Rede de mentiras escrita por Clara Foster


Capítulo 2
A proposta de Jacob




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Bella dirigiu por um tempo, o antigo carro de seu pai era bastante reconfortante e era ótimo que ele tinha aquecedor. Afinal, Bella sentia um frio descomunal nesse momento, sabendo que aquilo era puramente psicológico. Ela não sabia muito bem como sabia sobre isso, mas sabia e ponto final. Era psicológico porque estava sozinha agora.

Mais do que nunca, ela sentiu falta de seus pais e o apoio deles. Estava sozinha, completamente sozinha. Não. Ela ainda tinha uma criança, mas quem mais essa nova vida teria além dela?

Bella era desastrada, teimosa, insolente e, verdadeiramente, uma pessoa tola. Fora tola em acreditar que Edward poderia ser o cara especial, aquele que mudaria tudo. A família que ela tinha, dependia apenas dela agora, como poderia colocar uma criança no mundo daquela maneira? Como poderia ser capaz de qualquer coisa positiva? Uma vida dependia dela agora.

A ideia que Bella tinha de família não era essa, queria uma união irreparável, indestrutível... Tudo que ela tinha agora era: planos inconclusivos, dois empregos e falta de dinheiro. Uma criança vir ao mundo nessas condições era demais para Bella, não sabia se conseguiria levar adiante aquela gravidez.

Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos e ela teve que parar o carro quando elas começaram a tapar sua visão. Era culpa de Edward... Filho da puta.

Ele mentiu, enganou e acusou Bella das piores coisas possíveis. Como, COMO, depois de tanto tempo ele achava que ela daria o golpe do baú? Ela nem sabia que ele era rico! Cullen, das empresas Cullen, pensou de maneira amargurada e irônica, ela nem sabia o que era aquilo!

Uma pequena dor de cabeça começava a surgir em suas têmporas... Edward não era quem dizia ser. Bella fora sincera com seus sentimentos, sobretudo suas dores. Mal podia acreditar que ele era um Cullen, seja lá o que isso significasse. E ela também não gostaria de saber.

Pelo bem do que restara de sua saúde mental nos últimos anos, não saber sobre Edward, nada sobre Edward, seria essencial para que ela criasse a criança que carregava. Sim, a garota ia levar a gravidez adiante, não voltaria atrás.

Não importa quem Edward fosse, ele não teria contato com ela de qualquer maneira. Bella poderia ensinar apenas o lado mais bonito da vida, sem Edwards mentirosos para interferir. Contudo, ainda era um problema para Bella fazer tudo sozinha, não sabia se conseguiria, se seria, de fato, uma boa mãe.

Sua situação financeira era ridícula, ela não fez uma Universidade e não teria ninguém ali com ela. Seria apenas Bella. Apenas a medíocre e esperançosa Bella.

Pânico começou a se apossar da garota, um medo profundo e realmente doloroso. Como poderia? Ela estragaria de tantas formas diferentes aquela criança, seria egoísta em continuar com essa ideia... Seria melhor voltar? Dizer a Edward que ele estava certo e que seria melhor os dois se separarem, porque, afinal, ela queria o dinheiro.

Sim, ela queria o dinheiro nesse momento, ainda que não soubesse da existência dele até uma hora atrás. Bella ponderou profundamente sobre a possibilidade de voltar para sua casa, porque sabia que certamente ele estaria lá, e mentir sobre ela mesma. Mentir dizendo que era vigarista, que ele estava certo, mas tudo em prol do dinheiro que precisava para criar a criança.

Ela teria uma vida boa, se Edward era tão rico a ponto de se sentir enganado por Bella depois de um ano de namoro. Nada faltaria àquela criança, isso não seria egoísmo. De fato, suportar os julgamentos de Edward e o ódio profundo que sentia por ele seria fácil, se fosse pela criança, pela chance de oferecer algo.

Não!

Bella piscou algumas vezes para espantar mais lágrimas que escorriam. A fúria novamente se apossou da garota, querendo destruir tudo que via pela frente. Uma enorme vontade de chutar, socar ou simplesmente gritar. Bella deixou que aquela raiva tomasse conta dela por um minuto e apenas isso, durante esse tempo ela gritou dentro do seu carro, a estrada em completo silêncio.

Não poderia fazer isso, voltar e deixar ser humilhada daquela maneira. A criança ficaria bem, sobretudo sem Edward. Bella seria uma boa mãe, teria que ser uma boa mãe. Não havia agora uma escolha que não ser a melhor no que se propunha.

Precisaria de ajuda, contudo, e sabia exatamente por onde começar. Arrancou o carro em uma velocidade fora do comum para a garota, e voltou pela estrada. Dessa vez, em direção ao apartamento de um velho conhecido, que adoraria as boas novas. Ainda que Bella soubesse que essa não era a verdade.

Enquanto dirigia, Bella precisava se concentrar, as lágrimas em seus olhos não deixavam que ela enxergasse e a dor de cabeça não permitiam que ela pensasse em qualquer saída com sensatez. Felizmente, pelo bem da criança que estava com ela, dirigiu da melhor forma que podia.

