Tenho que admitir: foi uma decisão bem radical. Ainda não sai da minha cabeça a imagem da minha mãe completamente estática após eu dizer que queria me mudar com o papai. Ela gesticulava procurando algum motivo muito relevante para me fazer desistir da ideia, mas ela sabia que era em vão, sabia que para todos os argumentos eu teria uma resposta bem elaborada.

Quando finalmente ela conseguiu elaborar algum som em sua fala foi confortante, pois ela sempre foi mais presente que meu pai e conhecia melhor meus sonhos. Ela sempre será minha fã número um.

“Brilha, minha pequena. Só não esquece que sempre estarei aqui por você”

No momento em que ela me abraçou antes da minha partida nunca senti tanta vontade de chorar. Não era de tristeza, longe disso, estava muito empolgada e aliviada. Porém, deixar minha mãe não foi fácil e eu tinha em mente que nunca iria ser.

Antes de embarcar, minha mãe me deu uma caixinha de um cordão com uma clave de sol. Era perfeito e em ouro branco. Ela sempre sabia como me agradar.

Não vi minha melhor amiga no aeroporto aquele dia, tentei não me abalar com isso, ela não era do tipo que curtia despedidas, nunca foi o forte dela. Letty não lidou muito bem com a notícia, apesar de saber que sempre foi meu sonho. Ela chorou quando soube e me deu o abraço mais apertado possível. ‘’Você vai conseguir, eu sei disso”, foram as palavras ditas para mim.

A cidade era maior do que eu imaginava, deve ser a proximidade da capital. Iluminada pela noite, não conseguia ver as estrelas com tanta facilidade quanto na minha antiga cidade, mas não deixava de ser encantadora. Soube que era um bairro um pouco afastado que ganhou vida e identidade própria. É uma vibe de cidade grande e ao mesmo tempo pequena. A metrópole fica cerca de meia hora daqui.

Estava frio, cheguei durante o inverno. Espero que por aqui neve também.

Segurei o pingente com força, agora iria começar a verdadeira luta pelos meus sonhos.

O carro de meu pai estaciona em frente à nova casa. É grande e bonita, grande até demais só para nós dois. Talvez ele me permita ter um cachorro dessa vez.

Estamos parados olhando para nosso lar. Será um pouco estranho sem a mamãe por perto. Até porque papai vive viajando por conta de trabalho. Um novo desafio para mim será essa “quase independência”.

— Acha que soube escolher a nossa nova residência? – Meu pai pergunta entusiasmado.

A brisa fresca era algo realmente revigorante. Fecho os olhos e inspiro mais profundamente para sentir melhor ela entrando e saindo de meus pulmões. Horas dentro de um avião com ar-condicionado te faz ter saudades de terra firme e ar fresco.

— Tenho que admitir, foi uma escolha boa, Senhor Henrique. – Respondo sorrindo ainda com os olhos fechados.

— Nova vida, Mi. – Ele me abraça de lado e deposita um beijo em meus cabelos. – Nova vida.

Era por volta de quatro da manhã quando chegamos. Fui direto para meu quarto cochilar até amanhecer, seria meu primeiro dia de aula.