Antares escrita por Tahii, éphémère


Capítulo 2
Ninguém pode mudar o destino


Notas iniciais do capítulo

[Tahii] Olá, lindezas!! Tudo bem aí? ♥ Fiquei muito feliz com o feedback de vocês, se eu ficar mais feliz acho que vou explodir kkkkkk muito, muito obrigada! Vocês são uns amores ♥

Alguns questionamentos vão ser levantados a partir daqui. Definitivamente, esses personagens têm pensamentos bem confusos e volúveis — como todo jovem de 17 anos — e estão vivendo um momento muito intenso, como o professor Baldrick sempre diz. Destino, poder dos astros, escolhas, conflitos, emoções... Talvez nos reste desejá-los boa sorte, hehe

Em relação ao capítulo, devo dizer que ele é tão denso quanto o anterior [no meu ponto de vista], mas é menor, então eu acho que dá para aliviar... Em geral, é uma história densa, cheia de detalhes e tudo mais. Ficamos contentes com os comentários, e estamos 100% abertas à críticas construtivas, sugestões e tudo mais. Ok? ♥

Boa leitura pra vocês! ♥

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Scorpius mal se lembrava da noite anterior. Seu corpo inteiro doía, como se tivesse levado uma maldição cruciatus, e sua cabeça estava zonza, como se precisasse dormir pelo resto do dia; não passava das seis da manhã quando, por sentir uma dor insuportável no braço esquerdo, acordou. Levantou da cama depressa, tropeçando na bagunça dos seus colegas por causa da visão turva, cambaleando até o banheiro, a mão direita apertando firme o ponto de onde a dor despontava. Sentia sua pele ser perfurada, como se algo lhe rasgasse do braço até o punho. Apoiando-se na pia do banheiro com dificuldade para respirar, tentou fazer o mínimo de barulho possível.

Estava assustado demais para olhar para baixo e, como se seu reflexo fosse amenizar o impacto de alguma forma, olhou para o espelho. Seus olhos cinzentos, arregalados pela dor repentina, registraram o próprio rosto pálido e o suor frio grudando a raiz de seus cabelos. No entanto, nada poderia tê-lo preparado para o que encontrou no próprio braço. Levantando a manga curta do pijama, viu sua marca.

Se comparado às marcas que viu na Torre de Astronomia, relativamente pequenas, a dele era enorme. Um caule cheio de espinhos aparecia pouco abaixo de seu ombro e serpenteava por toda a parte interna de seu braço até chegar ao pulso. No entanto, havia algo na extremidade do caule, e Scorpius precisou encarar aquele ponto difuso por uns bons segundos até que percebesse: era uma rosa. Uma única rosa.

Mas… Por que doía? Ninguém pareceu sentir sequer um beliscão na noite anterior. O que aquilo queria dizer, no fim das contas?

Scorpius só percebeu que devia ter ficado muito tempo ali, alisando e analisando a própria marca, quando um punho nada suave esmurrou a porta do banheiro, seguido de uma reclamação quase que inaudível ao ser interrompida por um bocejo. Jogando um pouco de água no rosto, o Malfoy mal colocou os pés de volta no quarto quando Alvo passou rapidamente por ele e trancou-se no banheiro. De certa forma, aquilo o deixava momentaneamente aliviado — poderia evitar um questionário completo do rapaz por mais um pouco de tempo. Colando o braço esquerdo contra o corpo, foi rapidamente até a própria cama e colocou o uniforme, olhando para os dois lados sempre, para garantir que ninguém veria sua marca por hora.

Felizmente, a manga comprida tapava tudo e seu dia seria repleto de compromissos que impediriam qualquer ser vivente — que não fosse ele mesmo, é claro — de ver a coisa em seu braço. Tomou o café da manhã sozinho, encontrou Alvo indo para o salão enquanto voltava para o dormitório, vestiu seu uniforme de quadribol e foi a passos sonolentos para o campo, onde o time da Sonserina se encontraria para mais um treino antes do próximo jogo contra a Corvinal. Chegou antes da própria capitã, Megan Creevey, o que resultou numa longa espera. Teve tempo para sentir a dor desaparecer, e também para ser preenchido por uma sensação no mínimo estranha

Ele tinha uma alma gêmea. Não era único como seus pais. O grande problema foi que, ao sorrir com isso, uma súbita tristeza acometeu seu coração aliviado; por onde começaria a procurar para conseguir encontrá-la? 

