Criaturas das Trevas escrita por Elliot White


Capítulo 5
O inimigo do meu inimigo é meu amigo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792218/chapter/5

Chegando até a plantação de abóboras, já estava no fim do dia e escuro, mesmo assim era visível as formas redondas e alaranjadas que estavam crescendo, cercadas por tentáculos verdes e folhas. No centro havia um espantalho grande em volta de muita vegetação.

Jack precisava de um tempo para começar a agir. Pelo menos era meu palpite.

Segundo meus cálculos, devia ter álcool circulando na minha corrente sanguínea.

Se não se importa, Jack agora seria uma boa hora.

Detrás da cabeça redonda e encardida do espantalho, se movia uma silhueta, o homem do regador.

Era muito alto, e estava muito escuro então não vi o seu rosto. As roupas, maltrapilhas eram surradas e de segunda mão. Ele se tornou visível.

O seu regador estava ali com ele, seu olhar estava fuzilando nós dois, não sei de onde ele tirou em silêncio, o instrumento de tamanho anormal, o erguendo como se não pesasse nada.

A ferramenta gigante de tamanho proporcional a de um ser humano vibrava em suas mãos, suspensa enquanto eu jurava que podia ouvir a respiração do homem como um rosnado.

Os seus braços sustentavam a alça. Ele levantou o regador colossal, e inclinou ele vagarosamente, até a água escorrer alcançando o chão. Uma fenda se abriu na plantação, como eu já esperava, mas ao invés de apenas deformar o solo, o líquido aquoso estava fazendo uma neblina gasosa subir no ar, como se fosse ácido.

Jack, quando quiser, me ajude.

A cratera se espaçava no chão, e de dentro centenas de corpos se contorciam, pareciam gente, mas estavam sem roupas, sem cabelo e andavam entre a neblina tóxica como se não fizesse efeito neles.

Jack, preciso de você agora!!

― O que é isso? ― Perguntei a Jepsen.

― Não sei, mas não gosto ― O anão responde ― deve ter algo a ver com o lugar de onde Lúcifer veio, o inferno! ― Ele gritou, sacando uma lâmina, que estava escondida nas roupas. Os corpos estavam escalando as bordas da fenda e subindo, e ele agitava a arma no ar tentando fazer eles se afastarem.

A água continuava saindo do regador. Onde tocava, corroía. Agora o ruído do coração dele batendo estava me perturbando. Foi quando a expressão do rosto dele mudou. Não estava mais se sentindo vitorioso. Estava mudando para amedrontado. Jack? É você? Demorou!

“Não tira onda, criança!”

A voz grave martelou na minha mente. A voz de Jack??

Agora o homem da plantação estava preso em minha telepatia.

*

Telepaticamente, eu vi as memórias do jardineiro.

Tudo que vejo é um menino baixinho de cabelos escuros e pele branca. Seria a versão jovem daquele homem??

― Crianças, digam oi para o seu primo Witwicky. ― Uma mulher ordena. Telepaticamente, vejo uma casa grande e um carro do lado de fora com as malas do infante.

― Oi! ― Três meninos e uma menina dizem em coro, sem ânimo nenhum. Depois vi todos juntos, correndo pela casa brincando de esconde-esconde e pega-pega.

*

Alguns anos depois...

― Você cresceu, Wit. Mas seus pais não mandaram dinheiro, então vai usar essas roupas usadas do seu primo. ― A mesma mulher entregou uma blusa e uma calça ao pequeno, que eram folgadas demais.

A visão muda para o Wit, que deve ser o homem do regador, em um terreno com muita vegetação, sem nada, apenas terra, e ele começa sozinho a plantação, passando muito tempo cuidando do solo, cortando as daninhas e plantando as sementes de abóbora. Ele também faz o espantalho ele mesmo.

― Meus filhos me disseram que você está usando o nosso território para fazer uma plantação sem a minha permissão, então a partir de agora não vou mais fazer a sua comida, entendeu? ― Pergunta a mulher de antes. Deve ser sua tia. O moleque assente com a cabeça em silencio e passa a se alimentar apenas das abóboras.

