Match-Point escrita por Cris Hilario


Capítulo 36
Trinta E Quatro




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kEVIN

Porra, que merda de dinâmica foi essa que Rick inventou, que todo mundo aqui tem uma vida de merda a gente já sabe, agora ter que ficar explanando isso é foda, mas me fez perceber que querendo ou não temos muito mais em comum do que imaginamos. depois que terminei de falar meu maior medo, abaixei minha cabeça e senti o toque macio de Mel no meu rosto limpando uma lagrima teimosa que insistia em querer cair, então foi a vez dela falar.

— Eu fui assediada. - Assim que ela falou essa frase eu apertei ainda mais a sua mão que estava entrelaçada com a minha e trocamos olhares antes dela continuar. - Durante os jogos escolares eu fui assediada por um aluno de outra escola, dentro e fora das quadras. - ela relutou por um momento, mas lhe lancei um olhar de incentivo, pois sei que seria bom ela poder desabafar sobre aquilo, e parar de guardar só para ela. - aqueles foram os piores dias da minha vida, ter aquela sensação de ser perseguida e não ter saída, de não ter a quem recorrer, era tão angustiante. O nome do meu agressor é Andre, no meu segundo ou terceiro dia lá, não lembro agora, ele me trancou em uma sala fechada um pouco longe dos dormitórios e tentou me agarrar a força, ele me agrediu e até mesmo chegou a abaixar suas calças, mas eu consegui escapar. E eu sei que vocês me perguntaram várias vezes o motivo do Kevin, Kev, ter socado aquele outro cara no intervalo do jogo, eu nunca contei e ele também não, mas foi por isso, ele me apalpou ali mesmo sem nenhum tipo de vergonha ou vontade de esconder o que estava fazendo. - agora eu podia sentir que suas mãos estavam tremendo sob a minha, e seu olho lacrimejando, mas ela continuou. - E agora eu tenho medo, medo do que poderia ter acontecido comigo se eu não tivesse conseguido escapar, medo de ficar em lugares fechados, medo quando alguém me abraça de surpresa, medo de estar chamando muito atenção, ou de usar uma roupa que seja considerada vulgar, tive medo de entrar em quadra por um tempo também. - Riu - e agora o meu maior medo é que ele faça isso com outra pessoa que não consiga se defender ou que não tenha quem a defenda, porque eu fui covarde demais para denunciá lo, enquanto era tempo. - Finalizou.

E assim que terminou de falar, ela levantou e caminhou em direção a saída, então todos os olhares recaem sobre mim, merda. Segui Ludmila em direção a saída enquanto ouvia ouvia Rick, tentando amenizar o clima de merda que ficou antes do treino começar. encontrei Ludmila próximo e porta do depósito, então eu a guiei gentilmente para dentro e tomei o cuidado de deixar a porta entreaberta. Ali ela me abraçou, retribui o abraço por um tempo e quando penso q ela iria me soltar sinto meu ombro molhado, então eu a abraço mais forte, enquanto ela desaba, não sei por quanto tempo ficamos ali, mas foi o suficiente para que ela pudesse se acalmar um pouco.

Ludmila tentou secar o rosto mas ele estava uma bagunça, não que ela estivesse feia ou algo do tipo, porque isso era impossível, naquele momento não precisamos de palavras para nos entender, dava para sentir que ela estava mais leve depois de ter compartilhado com seus amigos aquilo que a deixava angustiada. Limpei um pouco de suas lágrimas e antes de me desvencilhar totalmente lhe dei um beijo na testa, e me preparei para voltar ao meu treino.

O resto do treino foi normal, mas depois que Mel retornou para jogar ainda recebeu alguns olhares, porém ninguém ousou soltar algum tipo de comentário, eu também de vez em quando olhava para meus amigos pensando que todo mundo tem problemas que às vezes queremos esconder de todos.

***

 - Kevin, espera eu preciso falar com você! - escutei a voz de Anne um pouco distante, e pensei se seria melhor acelerar meu passo e a deixar falando sozinha ou esperá-la, por fim decidi pela segunda opção. - A gente pode falar só um minuto, é rápido eu juro. - apenas assenti com a cabeça e me encostei no muro mais próximo, esperando que ela continuasse a falar. - Olha, no momento eu tenho muitas perguntas, tô sentindo um milhão de coisas diferente, não sei como abordar esse assunto com minha melhor amiga, então decidi te procurar primeiro.