— Nós temos uma vantagem contra os corvinos — Megan prendia seus longos cabelos loiros enquanto olhava de forma mortal para o time. — Não somos fracotes, não vamos deixar essa história de marca nos distrair do que realmente importa e, o mais importante — sorriu, colocando as mãos na cintura —, vamos fazer o Scamander comer terra, entenderam?

— Não — Alvo respondeu num bocejo. — Vamos derrubá-lo da vassoura? 

— O equinócio afeta a pele, Potter, não o cérebro.

Ninguém ousou dar risada; Megan Creevey não aceitava brincadeiras quando fazia referência aos demais capitães, principalmente se um deles fosse seu ex—namorado, já que suas intenções eram, de fato, verídicas. Na época em que terminaram, não houve nenhuma briga até o jogo da temporada onde eles acabaram, sem querer, colocando um pouco mais de intensidade no que era para ser um debate sobre uma suposta manobra injusta da Corvinal — que, por sua vez, não passou de um grande truque da garota para que a Sonserina pudesse levar alguma vantagem. Havia armado tudo junto dos batedores antes de entrarem no campo. Isso consolidou Megan como uma capitã ardilosa, assustadora e terrivelmente brilhante.   

Não demorou para que o treino começasse, embora o desempenho da maioria estivesse abaixo das expectativas — o que não era uma grande surpresa, mas que também não evitou que a garota ficasse possessa. Ao final, todos estavam cansados, havendo apenas uma única exceção. 

— Se ela não fosse minha capitã, eu provavelmente me ofereceria para ajudá-la a dar uma relaxada — o Potter tagarelava enquanto enxugava os cabelos, andando em direção ao banco entre os armários do vestiário. — Como alguém pode ser tão insuportável logo de manhã?

— Ela não aceitaria sua ajuda, sinto em dizer.  

— Sem ofensas, Malfoy, mas você não entende nada de meninas. 

— Suponho que tenho muito o que aprender com você.

— Lógico — um sorriso maroto nascia, aos poucos, nos cantos dos lábios vermelhos de Alvo. — Sabia que eu me encontrei com a Hubi sexta-feira à noite? 

— Você o quê? — Scorpius ralhou, fechando o registro do chuveiro. — Não sei se é mais impressionante você ter feito isso bem debaixo do meu nariz ou se é o fato dela realmente ter ido.

— Você me magoa assim — Alvo se fez de ofendido com a melhor de suas expressões teatrais, vendo o amigo aparecer com uma toalha enrolada na cintura. Antes que falasse algo, semicerrou os olhos com o que via. — Scorpius, é impressão minha ou você está com uma coisa gigante no braço?

— É uma flor — ele disse baixinho, aproximando-se do rapaz. 

— Flor? Isso é uma árvore, olha o tamanho disso! Não pensei que uma marca pudesse ser desse tamanho — o loiro estendeu o braço para que Alvo olhasse mais de perto. — A minha é tão pequena, olha — apontou para a lateral do joelho esquerdo. Ao que tudo indicava, parecia ser um kanji. — Não faço ideia do que isso seja. 

— Bem exótico — Alvo negou com a cabeça. 

— Não faz o mínimo de sentido. Quer dizer, qual a probabilidade de eu achar alguém que tenha algo a ver com esse negócio?

— Sem drama, Potter.

— Você diz isso porque para achar alguém que se chama Margarida por aí é fácil, né — Scorpius deu um peteleco na cabeça do garoto.

— Está precisando trocar seus óculos. Isso não é uma margarida, é uma rosa.

— Grande coisa. 

