Vapor escrita por Downpour


Capítulo 7
7. Shots e pensamentos




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CAPÍTULO 7

shots e pensamentos



alissa fontes

 

Alissa poderia dizer que suas semanas estavam sendo tranquilas, ela e Calum estava sendo uma ótima dupla e ele parecia respeitá-la bastante o que era ótimo. A garota continuou indo às sessões de terapia, uma vez a cada três dias fazia ligações de vídeo com sua mãe e sua avó, e para não perder o costume, ignorava as mensagens que Victor a mandava nos finais de semana.

Com o passar do tempo as pessoas esqueceram o assunto Alissa, Calum e Aimee e ela pode finalmente andar pelos corredores sem ser xingada por desconhecidos. As coisas estavam começando a voltar ao normal.

A garota seguia com sua rotina entorpecente de estudos e mais estudos, ela vivia tensa e irritadiça e por mais que detestasse admitir, sentia-se mais leve e tranquila quando tinha as aulas de Psicologia Jurídica com Calum Hood. O moreno tinha uma habilidade incrível de fazer com que ela risse facilmente de qualquer coisa, e a sua presença parecia deixar as coisas bem mais leves. Ela gostava de acreditar que os dois estavam se tornando bons amigos. Agora ela estava começando a entender as pessoas que começavam amizades com beijos, ou beijos que terminavam em amizade.

— Alissa, você estava me ouvindo? — Marina parou na frente da amiga com os braços cruzados e uma expressão irritada de quem tinha que repetir tudo o que acabou de falar.

A garota abriu a boca procurando uma resposta, mas quando percebeu que não reparou em nada do que Marina estava falando porque sua mente estava ocupada pensando em Calum Hood e beijos, acabou resolvendo ficar quieta.

Meu Deus, por quê mesmo ela estava pensando em beijos?

Sentiu uma vontade imensa de bater sua cabeça na parede, mas caso fizesse teria de se justificar para a amiga, o que também não era uma ideia muito agradável.

— Desculpa. Você pode repetir? Eu estava distraída.

— É, você vive distraída. Só que um distraída feliz. O quê aconteceu?

Era absurdo como Marina era simplesmente ótima em ler as expressões de Alissa.

— Jesus Cristo Marina, todo dia você me surge com esse mesmo monólogo.

Marina, que antes estava irritada por um motivo que Alissa desconhecia, deixou a irritação de lado e então sorriu de forma angelical - coisa que assustou a Fontes.

— Eu tenho uma suspeita do porquê você estava sorrindo sozinha, mas vou deixar quieto. Se brincar você não assume seus sentimentos para si mesma.

— Jesus. Cristo. — Alissa disse pausadamente o que fez a outra dar risada. — Diz logo o que você queria falar.

— A festa, lembra? Ashton nos convidou para uma festa particular.

— Ashton?

— Sim bobinha. — Marina sorriu.

Alissa suspirou, lembrando-se de que Ashton realmente tinha convidado as duas para uma festa fechada com os meninos da banda e mais alguns outros amigos deles. Ela tinha planejado passar aquela noite estudando - como sempre -, mas Ashton era seu amigo, se ela tinha prometido que ia nessa festa, então ela iria cumprir o que tinha falado.

— Certo, o que eu visto?

Marina sorriu, batendo palmas animada.

— Finalmente o meu pequeno pokémon evoluiu.—  disse colocando a mão no peito como se estivesse emocionada.

— Eu vou fingir que você não acabou de me chamar de pokémon e vou tomar banho.




Duas horas mais tarde as duas estavam prontas e na frente na república em que Michael Clifford e Ashton Irwin moravam. Marina vestia um vestido simples preto que destacava suas curvas  e calçava uma bota de salto alto também preta, a garota estava abraçada com o seu namorado. Já Alissa vestia uma regata cropped branca, um shorts preto, vans e uma jaqueta de couro. Seus cabelos cacheados estavam devidamente modelados e lhe caíam nos ombros brilhando conforme ela andava fazendo os fios se movimentarem. Enquanto o casal ao seu lado se abraçavam e murmuravam coisas íntimas, ela simplesmente afundava suas mãos no bolso da jaqueta se perguntando o que estava fazendo ali.

A república era um prédio enorme amarelo, tinha uma arquitetura moderna com alguns formatos retangulares e deveria ter pelo menos uns quatro andares ou mais. As janelas da fachada estavam abertas para ventilar o ambiente, e a enorme porta de madeira que dava entrada para o local estava aberta com uma figura familiar parada sorrindo para Alissa.

— Vocês vieram! — Ashton sorriu ao ver as duas na entrada da república, mas seu sorriso pareceu morrer quando ele olhou para Harry. — Sintam-se a vontade.

Alissa deixou o casal passar na sua frente e parou do lado de Ashton.

— Eu te ajudo a enterrar o corpo dele. — a garota resmungou.

— Você ficou de vela a tarde inteira? — Ashton perguntou, o garoto não sabia se ria da situação dela, ou se ficava triste por causa da situação dele.

