Somos Nó(s) escrita por Anny Andrade, WinnieCooper


Capítulo 2
Pés Cansados


Notas iniciais do capítulo

Oi leitores, estão prontas para o próximo capítulo? Espero que sim. Nós estamos escrevendo incansavelmente e vamos postando conforme os capítulos fiquem prontos.Lembrando que os trechos em itálico são trechos da música que nomeia o capítulo.
Boa leitura!



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Fiz mais do que posso, vi mais do que aguento
E a areia dos meus olhos é a mesma, que acolheu minhas pegadas

Não estava lá quando Rose foi embora. As despedidas nunca foram minha praia, gosto da calma e não posso negar que também gosto da estabilidade, de ter algumas certezas. Confesso que apesar do curso ser importante eu escolhi perder todas as conversas de despedida. Viver nas sombras de Rose passou de triste para reconfortante com o passar do tempo. Deixava o foco para ela enquanto podia tomar minhas decisões sem a pressão de ser perfeito.

De um lado Hermione questionando tudo que minha irmã fazia. Do outro Ronald apaziguando a guerra entre as duas. E eu sobrevivendo em volta deles.

Me deixo ficar na órbita apenas circulando, esperando os anos passar até o momento de deixar para trás qualquer parte invalida que foi se instalando entre eu e minha família.

Poderei caminhar pela minha própria areia, sem seguir pegadas, deixando que a onda me acerte, me carregue e me deixe flutuar.

Agora olho para ele sentado a mesa e para ela na poltrona. Um com um copo nas mãos a outra com um livro aberto. Quase posso escutar seus pensamentos mesmo que não digam uma palavra.

― Eu ainda estou aqui.

E decido que talvez eu que tenha que falar.

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Eu lutei contra tudo, eu fugi porque era seguro
Descobri que é possível viver só, mas num mundo sem verdade

Eu estava andando pela areia, tentando entender como cheguei nesse ponto. Olhando o chalé ao fundo, buscando um ponto de equilíbrio. Eu a deixei lá fugindo de algo que nunca me deixou ser quem eu queria.

O medo de nunca ser o escolhido, de sempre viver nas sombras de alguém. E as palavras sopradas em meus ouvidos por alguém que nem existia. Me colocando em segundo lugar, sempre o vice e nunca o campeão. Aquela certeza de não brilhar o suficiente.

Agora olhando para frente consigo entender que meu medo de perde-la fez com que eu a deixasse sem escolha. Nós todos estávamos lutando por algo maior que nós, maior que meu melhor amigo, maior do que minha autoestima baixa. E de todos que poderiam reconhecer o amor, eu era o que mais o tinha recebido e menos o sabia ofertar.

Entre as conchas, areia e mar. Percebo então que preciso voltar. Porque amor a gente entrega sem certeza de volta ou vitória.

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Depois de tanto caminhar
Depois de quase desistir

― Estou cansado. – confesso a ela. Hermione me olha também cansada. Seus olhos apertados e ao mesmo tempo decididos.

― Como cansado? Ninguém ama o trabalho que tem. – me diz apreensiva.

― Preciso de seu apoio, senão não consigo.

― Sabe que sempre te apoiarei. Mas precisamos ter um chão sólido pra pisar até lá. – me disse a verdade que sabia.

Hermione sempre foi assim. Programando todos os nossos passos. Sua gravidez só foi possível depois que ela estivesse sólida em sua profissão. Nossa casa só foi possível depois que teve uma planilha com todos os gastos e sabendo que ia sobrar o dinheiro para o financiamento. Nosso carro só foi possível porque ela ganhou uma promoção por se destacar na criação e execução das leis e achou que era um bom momento para assim que engravidasse, nossos filhos não sofrerem com uma aparatação acompanhada. A única coisa que saiu de seu controle foi Hugo. Hugo não foi planejado. Assim como a minha saída do departamento de aurores agora não estar sendo planejada por ela.

― Eu vou tentar Hermione, ficar mais um mês por você. Mas estou ficando doente. – confessei a verdade que sabia.

E de fato estava ficando doente, sentia minha nuca formigar toda vez que tinha que levantar para ir trabalhar num sábado, ou as feridas que apareceram na minha pele por estresse. Ou quando me refugio na comida, como alívio para tudo.