Scorpius não deu ouvidos para as asneiras que Alvo começou a falar. Primeiro porque ele estava tentando achar argumentos para evitar o inevitável: sentir uma curiosidade corrosiva percorrer seus pensamentos mais íntimos. Todo mundo queria achar sua alma gêmea se tivesse sido agraciado pela marca; não havia como mudar isso. 

Durante o almoço Scorpius teve de aguentar uma falação sem eira nem beira acerca do que havia ocorrido na madrugada. Adam apareceu segurando um tal de relógio astral, a mais nova engabelação das Gemialidades Weasley — embora ele devesse reconhecer o incrível meio de ganhar dinheiro. Como que alguém poderia acreditar que aquilo premeditaria a tal conexão? Nem sabiam se ela era real! Mas, como já era de se esperar, a maioria não estava agindo com suas devidas faculdades mentais, uma prova disso foi quando o próprio Alvo avisou que iria para a biblioteca fazer uma pesquisa e que eles poderiam jogar snap explosivo depois da reunião de monitoria do Malfoy, que se provou uma chatice maior do que o usual, inclusive. Às vezes havia uma disputa implícita entre os grifinórios e os corvinos para ver quem tinha o relatório semanal mais detalhado; contudo, foi Scorpius quem “ganhou” em disparada, diante ao súbito silêncio de Rose Weasley.  

Se na noite anterior Rose estava uma pilha de nervos, naquele momento estava prestes a explodir. Para começo de conversa, havia a pilha de relatórios que esqueceu na sala de monitoria e que, naquela tarde, parecia ter dobrado de tamanho muito rapidamente — não podia se importar menos com a competição saudável que faziam na entrega deles, não quando o esporro iminente que receberia de McGonagall já começava a ecoar em seus ouvidos. Sem contar que Lorcan começava a deixá-la aflita. Desde que se encontraram, ele levava as mangas dobradas até o cotovelo, ostentando sua marca e, ainda pior, espalhando para todos, que quisessem saber ou não, que ela fazia referência à uma certa pessoa. Rose, no entanto, já não conseguia fingir que aquela situação a deixava confortável, principalmente quando seus receios passaram a tornar-se realidade na primeira das inúmeras vezes que Lorcan perguntou sobre sua marca, num único maldito dia

Acontecia que eram quase quatro horas da tarde e nenhuma marca havia aparecido; sabia disso porque, por mais que não tenha tido coragem de procurar na noite de sábado, procurou enquanto se trocava para começar aquele novo dia, e não havia nada. Nada em seus dedos, nada em seus braços, nada em suas costelas, nada em suas pernas. Arranjando as melhores desculpas que conseguiu, Rose se esquivou de Lorcan e continuou procurando conforme as horas do dia passavam. Infelizmente, não teve nenhum progresso, e naquele exato momento, estava prestes a gritar e sair correndo; o frio que tomava seu estômago crescia e começava a tomar seu peito, tornando a ação de respirar infinitamente mais difícil e pesada que de costume. Como se não bastasse, ela sentia a própria garganta obstruída por um nó, firmemente atado, que aumentava de tamanho na mesma proporção que pensava no assunto.

Era verdade que ainda tinha cerca de oito horas, mas tudo em seu corpo gritava uma verdade que ela não conseguia processar ainda: era uma única.

Devia ter sabido melhor do que apenas deixar que seu coração acelerasse tanto diante dos números no relógio astral. Não havia sentido em existir uma contagem regressiva para uma conexão se nem mesmo uma marca ela teria. Jogando a cabeça para trás, inspirou profundamente, e quando voltou a endireitar a postura, encontrou os olhos de Scorpius fixos nela.

— O que foi? — perguntou, massageando as têmporas.

— Você está bem? — a voz do Malfoy saiu quase que num sussurro enquanto, passo seguido de passo, se aproximava dela. Estavam bem em frente à porta da sala, o corredor não poderia estar mais vazio, McGonagall talvez seria a única a escutar algo, embora não parecia ser uma de suas prioridades.

— Alguém está? — ele deu de ombros, enfiando as mãos nos bolsos. — Essas vinte e quatro horas têm sido um grande pesadelo. 

