Vapor escrita por Downpour


Capítulo 20
20. Vapor




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CAPÍTULO 20

 vapor

 

alissa fontes

 

         O que parecia ser terrível a primeira vista, não foi tão ruim assim no final das contas.

         Durante o jantar Alissa tinha conhecido o segundo filho de seu pai, o nome dele era Andrew. Ele tinha seus quinze anos mas ainda assim era muito parecido com Victor, e assim como a irmã mais nova, ele demorou um certo tempo para lidar com a presença de Alissa na casa.

         No final das contas tanto ele quanto a irmãzinha acabaram por gostar bastante de Alissa, e embora a relação da menina com o pai não fosse uma das melhores, eles tinham conseguido chegar num acordo mútuo de respeito.

         Para quem tinha problemas de comunicação antes, aquele era um grande passo para a relação de pai e filha deles.

         O feriado tinha sido relativamente tranquilo, Alissa tinha conseguido se entrosar com a família e como já estava acostumada com jornalistas e pessoas de certa importância na mídia, não se surpreendeu ao encontrar alguns famosos na residência. Por alguns momentos tudo estava bem, e era aquilo que importava.

 

 

 

         Mesmo de férias na casa do pai, a garota não tinha esquecido seus estudos, Alissa estava sentada de frente para o seu notebook lendo um livro que um de seus professores indicara para acrescentar em sua iniciação científica. Ela bebericava uma xícara de café fumegante enquanto fazia algumas anotações sobre sua leitura quando seu celular começou a vibrar.

         Calum estava ligando.

         Surpresa, ela atendeu a ligação.

         — Boa noite Cal.

         — Alissa. — ele suspirou do outro lado da linha, como se somente ouvir a voz dela fosse tranquilizante o suficiente para ele — Você está bem? Eu acabei de ver algumas fotos suas na casa do seu pai.

         — Oh.

         Ela tinha esquecido completamente que tinham tirado fotos da família King na noite de Natal e que aquelas fotos iriam repercutir na internet. Tentou não se sentir intimidada ao pensar naquilo, e então se sentiu levemente culpada por não ter comentado absolutamente nada daquilo com ele.

         — Cal me desculpe, eu não queria te ocupar com o meu drama familiar. — disse timidamente enquanto dava um gole em sua xícara de café.

         — Me ocupar? Drama familiar? Alissa se algo é importante para você, então também é importante para mim. — ele murmurou do outro lado da linha com sua costumeira sinceridade avassaladora.

         A garota se viu sorrindo sozinha para a parede do quarto.

         — Cal, você é adorável. — disse baixinho, desejando poder ver o rosto dele. Gostaria de ver a reação dele a aquelas palavras. Teria ele baixado a cabeça envergonhado ou simplesmente sorrido após morder os lábios? Ela só queria estar do lado dele naquele momento, queria embalá-lo em um abraço confortante.

         Contudo ele estava em outro continente.

         — Você está bem? — ele repetiu a pergunta, demonstrando preocupação.

         A garota resolveu contar o que tinha acontecido para ele.

         — A princípio não, eu estava morrendo de ansiedade de vir para cá, com medo que alguém me humilhasse ou algo do gênero. Isso nunca aconteceu. — ela mordeu a bochecha para não sorrir embora ninguém pudesse vê-la — Na verdade Victor tem um quarto nessa casa esperando por mim há anos. E os filhos dele gostaram muito de mim. Você acredita que eu fiz brigadeiro para eles?

         Calum riu.

         — Eu consigo visualizar você fazendo esse tipo de coisa. Lembra de quando você fez brigadeiro para nós dois maratonarmos How I Met Your Mother?

         — Lembro. — ela sorriu nostálgica.

         — Estava muito bom, e olha que eu não costumo gostar de coisas muito doces.

         — Admita Cal, você gostou porque fui eu que fiz. — ela disse em um tom convencido.

         A risada de Calum preencheu toda a percepção da garota, lá estava a sensação de coração quente que ela sentia toda vez que estava ao redor do namorado. Como se só por alguns momentos, não houvesse ninguém no mundo além dos dois.

         — Eles estenderam a tour mais algumas semanas.

         O sorriso de Alissa se desmanchou.

         Ela mordeu os lábios.

         Ainda havia mais uma coisa que ela deveria falar para Calum.

         — E você vai ficar quanto tempo aí?

         — Vou voltar na verdade, para ficar só alguns dias na Austrália. Depois irei retornar para a Europa.

         — Eu vou poder te ver? — Alissa perguntou com a voz falhando. Ela não queria admitir mas odiava aquilo, odiava a forma em que cada vez que o tempo passava os dois ficavam cada vez mais distantes um do outro.

         As vezes ela tinha medo de que Calum fosse como vapor.

         Que um dia ele desaparecesse completamente de sua vida como se nunca tivesse existido.

         — Claro. — ele respondeu do outro lado — Eu estou voltando apenas para te ver.

         Ela suspirou, ligações internacionais não eram lá muito baratas, logo Calum iria desligar, então não pode evitar falar:

         — Cal.

