, eles estavam juntos de novo. Mas sabia o Conselho Jedi o favor que tinham feito a ela quando resolveram mandar Anakyn para aquela missão em Geonosis. Passar por Naboo era um desvio de rota muito fácil de ser feito na volta, que ele poderia facilmente justificar como uma parada para reparos em sua nave após o combate.

Como se ela o tivesse conjurado pelo pensamento, duas mãos pousaram suavemente em sua cintura: uma pesada, metálica e fria à sua direita e uma quente e suave à sua esquerda. Nada nem ninguém na galáxia precisava lhe dizer quem era o recém-chegado abusado e sem vergonha que extrapolava os limites de intimidade e do respeito para com uma senadora.

— Alguém está com segundas intenções – ela disse quando Ankyn beijou o seu pescoço.

Um calafrio percorreu a sua nuca, arrepiando cada centímetro de pele conforme as mãos de Anakyn se deslocavam, viajando pelo seu corpo e, então, fazendo-a suspirar.

— Não vou mentir – ele sussurrou em seu ouvido. – Estou, sim.

Outro beijo. Dessa vez, o suspiro de Padmé foi ainda mais alto.

— Eu adoro quando você fica assim – ele disse.

— Assim como? – ela perguntou, quase perdendo o controle.

— Indefesa – ele respondeu. – Perdida.

Anakyn colou os lábios ao ouvido de Padmé.

— Sedenta – ele terminou.

Àquela altura, Padmé já não conseguia mais responder por si.

Havia algo nele que Padmé não sabia definir. Talvez fosse o seu cheiro, talvez fosse a sua voz, talvez fosse a sensação de sua pele, talvez fosse o seu jeito, sempre tão amoroso e intenso. Talvez um misto de tudo isso. Mas o fato era que, em sua presença, ela sentia ser capaz de tudo. Ele a hipnotizava de tal forma que sua mente viajava de um extremo a outro da galáxia em segundos. Era tão bom... Ele sabia dizer as palavras certas nos momentos certos. Sabia ser fofo quando precisava ser. E sabia ser provocante quando queria ser. Aquele casamento era uma montanha russa de emoções. A maioria delas, boas.

Ela se virou, encarando o marido nos olhos antes de beijar-lhe os lábios.

***

O quarto senatorial em Varykino era grande e bem arejado, mas a imensa lareira lateral juntamente com o imenso e pesado cobertos sobre a cama e com o calor do corpo de Anakyn, colado ao seu, era o suficiente para mantê-la aquecida. Não apenas fisicamente. Estar de volta àquele lugar, onde tudo havia começado entre os dois e em um breve momento de paz, era algo que ela desejava a muito tempo.

Apesar de Anakin envolvê-la com os braços, como sempre fazia, algo estava diferente com ele. Em condições normais, ele enterraria o rosto em seus cabelos e descreveria uma trilha de beijos desde as costas dela até seu rosto, terminando com um longo e apaixonado beijo em seus lábios antes de dizer coisas como “eu te amo” ou “não sei mais viver sem você”. Apesar de terrivelmente previsível e repetitivo, era fofo, e Padmé gostava disso.

Mas não naquela vez. Ela parecia distante. Desde que ele a abraçou, ele não se moveu e permaneceu em silêncio. Demorou pouco tempo para que ela percebesse que ele estava prestes a dormir. Resolveu interromper o processo naquele momento.

— Ani, aconteceu alguma coisa?

— Nada – ele respondeu sonolento.

Padmé não ia tolerar aquela resposta.

Ele se virou para encará-lo, fazendo questão de balançar o colchão o máximo que podia (e se sentiu um pouco irritada quando se deitou novamente, olhando para o marido, e percebeu que ele nem sequer abrira os olhos para falar com ela).

— Anakin Skywalker, olhe pra mim agora mesmo!

Ele, imediatamente, abriu os olhos. Não era um costume ela usar seu nome completo ou mesmo aquele tom de voz. E, mesmo assim, todas as vezes em que ela usara fora porque ele fizera algo terrivelmente errado do qual ele iria se arrepender amargamente em algum momento em um futuro próximo.

Mas não era o caso: quando Anakin olhou para a esposa, não havia fúria em seu rosto. Havia amor e compaixão.

— Você pode dizer que não foi nada – ela disse, deslizando a mão pelo rosto dele. – Mas eu te conheço.

— Não quero preocupar você.

— Ani, você está distante desde que chegou – Padmé rebateu. – Achei que estaria feliz porque finalmente vamos passar um tempo juntos...

— ... eu estou feliz...

— ... mas a sua cabeça está em outro lugar na galáxia! – ela completou. – Estava bem quieto quando chegou, trocou meia dúzia de palavras comigo no jantar. Fiquei até surpresa quando foi atrás de mim na varanda... O que está acontecendo, Ani? Se eu puder, eu quero te ajudar...

Anakin se virou na cama, deitando-se de costas e olhando para o teto. Para poder vê-lo melhor, Padmé se debruçou sobre os próprios braços.

— Você sabe o que eu fui fazer em Geonisis? – ele perguntou, evitando contato visual com ela.

— Não – Padmé respondeu imediatamente.

— Libertar escravos – Anakin a informou. – Descobrimos uma pequena fábrica de droides em uma das luas. Uma tentativa dos separatistas de reiniciar a produção de droides no sistema, mas sem levantar muitas suspeitas na República. Era uma fábrica grande e estava usando mão-de-obra escrava.

Padmé se manteve calada. Sabia o quanto aquele tipo de questão era delicado para ele.