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Depois de tanto caminhar
Depois de quase desistir

Eu a observo ao longe. Está sorrindo. Pego minha câmera e a fotografo. Ela sorri reparando o que eu havia feito e se aproxima de mim.

― De novo fotografando? – me pergunta.

― Sempre guardando memórias.

― Isso é você Hugo. – ela me puxa com as mãos. – Vamos entrar um pouco no mar.

― Não gosto, prefiro ficar observando. – confesso e ela me beija na bochecha e vai para o mar.

Pego minha mochila que havia levado para a casa de nossos tios. Abro e tiro uma prancheta de papéis. Pego minha câmera trouxa e a foto recém impressa. Ela. Sorrindo pra mim, seus cabelos longos e lisos ruivos, sardas por todo seu rosto, seus olhos fechados também sorrindo.

Pego um lápis e começo a desenha-la. Meu passatempo preferido.

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Os mesmos pés cansados voltam pra você

Quando a encontro novamente depois de praticamente um ano separado sinto a intensidade dos nossos corpos. Não preciso me aproximar para saber o que ela sente e tenho certeza de que ela também não precisa.

Depois de tudo que havíamos vívido a ultima coisa que eu desejava era ficar trancado dentro de uma escola. Na verdade aquelas paredes me traziam náuseas constantes e uma vontade de fugir para qualquer lugar, o importante era ficar longe daquele lugar.

Foi reconstruído. Era o símbolo de uma vitória, quem entrasse naquele castelo saberia o que ele representava, saberia da história. Mas apenas quem viveu aqueles momentos conseguiria compreender e até sentir as dores que ele carregava.

Eu não queria. Não queria mais precisar andar por aqueles corredores. Em casa já era suficiente para mim, descer as escadas esperando encontrar Fred parado na porta ou deitado no sofá.  Não precisava ouvir seu riso brincando pelos corredores da escola.  

Mas ela precisava.

Seu sonho sempre foi se formar. Ela abriu mão deles para lutar ao lado do nosso melhor amigo, mais do que isso do lado de todos que não podiam lutar.

Então ela voltou.

Imagino o quanto tenha sido difícil, o quanto as lembranças teimavam aparecer, o medo continuo de ser surpreendido, de não ter de fato acabado. Eu ainda acordo suando ouvindo os gritos, sentindo a poeira em minha garganta. O gosto do medo é terrível.

Ela realizou um dos sonhos. Com louvor. Porque Hermione sempre excedeu expectativas. E agora está pronta para conquistar cada um dos seu planos grandiosos.

Então quando ela corre para mim, sei que sempre acabamos voltando um para o outro.

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 Eu lutei contra tudo
Eu fugi porque era seguro

Estamos em uma piscina. E eu gostaria de voltar para casa. Minha mãe parece radiante com um chapéu engraçado e um livro enorme pendendo em seu braço. Procuramos cadeiras vazias. Parece que todo o bairro trouxa resolveu visitar o lugar.

― Isso lembra minha infância. – Ela suspira encantada.

Meu pai surge animado com cadeiras que não sei de onde tirou. Seus cabelos brilhando com a luz do sol e fazendo algumas pessoas olharem admiradas. Uma família de ruivos. Precisamos demonstrar o quanto eles são chamativos. Tenho certeza que é isso que a mente deles grita.

Minha irmã usava um maio todo florido, parecia estar feliz e realizada. Enquanto eu gostaria de voltar para meus cadernos de desenhos e histórias em quadrinho.

Os adultos conversam. As crianças brincam. Rose tenta impressionar garotas idiotas. Eu tenho apenas uma escolha. Mergulhar.

Entro na piscina ignorando a repartição que avisa o quanto aquela parte é funda. Destinada a adultos e não a crianças entediadas. Mas lá estou eu. Descendo as escadas. Fechando os olhos. Me afundando no silêncio.

Meus pulmões reclamam um pouco. Meus olhos resolvem abrir. Deixo tudo queimar dentro de mim. A sensação me mantém em alerta. Mais um segundo. Mais um segundo. Mais um segundo. E volto para a superfície buscando pelo ar.

Volto a apenas observar.