Quando chegou ao apartamento de Jacob, começou a ouvir uma chuva lá fora. Talvez ele não estivesse em casa naquele momento, algo poderia ter acontecido no trabalho. Entretanto, Bella tocou a campainha ainda assim. Não voltaria atrás.

Jacob abriu a porta e mal podia acreditar no que via. Bella, em carne e osso, depois de tanto tempo, visitando-o. Ao ver o rosto da garota, porém, seu sorriso se desfez e um ar de preocupação tomou conta dele.

— Bella... O que aconteceu? Está machucada? Edward está aí? – Jacob olhava atrás de Bella esperando o parceiro dela, tentando entender e juntar as peças do que ocorria.

Ela não precisou dizer sequer uma palavra, enquanto mais lágrimas escorriam pelo rosto vermelho de Bella, ele a abraçou compreendendo seus sentimentos. Jake era uma pessoa de poucas palavras, fechado e muito restrito com seus sentimentos, mas sempre estivera ali por Bella, compreendendo suas facetas mais diversas.

No funeral de seus pais, quando ela terminou a escola, demitida, chutada, humilhada e quando ficava doente. O ombro de Jake era sempre uma opção para Bella e assim o era agora, mesmo depois de toda a distância emocional que enfrentaram no último ano.

— Jake... Edward... Mentira. – Entre alguns soluços, ela tentava criar uma frase que fizesse qualquer sentido. Arrependida por ter acreditado em Edward e com o frio invadindo seu peito.

Era psicológico, deveria de ser.

Jake entrou com Bella no apartamento, colocou-a no sofá e preparou uma bela xícara de chá quente. Depois que ela respirou por alguns momentos, olhou para Jake que esperava por respostas.

Aquele silêncio tão deles, aquela sintonia. Bella fizera o certo ao procurar o amigo.

— Edward mentiu para mim. Aparentemente, ele é rico... Cullen, de alguma empresa de alguma coisa... Muito dinheiro pelo visto. Enfim, ele acha que eu dei um golpe, que eu sempre soube que ele mentia e só queria o dinheiro dele. – Bella fungou. 

Algumas lágrimas insistiam em cair. Não importa o quanto ela limpasse com as mangas de seu casaco, seu rosto permanecia molhado. Olhar para Jacob não era uma tarefa das mais fáceis também, o seu silêncio completo era assustador. Uma palidez que nunca vira no amigo começou a se apossar do rosto banhado pelo sol.

— Ele vai assumir a criança? – Foi a primeira coisa que ele disse depois de ponderar melhor sobre o assunto.

— Ele quer... Eu não.

Jake sorriu com o desenrolar daquela sentença.

— Bom... Ele te acusou de roubar dinheiro?

— De tentar. Pelo visto a família dele é muito rica e ele não queria cair em algum golpe.

— Sim... Empresa Cullen, é uma petrolífera. Edward deve nadar na grana. – Jake colocou uma das mãos no queixo enquanto pensava profundamente sobre o rumo dos acontecimentos. – Por que ele mentiu esse tempo todo?

Bella sentiu como se tivesse sido socada no estômago. Colocou a mão na barriga por instinto. Edward mentira por muito tempo, acusara-a de ser uma golpista e depois tentou comprá-la com o seu precioso dinheiro. Ainda assim, Bella não saberia dizer porque ele fizera aquilo o tempo todo.

— Não sei. Ele não disse... Jake... – O amigo a observou para que ela continuasse a falar. – Tenho medo dele querer a criança só para ele... Não terei condições de enfrentar uma briga com ele, ele pode querer a criança só para ele... Eu... Eu...

— Bella, calma! Ele demonstrou qualquer interesse pela criança?

— Não exatamente, ele disse que cuidaria dela, poderíamos nos separar, acho que ele estava falando de dinheiro... Jake, eu não... Isso não... – Bella tremia tentando formar uma frase lógica, as lágrimas agora saindo aos montes enquanto ela soluçava.

A xícara de chá caiu de suas mãos trêmulas, o líquido intocado manchando o carpete branco, mas Jacob não parecia em nada incomodado com o que acabara de ocorrer. Ainda mantinha a mão no queixo, pensativo. Matutando o que ocorria, tentando entender.

— Você tava certo. – Disse Bella olhando para o amigo.

Ele estava realmente certo, Edward não era perfeito, havia algo de estranho nele. Bella deveria ter ouvido, fora ingênua. Ingênua e boboca. Contudo, Jacob jamais seria jocoso naquele momento, sabia a delicadeza das coisas.

— Ei, não se olhe assim... Sei o que está pensando. – disse Jake, cortando o silêncio que crescia na sala do apartamento. – A culpa não é sua, ele se aproveitou de quem você era... Quer dizer, ele mentiu para o quê afinal? Um teste de personalidade? Se você ficaria com ele pobre?

