Criaturas das Trevas escrita por Elliot White


Capítulo 4
Embriagado


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!



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Terminei de me banhar me sentindo limpo como não me sentia em muito tempo me enxuguei e vesti as roupas que Lúcifer me deixou parecendo um nobre. O tecido aparentava ser seda, a blusa e a calça tinham bordas alinhadas em algo brilhoso.

― Olha só você, pirralho. Parece gente, só falta cortar seu cabelo. ― Ele me recepcionou. ― Chegou a hora de cumprir sua missão.

Ele estava sentado de pernas cruzadas em uma poltrona, o lustre pendia no teto acima, o castiçal da mesa agora estava aceso.

― Missão? ― Perguntei pensando no que significava isso.

― Isso mesmo, missão. ― Lúcifer respondeu me olhando nos olhos.

― Então quer dizer que ‘O Diabo’ da história era você? ― Falei mudando de assunto.

― Isso mesmo, pivete, eu sou o diabo! E por isso que você não vai sair daqui! Não antes de completar a sua missão. Eu não vou deixar, eu tenho muitos poderes. E aqui neste lugar, eu sou autoridade máxima! ― A voz de Lúcifer preencheu todo o lugar.

― Se...se você é tão poderoso... então como demorou tanto para me encontrar? Teve que testar todos aqueles garotos, não é? Isso significa que você não teve poder para saber qual deles era o descendente de Jack! ― Enquanto falava, a minha voz ecoava.

― ORA SEU MOLEQUE!!! ― Ele bradou, batendo as mãos com força na superfície da mesa. Eu tinha atingido o seu ponto fraco. ― Então é isso que você quer, sair? ― Dito isso, o ‘diabo’ fez silêncio por um minuto. ― Deseja sair daqui, Franco? Ir para casa? E para o que você quer voltar? Para isso? ― Diz Lúcifer.

Ele fez um gesto no ar e um clarão se ascendeu, como se tivesse aberto um corte no oxigênio e de lá estivesse saindo luz, depois percebi que era igual a quando eu vi o passado de Jepsen, só que diferente.

A cena mostrava um jovem deitado em um sofá, eu entendi que era eu há um tempo atrás.

Um homem sussurrou “você está louca? Não conhece ele.” Estava falando com uma moça, e ela diz “não podia deixar ele dormir lá fora com esse tempo.” Eu lembro deste dia.

“E se ele roubar a casa toda quando acordar e depois sair de fininho?” O mesmo homem fala, e ele achava que eu não estava ouvindo, mas estava. “Eu sei que não vai. Algo me diz que ele não faria isso. Ele é tão novo, e está vivendo esta vida!” A voz dela era maternal e confortante. Mas ela não é minha mãe. Ela me viu revirando o lixo dela, atrás de comida, e me convidou para passar a noite na casa dela.

A cena mudou, para a minha casa, uma torta com 16 velinhas acesas, meus pais e eu em volta da mesa.

“Assopre e faça um pedido, querido.” Disse mamãe com um sorriso. Eu fiz isso, e meu pai falou “feliz aniversário, filho” e então minha mãe pergunta o que eu pedi, e eu contei “não pedi nada, mas eu vou pedir que me escutem. Eu quero contar uma coisa. Eu sou...eu acho que sempre fui...eu sou gay.” Eu consegui deixar um clima tenso. “Franco, saiba que sempre vamos te amar. Não é, amor? Pai? Querido, diga alguma coisa!” Meu pai levantou e saiu, em silêncio. Um silêncio reprovador.

A cena mudou, para uma cena pior.

Foi depois de eu ter fugido de casa. Um vendedor de loja estava me expulsando do lado de dentro, quando me certifiquei de ficar perto o bastante dele para saquear sua carteira no bolso esquerdo. Eu não gostava de fazer isso, mas precisava fazer uma ligação.

Fui até o telefone público, depositei a moeda, disquei o número e esperei. “Alô?” uma voz feminina soou depois de um tempo, minha mãe. Eu tentei responder, mas congelei, minha voz não sai. “Alô?” ela repete, “...se for você, Franco, por favor volte.” Ouço e suspiro, respondendo “oi mãe, sou eu, estou bem.” Desliguei o telefone sem me despedir. Tudo voltou na hora, as lembranças dolorosas de papai começando a beber depois de eu ter me assumido, e as brigas. Se eu não tivesse contado, nunca teriam brigado. Quando ele bateu a primeira vez em mamãe, eu decidi fugir. Era culpa minha. A partir deste dia, jurei nunca beber álcool.

*

A miragem dissolveu no ar.

Lágrimas se formaram nos meus olhos, ainda dói, reviver aquilo ainda doía. Virei as costas para Lúcifer, e vi Jepsen. Ele estava olhando para mim, ele tinha visto tudo. Não sei por que senti vergonha.

Senti vontade de sair dali e me esconder, então comecei a correr, me dirigi até a porta e percorri todo o terreno do lado de fora, chorando.

Fui até um muro e chorei, vendo que não tinha ninguém. Ficar sozinho era tudo que eu precisava.

*

― Franco! ― A voz de Jepsen soou.

― Saia daqui! Você me traiu! ― Gritei ainda com o rosto molhado de chorar.

― Desculpe. Eu não faria isso se Lucífer não tivesse ameaçado a vida de meus pais. Eu quero fugir. E acho que você pode ajudar. ― Diz o anão.

Não respondi.

― O Jack pode ajudar. ― Ele continua.

― Eu tenho um plano. ― Digo depois de um silêncio. ― O cara do regador. Ele deve ter alguma insatisfação com a vida por aqui. O que sabe sobre ele? ― Pergunto, mesmo desconfiando de que Jepsen estava apenas fingindo.

― Não sei nada. Ele bloqueia a saída dos prisioneiros. ― O anão responde sem mais detalhes.

― Lembra de quando eu vi o seu passado sem querer? Eu vou tentar fazer isso, com ele. Vou precisar de bebida. ― Revelei meu plano. Era arriscado, mas era tudo que eu tinha.

― Eu sei onde arrumar. ― Ele fala, enquanto seu fofo pomo de Adão se movia.

*

Jepsen me levou até uma adega de vinhos, cobertos de teia de aranha, mas também havia garrafas de cerveja empilhadas, uma bancada. O chão de madeira cheirava a mofo e as paredes reluziam com a luz solar do sol se pondo.

A minha ideia era ficar bêbado, assim Jack iria assumir, e eu poderia acessar as memórias do homem da plantação.

Eu sabia que ele tem poder para isso, mas ele faria?

Por favor Jack.

― Era daqui que saía tanto álcool para os testes. ― Acentuou o anão.

Juntei alguns copos que achei, no meio das garrafas, estavam empoeirados, mas essa não era hora para frescuras. Organizei eles no balcão. Girei a tampa da garrafa de cerveja e deixei a bebida descer de copo em copo até que todos ficassem cheios.

Com pressa, bebi o conteúdo de um em um, dando goladas, sentindo o líquido descer raspando na minha garganta e queimar, logo já tinha bebido mais de cinco copos. Espero que isso acorde o Jack.


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Notas finais do capítulo

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