Match-Point escrita por Cris Hilario


Capítulo 8
Sete




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POV LUDMILA

Bryan, Cassandra e Kevin, em sequência, meus colegas foram selecionados, senti um mil de sentimentos de raiva à orgulho pois querendo ou não eu tinha os ajudado no período em que treinamos juntos, mas assim que o treinador Mauricio disse que havia terminado e virou as costas para ir embora caiu a ficha de que meu nome não foi chamado. Como assim eu não fiz nada de errado, inclusive participei de jogadas decisivas para nosso time pontuar, olhei para meus colegas, e alguns estavam visivelmente desapontados, mas Kevin me olhava, achei que ele estaria me encarando com um olhar vitorioso mas não ele me olhava como se questionasse o porquê não passei, acho que até ele percebeu que eu estava melhor que ele dentro da quadra, ele não ficou para comemorar, quando percebi ele corria apressado em direção a saída, sem nem esperar pelos parabéns.

Dois dias haviam se passado e o campeonato já estava chegando, mas eu não estava tão animada para treinar, pois meus esforços não tinham valido de nada, eu talvez eu não tivesse me esforçado o suficiente, será que eu não era tão boa quanto eu pensava? Bom talvez, mas não posso ficar aqui remoendo minha performance em jogo tentando achar algum defeito, deveria ficar feliz porque meus colegas iriam dar um passo adiante em suas carreiras certo? Estava tão distraída pensando neste assunto que nem mesmo percebi quando o sinal tocou anunciando o intervalo.

— Cara ainda não acredito que você não passou mel, você viu quantas vezes o kevin errou enquanto estava no fundo da quadra? – questionou Anne – Tipo muitas vezes mesmo, ridículo.

— Mas se ele errou tanto assim porque foi chamado? – lizze que não faz parte do time fez cara de confusão – Pode ter sido algum erro, conversa com o Rick.

— Isso pergunta pra ele quais foram os critérios de seleção, pede uma explicação sei lá! – bradou Yvi que apesar do tamanho botava medo até em mim – se quiser eu vou com você, ele não pode ir lá e escolher qualquer um!

— Primeiro que ele não é qualquer um é o Kevin, ele é bom jogador também! – choraminguei – E ele errou sim, mas eu também não fui perfeita, e já tá decidido!

— Decidido nada, até o início dos jogos você tem chance ainda – Anne ainda não estava conformada – É obvio que você não foi perfeita mas foi melhor que ele, mel por favor fala com o Rick – fez cara de cachorro que cai da mudança e acabou me convencendo, decidi falar com ele no dia seguinte durante o treino.

Mas ao chegar na quadra e observar que o treino já havia começado perdi toda a coragem, que droga vai lá mel, e só pergunta, o porquê, só isso! E então caminhei em direção a arquibancada em que Rick estava, ocupado lendo algo em sua planilha.

— Oi – ótimo momento para ficar tímida Ludmila.

— Está quinze minutos atrasada – disse sem nem tirar os olhos do papel, vamos lá coragem Ludmila.

— Rick – respirei fundo – Porque não eu? Eu dei o meu melhor e não é querendo me gabar mas você sabe que eu joguei bem demais, acertei tudo a não ser aquele saque, mas tirando isso Rick, será que não sou boa o suficiente pra ser selecionada? – me segurei para não chorar pois não me prestaria a essa vergonha – eu só quero saber o que eu preciso ter, o que eu preciso melhorar, o que eu preciso fazer para ser boa o suficiente, para que na próxima talvez eu consiga uma vaga! – quando terminei de falar ele me encara com um olhar triste.

— Mel! – Ele limpou a garganta -  Nem sei como te falar isso, mas, apesar de ser nítido o quanto você foi superior durante o jogo, não era isso que ele estava procurando, quer dizer, o Mauricio queria um time todo masculino para início de conversa, mas como no campeonato é misto o que é uma coisa que ele não concorda, ele escolheu o mínimo possível de meninas porque para ele a força e altura influenciam diretamente no resultado do jogo! – terminou ele me deixando perplexa, como assim eu não tinha sido escolhida apenas por ser mulher aquilo é ridículo.

— Você tá querendo dizer que eu não fui selecionada porque não tenho um pênis é isso? Rick! isso não tem nem cabimento! – gritei sem me importar se alguém estava escutando ou não, ele não podia fazer isso ou podia?

— Mel por favor, não grita, e principalmente nunca mais duvide do seu talento, eu também não concordo com os critérios estabelecidos, mas eu não posso fazer nada desculpa! – ele disse cabisbaixo – o Kevin até tentou convence-lo a te levar também, mas ele estava inflexível, desculpa. – calma ai o kevin? Mas porque não faz nem sentido ele não tem motivo nenhum para questionar essa decisão, por que se eu fosse significaria tomar o lugar dele, fiquei na arquibancada pensando nesse assunto sobre o quanto mundo é injusto e machista, quem disse que também não sou forte também? Não era uma competição de MMA afinal. Rick me deixou sozinha e foi apitar o jogo que rolava na quadra, o jogo até que estava interessante, mas resolvi que era melhor voltar para casa o treino de hoje não ia ser proveitoso de qualquer jeito, minha cabeça estava fervilhando ao pensar como poderia reverter aquela situação. Do lado de fora da quadra topei com kevin, ou melhor, fui atropelada, por ele e sua bique.