— O quê a Marin não me pede sorrindo que eu não faço chorando?

O Irwin suspirou desviando o seu olhar para Marina que estava nos braços de Harry enquanto os dois conversavam com Michael e a namorada dele.

— Da próxima vez eu compro a pá. — ele murmurou e os dois sorriram cúmplices.

— O que vocês dois estão fazendo na porta? — a voz acusadora de Calum Hood fez o corpo de Alissa estremecer, ela e Ashton se entreolharam brevemente. Um sorriso de canto apareceu no rosto do Irwin, como se ele tivesse acabado de reparar em algo que Calum e Alissa não faziam a mínima ideia do que era.

— Oi pra você, Hood. Eu e Ashton estávamos conversando sobre enterros. — a garota disse com um sorriso zombeteiro que internamente tirou Calum do sério.

— Enterros? — ele indagou ao mesmo tempo em que Ashton riu.

— Esquece, vou deixar vocês a sós. Cal, leva ela na cozinha.

Alissa corou ao perceber que Ashton tinha os deixado sozinhos de propósito, ela observou Calum timidamente por alguns momentos, não se surpreendeu quando percebeu que ele estava estonteante de tão bonito. Naquela noite ele vestia uma camisa vermelha por cima de uma camiseta branca com o logo de alguma banda de rock que ele gostava, seus típicos skinny jeans rasgados no joelho e um vans. Isso sem falar no seu cabelo castanho que faziam pequenos cachinhos nas pontas.

— Por quê você está olhando para mim? — ele perguntou.

— Estou esperando você me apresentar a cozinha. — mentiu.

— Tudo bem.

Calum pegou sua mão - o que a deixou incrivelmente surpresa -, e então a guiou pelos corredores da república que estavam lotados de pessoas. Por mais que Ashton tivesse lhe falado que aquela era uma festa fechada, ainda assim parecia ter bastante gente.

— Aqui é a cozinha, você quer beber alguma coisa? — ele perguntou com simplismo, e pela forma que ele falava, Alissa pode perceber que Calum também estava nervoso, ela só não sabia porquê.

A cozinha tinha um tamanho aceitável para a quantidade de pessoas que moravam na república, assim como a fachada, o cômodo era uma combinação de amarelo e cinza. As duas geladeiras uma do lado da outra, uma enorme bancada com todo tipo de bebida alcóolica em cima, copos e alguns itens para fazer drinques.

— Eu posso fazer uma bebida típica do meu país? — ela perguntou dando um meio sorriso.

Calum ergueu uma sobrancelha.

— Você nunca me falou de onde é. E sim, fique a vontade.

Alissa sorriu enquanto se dirigia até o balcão da cozinha, a sua sorte era que os itens para fazer drinques estavam postos a mesa. Enquanto ela preparava a bebida, também falava com Calum.

— Tecnicamente eu sou daqui, mas não nasci aqui. — disse rindo do olhar confuso de Calum enquanto ela cortava os limões — Eu nasci no Brasil, meus pais são brasileiros embora meu pai seja filho de uma australiana.

Hood olhou para a garota como se estivesse maravilhado e ao mesmo tempo curioso sobre ela.

— Uma coisa antes de você falar algo. Não me pergunte se eu sei sambar. — Alissa disse seriamente com uma faca na mão, Calum enrugou a testa confuso.

— Tudo bem. Você cresceu aqui em Sydney?

— Não. Eu passei alguns anos da minha infância em Brisbane, voltei para o Brasil e mais ou menos no segundo ano do ensino médio vim morar aqui com a minha mãe.

— Uau, parece uma vida corrida.

Ela deu um sorriso triste enquanto quebrava gelo, misturando-o com o limão na coqueteleira.

— Você sente falta… do Brasil?

— Muita. — Alissa sorriu nostálgica — A cultura brasileira é bem diferente da daqui, e eu também sinto muita saudade de falar português, ver as pessoas falando na rua, andar pela Paulista…

Calum acabou sorrindo junto com a garota que estava preparando a bebida, a forma como ela falava de seu país de origem tinha tanto carinho que ele acabou sendo contagiado pela energia dela.

— E o quê você está preparando? Eu não sei nada sobre bebidas brasileiras. — disse com sinceridade.

— A famosa caipirinha. É uma mistura de limão, açúcar e cachaça. Tem quem coloque xarope, raspas de rapadura ou outras frutas, quanto mais gourmet for, normalmente é mais gostoso. — ela sorriu timidamente colocando o açúcar na bebida e servindo as doses para ela e Calum — Prova, te prometo que não vou te envenenar.

Calum olhou levemente receoso para a bebida, mas acabou cedendo. Percebeu que Alissa o olhava com expectativa enquanto ele dava um gole na bebida, e isso o fez sorrir. Ela ficava uma gracinha assim.

— Isso é ótimo. Eu não esperava que fosse tão bom.

Alissa sorriu convencida.