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Os mesmos pés cansados voltam pra você

Eu não a avisei. Depois de um colapso nervoso. Poções calmantes não estavam mais ajudando. Meu irmão me chamou num lugar reservado nas “Gemialidades Weasleys” e me falou o que sempre precisei ouvir, sem entender que precisava ouvir.

― Você é meu sócio, jamais vai deixar de ser meu sócio.

Eu precisava dessas palavras do George. Decidido assinei naquela mesma semana minha demissão do departamento de aurores no ministério. Não avisei Hermione. Esperava que ela não me julgasse e com meus ombros caídos, voltei para casa mais cedo naquela quarta-feira que sai do meu trabalho estável e seguro, e estava pronto pra anunciar pra ela que ficaria só vendendo e inventando bugigangas com George um emprego instável e propenso a dar errado.

― Eu não me importo, vamos aguentar tudo juntos. – ela me abraçou pelas costas quando anuncie o que havia feito. Não conseguia encara-la. Eu era um fracasso. Ganhava menos que minha esposa. Não sustentava a casa. Não ganhava promoções que compravam carros. Não tinha nada a acrescentar a ela e certamente ela sentia seus ombros pesados por ter que empurrar nossa casa e as despesas praticamente sozinha.

― Não se menospreze. – me pediu como se lesse meus pensamentos.

Segurou meu rosto me fazendo encara-la, seus olhos castanhos me avaliando. Não com pesar, nem tristeza, mas com um orgulho e paixão. A beijei. A beijei com ternura desejando não perde-la nunca em minha vida. A beijei com ternura agradecendo a mulher incrível que era para mim. A beijei com ternura me desculpando por não ser tão grande quanto ela.

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Os mesmos pés cansados voltam pra você

Meus pés não tocam mais o chão. Balanço-os rapidamente na água. Minha mão se agita tentando alcançar a superfície. Minha garganta queima e a abro tentando pedir socorro. Sinto meus pulmões queimarem. Agarro algo sólido que flutua. Consigo voltar a superfície. Olho para meus pais ao longe. De costas. Prestando a atenção em Rose que está chorando. Começo a tossir com a garganta ainda queimando.

Vou até eles.

― Vocês não me notam! Eu quase morri afogado!

― O que? Não, eu estava te olhando. – minha mãe me olha chocada.

― Não estavam me olhando não. – nego chorando. – Só prestam atenção na Rose.

Começo a correr pra longe deles. Sentei bem longe. Num lugar que só tem coqueiros artificiais e nenhum trouxa pra me ver. Se ao menos eles tivessem deixado a Lily vir eu não me sentiria tão sozinho. Queria minhas revistinhas e meu videogame portátil.

― Hugo. – minha mãe me acha. Parece que tem um radar. – Eu sinto muito. Eu estava te olhando foi um segundo sua irmã...

― Eu sei que ela é mais importante que eu. Não me importo, é que eu quase me afoguei. – tento a ignorar, mas não consigo. Ainda sinto a água me sufocar. Ainda sinto que a culpa é dela.

— Rose não é mais importante que você, ela só demanda mais atenção. Você é meu garoto, meu companheiro. – viro meu rosto para não encarar ela. – Ei. – ela levanta meu queixo para me ver melhor. – Você é meu Hugo. Observador, quieto, tem tanto dos trouxas em você, gosta de prestar atenção em tudo, não chama atenção, é tão inteligente e não mostra isso, você é meu garoto. Me desculpe.

― Você estava me olhando? – precisava de sua confirmação.

― Foi uma fração de segundo, como acontece com todos os acidentes. Me desculpe.

Então a abraço. E ela me acaricia me pegando no colo. Sete anos e ela me pegando no colo. Não quero sair desse colo tão cedo.

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Depois de tanto caminhar
Depois de quase desistir

Nós estamos andando juntos pela estação. É o primeiro dia de Rose. Estou adquirindo o hábito de repousar as mãos nos bolsos e tenho apenas nove anos. Não sei quais são os próximos que posso adquirir ao longo de minha vida. Estão todos eufóricos. Todos ansiosos. Reencontram amigos, acenam e entregam sorrisos.

