Na ponta dos dedos escrita por annaoneannatwo


Capítulo 2
Capítulo 2




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Ochako ainda está meio aturdida por tudo que aconteceu em questão de minutos. Ela estava lá fora, remoendo e repensando seus movimentos contra o Bakugou na aula de combate quando de repente se viu em um… em um encontro com o Deku no cinema! Só eles dois! Como isso aconteceu? Vai saber! Ela tinha certeza que seria só uma saída em grupo, mas todo mundo foi pulando fora até que só sobraram eles dois. Ochako não pôde evitar o aperto no estômago só de se imaginar, faz muito tempo em que eles não saem sozinhos, sempre tem pelo menos um amigo junto, o que é ótimo! Assim ela não fica nervosa, com a sensação de que não deveria estar toda animadinha, já que vem fazendo um bom trabalho em não pensar nele assim há um bom tempo.

É, Ochako não o vê mais assim, é o melhor amigo dela, uma de suas maiores inspirações no curso, e com certeza a aspirante à heroína não repara em quando ele corta um pouco o cabelo ou como a voz dele está cada vez mais grossa, ou mesmo em como ele cresceu muito e ela não alcança mais os ombros dele tão fácil, não que… não que ela tenha pensado em abraçá-lo, por que pensaria nisso?

Então Ochako estava entrando em uma espiral, e aí uma voz masculina a chamou, olhos de um verde tépido e bochechas sarapintadas por sardas chamaram sua atenção imediatamente, o rapaz de sorriso gentil tirou o boné, revelando uma cabeleira laranja vibrante e, mesmo com todas essas características marcantes, ela só foi se ligar quando ele disse “Ochakolate”.

Um apelido que ela não ouvia há mais de uma década, uma mulher bonita de cabelos acobreados e olhos verdes a chamava assim… a casa dela tinha um cheiro gostoso de lavanda… e o filho dela era um garoto gentil e chorão… Hiro. Ele se mudou do nada e Ochako nunca mais soube dele, foi um choque estar diante do mesmo sorriso e olhos brilhantes em um rosto tão diferente do pouco que ela se lembrava. Agora o Hiro é tão alto! Os ombros são tão largos, e… até o jeito dele parece um pouco diferente, ela se lembra que ele chorava muito, mas muito mesmo, era tímido e monossilábico, mas quando a encontrou, ele parecia bem mais à vontade, talvez fosse a felicidade em encontrar uma amiga de infância, porque bastou a Mina se aproximar para ele virar uma bagunça.

Engraçado, até a lembrou do Deku um pouquinho…

—  E sua mãe, como está? —  Ochako pergunta quando eles se sentam lado a lado no sofá da área de convivência.

—  Tá ótima! Ficou tão empolgada quanto eu quando contei que passei nesse programa de intercâmbio. Ela… não gostava muito de morar aqui no Japão, mas sabe que é uma baita oportunidade pra mim! —  o olhar dele parece um pouco distante, porém é bem rápido, logo ele tá sorrindo de novo —  E ela vai adorar saber que eu encontrei a Ochakolate logo no primeiro dia!

O apelido a faz rir de nervoso, não porque é constrangedor nem nada do tipo, ou pelo menos não seria se a Mina não estivesse assistindo a essa interação com bastante interesse. Foi legal ela convidá-lo para conhecer o dormitório, mas se a intenção era ficar procurando sinais de algo que não existe, talvez fosse melhor ter dito que estava ocupada e deixar pra outro dia.

—  Então… Yubi-kun… qual sua individualidade?

—  Oh, é… é meio boba, dá até vergonha de mostrar na frente de tanta gente que faz coisas incríveis! —  ele esfrega a cabeça desajeitadamente e ergue uma das mãos, seus dedos se torcem e retorcem como tentáculos de uma água viva —  É, isso, basicamente.

—  Você é um homem elástico! —  o Sero e o Kirishima dizem ao mesmo tempo, empolgadamente.

—  Haha, não exatamente, a única parte do corpo que consigo mexer assim são os dedos.

—  Hum… mas que interessante… —  tem algo na voz da Mina que indica que ela realmente acha interessante, mas não no sentido usual.

—  É como o senhor David Shield! —  o Deku se aproxima por trás do sofá com uma bandeja com xícaras de chá, assim que chegaram ao dormitório, ele se prontificou a fazer a bebida para todos, inclusive para o convidado —  Uraraka-san, o seu é o do canto direito aqui. —  ele aponta com a cabeça como se precisasse, ela sabe que o chá dela é o que foi servido na caneca que remete ao uniforme do Thirteen, assim como o dele é o que está servido na caneca do All Might, Ochako aceita e sorri, acreditando que o rubor é por conta do calor da escaldante bebida.

—  Perdão?

