73ª Edição dos Jogos Vorazes escrita por Mariiidesa


Capítulo 2
01. Colheita


Notas iniciais do capítulo

"Come away, little loss come away to the water
To the ones that are waiting only for you
Come away little loss come away to the water
Away from the life that you always knew"

(Maroon 5, Rozzi Crane - Come Away To The Water)



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Três dias depois da aprovação do teste final, meu coração parece dançar dentro de mim, assim como meu corpo todo treme contra minha vontade. Esperei a vida toda para completar dezesseis anos. Não porque estive ansiosa pela vida adulta e pelas liberdades que ela proporciona, isso parece muito pequeno se comparado a meu verdadeiro propósito. O motivo pelo qual estive ansiosa é maior – o evento que grande parte das crianças e adolescentes de Panem temem, para o qual fui treinada desde que tinha sete anos, para o qual fui destinada desde o nascimento, e o ápice do orgulho que se pode atingir em uma vida. Os Jogos Vorazes. A Colheita. É minha vez de ser voluntária pelo Distrito 2.

Tenho me inscrito nas seleções desde os treze anos. A meta de meu pai para mim era vencer os Jogos ainda mais jovem do que Finnick Odair, feito Vitorioso com catorze anos, e assim honrar duplamente os nomes de meus pais, contudo, algo sempre impede que eu tenha sucesso nos últimos testes. Loki, me primo, diz que não passam de esquemas de minha mãe para que eu simplesmente não vá à arena, diferente de meu pai, que faz de tudo para que eu alcance a perfeição o mais rápido possível. Agora, no entanto, a hora chegou e não tenho mais como falhar ou fugir. Por ter dezoito anos, é a última chance de Loki se voluntariar, e por ordem de Mercúrio Furlan – olheiro da Capital no Distrito 2 – estamos ordenados a participar da mesma edição. Imagino que as expectativas para ver dois Jaegers em ação sejam altíssimas. Não posso culpá-los. Meus pais foram monstros na arena, e especulações sobre minha participação são feitas desde que nasci. Nunca houve outro destino para mim, e nenhum outro que eu desejasse.

Sentada no sofá de couro branco da sala de estar de meu pai, sinto o receio começar a pesar em mim enquanto escuto seus conselhos, quebrando qualquer sinal de ansiedade ou excitação pelo momento. Nos breves dois minutos em que me deixo ser afligida, os Jogos não parecem mais tão atrativos assim. A possibilidade de morrer não parece mais tão atrativa. Repreendo a mim mesma por me permitir divagar nos pensamentos. Nasci para isso, fui treinada sem descanso para isso. Todas as punições, testes impossíveis e cicatrizes não podem ter sido em vão.

Vencer os Jogos Vorazes é uma marca registrada de meu distrito, e mais ainda, de minha família, de ambos os lados. Tanto um quanto o outro são Vitoriosos, famosos, respeitados e amados em todo o Distrito 2, temidos pelo país e favoritos na Capital. Não há, nunca houve e nunca haverá como fugir disso, e eu tampouco deveria querer fugir.

Tento relaxar ao pensar em minha mãe, nos olhos selvagens, na postura e força dignas de uma Vitoriosa. Rigorosa, exigente e ao mesmo tempo esforçando-se para ser amorosa, da maneira que sabe. É como tenho que ser. A ideia de talvez desapontá-la me assombra desde sempre. Ela havia passado por muito para me manter consigo para que eu a desaponte agora. Balanço a cabeça discretamente e pisco com força em uma tentativa de afastar os impedimentos que minha mente traiçoeira tenta colocar diante de meus objetivos.

Tento focar outra vez em meu pai, que passeia pela sala de um lado para o outro, dando conselhos apressados sobre como matar até mesmo mosquitos, faz questão de me lembrar de uma garota que foi atacada por pássaros aparentemente inofensivos no último massacre. Sinto sua tensão nos músculos rígidos e tensionados. Naturalmente, ele teme por minha vida, por mais que jamais o diga em voz alta. Todavia, nem mesmo isso pode me abalar. Logo o orgulho que sentirá por mim destruirá todo rastro de medo que possa ter existido tanto em mim quanto nele, ou assim espero.

— E se outra garota se voluntariar antes de mim?

— Temos um acordo, não temos? Foi decidido previamente, elas irão respeitar a decisão dos mentores. — Ele se senta em uma poltrona de frente para mim e me fita com os olhos azuis gélidos. — A não ser que não esteja se sentindo apta a vencer... o que é algo do que duvido muito.