— E uma grande dor de cabeça — acrescentou. — Nunca ouvi tanta falação de domingo, nunca vi algumas pessoas sequer acordadas no domingo, e de repente todos estão dispostos a mostrar suas marcas e tentar achar a alma gêmea antes que o dia acabe. 

— Isso nem deve ser possível, se quer saber. Qual a probabilidade de você imediatamente achar sua alma gêmea? — Rose negou com a cabeça, começando a dar alguns passos lentos. Seu coração tremia como se o tivesse colocado num liquidificador. Era aterrorizante descartar o relógio astral, que no momento representava a única e remota possibilidade dela não ser uma única; os dias que continuavam ilustrando o visor pareciam olhá-la pesadamente. 

— Hm… Acho que deve levar pelo menos seis meses. Nunca ouvi ninguém dizer que achou no dia do equinócio — foi a vez de Scorpius colocar o coração na batedeira. Estava sendo tão ingênuo naquele momento — ou na mesma semana… Essas coisas devem levar tempo. Bastante tempo. 

— Sim — Rose concordou, cruzando os braços. — A sua marca apareceu?

— Ainda não — a respiração do rapaz vacilou, causando uma tosse. — E a sua?

— Também não. 

— Temos algumas horas ainda, antes de… — talvez fosse a coisa certa a se dizer, mas Rose não conseguia avaliar se era melhor ser uma alma única e não ter nada a ver com Lorcan ou ter uma marca e ela não ter nada a ver com o rapaz. Não conseguia parar de se culpar toda vez que lembrava do sorriso de Lorcan. Ela devia ter sentido algo vendo aquela lâmpada, algo que não estivesse relacionado com irritação, raiva ou culpa. 

Eles continuaram boa parte do caminho em silêncio, andando num trajeto sem destino. Rose parecia estar imersa nas horas que faltavam para o dia acabar, e Scorpius tentava se frustrar ao máximo enquanto pensava se estava delirando ou se era estupidamente burro por considerar a hipótese de que sua marca pudesse fazer alguma referência a Rose Weasley; seria impossível, de qualquer forma, além de ser loucura. Era um bom exemplo para se lembrar que coincidências cercariam a sua vida, mesmo sem serventia para a busca pela sua alma gêmea, e que não deveria enlouquecer por isso. Mas estava difícil, claro.

Pôde perceber que aquela situação começou a ficar desconfortável quando Rose virou o corredor da biblioteca e ele continuou em seu encalço, olhando-a de soslaio em curtos intervalos de tempo. Tinha tantas perguntas a fazer.

— Vai ir para a biblioteca também?

— Tenho que terminar o pergaminho do Sr. Baldrick — tentou parecer casual ao responder, mas sentiu a bolsa de couro pesar em seu ombro, como se o pergaminho já feito tivesse dobrado de tamanho com a mentira.

Aquilo claramente não convenceu Rose — por mais que fosse completamente alheia a tudo o que o Malfoy fizesse, sabia muito bem que ele nunca, sob hipótese alguma, ia à biblioteca aos domingos. No entanto, tinha mais coisas com que se preocupar, coisas que anulavam qualquer importância que pudesse ser atribuída àquela situação. Não sentia a mínima vontade de prolongar o assunto. Acenando com a cabeça, balbuciou algo sobre terminar o próprio pergaminho antes de mergulhar de volta à própria bagunça.

Talvez ela e Lorcan de fato pudessem dar certo. Não era seu tio Jorge quem acabou casando com Angelina Johnson, a mulher com uma marca que fazia referência ao seu irmão gêmeo falecido? Não era seu tio Percy quem tinha uma alma gêmea nada compatível e acabou se casando com outra mulher? Embora aquilo não fizesse com que o absoluto terror, a ansiedade latente e a inquietação dessem uma trégua, Rose sentia os pensamentos clarearem um pouco e um fio de razão erguer-se sobre o caos, trazendo consigo a frase que o Sr. Baldrick disse na sexta feira.

O destino ainda assim se escreve sozinho, e a felicidade ainda se encontra em outros lugares.