—  Sua individualidade é igual à do David Shield, ele ajudou a desenvolver todos os trajes da Era de Ouro do All Might, ele é incrível! E a filha dele, Melissa Shield, está indo pro mesmo caminho, ela é uma grande inventora! —   o Deku diz animadamente, e Ochako tenta engolir o desconforto em ouvi-lo falar da Melissa nesse tom onírico junto com o chá que desce por sua garganta. Não seja ridícula, ela realmente é uma grande inventora, além de ser muito gente boa também, não tem nada que ficar incomodada em ouvir falar dela.

—  Ah, não conheço muitos nomes dentro do design para heróis, ainda tô aprendendo, esse intercâmbio é justamente pra isso, mas sim, dedos flexíveis são muito úteis para construtores e costureiros.

—  E muito úteis para as namoradas dos construtores e costureiros, com certeza. —  a Mina oferece com um sorriso que entrega todo tipo de malícia.

—  Caralho, Mina! —  o Kirishima quase engasga com o próprio chá, o rosto dele rivalizando com a cor do cabelo em vermelhidão —  Cê é doida?

—  Ain, Eiji, não precisa ficar assim. —  ela esfrega a mão nos cabelos dele, dando-lhe um rápido beijinho na testa —  Mas então, Yubi-kun, você é estudante de moda, você já… sei lá, participou de semanas de moda? —  os olhinhos dela brilham, a Mina adora esse assunto e deve estar muito dividida entre querer saber tudo da amizade do Hiro com ela e querer saber mais sobre a experiência dele no ramo da moda.

—  De algumas, ainda tô no primeiro ano, então foi só um estágio onde eu passava roupa e buscava café, nem foi tão legal, talvez porque eu nem estivesse tão interessado, eu… descobri recentemente que quero trabalhar fazendo roupas para heróis. —  ele olha para ela antes de bebericar um pouco do seu chá —  Faz sentido, não acha, Ochakolate? Que alguém chamado “Hiro” faça roupas para “heroes”.

—  Sim, bastante. —  ela ri, sem graça, sentindo o olhar da Mina perfurá-la, Ochako desvia o olhar para ignorá-la, como se evitar o contato visual impedisse a amiga de levantar um milhão de ideias naquela cabecinha rosada.

—  Ah, desculpe, não quis deixá-los boiando numa história interna,  —  o Hiro se desculpa, colocando a caneca de chá na mesinha de centro —  É que quando éramos crianças, eu era um molequinho muito patético, tipo, MUITO! Os outros garotos me zoavam por eu ser baixinho e ter mãe estrangeira, então eu chorava muito, aí a Ochakolate foi a minha primeira amiga, ela disse pra eu não chorar porque eu tinha nome de herói e tinha que ser forte. Eu não gostava muito do meu nome, sei lá, queria algo mais puxado pras origens da minha mãe, mas a Ochako me fez mudar minha visão, e “Hiro” realmente soa como herói. Eu não… nunca tive vontade de ser herói, mas quero usar minhas habilidades pra ajudá-los. —  ele balança os dedos.

Ochako fica completamente mesmerizada pela fala dele, esse garoto realmente é completamente diferente do que ela conheceu, ele fala sobre algo extremamente íntimo tão naturalmente, como se estivesse falando sobre o clima lá fora com tal serenidade que a deixa confortável, revisitando as memórias de sua infância, eles moravam bem pertinho e estudavam na mesma escola, ela passava muitos almoços limpando as lágrimas dele e tentando fazê-lo rir com suas poucas habilidades com sua individualidade até então recém-descoberta. Era triste que ele sofresse tanto na mão dos outros garotos, mas aqueles momentos em que passavam o recreio juntos eram… divertidos e relaxantes, fazem bater uma nostalgia gostosa e a deixam satisfeita em saber que ele realmente cresceu e se tornou mais forte, como ela desejava para ele..

—  Que história adorável, ribbit. —  a Tsuyu a faz pular de susto, Ochako ficou tão imersa em lembranças que esqueceu de seus amigos.

—  De fato. Mas também um tanto familiar… —  o Iida parece refletir.

—  Deve ser porque a Uraraka ajudou o Midoriya a escolher o nome de herói dele. —  o Todoroki aponta —   Não é verdade, Midoriya?

—  A-ah sim! Eu… eu sou eternamente grato por isso, Uraraka-san. —  ele sorri envergonhadamente.

—  Eu também sou.  —  o Hiro dá uma leve esbarrada no ombro dela, como se estivesse contando um segredo que só ela pode saber, o que é bobo e adorável considerando o que ele acaba de contar para todos os presentes na área de convivência —  É por isso que fiquei muito contente em te encontrar tão fácil, eu… tem uma coisa que eu queria te pedir.

—  Oh, claro, se for algo em que eu puder ajudar.

—  Sim! —  ele confirma, acenando com a cabeça — O meu curso dura três meses, como eu te disse, e a tarefa de conclusão é criar um traje para algum herói, muitos colegas estão planejando recriar roupas para heróis que já são famosos, mas eu… quero fazer algo pra você, Ochakol- quer dizer, Uravity.

