DEDOS LONGOS E COR DE ÂMBAR batucaram a mesa impacientemente, expressando todo o nervosismo do pobre residente, ao qual se esforçava para montar um quebra-cabeça ilógico em sua cabeça. Em seu estado entorpecido lhe sobrava apenas fitar a porta que Uchiha Sasuke havia cruzado momentos atrás, seguindo uma enfermeira a mando de Itachi que requisitava sua presença com urgência. Para o horror do Uzumaki, o índigo de seus olhos conseguiu flagrar — antes dele se vestir por completo — pequenas pecinhas de tetris em preto e branco caindo em linha reta pelas costas brancas, numa tatuagem minimalista e muito bonita.

Naruto gemeu amaldiçoando a ressaca e buscou seu celular, percebendo a mensagem enviada por Sasuke na noite anterior. Sorriu amargo ao notar que — tirando as mensagens do grupo do hospital e daquele com Sakura e Hinata —, o chefe era a única pessoa que conversava diariamente. Nem sua mãe e seu pai o atormentavam com mensagens bregas e clichês de bom dia.

“Espero que trabalhe amanhã com a mesma energia que bebeu hoje, Uzumaki.

Beba um chá de gengibre ao acordar, pois não estou afim de lidar com sua irresponsabilidade no meu plantão. E caso se atrase, considere-se suspenso.”

A mensagem curta era tão ácida quanto o dono.

Se Naruto tivesse lido antes teria revirado os olhos, desprezando o chefe intrometido. No entanto as palavras de Sasuke agora tomavam um novo significado e os lábios do residente apertaram-se um contra o outro quando ele descobriu na internet que chá de gengibre era um remédio caseiro para o desconforto da ressaca.

Os dedos rolaram pelas conversas e ele devorou as mensagens mais antigas. Após um tempo, ficou óbvio um certo padrão em suas palavras: o caçula dos Uchihas sempre o presenteava com suas grosserias, mas por trás de sua arrogância e rispidez, uma sútil preocupação bordava-se em suas frases. Como no dia em que Naruto havia esquecido seu guarda-chuva e a cidade era envolvida por uma chuva pesada e triste.

“Esqueci o guarda-chuva no escritório, Uzumaki.

Traga-o no metrô para mim.”

O residente havia acabado de terminar um plantão de 48 horas e só estava de pé por causa de uma garrafa de café. Na ocasião havia amaldiçoado o médico, marchando furioso para a estação de metrô, apenas para descobrir que o Uchiha não estava lá.

“Você demorou demais, dobe. Fui embora.

Pode ficar com o guarda-chuva, não quero ser infectado por sua estupidez.”

Olhando agora, é claro que o gesto havia sido proposital, pois naquele dia — apesar do seu ódio por Sasuke —, Naruto não havia tomado chuva.  A situação repetia-se constantemente e, em choque, o rapaz dos fios dourados percebeu que o homem sempre o ajudava sem que percebesse. Com certeza ele que pagava pelos entregadores de comida que surgiam quando o residente esquecia sua comida. Os atendentes do Starbucks não lhe davam cookies de graça por sua simpatia: aquilo também era obra do Uchiha, que já deixava pago os doces para o residente.

O loiro arquejou estarrecido com o choque da descoberta.