*

A visão muda para três meninos e uma menina, correndo pela plantação, mais crescidos, W não estava no lugar, devia estar na escola, e o grupo que provavelmente eram seus primos, começa a despejar um líquido por tudo, rindo maldosamente molhando todas as abóboras. Eu não sabia o que era, mas deveria ser veneno.

A visão muda de novo, para o jovem encontrando suas abóboras mortas. O pivete chora muito, revoltado vendo todo o seu trabalho envenenado. Mesmo assim, Witwicky limpa todo o terreno e planta de novo novas sementes, e a plantação com o tempo cresce de novo.

*

Um tempo depois...

― Quer um cigarro, Witwicky? ― Um garoto apareceu, junto de outros dois rapazes.

― Não obrigado. ― O menor continuou manejando a terra ignorando os três.

― Sabe, você devia sair mais, fazer outra coisa além de ficar só nesta droga de plantação. ― O mais alto deles disse, soltando um bafo de fumante.

― Eu gosto daqui. Sempre gostei. ― Witwicky fala.

― Eu sei, mas você não tem amigos. ― O mais baixo diz, aspirando um cigarro e fungando.

― Por que não começa a andar com a gente? ― O primeiro deles pergunta, e descarta um dos cigarros e o joga na plantação, só que ele ainda não estava apagado, e as fagulhas acabam acendendo, enquanto isso ocorria o pequeno apenas ignorou o trio e continua afofando a terra.

A chama se expande, queimando uma abóbora inteira, e incendiando suas raízes que eram como tentáculos, e isso fez o fogo andar de fruto a fruto até a plantação inteira.

― Fogo! ― Gritou Witwicky ― vou buscar água para apagar!

― Não, pivete. ― Um dos rapazes impede o baixinho, segurando o seu corpo. ― Vai ser melhor, sem essa plantação boba você vai ser menos ridículo.

― Façam alguma coisa! Apaguem o fogo antes que eu perca tudo! ― O infante exclamou, entre lágrimas, as abóboras eram importantes para ele. O trio o conteve, ele revidou tentando se soltar, agitando seu corpo em vão até que o incêndio aumentou drasticamente. Witwicky finalmente consegue se livrar dos três, mas ele tropeça e cai direto nas chamas, os jovens ficam olhando para a merda que fizeram, sem reação e depois fogem.

O pequeno corpo queimou em tentativa de salvar sua plantação, a dor o fez gemer alto, sua voz trovejando e ecoando no terreno até que enfim morreu.

Quando morreu, o jovem achou que iria para o céu, afinal nunca tinha feito mal a ninguém.

Isso não aconteceu. Ele foi para o inferno. Quando chegou, Lúcifer o recebeu com um sorriso.

*

O ex-jardineiro cresceu até a idade adulta no submundo.

*

― Qual seu nome? ― Ele perguntou assim que o encontrou no inferno.

― Jack. E o seu? ― Respondeu o recém chegado. Isso aconteceu quando ele morreu, foi para o inferno, e antes que o diabo o enviasse ao limbo...

― Witwicky ― disse o homem do regador. Os dois passam algum tempo juntos no inferno antes de se separarem.

― Por que está aqui? ― Perguntou Jack.

― Ah, porque Lúcifer quis. Puseram fogo em mim, eu morri, e vim para o inferno. Sorte a minha. E você? ― Ironizou Witwicky. A verdade era que ele não sabia o que o diabo queria com ele, mas em breve saberia.

― Enganei o diabo. Não é tão esperto quanto parece. ― O jardineiro ficou a par da história de Jack.

― Promete que quando conseguir sair daqui vai me levar junto? ― Pediu o homem do regador.

― Claro. Por que acha que vou conseguir sair? ― Jack fez a pergunta.

― Se enganou ele antes, então deve conseguir fugir. ― A promessa foi feita, mas antes que pudesse cumprir, Lúcifer o mandou para o limbo. Witwicky esperou, quando ele reencarnou, e reencarnou que ele iria lembrar de sua promessa, viajaria até o inferno e o tiraria dali. Isso não aconteceu.

“Você nunca voltou, Jack.”

“Você me deixou sozinho.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Deixem comentários!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Criaturas das Trevas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.