—  P-pra mim? —  ela arregala os olhos, não conseguindo desviá-los dos dele, mesmo que queira pra descobrir quais de seus colegas fizeram um “ohh!” de surpresa.

—  Sim, não me leve a mal, seu traje é muito agradável ao olhar, acentua seu corpo de um jeito incrível, mas… sei lá, tem algumas coisas nele que não entendo e que acho que posso consertar, se você me permitir. —  ela não consegue conter o rubor diante do que acaba de ouvir, como assim? A roupa dela acentua seu corpo? Acentua NO QUÊ?

—  O-os trajes de heróis são encomendados pela U.A e são baseados nos pedidos dos próprios alunos, não… não entendo o que se haveria de “consertar” se foi um pedido da própria Uraraka-san. —  o Deku diz, a voz dele soa estranha, um misto de incerteza e decisão.

—  B-bom, eu… não fui muito específica no meu pedido, verdade seja dita, minha roupa é super prática, mas… é bem…

—  Apertada? —  o Hiro oferece.

—  Muito!

—  Dá pra perceber. —  Ochako reconhece a voz da Mina fazendo um barulhinho aparentemente empolgado —  Posso arrumar isso, alguns heróis dão a sorte de terem exatamente o que gostariam porque foram bem específicos no pedido ou talvez tenham tido a ajuda de um designer, não sei qual foi o seu caso, hã… desculpa, esqueci seu nome. —  ele estala os dedos na direção do Deku.

—  Midoriya Izuku.

—  Ah, claro! Bom, se você tem seu traje exatamente como gostaria, que bom para você, mas não deve ser o caso de todo mundo.

—  Ah, foi a mãe dele que criou o traje do Deku!  —  Ochako se lembra e informa animadamente —  Não é verdade, Deku-kun?

—  S-sim, já tiveram algumas mudanças, mas… o design original é dela. —  ele diz em tom afetuoso. Tão fofo!

—  Viu? Um caso onde o estilista conhece o gosto de seu modelo. Então, Ochako, —  ele pega nas mãos dela, o que a faz perder o fôlego —  quero criar algo que seja do seu gosto.

—  Hiro-kun… eu… —  ela não consegue abstrair seus dedos entrelaçados nos dele, as mãos dele são suaves, embora os dígitos sejam ossudos e compridos, nem parece que dobram e se contorcem como macarrão.

—  Ah, desculpa! —  ele a solta como se tivesse tomado um choque, as bochechas dele parecem queimar de tão vermelhas —  Eu… eu esqueci que aqui no Japão não é costume tocar as pessoas assim, lá na Espanha as pessoas são mais soltas, perdão, Ochakolate.

—  T-tudo bem.

—  Sim, sim, tudo bem! E a Ochakolate também acha tudo bem ser sua modelo, Yubi-kun! —  a Mina intercede, notando que a amiga simplesmente parou de funcionar.

—  S-sim, será… será uma honra, Hiro-kun.

—  A honra é toda minha. —  ele dá um sorriso caloroso —  Tenho várias ideias, me dá seu número pra eu ir te mandando algumas e combinar dias pra gente se encontrar.

—  C-claro… —  por que ela está tão envergonhada em ter seu número de telefone pedido assim? É um negócio estritamente profissional, não tem porque ela estar toda boba em ouvir que eles vão se “encontrar”.

—  Legal! Eu… fui convidado pra jantar, mas não sei se posso ficar, agradeço pelo chá, hã… esqueci seu nome de novo, droga! Minha memória é péssima! —  o Hiro ri, mas não se preocupa em ouvir o Deku dizendo seu nome de novo —  Eu te mando mensagem, ok?

—  Ok… eu… te acompanho até a porta.

Ela sente todos os olhos dos presentes na sala acompanhando seus movimentos, aargh, Ochako adora seus colegas, ou pelo menos a maior parte deles, mas às vezes preferia que eles não fossem tão próximos, tanto no sentido de espaço quanto nas relações. Ela o leva até lá fora e garante que ele saiba o caminho até seu alojamento.

—  Obrigado por tudo, Ochako. —  ele sorri serenamente, e mesmo que não fale, ela quase consegue ouvi-lo dizendo “Tô muito feliz de te ver de novo.”

Ela entende, pois também está.


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Notas finais do capítulo

Bom, acho que estou devendo uma apresentação oficial desse OC, preferi deixá-la para um capítulo onde ele aparecesse no ponto de vista da Ochako, mais fatos sobre ele aparecerão ao longo da história, então só queria deixar umas informações básicas.
O sobrenome é 指 (Yubi = dedos) e o nome é 洋敬 (Hirotaka,o primeiro kanji é “oceano” e o segundo “adoração”), ele tem 17 anos e tá no primeiro ano da faculdade de moda, é filho de pai japonês e mãe espanhola e tem muito carinho pela Ochako, como já deve ter dado pra perceber. Bom, por enquanto é isso que precisam saber, aguardem cenas dos próximos capítulos!
E obrigada pelo carinho de sempre



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