Dou um sorriso fraco, sem empolgação, porém carregado de confiança. Ele bagunça meu cabelo e me encara por mais alguns segundos. Posso ver que as palavras duras e o questionamento sobre minha aptidão não passam de um incentivo. É como ele acha que serei a melhor, que manterei seu legado, que sobreviverei. E não é de se esperar que ele seja um molenga nem mesmo com a própria filha. Talvez por ser duas vezes maior que uma pessoa normal, daquela forma tão bruta quanto o próprio nome.

— Eu estou apta — respondo, mais para mim mesma do que para ele. E realmente estou. Meu único medo é que minha meia irmã se intrometa e resolva se voluntariar antes de mim. Suspiro. — É que Clove não é como as outras, o senhor sabe.

— Clove terá a chance dela. — responde ele sério, a autoridade clara na voz.

— Ela tem bons motivos... — insinuo, tomando cuidado com o tom das palavras que uso. — Talvez espere ser reconhecida pelo pai... já que nem o sobrenome o senhor deu a ela... ainda me pergunto o porquê.

Espero por uma resposta decente. Ele fica em silêncio por um tempo antes de responder, respira fundo, tentando manter a calma. É um assunto a ser evitado por alguma razão, mas uma de minhas maiores inquietações e preciso saber antes de entrar na arena, preciso saber as razões para ser privada de uma irmã ou por ser a única a receber o peso do nome Jaeger. Além do quê, ele não pode perder a paciência comigo. Agora, eu não sou mais a garotinha que precisa de punições. A partir de hoje, sou sua princesinha assassina.

— Não importa agora, não é o tipo de informação que vai precisar na arena — responde, com firmeza e autoridade, encerrando o assunto ali mesmo. No entanto, outro assunto me inquieta.

— Loki vai mesmo se voluntariar comigo? — pergunto, apreensiva. Eu mataria qualquer um daquela academia sem remorso algum, exceto por dois deles, Cato e Loki, e ironicamente eles têm essa sede de sangue, de glória, tão derivante dos Carreiristas.

— Se tudo ocorrer como planejado, sim. — Ele se levanta e volta a andar de um lado para o outro, olhando para baixo como se fizesse anotações mentais. — A boa notícia é que irei como seu mentor.

— O quê? — pergunto, incrédula, porém repentinamente mais feliz e menos receosa. Em minhas suposições, meus mentores seriam Grill e Lyme, por precaução para não surgirem boatos como privilégios dados a mim por ser filha do mentor. Eu confio em Lyme com minha vida, e Grill é meu melhor amigo, a única pessoa que sabe de todos os meus segredos e fraquezas, mas nada como ter um pai ao seu lado em um evento como aquele.

— É, Hayley e eu iremos com vocês — responde ele. Abro um sorriso enorme, me levanto, vou até ele e me penduro em seus ombros de concreto.

—----

Decido ir até a academia, onde treinei boa parte da minha vida. Está deserta, o eco que meus passos fazem é o único som que consigo ouvir. As armas abandonadas e alguns bonecos que precisam ser repostos dão um ar um tanto sombrio ao lugar. Afinal, é a Colheita e até mesmo no Distrito 2 - lar dos Carreiristas, Pacificadores e assassinos profissionais - o ar pesa e o clima se transforma. Sento-me no chão perto dos alvos e coloco-me a observar cada detalhe, despedindo-me. Meu bumerangue está exatamente onde o deixei da última vez. Quando comecei a treinar com ele, me diziam que era uma arma inútil, mas apenas se você não souber manuseá-lo. Quando se sabe, pode ser tão letal quanto uma faca.

Pego a mim mesma sorrindo involuntariamente ao lembrar-me das vezes em que fui derrotada nos treinos, que caí nas provas de escalada, ou quando tinha treze anos e perguntava a Grill porque ele se ressentia tanto da Capital e dos Jogos se havia vencido, então ele me olhava com aqueles olhos verdes relva transbordando paciência e me explicava ternamente que os Jogos eram apenas uma forma de manter-nos sob controle e que não devíamos ter prazer em fazer parte daquilo.

Eu obviamente ignorava toda a teoria conspiratória, o que eu fora ensinada na escola era completamente o oposto. A História é clara, somos mandados para os Jogos como punição, por causa da rebelião, e deveríamos nos preparar para honrar os nomes de nossos distritos ao invés de chorar e implorar para não sermos selecionados.

— Está preparada para a Colheita? — Uma voz familiar me tira de meus devaneios, e ela vem acompanhada pelo eco da academia vazia. Me viro, sem ao menos me levantar do chão.