Aquele momento de esclarecimento, no entanto, não durou muito. Parado diante das grandes portas da biblioteca, Lorcan olhava distraidamente para o relógio no próprio pulso, uma das dezenas de quinquilharias que sua mãe, Luna, acreditava ser útil para afastar os narguilês. Para o terror da Weasley, as mangas do uniforme dele estavam arregaçadas ainda mais alto, e seu antebraço esquerdo, firmemente cruzado sobre o peito num movimento que devia parecer natural, exibia aquela lâmpada para quem quer que o olhasse.

Cerrando os dentes, Rose paralisou e, tentando não fazer nenhum movimento brusco, tentou girar sobre os calcanhares para dar meia volta e fugir dali. Scorpius, que tardou a perceber que ela tinha parado, brecou bruscamente, seus passos ecoando no corredor vazio quando olhou para trás, para onde a ruiva estava, e demorou um segundo a mais para entender a situação. Rose fechou os olhos com força e contorceu o rosto numa careta, Lorcan levantou a cabeça com um semblante desorientado, Rose fingiu estar muito concentrada procurando algo na bolsa, Lorcan abriu o sorriso mais largo que podia.

Um segundo de atraso que poderia ter dado a Rose a chance de escapar.

— Aí está você! — cobrindo a distância entre os dois em passos rápidos, Lorcan passou o braço sobre os ombros da ruiva e depositou um beijo estalado sobre a bochecha pálida. Scorpius não conseguia parar de olhar para aquela lâmpada fluorescente, espremida ao lado do rosto de uma Rose constrangida, que parecia cada vez menor naquele abraço claramente exibicionista e possessivo. Quando a atenção do Malfoy voltou para o rosto do outro rapaz, encontrou um par de sobrancelhas franzidas encarando-o, parecendo alertas e preocupadas pela figura de algum outro garoto ao lado de Rose.

— Achei que fosse tirar o resto do dia para descansar — a voz da jovem parecia genuinamente surpresa e Lorcan deu um sorrisinho de canto convencido.

— Quis passar mais tempo com você — ele respondeu simplesmente, soltando o aperto no abraço apenas para se inclinar e depositar um beijo rápido sobre os lábios rosados dela — Que tal irmos estudar nos jardins hoje? O tempo está perfeito.

— Tarde — soltou Scorpius com um tom de ironia, ligeiramente irritado com a displicência do corvino quanto a sua presença; também se irritou com a forma que Rose tinha sido esmagada, mas preferiu atribuir aquilo ao desconforto palpável que emanava dela — Vou andando, então. Rose, Lorcan.

E inclinando a cabeça numa mesura educada, desapareceu detrás das portas pesadas da biblioteca. Rose soltou um suspiro pesaroso quando o terror voltou a explodir em seu peito. Não gostou da sensação de estar sozinha com Lorcan e com aquela lâmpada mais uma vez no mesmo dia. Entretanto, enlaçou os dedos nos dele e levantou os olhos para aquele largo sorriso de sempre, e não pôde deixar de sorrir de volta.

— Discutindo monitorias? — eles agora rumavam o caminho contrário e desciam as escadarias; Rose se demorou tanto nos próprios pensamentos que acabou prendendo os dois em um lance de escadas em movimento. Afinal, o que diria? Nem ela sabia o que Scorpius fazia ao seu lado, e apesar de Lorcan não ligar para essas coisas, era uma resposta vaga demais para ser dada.

— Sim — disse por fim, puxando Lorcan para perto enquanto os degraus não paravam, dando-lhe outro beijo, rápido para não ser denunciada pelos quadros — Os relatórios que McGonagall tem pedido estão cada vez mais exigentes.

— Mas não são páreos para você — ele apertou com o indicador e o polegar a ponta do nariz de Rose, que o franziu em seguida — Acredita que a marca do Garret apareceu?! E todo mundo achando que fosse um único, aquele lá. Patricia disse que…

Enterrando o rosto no peito de Lorcan enquanto ele continuava tagarelando sobre aquelas malditas marcas, Rose quis chorar, mas segurou-se até o último instante. Tinha que se manter firme por si mesma, porque ao que parecia, nem mesmo ele continuaria sendo um porto seguro em meio àquela situação toda que mais parecia um pesadelo.