Bella ficou em silêncio, apenas encarando o amigo. Ele tinha razão, não fazia sentido, por que Edward mentira e ela se culpava? Por que ele fez o que fez?

— Se ele queria testar a sua fidelidade, parabéns, você passou no teste. Mas, Bella, o que ele fez, mentir para você... – Jacob estava completamente sem palavras para descrever a atrocidade daquele ato, do que Edward fizera à amiga.

— Eu sei. – Ela completou, entendendo perfeitamente o que ele quisera dizer.

Se Edward estava testando Bella para acusá-la mesmo depois de um ano, o que ele queria no fim das contas? Ela sempre esteve ali, por ele. Para ele, porém, Bella era um teste social, de fidelidade e caráter.

Além do mais, ele não contara a verdade para Bella e, aparentemente, não pretendia. A verdade só veio à tona porque ele desconfiou do caráter dela depois de todo esse tempo. Como se ela tivesse falhado em provar a sua ética!

A garota olhava para Jacob, que ainda estava completamente imerso em seus pensamentos. Ela não se importava que ele não estivesse a consolando como uma menininha, deixar Bella com seus pensamentos era o que a garota mais admirava no amigo, porque era exatamente isso que ela precisava nesses momentos.

Ela pegou cuidadosamente a xícara que deixou cair e estava prestes a se levantar para limpar as coisas quando Jake a interrompeu quebrando novamente o silêncio:

— Bella... Serei o pai dessa criança. – O tom incisivo dizia que Jake não voltaria atrás.

Bella quase caiu do sofá.

— Jake! Eu... Ai meu Deus... Eu nunca te vi assim, eu não sei o qu...

— Eca, Bella! Não! Não quero me casar e ter um relacionamento amoroso assim – Jake balançou a cabeça espantando aquela mera possibilidade. – Não, digo que serei o pai com você. Assumirei a criança, cuidarei dela. Ela vai precisar de uma figura paterna, e talvez tudo fique menos bagunçado.

Bella olhou novamente para Jacob. Ele tinha razão. O ideal de família para Bella constituía um pai presente e uma boa mãe. Com a bagunça de Edward, Bella não conseguiria oferecer nenhum dos dois, mas com Jake... Se Jake estivesse ao seu lado, ajudando a lidar com o peso daquela responsabilidade, poderia lidar com aquilo.

Poderia cuidar e ensinar, poderia ter a possibilidade de ser uma boa mãe. Jake não a decepcionaria, estaria com ela. De todas as soluções para os problemas de Bella, aquela foi a menos prevista, a mais improvável. Ainda assim, aquela que Bella mais precisava: esperança.

— Seremos uma família então. – Disse por fim.

Jacob deu uma risada e se pôs ao lado dela no sofá, abraçando Bella com carinho. Com fraternidade, porque eram como irmãos e agora travariam uma batalha jamais esperada por eles. Essa batalha nunca seria uma possibilidade não fosse as condições atípicas.

Os dois ficariam bem juntos, eram ótimos amigos. Jake estaria por perto nos momentos mais difíceis e complicados dos próximos meses, porque ele sabia que ela ainda sofreria muito por conta dessa situação. Ele enfrentaria os demônios dela e a colocaria de volta no pedestal que merecia.

Bella tinha mais que um amigo ao seu lado. Um irmão para toda vida, que seria o pai de sua criança sem nem pensar duas vezes. Sabendo como atrapalharia seu relacionamento com Leah, sabendo dos riscos, gastos e toda a porcaria que explodiria na cara dos dois em alguns meses.

— Não quero ir para casa. – Disse ela.

— Não vá... Eu pego suas coisas, expulso ele de lá. – Ambos sabiam que Edward ainda estaria lá, tentando negociar a criança de Bella. – Você ainda quer ele?

Bella sabia o que significava aquela pergunta. Se houvesse qualquer esperança para Balla e Edward, essa era a chance dela abrir o jogo, entregar as cartas. A possibilidade mais ínfima deles reatarem o relacionamento, precisava ser dita agora. Depois, depois que Jake falasse com ele, não teria volta. Seriam apenas os dois.

Apenas ela e Jake dali para frente. Era isso que ele precisava, a confirmação que Bella passaria pela dor, que enfrentaria aquele terremoto. A completa desistência de alguém que a machucara por completo. Afinal, Bella adorava oferecer segundas chances para os erros do passado e Jake precisava confirmar se esse não era o caso.

— Jake... Obrigada. – Foi a única coisa que Bella conseguia dizer.

Ele a abraçou mais uma vez, sem mais palavras, apenas aquilo bastava para que os dois soubessem o que fazer dali para frente. Para que tivessem a certeza do que os aguardava. A chuva ficava mais forte agora, o abraço fraternal entre Jacob e Bella demonstrava o laço eterno que sempre compartilhariam, comprovado pelo em completo silêncio enquanto observavam o futuro incerto e ausência do frio que Bella sentira até então..

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Fiquei imensamente feliz pela recepção da fic no primeiro capítulo, por isso, estou aberta a sugestões a todo momento. Obrigada! :)