O CELULAR DE NARUTO anunciou o início da terça-feira quando o loiro ergueu a latinha de uma cerveja vagabunda no ar, brindando com Sakura o fato de que haviam sobrevivido ao primeiro dia de suas residências. O barzinho mais próximo do hospital estava consideravelmente cheio naquela madrugada e foi fácil para o Uzumaki deduzir que ele e sua companheira eram os únicos novatos naquele ambiente, dado que os outros provavelmente estavam exaustos depois de um plantão de 12 horas.

Não que os julgasse, pois o seu próprio corpo berrava a urgência de sua cama quentinha e cobertores. No entanto, ele — mais do que ninguém — precisava espairecer com uma dose de álcool após o inferno vivenciado na ala da pediatria.

— Eu não vou durar 3 meses, Sakura. — Choramingou sôfrego e a nova amiga deu tapinhas amigáveis em suas costas.

— Você também é louco de mexer com aqueles foram os responsáveis por transformar o Hospital Konoha em um centro de referência mundial! — O Uzumaki a fitou confuso e mulher suspirou, bebericando sua bebida — O pai do Sasuke é o pioneiro em neurocirurgia, a mãe toma conta da cardiologia e filho mais velho da pediatria. — Explicou pacientemente — Isso sem contar os tios e primos que se especializaram em outras áreas...

— Parece até que são uma fábrica de médicos. — Ironizou sombriamente.

Ele gemeu amargo, recordando-se do momento em que Uchiha Itachi apresentara os novos residentes para a equipe, designando os médicos responsáveis por cada um. Naruto segurava a mão de Sakura ansiosamente, esperando que ficassem aos cuidados de Shizune — a inspiração acadêmica de ambos —, quando percebeu os olhos de corvo do Uchiha em si, fuzilando-o com cinismo. O loiro estava pronto para lhe sugerir passar um tempo na psiquiatria, mas a voz suave do diretor o cortou, anunciando que o irmão seria o responsável pela educação da dupla nos próximos meses.

Sasuke sequer esperou o mais velho terminar seu amigável discurso de boas-vindas, saindo da sala e ordenando que seus novos pupilos o seguissem. A partir daí, o plantão do Uzumaki transformou-se no próprio inferno de Dante. O médico reservou para a Haruno o círculo mais tolerável, jogando-a no limbo. Ao passo de que Naruto vivia o desespero da sétima esfera, banhando-se nas brasas da fúria do Uchiha, ao qual vociferava ordens e tomava o pobre novato como um idiota por completo. Ele não o permitiu sequer interagir com as crianças e chegou até a mandá-lo para o Starbucks mais próximo, exigindo um Frappuccino de Morango.

— Acho que vou para casa. — O deprimido loiro declarou fatigado. Ele colocou a mochila nos ombros e despediu-se da amiga, caminhando para a saída. No entanto, sentiu olhos em si e virou-se, procurando por seu observador.

Do outro lar do bar Sasuke franzia as sobrancelhas e o Uzumaki percebeu que ele fitava sua bolsa, a qual possuía três triângulos equiláteros carregados pela Triforce do Poder — um representação de Zelda, sua franquia de jogo favorita.

Naruto apenas agiu como qualquer adulto maduro: erguendo o dedo do meio na direção do desgraçado.