         — Sim? — disse num tom despreocupado.

         — Eu te amo. — disse com o peito em chamas, com medo de que se não dissesse isso ele iria desaparecer como o vento.

         Calum ficou alguns momentos em silêncio do outro lado da linha. Surpreso com aquela declaração súbita.

         — Uau, assim tão de repente? Eu também te amo Lissa.

         Ela fechou os olhos sentindo uma sensação de euforia.

         — É que eu achei que você deveria saber. Eu te amo. — repetiu.

         O garoto riu.

 

 

 

 

         Alissa vestia um kimono simples, por cima de suas costumeira regata branca e um shorts jeans preto. Seu cabelo estava trançado em um trança lateral que permitia que seu rosto delicado fosse visto com mais clareza.

         Ela estava sentada em uma cafeteria esperando sua melhor amiga chegar. As duas tinham combinado de tomar café da manhã juntas antes de voltarem para o campus.

         Enquanto Marina não chegava, Alissa aproveitou para mandar algumas mensagens para sua mãe e para a avó, demonstrando preocupação. Ela sempre se comunicava com as duas sempre que podia. Estava tão distraída mandando as mensagens que não percebeu Marina na sua frente com um sorriso torto.

         — Bom dia.

         — Ei, bom dia. — Ali sorriu, indo abraçar a amiga.

         — Foi tudo bem na casa do seu pai? Você já me falou isso por mensagem, mas mesmo assim...

         — Foi sim. Pode ficar tranquila. Ainda tem uma certa tensão, mas de alguma forma eu sinto como se tivesse tirado um peso enorme dos meus ombros.

         — Eu percebi, — Marina comentou com um sorriso orgulhoso — dá para ver pelo seu olhar que você está mais leve e feliz.

         A Fontes sorriu enquanto sugava um pouco de frappuccino com o canudinho.

         — Ali, eu queria falar sobre algo com você. 

         — Pode falar.

         Marina ficou alguns momentos em silêncio, tentando pensar em como diria aquelas palavras para a amiga da forma correta. Quando percebeu que não estava conseguindo verbalizar direito, abriu uma pasta que estava na sua bolsa e deslizou um papel na mesa, em direção a ela.

         Alissa franziu as sobrancelhas confusa, contudo a confusão logo sumiu de seu rosto quando ela leu atentamente o documento.

         Seu corpo fora tomado por diferentes sensações quais ela estava longe de conseguir explicar.

         — E-Eu não esperava conseguir a transferência...

         — Você não precisa se justificar para mim Ali. Eu entendo o porquê você fez isso. Sei o quão importante é para você.

         As duas trocaram olhares cheios de compreensão, e só de olhar para os orbes castanhos gentis de Marina, Alissa quis chorar.

         — Eu pedi a transferência faz quase um ano, antes de conhecer Calum.

         Marina assentiu com a cabeça.

         — Você vai ir embora mesmo?

         Depois de um longo suspiro, Alissa apoiou queixo com as mãos.

         — Eu ainda não sei, mas acredito que sim. As coisas ficariam melhores para a mim caso eu estivesse em São Paulo para ajudar a cuidar da minha avó, e bem, eu consigo ir para uma universidade lá tão boa quanto essa aqui graças as minhas notas. Meu único problema em partir é deixar você e os meninos. Vocês são muito importantes para mim, e... Vocês não fazem a mínima ideia de como eu tenho medo de perder esses laços que eu fiz.

         A Gonzales sorriu ternamente, não haveria distância que a impediria de manter contato com Alissa. A garota era como uma irmã mais nova para ela.

         — Você não vai Ali.

         — Eu não sei como vou contar isso para o Calum. — ela disse tão baixinho que a outra quase não escutou. — É complicado porque nós já estamos muito distantes, ainda mais quando ele está na Europa e eu na Austrália.

         Marina desviou o olhar, como se compreendesse parte do problema da amiga. Nesse meio tempo ela também esteve um pouco afastada de Ashton, e ela podia jurar que aquela distância era horrível. Ela detestava ter que fazer chamadas pelo facetime quando poderia ter ele ali, ao seu lado.

         — E o Brasil é tão distante. Acho tão difícil ele sequer pisar na América Latina.

         — Vocês dois precisam conversar sobre isso. Calum é empático, ele vai compreender o porquê você precisa ir.

         — Eu sei Marin, acredite em mim, eu sei disso. O meu medo é que ele desapareça, que ele seja como vapor. Nunca pensei que poderia encontrar alguém como ele, e agora... Eu não me sinto bem em deixá-lo ir assim...

         Marina piscou.

         — Ali, eu acho que vocês deveriam conversar. E independente do que acontecer, você sabe que sempre me terá por perto para te ajudar no que vier.

         Os olhos castanhos escuro de Alissa brilharam.

         — E você sabe que eu sempre vou dar um jeito de vir para Sydney te ver, não? Na verdade eu adoraria te levar para o Brasil, te mostrar os meus museus favoritos.

         — Eu adoraria.

 


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