 - Se está querendo que eu te conte detalhes, esqueça, e duvido que a Mel vai querer entrar de novo nesse assunto, o que aconteceu já foi, agora o que você pode fazer é estar lá e ajudar sua amiga caso ela precise, só isso. - Disse me esquivando, prestes a deixá-la falando sozinha.

— Não, não é isso, eu só queria te agradecer, pelo que fez por ela, lá e aqui, ela voltou diferente, mas você estava com ela, que dizer, eu não sei porque justo você, mas é bom saber que ela tinha com quem contar, mesmo que não fosse eu nesse momento. - Disse me deixando sem reação. - A, e acho que vocês formam um casal legal. - Finalizou me deixando sozinho, e com a cabeça a milhão por hora.

A observei se afastar e então se aproximar de Ludmila que saia da quadra, com Yvi, Gio e Cass, Ludmila, me viu escorado no muro e me deu um aceno, e logo voltou a prestar atenção em algo que Gio falava animadamente. Caralho, acho que também estou começando a pensar que faríamos um casal legal.

Mas como tudo que é bom dura pouco, logo vejo Matt se aproximar das meninas e oferecer uma carona para elas, agora ele fazia algumas aulas de reforço no contra turno para auxiliar em suas notas, e para minha infelicidade as meninas aceitaram, não sei desde quando podem seis pessoas usar o carro.

— Que cara é essa mano? - perguntou Felipe se aproximando, ele então acompanhou meu olhar para a cena das meninas cheias de graça para cima de Mateus, e me deu um tapinha no ombro - Quando eu disse que você estava a fim dela, não imaginei que fosse verdade cara, fica assim não que logo ela vai ver o que está perdendo. - eu apenas neguei com a cabeça e decidi ignorar sua fala, minha mente já estava muito confusa para um só dia.

***

A professora de artes falava e falava sem parar porém não prestei uma palavra no que ela disse, minha cabeça ainda estava naquilo que Anne e Lipe me falaram, só percebi que precisava reagir quando vi todo mundo se levantando e fazendo um círculo com as carteiras, merda, odeio esse tipo de aula, não sei sobre o que é o tema da aula, mas prevejo um trabalho chatérrimo por aí. Para minha sorte o tempo passou rápido após a professora passar um seminário para apresentar daqui algumas aulas pudemos sair de sala e logo já estávamos no intervalo entre as aulas, ouvindo Tiago reclamar da quantidade de trabalhos que tinha para fazer na primeira semana de aula.

— Ta bom cara já entendemos que você não tem tempo pra isso, não precisa repetir de novo - Disse Bry já ficando irritado pois quando Tiago começa a falar é difícil faze-lo parar. - Porra mudando de saco pra mala, que dinâmica foda essa que o Rik inventou né? Espero que no próximo treino tenhamos que falar coisas boas da gente, porque falar essas merdas ninguém merece.

— Vocês vão continuar participando dessas dinâmicas? eu não vi muito sentido em ficar me expondo ali não, quer dizer todos temos problemas mas e daí? - Disse Guga.

— Por isso mesmo acho legal participar, porque aí quem sabe a gente começa a perceber que apesar de tudo somos bem parecidos, quando você disse lá que se cobra pra caralho eu me identifiquei, querendo ou não acho que todo mundo pensa um pouco assim - Desabafei

— Eu também me identifiquei com você Kev, porque acabando esse ano, eu não tenho a mínima ideia do que fazer da minha vida, a gente se sente meio perdido né? - disse Bry e a conversa continuou por alguns minutos até que vi Cass, Yvi e Math se aproximado, os três logo se enturmam na conversa sobre o futuro enquanto eu me distraia prestando atenção em Yvi e Cass, as duas formam um casal bonito, mesmo sendo bem parecidas era difícil de imaginá-las juntas, mas fico feliz que elas estejam felizes, fico me perguntando se algum dia irei viver isso com alguém, andar de mãos dadas e sentir vontade de ficar com a mesma pessoa para sempre ficar fazendo essas besteirinhas de casal, talvez um dia, não agora, não consigo imaginar ninguém que me faça abandonar minha vida de solteiro, quer dizer… - Né Kev?