Rose empina o nariz e ajeita as costas, mas vejo em seus olhos o quanto o nervosismo a domina. Antes de atravessar a parede tinha segurado minhas mãos e apertado tanto que eu tive que massagear meus dedos quando ela os libertou.

Quando nossos tios nos encontram eu vejo Lily saltitante logo atrás deles. Muito feliz como se nada daquilo importasse. E eu fico pensando como é ser assim. Leve. Saltitante. E afundo ainda mais as mãos nos bolsos porque sei que nunca serei desse jeito. Eu sou muitas coisas, mas nunca chegarei a ser esse tipo de pessoa que vibra alguns décimos mais alto que os outros.

Daqui dois anos será a minha vez. Meu momento. E eu terei que enfrentar novamente o fato de Rose ter chegado primeiro. Minha irmã sempre acaba sendo a primeira. Primeira a nascer. Primeira a falar. Primeira a ir para Hogwarts. E eu serei o que? O Segundo? Sempre vivendo a suas sombras? Apenas nove anos e minha cabeça parece borbulhar como se um idoso fizesse morada em minha alma.

Depois das despedidas minha mãe me abraça e sorrindo declara.

― Agora seremos apenas nós por um bom tempo.

Eu não deveria me sentir feliz, porque Rose faria falta, mas naquele instante eu não pude evitar. Por um momento saberia o que era ser o centro das atenções.

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Meus pés cansados de lutar
Meus pés cansados de fugir

― Lufa- Lufa! – O chapéu seletor grita em plenos pulmões. – nem todos os Weasley seguem a tradição.

Sinto meu estômago revirar. Vejo minha casa comemorando, mostrando que estavam felizes por me receberem. Quando me levanto sou atingindo pelos braços apertados de Rose.

― Especialistas em decepcionar pais. – ela sussurra de dentro de suas vestes azuis.

Apesar de pais Grifinórios, de uma família repleta deles. Lá estávamos seguindo outras casas. E eu escolhido para a casa mais menosprezada da história de Hogwarts.

Rose me arrasta até minha mesa e parecer conhecer uma boa parte de seus ocupantes. Se afasta sorrindo. Orgulhosa. Porque não importa o que eu faça ela sempre parece se orgulhar de mim. Enquanto eu passei metade da infância sentindo ciúmes dela. Sabemos quem é o melhor dos dois.

Lily foi para Grifinória. Eu estava sem minha irmã orgulhosa e sem minha melhor amiga e prima. Não era isso que queria? Ser o primeiro? Mas antes do fim da noite penso em desistir. Voltar para casa, para meu esconderijo, para meu pais. Mas aparentemente onze anos é a idade certa de adentrar um mundo de magia, perigoso e totalmente sozinho.

Fecho os olhos cansados.

Os abro. Me obrigo a fazer o que faço de melhor. Observar.

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Sem medo de te pertencer
Volto pra você

Primeiro Rose e depois Hugo. Novamente tínhamos a casa apenas para nós dois. Depois de tantos anos. Depois de tanto tempo. Agora nós éramos novamente Rony e Hermione. Vejo seus olhos marejados, sei o quanto é difícil para ela deixar os nossos passarinhos criarem asas. Ainda mais Hugo.

Hugo que lembra tanto a mim. Em como eu enxergava a vida aos onze anos, detestando grande parte do que estava a minha volta, irmãos demais, casa pequena, habilidades reduzidas para acertar feitiços. Tendo um longo legado para superar. Meu filho, tão diferente de mim, muito mais silencioso, mais habilidoso, muito melhor em lidar com os problemas. Se pudesse Hermione o ensinaria em casa para que ele nunca ficasse longe dela.

― Rose está lá. – Falo consolando minha adorável esposa.

― Eu não sei se isso é bom ou ruim.

― Eles são melhores quando estamos longe. – Falo fazendo ela me olhar. – quando ele teve febre e estávamos em um evento do ministério. Rose cuidou dele muito bem. Ou quando aquelas garotas da casa lilás implicaram com Rose, nosso filho ameaçou transformá-las em vacas, mas acabou jogando pedras nelas.

Sua risada começou a escapar.

― Seu filho é igualzinho a você. – Ela bufou. – acha que não é bom o suficiente, que é a segunda opção. Que chega sempre em segundo lugar.

― Olha Hermione...