— Eu era o único Jedi disponível no momento para liderar um ataque – ele continuou. – Todos os outros estavam fora em suas próprias missões. Mas o Conselho não me chamou. Eu nem sequer fui informado que essa tal fábrica tinha sido descoberta.

— Ani... – ela se aproximou e deitou sobre ele.

Dessa vez, foi Padmé quem o envolveu em um abraço.

— Mestre Plo acabou deixando escapar a informação pra mim – Anakin continuou. – Quando eu coloquei o Mestre Windu contra a parede, ele disse que meu passado me tornava inapropriado para aquele tipo de missão. Que o Conselho não confiava no meu julgamento e que eu iria agira mais pela minha emoção e não faria o trabalho que devia ser feito.

— Ani, eu sinto muito...

Nesse momento, Anakin se virou na cama para olhar para Padmé. Finalmente, ela pode traduzir os sentimentos marcados em cada linha na expressão do marido. Ele não estava triste por não ter tido a confiança do Conselho. Estava frustrado. E com raiva. Muita raiva.

— Quantas vezes mais eu vou ter que provar para o Conselho que eu sei o que estou fazendo? – ele perguntou. – Desde que cheguei em Coruscant, o Conselho sempre ficou me colocando na situação mais extremas possíveis apenas para me testar e eu sempre fiz o que era pedido. Nunca decepcionei o Conselho em nada. Mas eles ainda não confiam em mim...

Padmé permaneceu em silêncio. Não sabia ao certo o que falar.

— Acabei convencendo o Mestre Windu a me dar a missão – Anakin continuou. – Mas uma boa parte do Conselho teve objeções. No fundo, eu acho que o meu sucesso como Jedi é a maior frustração deles. Muito deles nem queria que eu me tornasse Padawan quando Mestre Qui-Gon me resgatou. Inclusive o próprio Mestre Windu.

— Ani, você tem que entender que você foi selecionado para ser Padawan sob condições completamente fora do padrão – Padmé disse da forma mais suave que podia. – Você não teve o mesmo treinamento que os outros Jedi. É natural que eles te vejam com desconfiança.

Silêncio. Anakin não parecia ter gostado daquilo.

— Mas isso não muda o fato de que eles foram injustos com você – ela completou, antes mesmo que ele pudesse dizer algo em resposta. – Mais uma vez, você precisa se esforçar o dobro para ter metade do reconhecimento que os outros Jedi têm. Eu só posso imaginar o quanto isso deve ser frustrante...

— Será que um dia eles vão me dar o respeito que eu mereço? — Anakin perguntou. – Ou será que eu vou passar o resto dessa guerra tendo que me provar dia após dia até que eles finalmente reconheçam que eu tenho o meu valor.

— É claro que vão, Ani! – disse Padmé, imediatamente.

Anakin voltou a se deitar olhando para o teto.

— Eu estou cansado disso – ele parecia ter ignorado a última fala da esposa. – Da forma como me tratam lá dentro. Da forma como a minha opinião sobre qualquer coisa é sempre desconsiderada. Da forma como eu sou sempre a segunda opção.

— Eu sei, meu amor...

— Eu cansei disso – Anakin parecia duro, determinado e inflexível. – Para mim, acabou.

Havia dúvida no rosto de Padmé. Ele não podia estar dizendo que...

— Ani... O que quer dizer? Você não está dizendo que vai...

Ele girou o rosto para encará-la.

— Deixar a Ordem? – ele completou. – Exatamente! Mas não agora... Não no meio da guerra. Mesmo sendo sempre a segunda opção, eu ainda sou necessário para eles. Tenho um papel a cumprir. Seria muito mau-caráter deixar abandonar o barco no meio desse caos. E isso deixaria Obi-Wan decepcionado. E vai por mim, Padmé, você não faz idéia de como é horrível é deixar ele decepcionado...

O queixo de Padmé caiu. Ela não sabia o que dizer.

— Mas eu vou deixar a Ordem sim – Anakin continuou. – Cansei de lutar por um reconhecimento que eles se recusam a me dar. O julgamento deles sobre mim já estava feito antes mesmo de eu me tornar um Padawan oficialmente. Assim que a guerra acabar, eu vou deixar a Ordem no mesmo dia. E então vou me preocupar só com o que é importante pra mim.

— Que seria?

— Você, oras – ele respondeu. – O que mais seria?

Padmé deitou-se sobre ele novamente, sentindo seu rosto subir e descer conforme ele respirava.

— Não vamos mais precisar esconder nosso casamento de ninguém – ele disse, sonhando acordado. – Não vamos ter que dar satisfações para ninguém. Vamos ter um casamento normal. E, talvez, algum dia, até ter um filho. Por que não?

De fato, o futuro que Anakin visualizava era um futuro lindo. Mas Padmé sabia que seria irreal.

Instintivamente, Padmé concordou apenas com um “uhum”. Era um assunto delicado e ela não iria contrariar o marido nesse momento que ele ainda estava tão sensível depois de seu mais novo desentendimento com o Conselho. Mas, definitivamente, era um assunto que ela precisaria reabordar com ele em outro momento. Discutir com mais calma. Quando a poeira tivesse baixado e os ânimos estivessem em seus devidos lugares. Afinal, era uma decisão excessivamente brusca para quem havia passado mais de metade da vida se dedicando a se tornar um Jedi.

— Eu te amo – ele disse.

— Eu te amo também, Ani.

Pronto. Ele havia voltado ao normal.

Pelo menos por enquanto, ela poderia dormir em paz.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?

Beijinhos e até o próximo!



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