Ouro e Prata - Símbolo de uma Promessa escrita por GolDKler


Capítulo 2
Capítulo 2




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ALINE

A luz do sol iluminava todo o quarto quando acordei. Janaina ainda dormia. Era sábado, estava livre das aulas e poderia dormir até mais tarde. Mas naquele sábado tinha compromisso: ajudar meus pais e minhas tias com a mudança para Susana. Eles moravam em Maringá, minha cidade natal. Finalmente toda a família ficaria unida novamente. Estava feliz, pois sentia muita falta dos meus pais. Tinha me mudado por causa da faculdade. E já estava no terceiro ano de engenharia.

Moro com meu tio Tarcísio, sua esposa Elena, e seus filhos Janaína, Jeane, Mateus e Lucas. Meus avós Karme e Anderson também moravam na cidade, na mesma rua que meu tios. A família de Ester, esposa da minha tia Karine, também moravam no mesmo bairro. Nossa família era muito grande e unida, não tinha um final de semana que não nos reuníamos.

Meu pai recebeu uma proposta de transferência da empresa que trabalha para uma filial maior aqui em Susana. E minhas tias também não queriam mais ficar em Maringá. Ester é delegada e conseguiu transferência para delegacia perto. Karine é médica, saiu do hospital que trabalhava lá, mas ela dizia que emprego não seria problema. Susana tinha hospitais grandes e ela possui ótimas recomendações.

Desci para tomar café-da-manhã. Meu tio Tarcísio já estava na mesa, Elena estava terminando de arrumar a mesa.

— Bom dia, querida. - Ambos falaram juntos.

— Bom dia. Tudo certo, tio?

— Sim, - falou dobrando jornal e se levantando. - Termine tomar seu café, vou te esperar no carro.

Terminei de tomar meu iogurte e fui para o carro. Não comi mais nada porque não queria passar mal na estrada. A viagem levaria aproximadamente três horas até Maringá.

— Aline, espere! - Minha tia vinha minha direção com um pote e uma garrafa com água. - Para vocês comerem no caminho.

— Obrigada.

— Chegando lá me mande uma mensagem. Se cuida, hein?

— Pode deixar que vou cuidar até do tio. - Falei indo na direção do carro. - Vamos voltar com todo mundo e dar uma festa.

Ela sorriu e ficou acenando enquanto carro descia a rua.

Meu tio não gostava de conversar enquanto dirigia. Coloquei meus fones e fiquei admirando a paisagem.

O trânsito estava tranquilo, chegamos em menos de três horas. Foi um pouco cansativo.

— Como está se sentindo se despedindo de Maringá? - Meu tio perguntou.

Olhei percebendo que era o bairro que morei, havia crescido ali. Meus amigos de infância ainda moravam lá. Mas já estava acostumada a morar em uma cidade maior. Só odiava o transporte público porque ele era um caos.

— Vou sentir saudade. Principalmente do transporte público daqui. - Ele riu. - Meus amigos podem me visitar e vice-versa.

— Isso é verdade. - Concordou - Chegamos, - anunciou enquanto estacionava o carro. - Preciso muito esticar as pernas.

— Eu também.

 

**********

 

— Olá, meu amor - tia Karine me apertava em um carinhoso abraço. Que eu retribui a altura. Me separei dela e fui abraçar minha mãe.

Fazia algumas semanas desde que tínhamos nos encontrado, mas a saudade já era grande.

Depois de nos cumprimentarmos, entramos na casa para almoçar. A casa estava muito bagunçada havia caixas por todo lugar. Abri um espaço na mesa e nos sentamos para comer. Meu pai e minha tia Ester logo se juntaram a nós.

— Estão terminando de pôr tudo no caminhão. - Ester falava com Karine. - Só vou desmontar o guarda-roupa e vou pegar a estrada.

— Não esquece caixas que estão na sala - Karine apontou para duas caixa pequenas.

Ela apenas confirmou com um gesto.

Todos estavam com cara de cansados. E não era pra menos, fazer mudança era muito trabalhoso. E seriam duas ainda.

Ester se despediu de todos, e foi de carro para Susana. O caminhão com suas coisas já havia saído e ela queria chegar antes deles na casa nova, que fica na mesma rua do meu tio. Mesmo se ela não chegasse a tempo, tia Elena receberia a mudança. Mas ela era teimosa insistia ir logo. Nos despedimos e fomos terminar de empacotar o que faltava. O próximo caminhão chegaria logo.

— Aline, seu quarto ainda tem muita coisa para embalar. - Minha mãe falou enquanto me entregava algumas caixas.