― Mas é tão maravilhoso. – Ela me beija. – Espero que Hogwarts consiga ajuda-lo a se enxergar.

Fico abraçando-a. Somos um só.

― O tempo ajuda a gente a entender que somos únicos e que não existe isso de primeiro ou segundo. – Falo para ela.

― Fico contente com isso.

― O amor também nos ajuda. – Ficamos olhando pela janela. Tentando absorver todo o novo silêncio da casa.

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Os mesmos pés cansados voltam pra você
Pra você

Estamos no quinto ano. O jogo de quadribol está complicado. Não posso me distrair por um segundo. Enquanto defendo um e duas jogadas peço para nossa apanhadora ser mais rápida.

Estamos na frente e lembro de todo o treino que tive com meu pai e meus tios durante as últimas férias. Eles pareciam realizados voltando aos velhos tempos.

Quando o sinal toca anunciando nossa vitória estou aliviado e comemoro socando o ar. Retiro o capacete e quando estou prestes a pousar na grama sinto meu corpo se arremessado para cima. Uma. Duas. Três  vezes.

― Weasley é nosso rei!

O coro da torcida me faz sentir vontade de gargalhar.

Rose grita do meio da torcida.

― Hugo Weasley é nosso rei!

E eu sei que sempre seremos eu e ela. Irmãos. Amarrados feito nó. Sempre seremos o legado Granger-Weasley. Sem importar se somos primeiro ou segundo.

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Sem medo de te pertencer

Volto pra você.

Ela me bate. Uma, duas três vezes. Perco a conta. Ela está furiosa. Eu quero rir, porque estou vendo ela em minha frente e viva. Não há nada mais reconfortante que isso. Ela na minha frente furiosa e viva. Quero a abraçar. Mas o máximo que consigo é desviar de seus socos.

Ela evita me encarar, deita em sua cama e fecha os olhos não me olhando mais. Posso estar maluco, mas essa foi a recepção que chamaria de “Rony e Hermione” tão do jeito que deveria ser. Tudo bem que em meus sonhos ela se lançava em meus braços chorosa e dizia que não conseguia viver sem mim. Mas socos e gritos são nós.

Horas depois olho ela em sua cama. Seu peito sobe e desce numa respiração regular. Nunca pensei que olhar uma pessoa simplesmente respirar seria a visão mais bonita do mundo. Mas é. Ela se mexe. Eu fecho meus olhos fingindo dormir. Ouço barulho de cobertores. Não arrisco abrir meus olhos novamente, decido tentar dormir de uma vez, é quando sinto alguém sentar na cama que estou.

― Obrigada por voltar pra mim... – ela sussurra tão baixo que quase não consigo definir suas palavras.

Sinto seus dedos gelados tocarem meu queixo. Não ouso mexer, continuo fingindo dormir quando sinto seus lábios em minha testa.

Se eu abrisse meus olhos agora ela ficaria brava novamente? Não arrisco. Desta forma, sinto ela se levantar da cama e sair para longe de mim. Ela pode estar zangada, mas está feliz de eu estar de volta. Então isso é o suficiente para mim, por hora. Sorrio e pela primeira vez em muito tempo durmo tranquilamente.

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Sem medo de te pertencer

Volto pra você

O trem está desacelerando, não quero descer dele, abomino o momento de voltar pra casa. Todos aqueles anos em Hogwarts era como se estivesse em casa. Mas assim que chegamos a estação e as portas se abrem só quero encontrá-los.

Sou alto, mesmo assim estico meu pescoço procurando cabeleiras ruivas. Então vejo minha mãe. Ela está sorrindo e abanando a mão freneticamente para enxerga-la. A única cabeleira não ruiva de minha pequena família é a primeira que vejo. Quebro a distância entre nós quase correndo. Tenho dezessete anos, mas mesmo assim abraço primeiro minha mãe.

― Obrigada por voltar pra mim... – ela sussurra em meu ouvido.

Quero chorar. Quero ficar em seus braços sempre. Seria pedir demais um colo a ela mesmo na idade que estou? Então sinto o abraço de meu pai e minha irmã nos envolver. Somos assim. Um abraço único, cansados, mas sempre dispostos a voltar um para o outro.


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado, até o próximo!