Como tinha previsto, não conseguiu estudar quase nada. Chegaram aos jardins no fim de tarde, e a luz do pôr do sol, que podia ser aproveitada para enxergar alguma coisa, desapareceu rapidamente no horizonte, num período de tempo que Lorcan tomou com sua faladeira ininterrupta. Foi um final de tarde extremamente desconfortável, com mais esquivas da sua parte quando ele perguntou sobre sua marca, quando quis falar em como a dele só podia fazer referência a ela, e quando voltou com sua sinistra e súbita fixação em Garret.

Quando levou o Scamander para a torre da Corvinal, passou na da Grifinória para deixar sua bolsa do dormitório e fez as rondas habituais pelo resto da noite. Não voltou a encontrar Alvo escapulindo para canto nenhum, o que levava a crer que o Potter estava mesmo certo sobre tudo o que dissera, e o que levava Rose a sentir o mal-estar no estômago ainda mais intensamente. Sentia-se estranha, deslocada até, conforme as horas passavam e nada de diferença nenhuma dar um sinal, em nenhum lugar de seu corpo. Lembrava do último beijo que Lorcan lhe deu havia pouco, tão suave e familiar quanto sempre foi. Tentava convencer-se que o gosto amargo que tomava conta de sua boca era causado pela ansiedade, mas alguma coisa dizia que aquele amargor era um sinal, a primeira mudança sólida e sucinta de que, qualquer que fosse a magia das marcas, começava a fazer efeito e repelir Lorcan dela ou vice-versa.

Sequer se amavam de verdade? Eram jovens demais, e mais jovens ainda quando começaram a trocar beijos há alguns meses atrás. Sabiam que era arriscado se envolver com alguém antes dessa história de marcas, mas não lhes faltava atração e carinho, e aliado ao conforto e à familiaridade, Rose passou a acreditar no que tinham. Sentiu-se plenamente feliz em todos os momentos que compartilhou com Lorcan naqueles meses, e estava feliz até mesmo em ainda tê-lo ao lado, mas já não conseguia ter a mesma convicção de que aquilo era — ou poderia ser, um dia — amor; pelo menos não o amor limpo, genuíno e incontestável de uma marca, um amor como o que Lorcan levava, gravado na pele, por outra pessoa.

Quando Rose terminou as rondas, demorou-se no banheiro do dormitório. Nervosa demais para olhar para o próprio corpo despido, tomar banho sem ver o que fazia mostrou-se uma tarefa muito mais difícil do que esperava. Seus pensamentos não lhe deram paz em momento algum, de forma que, enquanto se enxugava, não conseguiu conter e vasculhou-se por completo, da ponta dos dedos dos pés até o couro cabeludo.

Deslizando o corpo para dentro do pijama, Rose olhou para o reflexo de seu rosto no espelho, a pele sardenta tomada pela vermelhidão, seus olhos pequeninos, inchados antes mesmo que as lágrimas começassem a ser derramadas.

A verdade da qual quis tanto escapar nas últimas vinte e quatro horas agora parecia esmagá-la contra o chão: não havia marca alguma. Ela era uma única.

 


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Notas finais do capítulo

[quldditch] QUE FINAL HEIN, MEUS AMIGOS, QUE FINAL!! Scorpius com uma rosa quilométrica no braço, Rose sem marca alguma, mas que patifaria que tá acontecendo aqui meu pai amado?! Muita calma nessa hora minhas scorose do core, não nos odeiem!

Como a Tahi disse ali em cima, estamos felizes demais pelo feedback tão positivo de vocês, não tenho nem palavras pra agradecer, então ressaltarei o óbvio: VOCÊS SÃO PERFEITASSS! ♥ ♥

Espero que tenham gostado, e estou ansiosa pelos comentários maravilhosos de vocês! Beijinhos, beijinhos, nos vemos logo ♥ ♥ ♥