Fui para meu antigo quarto, quase irreconhecível agora. Meu antigo guarda-roupa e minha cama estavam desmontados. Coloquei tudo que faltava dentro das caixas, embalei tudo e levei para baixo. Levou mais tempo do que eu esperava, sentei em uma cadeira no quarto, olhando minha parede onde havia um desenho do Goku que sorria para mim. Queria poder levá-lo. Me lembrei do dia que fiz ele ali com meu amigo Jonas. Ele era um dos meus antigos colegas do colégio e meu melhor amigo. Havíamos nos distanciado por causa da faculdade. Mas ainda mantínhamos contato.

Lembrei de quando minha mãe achou que ele era meu namorado porque vivíamos juntos. E como eu ri quando ela perguntou.

Minha mãe, Celina era muito protetora e me apoiava em tudo. Não havia segredo entre nós. Me lembro de ter falado com ela sobre o meu primeiro amor, que foi garoto que nem lembrava nome. Quando me interessei por uma menina, ela me falou que não importava se eu gostava de homem, mulher ou outro gênero, se eu estava feliz era o que importava.

Era 16 horas quando o caminhão chegou, tudo estava empacotado. 

 

**********

 

Chegamos em Susana às 20h35min.

Deixamos tudo na nova casa e fomos para casa do meu tio, comer e descansar. Teríamos muito trabalho no domingo. Ninguém conversava muito, estávamos esgotados.

No dia seguinte, acordei com a minha mãe me chamando. Olhei relógio, era 8h15min.

— Café está pronto. - Ela falou já saindo do quarto.

Olhei para o lado e minha prima não estava mais ali. Desci as escadas e fui para a cozinha. Só minha mãe e minha tia Elena estavam ali, o restante já tinha saído para trabalhar.

Tomei meu café e fomos para casa dos meus pais. Todos estão muito animados, mesmo tendo muito trabalho no domingo. Ajudei elas a levarem alguns biscoitos, suco e água gelada. O dia prometia ser quente. Fui para onde seria meu novo quarto. Tia Ester estava montando meu guarda-roupa com Janaína.

— Devia ter me acordado. - Falei para Janaína.

— Eu não, - me olhou maliciosa - você estava tendo sonho muito bom. Tava agarrada ao travesseiro assim! - Ela pegou um travesseiro na caixa, abraçou e começou a dar beijinhos nele.

 Minha tia ria olhando para nós duas.

— Eu não sonhei com nada. - Realmente não me lembro de ter sonhado essa noite.

— Você tá carente. Faz quanto tempo que você terminou com a Luísa mesmo? - Ela parou me olhando. - Quase um ano já. - Completou rindo.

— Menos papo, mais ação - minha tia falou séria, tentando conter o riso.

Voltamos para que tínhamos que fazer.

Realmente fazia um bom tempo desde que havia terminado com a Luísa. Não tinha sido um relacionamento longo, namoramos menos de um ano. Todos os meus relacionamentos tinham sido curtos. O primeiro foi a distância, nos conhecemos em um evento na minha antiga cidade. Nos víamos uma vez por mês, e acabou se tornando desgastante.

Eu não sentia falta de ter alguém, tinha minha família. Apesar de ter tido dois relacionamentos, eu sabia que ainda não tinha me apaixonado de verdade. Amor verdadeiro, intenso e provavelmente imediato. Meus amigos falavam que isso era apenas contos de fada. Eu não concordava. Minhas tias eram completamente apaixonadas uma pela outra como conto de fadas. Era aquele amor que eu esperava. Não importava se iria demorar,  esperaria por ele.

Foi cansativo mas terminamos. Depois que montaram tudo em meu quarto, fui com o meu pai  buscar minhas coisas na casa do meu tio.

— Quanta tranqueira você juntou. - Meu pai falava carregando uma caixa grande - coitada da Janaína te aguentar.

Aquela noite eu dormi no meu novo quarto na casa dos meus pais.

 

**********

 

A semana começava e eu tentava voltar a rotina. Tinha faculdade de manhã e na parte da tarde iria trabalhar no SPA do tio Tarcísio. Basicamente fazia limpeza e marcava horário para os clientes.

Levou alguns dias até nos adaptarmos de novo. Tia Ester não quis esperar e foi conhecer sua nova delegacia antes do seu primeiro dia.

Karine tinha entrevista com a Chefe de cirurgia no hospital Álvaro Fontes, onde minha avó já havia trabalhado. Ela me chamou para ir também e não recusei. Janaína se auto convidou dizendo que queria ter noção de como era um hospital sem ser paciente. Então nós seis fomos lá. Fui com minhas tias e com Janaína, Tio Tarcísio levou minha vó Karme. Ela queria ver os antigos colegas.

O hospital era enorme, muito maior do que o de Maringá. Felizmente, nos três anos ali não precisei de hospital.

— Quantos andares ele tem vó? - Perguntei olhando para o alto.

— Onze andares.

— Amor, você vai se perder muito - Ester ria olhando sua esposa.

Ela fingiu que não tinha escutado e foi na frente. A sala de espera na entrada era enorme.

Fomos para onde tinha um balcão de informações. Eu parei pouco atrás admirando a decoração.

