Eis que canta a ideia da perfeição

"Venha até mim,

Que eu te farei rei sobre reis,

E imortal entre mortais"

De cima da pedra,

No mar da vida.

E eis que ela canta sem cessar,

Que se um dia eu a ouvir,

Poderei saborear sim,

Todas as maravilhas de ser perfeito em si mesmo.

E eu navego até ela, até próximo das suas rochas,

E quando sedento me aproximo,

Ouço sua voz a me acusar.

"Imperfeito! Imperfeito!

De quem é a culpa por ser imperfeito?"

E da minha mente saem várias respostas:

Deus, o mar, a vida, os outros, eu mesmo.

E todas elas a perfeição acusa,

Com um ego inchado,

De forma veemente, irritada.

Vejo então, não mais a imagem da perfeição,

Mas a imagem do orgulho.

Com seu peito inflado, suas penas roubadas,

Seu coração frio e sua consciência congelada.

E estou tão próximo dele, que quase estou para beijá-lo.

As suas unhas afiadas pegam no meu braço,

E ele inflama meu coração, o destruindo em pedaços,

Sedento de me possuir.

E eu clamo aos céus, indefeso,

Pedindo que me livrem de mim.

Diante de mim o orgulho, com seu beijo mortal,

E segurando meus pés, a perfeição perfeccionista.

Me debato nas ondas da vida, medo de me afogar,

Medo de me entregar ao pior de mim.

Não é irônico saber,

que justamente a prova de eu ser imperfeita,

é a minha vontade de alcançar a perfeição?

e que não consigo alcançar a perfeição,

justamente porque quero alcançá-la do meu jeito imperfeito?

ironia é a vida.

Vê este teu frágil coração,

Palpitando no medo.

Na incerteza da solidão,

Palpitando por atenção!

Ah, criança travessa,

Põe-te acima dos homens,

Sendo eles tua maior fraqueza?

Não te esqueças da vontade que tens:

Ser amada e protegida,

Andar acompanhada da alegria,

Estar longe da corrupção de si mesma.

Entrega este teu coração a Deus!

E confia.

Ora pedindo força e proteção,

Ora com todo o teu coração,

Pela esperança de um novo dia.

Onde não haverá tentação que me abale,

Onde sobre a rocha me assentarei,

Descansando sob as asas da calmaria.