— Esta cego idiota? – questionei ao me levantar e tentar limpar a parte de trás da minha calça.

— Desculpa mel, eu estava distraído e não te vi, de verdade! – se defendeu, mas ora aquela não era a primeira vez, na próxima vou começar a desconfiar que ele faz de propósito.

— O Rick não vai gostar nada de ver você chegando atrasado – Ri – Ele também não vai gostar de te ver indo embora tão cedo – ele respondeu ao estacionar sua bicicleta no local adequado. – você está bem?

— Claro que sim, tirando o fato de, acabar de ter sido atropelada, perder pra você só por causa dos seu pa.. – pensei melhor e achei melhor ficar calada e ir embora, me recompus e já estava dando alguns passos quando escutei sua voz.

— Eu fui atrás dele – Me virei – eu fui porque não achei justa a decisão, eu não estava jogando bem aquele dia, mas você sim, deu seu melhor e não foi chamada, e quando ele me falou o motivo eu fiquei puto – finalizou. Eu fiquei sem reação alguma então ele continuou – eu não gosto de você, mas eu não posso ser injusto e dizer que você joga mal, não pelo fato de você ser mulher.

— Me conta, o que mais ele disse – Agora estava curiosa pra saber sobre o que eles conversaram, mas ele olhou em direção da quadra e eu entendi que estava o atrasando mais ainda. – outro dia, agora você tem que tentar chegar no meu nível para não passar vergonha nos jogos.

— Fica, assiste o treino pelo menos, ou você vai desistir tão fácil só por causa de um não, hum? – idiota, duvido que se fosse com ele, ele estaria tão de boa assim – qual é mel, vai fazer igual sempre faz no final dos jogos? – esse menino sabe como me irritar, não é como se eu sempre fugisse do último set, mas eu não lido bem sob pressão e sei que ele sim, adora um desafio, e a adrenalina de “decidir o jogo” como eu já o ouvi falando diversas vezes, não que isso seja verdade já que o início e o meio do jogo são essenciais,  então sempre cedi meu lugar para ele no fim dos jogos, não custava nada afinal.

— É Ludmila pra você – falei enquanto empinava o nariz e caminhava de volta para a quadra – E eu só saio no último set, porque tenho dó de te ver esquentando o banco o jogo todo. – Sei – foi o que ele respondeu rindo ao entrar atrás de mim, e se direcionando para a beirada da quadra.

O jogo já estava no segundo set, mas parecia que estava no decimo, não tinha entusiasmo e eu já estava ficando entediada de assistir, aquela mesmice, já estava pensando em ir embora mesmo, mas como dizem, basta um momento de distração, e nesse caso foi um bloqueio mal posicionado, que fez com que Cassandra deixasse a bola passar, mas não foi isso que me fez ficar preocupada, mas sim o fato dela ter gritado assim que chegou ao chão, levantei do meu lugar quando percebi que todos estavam em volta dela e que ela chorava.

—  Meu deus Cassandra, você está bem? – questionou Anne, preocupada com a situação da amiga. Pelo que percebi ela segurava a mão e parecia sentir dor, e quando ela retirou a mão que estava por cima eu entendi o porquê, o dedo médio dela estava totalmente inchado e meio avermelhado. Rick se abaixou para examinar a gravidade da situação, e por sua feição as notícias não eram boas

— Cass, a gente vai ter que ir para o hospital, tem uma pequena chance de você ter fraturado seu dedo – quando ele terminou de falar ela voltou a chorar, mas acredito que não tenha sido por causa do dedo, mas sim pelos jogos que seriam em pouco mais de duas semanas. Ele a ajudou a se levantar e a levou para seu carro, todos ficamos muito preocupados e eu realmente esperava que não tivesse sido nada, ficamos na escola esperando notícias há uns bons quarenta minutos quando Felipe se pronunciou.

— Bom veja pelo lado bom galera – ele nos olhava sério – se ela realmente quebrou o dedo, tenho grandes chances substituir sua posição! – não foi preciso falar nada, pois Tiago fez o favor de acertar a bola em sua cabeça, que ideia absurda, nos encaramos e então começamos a rir, pois por mais horrível que a situação fosse, Felipe não havia mentido, mas eu apostaria que Yvi iria em seu lugar.


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Notas finais do capítulo

Bom gente, percebi que algumas expressos usadas nestes primeiros capitulos são regionais então deixo abaixo o significado de cada uma.
¹Talarico: substantivo masculino [Popular] Aquele que tenta conquistar uma pessoa comprometida, geralmente aquela que está num relacionamento com um de seus amigos.
²Pipocar: Amarelar, ficar com medo, ou dar pra trás.
³ saque, recepção, levantamento, bloqueio e ataque: são os fundamentos básicos do vôlei (melhor explicado < https://www.todamateria.com.br/fundamentos-voleibol/ > )



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