— Nem parece um hospital - falei para Janaina.

— Não mesmo.

Olhei para balcão, minha avó conversava com uma moça de jaleco branco. Provavelmente uma médica.

Ela se virou e então consegui vê-la melhor. Ela era jovem, tinha um rosto de boneca, seu olhos eram verdes e seu cabelo era curto e preto. Seu uniforme lhe caia muito bem.

Ela parecia uma princesa para mim. Fiquei olhando e então Janaina me cutucou com o cotovelo me trazendo a realidade.

— Quer um babador? - Perguntou zombando de mim.

Senti meu rosto esquentar, mas ainda a olhava de relance. Minhas tias também perceberam e meu tio perguntava por que todos riam. Eu fiquei hipnotizada a olhando. Sabia que seria motivo das risadas por um tempo ali, ninguém da minha família deixava uma piada passar. Mas não importava ela valia o sacrifício. Depois de um tempo a olhei novamente agora ela estava observando Karine conversar com atendente. Seu olhos verde eram maravilhosos, queria mergulhar neles e ficar ali para sempre. O que era aquilo? Eu não podia estar me apaixonando por uma estranha, não é? Por alguns instantes nossos olhos se encontraram e meu coração acelerou, acabei desviando olhar. Minhas mãos suavam. Eu nunca tinha me sentindo de tal forma. Sentia como se meus olhos estivessem se movendo sozinhos na direção dela.  Não consegui ficar sem olhar. Desta vez ela falava com a atendente. Ela parecia ser muito simpática. Pensei em me aproximar, mas minhas pernas não mexiam. A recepcionista parecia interessada nela. Será que tinha algo? Meu peito gelou.

Ela me olhou novamente, nossos olhos se encontraram. Desta vez não desviei o olhar, queria que me notasse. Ela me encarou por pouco tempo e foi embora.

— Não chora, não. - Janaína falava rindo assistindo a cena. - Ela vai voltar eu prometo.

 

**********

 

No caminho de volta eu fui no outro carro.

— Não vai ser tão fácil se livrar dessa - minha vó ria.

— Eu sei - falei triste sabia o que me esperava.

— Então você gostou daquela médica - disse tio Tarcísio. Ester explicou a ele os motivos do riso - nunca tinha visto aquela sua expressão antes, eu fiquei hipnotizado também quando vi Elena pela primeira vez.

— Sim. - Confirmei. - Mas ela nem me notou.

Ninguém falou por algum tempo. Então minha avó quebrou silêncio.

— Aquela jovem tem coração gentil. Mas ela sofre.

— Eu percebi que ela tinha um olhar triste por trás daquele leve sorriso - foi a vez do meu tio falar.

Minha vó confirmou com aceno e me olhou preocupada. Ninguém mais tocou no assunto até chegarmos em casa. Desci do carro já escutando Janaina gritando, que o amor bateu à minha porta.

As piadinhas continuaram o restante do dia. Quando finalmente as piadas pararam, tia Karina me chamou para conversar.

— Desculpe as brincadeiras.

— Tudo bem acho que mereci, fiquei com cara de boba mesmo.

— O que você sentiu?

— Não sei, mas meu coração disparou quando nossos olhos se encontraram.

Ela me olhava pensativa.

— Você gostou dela. - Afirmou. - Ester ficou igual você quando nos encontramos a primeira vez.

— Mas ela nem me notou. - Falei triste.

— Notou sim. Vou te ajudar se você quiser, vou trabalhar lá.

— Eu aceito, quero conhecê-la.

— Ótimo. Vou descobrir o que puder dela pra você.

Fiquei feliz com a ajuda. 

Durante aquela semana ela me contou como Gabrielle Silver era uma ótima residente. Séria, esforçada e muito inteligente. Um dia até fui com Ester buscar a tia Karine só para vê-la de longe. Karine também me contou que ela ficava muito no hospital evitando ir para casa.

Eu escutava tudo com maior atenção.

— Tenho uma ideia. - Disse Karine. - Vou dar um jeito de convidá-la para o churrasco no sábado. Aí vocês vão se conhecer.

— Como você vai fazer isso?

— Dou um jeito. Mas você vai ter que arrumar jeito de se aproximar dela sozinha depois.

— Sim, mas como?

— Você é esperta, vai pensar em algo.

Era fácil falar. Não a conhecia, como poderia me aproximar dela? Teria que dar um jeito. O sentimento crescia cada vez mais.

Faltava alguns dias para o churrasco. Não sabia o que podia conversar com ela. Ester me levou mais algumas vezes ao hospital. Até já tinha almoçado lá. Mas só consegui ver Gabrielle de longe, e não era mais o suficiente, queria mais. O churrasco seria a minha chance. Mas e se ela não vier? E se eu não conseguir falar? Fui dormir com peso da dúvida. Aquela noite sonhei com ela sorrindo para mim.


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