— Você, mais do que qualquer um, deveria saber que estou — respondo.

— Sei que destruiria os corações de toda Panem. — Ele se aproxima com um sorriso amarelo brincando nos lábios, os olhos azuis brilhando em malícia, o cabelo louro desarrumado da melhor maneira possível. — Principalmente o meu, se algo acontecesse...

— Eu vou vencer, Cato — digo colocando toda a minha confiança na frase. Sei aonde ele quer chegar com esse tipo de discurso e não consigo conter a súbita irritação que me invade. Egoísmo e orgulho. Nada de genuína preocupação. Ele percebe que descobri sua tentativa falha de me convencer a desistir e resolve ir direto ao ponto.

— Deixe outra garota se oferecer no seu lugar e deixe-me ir este ano, por favor.

— Já tivemos essa conversa antes e eu já disse que não — respondo com firmeza, me levanto e caminho até que esteja de frente para ele e possa olhá-lo nos olhos. — O tributo feminino escolhido sou eu e o masculino é Loki. Ele já tem dezoito anos, é a última chance dele. Você estava lá quando foi decidido.

— Sei que treinaram a vida inteira e estão predestinados a isso, mas...

— Meus pais esperam que eu me ofereça. A Capital espera isso. Eu espero isso. Esperei a vida toda — argumento, determinada a encerrar aquela discussão. Este pode ser meu último dia com ele e não quero que termine assim. Ainda assim, sei que Cato é louco e determinado o suficiente para se voluntariar, mesmo que signifique ir comigo e quebrar as regras de seleção do Distrito 2. Nossa relação é estranha assim.

— Deveria tentar se colocar em meu lugar. — Ele segura minhas mãos nas suas e se dirige a mim como se fizesse uma prece a uma deusa. — Todos sabem que estamos juntos e nem faz muito tempo, mas já é pesado o bastante namorar a filha de dois Vitoriosos. Se você for e vencer antes de mim será como se eu...

— Vivesse na minha sombra? — Tento adivinhar. Como ele não responde, presumo que estou certa. Reviro os olhos. — Estou tão cansada dessa história...

É muito difícil estar com alguém, talvez por ter sido emocionalmente treinada para não criar laços, mas principalmente depois de minha primeira paixão fracassada. Desde que completei quatorze anos, os meninos começaram a flertar por dois motivos: o primeiro, minhas formas de mulher já estavam um tanto acentuadas, e o segundo, que garoto no Distrito 2 não gostaria de poder dizer que sua garota é a filha de Brutus e Enobaria? Talvez eu não tenha percebido que Cato era um deles por ter aparecido em minha vida há pouco tempo, ou talvez eu apenas tenha me precipitado na tentativa de superar minha primeira rejeição.

Na verdade, minhas motivações não interessam agora, o que me incomoda de verdade é saber que ele não está preocupado comigo ou com minhas responsabilidades como Jaeger e nem mesmo de ter que matar ou ser morta por meu próprio primo, o único a quem não consegui não me apegar. Ele só quer ter sua vez de ser melhor, e por algum motivo, tem que ser antes de mim, exatamente como minha meia irmã.

— Me perdoa. — Ele segura meu rosto com as duas mãos e encosta no seu. — Só tenha cuidado, tudo bem?

Não respondo, não preciso prometer nada, não quero prometer nada que não esteja disposta a cumprir. Eu o beijo, e por alguns segundos, somos só eu ele. Temos só algumas horas e não quero perder nenhum minuto brigando, então coloco as mãos em sua nuca, puxando-o para mais perto. Ele para com uma leve mordida no meu lábio inferior e sorri uma última vez.

Passeio tranquilamente pela trilha que me leva do quintal até a porta de casa, apreciando o céu tipicamente acinzentado do meu distrito. Estou prestes a cumprir o objetivo da minha vida e não sei dizer se minha excitação é genuína ou se é apenas um disfarce para o medo de não atender às expectativas de meus pais, ou da Capital, dos Patrocinadores e Idealizadores, que esperaram tanto pela filha de Brutus e Enobaria. Respiro fundo antes de girar a maçaneta. A próxima vez que sair por aquela porta, não voltarei mais. Pelo menos não até que vença.

Abro-a devagar, deparando-me com uma mãe de braços cruzados e dentes cerrados, o que, tratando-se de quem ela é, é realmente uma visão assustadora, mas felizmente, uma a qual já estou habituada.