— É - concordei sem nem mesmo saber qual o assunto de Bry só espero que não tenha concordado com nada constrangedor ou ilícito, vindo dele não é de se duvidar, peguei minha mochila e me preparei para me levantar e ir ao banheiro antes do intervalo terminar porém fui interrompido por Mateus, Bosta.

— Cara preciso falar contigo, um assunto muito sério - Pela sua cara de desespero deveria ser mesmo é, então pedi para que ele continuasse a falar e nos afastamos um pouco do restante do grupo. - É sobre a Mel, na verdade nem sei como te pedir isso mas, eu ouvi as meninas conversando hoje no carro enquanto vínhamos para a aula e elas comentaram que você e ela estavam mais próximos e tal, queria saber se você não pode me ajudar? falar bem de mim de vez em quando pra ela ver que eu sou um cara legal e me dar uma chance. - Não, foi a primeira resposta que veio em minha cabeça, esse moleque só pode estar ficando doido se achar que vou ajuda-lo a conquistar minha… minha amiga, é isso só isso que somos amigos, Matt percebeu minha demora para responde-lo mas não se importou e continuou falando, porra que cara chato. - Sério cara, quebra essa para mim que eu fico te devendo uma.

— Vou ver o que posso fazer por você, mas eu e a Ludmila não somos tão próximos a esse ponto não, não sei o que você andou ouvindo sobre a gente mas não é bem por aí - disse sem nem tentar ser gentil, caralho, agora estou com cara de cupido pra ficar ajudando marmanjo a conseguir mulher, que otário.

— A cara para, eu ouvi as meninas comentando o que a Mel acha de você depois do que aconteceu na viagem. - Fiquei me coçando para saber a opinião de Ludmila sobre mim, mas não dei o braço a torcer. - E falando em viagem, me conta, você realmente acha que a versão da Mel é cem por cento verdade, do que aconteceu com ela lá? Porque assim talvez se a gente ouvisse a opinião do menino que ela diz tê-la assediado as coisas talvez não sejam bem assim.

— Porra, você ta se ouvindo Mateus, que merda, vai mesmo desacreditar da menina a essa altura do campeonato, isso ai foi a meses atrás, não sei nem porque você ta sabendo desse assunto cara, e ainda vem falar bosta. - CARALHO, sinto meu sangue ferver e ficou me coçando para não quebrar a cara todinha desse babacão. - Quer saber esquece, nunca que vou mover uma palha para ajudar você a ficar com ela, muito pelo contrário, em qualquer oportunidade que eu tiver vou fazer questão de dizer pra ela o quão escroto você é.

—  Porque? Cara a escola toda tá falando disso agora, e não sou só eu que estou me perguntando se a história que ela contou é verdadeira ou não, não dizem que todos são inocentes até que se prove o contrário? bom não temos nenhuma prova do que aconteceu de verdade né. - Nem penso em responde-lo pois minha única resposta seria um soco bem dado no meio de sua cara, então só me viro e o deixo falando sozinho e penso em procurar por Mel e ver como ela está, porra agora que Matt disse que a história se espalhou ela pode estar precisando de um ombro amigo, mas antes que eu possa me afastar completamente de Matt o escuto falar mais alto e atraindo a atenção de algumas pessoas a nosso redor inclusive nossos amigos - Já sei que você não quer me ajudar porque ta com ciúmes né? acha mesmo que atrapalhar o que a gente ainda vai ter vai fazer as coisas ficarem mais fáceis pra você? Acha que algum dia ela vai querer alguém como você, porra acorda Kevin a Ludmila merece… - Não esperei o que o babacão tinha para falar o que ele acha que Mel merece ou não, e fiz o que estava com vontade a muitos dias, lhe dei um soco certeiro no nariz, porra escutei o estalo dos meus dedos, mas não parei por ai, nem lhe dei tempo para reagir e o acertei mais uma vez, e mais uma, até que senti alguns pares de mão me segurando e ouvi a voz de Yvi gritando pelo seu irmão, Caralho, porra, porra, que merda fui fazer.


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