— É porque eu sou uma ótima barista. — disse dando um gole em sua caipirinha e logo sorrindo em aprovação.

A garota nunca teve exatamente idade para beber quando estava no Brasil, contudo já viu sua mãe preparar caipirinha para seus amigos em casa, assim acabou experimentando a bebida. Então, ver Calum aprovando a sua bebida a deixou relativamente feliz.

Os dois nem tiveram tanto tempo para degustar a bebida a sós porque Marina se aproximou com Harry a abraçando, Alissa percebeu que só pelo olhar Calum não pareceu gostar muito do namorado de sua amiga.

— Calum Hood, — Ford deu um sorrisinho enquanto alternava o seu olhar entre Calum e Alissa — oras já superou a sua ex assim tão rápido? Acha que Alissa é algum tipo de substituta barata-

— Harry fique quieto. — Marina sussurrou pisando no pé do namorado.

Alissa desviou o olhar do casal para Calum e percebeu que o maxilar dele estava trincado, a garota teve de se conter para não começar a xingar o namorado da amiga.

— Calum, o que você acha da gente dar uma volta? — ela perguntou e ele assentiu de prontidão se juntando a ela e deixando o casal sozinho na cozinha.

Hood deu um gole grande na caipirinha enquanto olhava para trás com uma certa desconfiança e então começou a seguir Alissa para os jardins que ficavam fora da moradia estudantil.

— Ele é um idiota. Como a sua amiga consegue? — infelizmente ou felizmente, a sinceridade era o seu forte, então Calum acabou deixando aquelas palavras saírem sem pensar se aquilo fosse ofender a garota. Para a sua surpresa, ela simplesmente deu de ombros.

— O amor é cego. Marina vê o Harry como algum tipo de princípe.

— O amor é uma merda. — Hood resmungou sentando-se na grama em meio as flores do jardim, por um momento Alissa pensou que aquilo daria uma fotografia perfeita, mas acabou por deixar aquilo para si mesma.

— É, você tem razão. O amor é realmente uma merda. — ela murmurou olhando algumas estrelas no céu noturno.

Alissa preferia não pensar muito no tópico “amor”, era algo que ela geralmente evitava da mesma forma que o diabo foge da cruz. Depois das suas experiências terríveis com homens ela tinha se convencido de uma vez por todas de que ela não tinha vindo ao mundo para ser amada, o que não a fez necessariamente desacreditar do amor, afinal sua mãe amava o seu padrasto e os dois tinham um relacionamento incrível, sua avó também tinha amado muito seu avô. Contudo… ela acreditava que o amor era um luxo que não era dado para todos, bem que sua mãe dizia que ela não era todo mundo.

— Um shot em troca do quê você está pensando. — Calum disse.

Ela riu.

— Eu estava pensando que o amor existe, mas eu não sei… é um luxo, ou é questão de sorte. Agora pode tomar o seu shot.

Calum virou o líquido do copo em questão de segundos e pareceu perfeitamente normal, o que fez a garota se questionar sobre as condições do fígado dele.

— É, acho que eu também tenho um pensamento semelhante. Mas quem faz psicologia aqui é você, então…

Alissa conteve a vontade de revirar os olhos e simplesmente riu.

— Alto lá, eu ainda estou no terceiro semestre. — disse erguendo seus braços em rendição — Talvez nossa concepção de amor e a forma com que nós se relacionamos seja espelho do que vemos nos nossos pais. Mas acho que depende muito.

— Nah. — Hood respondeu — Meus pais são adoráveis.

Ela afastou uma mecha de cabelo do rosto, prendendo o cacho na orelha enquanto pensava para poder dar uma resposta para ele.

— Também pode ser um ciclo de repetição, expectativas exacerbadas ou simplesmente um trauma que eventualmente fez com que a pessoa desenvolvesse afetos evitativos. Sei lá, acho que o fato do amor ser uma droga vai um pouco além da forma de como uma pessoa vê os seus pais na infância. Os traumas e lutos mal resolvidos devem ser levados em conta…

Hood deu um sorriso tímido, apenas observando Alissa falar sobre psicologia com os olhos castanhos brilhando de empolgação. Quem dera se ele se sentisse assim com o curso que ele fazia também. Enquanto ela falava, ele não pode evitar olhar para os lábios rosados da garota. O ponto ruim de beijar pessoas bêbado é que as memórias - se é que você não esqueceu - são muito abstratas e não é possível ter uma lembrança fixa daquele beijo em questão. Não que ele quisesse beijar Alissa de novo, eles eram amigos agora, claro.

— Eu comecei a tagarelar, não? — perguntou quando viu Hood apenas sorrindo para ela em silêncio.

— Sim, mas não tem problema. Estava interessante.

Alissa riu e então olhou para o seu copo vazio.

— Bem, eu vou voltar para a república para pegar mais bebida. Você quer? — perguntou olhando para o copo dele que também estava vazio.

— Claro. — ele respondeu.


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