Ela não questiona meu paradeiro anterior, sabe que eu precisava ver Cato e me despedir dele sem o limite de tempo que nos dão após a Colheita. Mesmo sem aprovar, ela sabe que é importante para mim e me ama o suficiente para respeitar minhas escolhas. Apenas me arrasta para meu banheiro, lava meus cabelos enquanto tomo banho e depois os seca para mim, então aponta para algumas roupas dobradas na ponta de minha cama.

— Tem que chamar muita atenção na Colheita — diz ela, séria. — Escolhi a combinação perfeita para isso.

— Ser voluntária já não é chamar atenção? — Pergunto.

— Eu falo sério. Beleza é uma das armas do Distrito 1 para conseguir patrocínio. Por que não do 2? — A rivalidade que Enobaria sente quando se trata do Distrito 1 é incontestável. Segundo ela, são os melhores aliados, mas os piores inimigos. Ela segura meu rosto com as duas mãos e me encara com firmeza. — Tem certeza que está pronta?

— Você sempre foi a primeira a me dizer para não hesitar — digo entredentes. Eu sou capaz, mesmo que todos achem que estou sendo obrigada. Naturalmente, meu nome sempre acaba acidentalmente mais de uma vez no sorteio, porém, não se trata de nada que eu não queira. — Não vou hesitar agora.

— Ótimo! — Ela me dá um beijo na bochecha e assente com a cabeça, passando toda a confiança que existe em seus selvagens olhos castanhos. Cerra os dentes outra vez, agora como se fosse um silencioso grito de guerra. — Essa é minha garota!

Coloco a roupa que está separada para mim – calças pretas de um tecido tão apertado que se poderia nomear todos os meus músculos através dela, uma camiseta larga e curta, vermelha rubro, de ombros caídos. Tudo para valorizar minha clara vida de treino intenso e tentar me apresentar como alguém sensual e letal. Ela me examina, séria, dos pés à cabeça, e então sorri antes de me segurar pelas mãos e me puxar gentilmente pela porta.

Caminhamos juntas até a praça, onde ela se afasta e se vira depois de dois largos passos para me lançar uma das piscadelas cúmplices que apenas nós duas entendemos. Suspiro antes de me virar e andar até a fila de dezesseis anos, debaixo de olhares admirados e até mesmo temerosos das outras garotas. A mulher que coleta meu sangue arregala os olhos ao ver meu nome surgir no visor da máquina junto com minha idade. Sorrio com simpatia e me encaminho ao lugar indicado.

Procuro por Clove ou alguma de minhas amigas no meio da multidão, mas só consigo discernir a forma pequena de Clove, ao lado, na fila das garotas de quinze. Imagino que seja um tanto frustrante para Brutus que suas duas filhas tenham saído tão pequenas, se comparadas a ele. Aceno e ergo o canto dos lábios em um sorriso, esperando que ela não me ignore. Felizmente, minha meia irmã acena de volta, arqueando uma sobrancelha de forma expressiva. Consigo ler seus lábios finos quando ela diz "caprichou, irmãzinha"Só tenho tempo de devolver um "muito obrigada" antes que o microfone emita um som agudo, chamando imediatamente a atenção dos jovens reunidos na praça.

Tikki Beaudreau aparece no palco, com nossos Vitoriosos e o prefeito atrás dela, em posição de honra, como sempre. O cabelo chanel azul está um pouco mais comprido do que no ano passado, delineador prata e sombra branca enfeitam seus olhos acinzentados, um vestido azulado cheio de desenhos indecifráveis esvoaça quando ela se mexe. Tudo aquilo contribui para que ela pareça uma fada pequena e enérgica.

— Distrito 2! — Ela começa alegre. Grill olha para mim do palco e começa a imitar o típico discurso da empolgada acompanhante oficial de nosso distrito. Rio sozinha de onde estou, e vejo Brutus repreendê-lo com uma aparentemente forte cotovelada. Ele coloca as mãos atrás das costas e ri para mim uma última vez antes de ficar sério outra vez. — Hoje é um dia muito especial, principalmente para vocês, a joia rara dos Jogos Vorazes. Mas antes... um filme da Capital!

O filme começa a rodar no telão descrevendo a rebelião do Distrito 13 e seu fim trágico, até que chega, enfim, à nossa punição. Os Jogos. Talvez fizessem questão de nos lembrar que ninguém pode com a Capital. É o que os Jogos significam, afinal.

— Sorteie logo! — grita um garoto na fila ao meu lado. Viro-me pronta para lançar meu olhar mais duro ao delinquente, contudo, sorrio ao ver quem é. Ele sorri para mim com aquela expressão travessa que derrete a maioria das garotas do Distrito 2.

— Loki! Comporte-se! — sussurro, na esperança de que ele consiga ler meus lábios. Diferente de mim e de Clove, Loki é extremamente alto, tem um físico perfeito e o rosto de alguém que ganharia patrocinadores com uma piscadela. A maioria dos garotos de Panem ficaria aliviado por passar dos dezoito sem ser sorteado, mas não ele. Não há nenhum outro mais preparado para isso, talvez nem mesmo eu.

— Certo, então... vamos às garotas — anuncia Tikki, caminhando até a bola com os nomes. Sempre há voluntários, mas ela insiste em passar por todo o ritual do sorteio. A acompanhante faz um mistério, incentivado pelos sons da multidão, então, o nome que sai é anunciado. — Talya Zari.

Talya tem treze anos, é uma das alunas da academia e com certeza será um ótimo tributo quando for mais velha, mas não desta vez. É a minha vez. Percebo Cato olhando para mim, perguntando-se se eu irei mesmo contra sua vontade. Olho para Clove, esperando que eu hesite para que ela se ofereça em meu lugar. Não posso deixar que me distraiam. Os pescoços de todos na praça começam a se virar em minha direção. Respiro o mais fundo que posso.

— Eu me ofereço como tributo! — grito, do meio da multidão. Loki ri. Clove me lança um daqueles sorrisos sádicos habituais. Evito o olhar de Cato, não pretendo lidar com sua raiva, não agora. Caminho até o palco. Tikki sorri abertamente ao me ver. Enquanto subo os degraus que levam ao palco, com o rosto pintado da mulher se aproximando cada vez mais, me dou conta do perigo, mas apesar de tudo, ainda assim me sinto poderosa, intocável por um breve momento.

— Seu nome? — pergunta ela.

— Syrena Jaeger — digo. Ela automaticamente olha para meu pai, e em seguida corre os olhos arregalados para minha mãe, sem sequer tentar disfarçar.

— Seu nome é aguardado na Capital há muito tempo, querida. Uma descendente direta de dois vitoriosos! É tão fabuloso poder ser sua acompanhante! — Ela grita a última frase no microfone, causando uma microfonia aguda seguida de uma série de murmúrios e protestos. Ela os ignora e corre aos pulinhos até a bola com os nomes masculinos. — E o nosso tributo masculino é... Tito Detra.

— Eu me ofereço como tributo no lugar de Tito! — grita Loki da plateia antes mesmo que Tito se mexa. Ele passa pelos pacificadores com desdém. Os ombros e braços largos e musculosos, assim como os olhos castanhos estreitados dizem "saia do meu caminho se não quiser que eu quebre seu pescoço. ".

— E quem é você, querido? — indaga Tikki, notavelmente afetada pela aproximação do lobo irreverente que meu primo é.

— Loki Jaeger — responde, um pré sorriso já formado no canto dos lábios.

— Só pode ser o sobrinho de... Brutus... — Tikki pigarreia, ajeita a saia do vestido e tenta recobrar a postura. Seus olhos não negam a excitação em ser acompanhante de não um, mas dois Jaegers. Muitos acompanhantes desejariam estar em seu lugar agora.— Tão corajosos... bom, deve ser de família. Deem as mãos, amores.

Loki agarra minha mão e a levanta. Somos aplaudidos por nossos colegas e conterrâneos, sorrio maliciosamente para as câmeras que vejo apontadas em minha direção e para o meu distrito representado na praça. Agora finalmente sinto o peso que carrego, e a obrigação de representar aquelas pessoas da melhor maneira possível.

— Distrito 2! — Anuncia Tikki. — Eis seus tributos da Septuagésima Terceira Edição dos Jogos Vorazes!

             


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Notas finais do capítulo

I. O sobrenome Jaeger (pronuncia-se IEGUER) é alemão e significa caçador.

II. Loki é nórdico, mesmo nome do deus nórdico da trapaça, travessura e do fogo. Atribuído na história devido à personalidade brincalhona do personagem.

III. Syrena é uma variação de Selene – titânide da lua na mitologia greco romana. A saga Jogos Vorazes parece ter muita influência romana, visto que vários dos personagens possuem nomes dessa origem, inclusive o nome do país, Panem, além da ideia do programa de entretenimento no qual pessoas são enviadas para lutar até a morte como forma de punição.

IV. Tikki é variação de Tyche, nome da deusa greco romana da sorte, filha de Afrodite e Hermes. era representada portando uma cornucópia, um timão emblemático e a Roda da Fortuna.



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