Match-Point escrita por Cris Hilario


Capítulo 35
Trinta E TRÊS




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POV RICK

O ano letivo já havia começado, e os treinos de vôlei já irão se iniciar, mas antes disso preciso organizar mais um recrutamento, já que quase todo meu time se forma esse ano. Agora além de treinar as equipes de vôlei três vezes na semana, também vou ser treinador da equipe de futsal, futebol de campo e atletismo dessa mesma escola, é muito trabalho, mas é bom para poder distrair a cabeça e não ficar pensando merda.

Nesse exato momento estou colocando cartazes de divulgação das datas dos recrutamentos, espero que esse ano eu tenha mais alunos interessados em fazer algum tipo de esporte nessa escola, avisto Gio e peço sua ajuda para terminar de colar os encartes pelo colégio. Ela faz cara feia de início, mas, logo me ajuda, e com isso terminamos bem mais rápido, e enquanto nos direcionamos novamente para dentro da escola conversamos um pouco.

— Sabe professor, você deveria ir na minha igreja algum dia desses, vai ser bom para você, parece que está precisando. - Disse ela me encarando. Desde quando Giovanna é da igreja. - Não me olha com essa cara, eu sempre frequentei a igreja, mas agora estou indo mais, e você também deveria ir de vez em quando, é bom para a alma. Agradeci e segui para a sala dos professores, já pensando na dinâmica que farei assim que os treinos de vôlei retornarem.

Estava pensando na melhor maneira de executar a dinâmica quando recebo uma ligação de João Marcos, um dos olheiros que foram responsáveis pelo teste de Kevin, e espero que seja algo bom, mas ao fim da ligação percebo que a notícia é melhor do que havia imaginado, só preciso saber a melhor forma de conversar com Kevin.

***

Assim que o primeiro treino da temporada começou, fiz questão de reunir todos para que pudéssemos conversar antes de qualquer coisa, quando conversei com Gio não fazia ideia que ela frequentava a igreja, da mesma forma que não conheço muito bem alguns dos meus alunos, e tenho certeza que mesmo sendo amigos, muitos ainda não se conhecem ou se deixam conhecer totalmente, com isso pensei em algo para que pudéssemos estreitar ainda mais nossa relação e se tornar mais do que um time, mas, uma família.

Vi que Kev foi um dos primeiros a chegar na quadra junto com Felipe, e logo me aproximei para cumprimentá-los, e logo já dei trabalho para ambos fazerem, enquanto Felipe finalizava a montagem da rede de treino me aproximei de Kev.

— Preciso falar com você após o treino - Disse e me afastei para ajudar Felipe. - Pessoal durante todo o ano passado tivemos alguns probleminhas de confiança com nossos parceiros de time , e sei que é chato ficar pensando nisso e batendo nessa mesma tecla sempre, então antes de começar o treino eu tenho uma proposta para fazer. - agora todos me olhavam interessados, normalmente eles não gostavam muito das minhas ideias. - Vamos nos sentar em círculo e conversar, ou melhor, cada um vai dizer uma coisa, um medo, algo que te angustia, que acha que ninguém sabe sobre você, assim poderemos conhecer um pouquinho mais as pessoas que convivem com a gente quase todos os dias, hoje vamos começar com isso e nos próximos treinos vamos trazer tópicos diferentes para que a gente possa se conhecer de verdade. Percebi uma careta da maioria deles, porém eles me obedeceram. expliquei para eles que teria que ser uma coisa verdadeira e que ajudasse seus colegas a conhecê-los um pouco melhor.

— Vamos lá eu começo - Pigarreei - Bom, a algum tempo atrás descobri que possuo transtorno de ansiedade, eu sei que é uma coisa normal, muitas pessoas possuem, mas eu nunca me imaginei tendo algo assim, e nem que poderia ser tão difícil. as vezes é difícil sair de casa, e quando eu saio e as coisas não saem conforme o esperado, ou planejado na minha cabeça é como se o mundo estivesse acabando, é sufocante a sensação de não ter o controle da sua vida, não ter controle do seu futuro, e ficar remoendo o seu passado a todo momento, às vezes eu só queria que minha cabeça parasse de funcionar, nem que seja só por um minuto e relaxar de verdade, as vezes tenho medo que minha cabeça exploda de tanto que eu penso. é isso agora eu to falando demais e vocês todos me olhando com esse olhar de julgamento e pena não está ajudando muito com minha ansiedade.

Mal terminei de falar e já escutei a voz de Bryan me interrompendo. - Eu trai minha namorada, e foi a pior escolha que poderia ter feito na minha vida, A Lizzie é a melhor pessoa que eu já conheci, sinto saudade dela todos os dias, não vejo meu futuro sem ela, e se eu pudesse voltar no tempo, nunca teria feito o que eu fiz, porque me sinto um idiota todos os dias quando acordo sem ela do meu lado, e eu tenho medo do meu relacionamento ser igual ao dos meu pais, mas principalmente tenho medo que ela nunca me perdoe.

Ok isso foi muito inesperado da parte de Bry, e com certeza não foi somente eu que pensei isso pois as meninas fizeram um coro de aww, pude jurar que vi Anne limpando uma lágrima. o próximo foi Felipe

— Eu tenho medo que ninguém nunca goste de mim. - Disse cabisbaixo, e acho que foi a primeira vez que o vimos desse jeito. - Tenho medo, de rejeição, então qualquer migalha de atenção que recebo me agarro naquilo como se fosse minha tábua de salvação, tento ficar fazendo graça a todo momento porque acho que se eu mostrasse quem eu realmente sou ninguém aqui iria gostar de mim, às vezes nem eu mesmo gosto de quem eu sou. - porra essa atividade está saindo mais mórbida do que eu imaginei.

— Eu tenho medo do futuro, de ser um ninguém na vida, e não poder ajudar meus pais, a gente já passou por muita dificuldade, muitas vezes vivendo de doação, ou escolhendo entre o almoço e a janta, e eu quero ser uma pessoa melhor, ter um futuro melhor e poder proporcionar para minha família, minha irmã mais nova, tudo que eu não tive, mas as vezes me bate um medo de não conseguir e ficar para sempre nessa situação. - Disse Tiago, e eu nunca imaginei que a situação de sua família fosse assim tão ruim.

— Eu fui expulsa de casa, meu padrasto não gosta e nunca gostou de mim e na primeira oportunidade que ele teve, me colocou para fora e o pior é que minha mãe ficou do lado dele, então agora estou temporariamente morando na casa de um tio meu, e tenho medo de virar sem teto. - Anne compartilhou e apesar dela ter dito com um toque de humor, todos ficamos em choque com sua revelação, até mesmo suas amigas, deve estar sendo muito difícil para ela.

Assim nossa roda foi seguindo cada um dos meu alunos compartilhavam seus anseios, medos, e segredos, e foi muito bom poder conhecê-los um pouquinho mais, não imaginava que compartilharmos segredos tão profundos, até que chegou a vez de Cass, ela pigarreou, entrelaçou suas mãos com Yvi então disse.

— Estamos namorando! - sua frase gerou muitas reações diferentes, e todo mundo começou a falar ao mesmo tempo, alguns falando que já sabiam, e outro totalmente em choque perguntando como isso aconteceu.

— Cass eu não acredito que você contou para eles - Disse Yvi parecendo um pouco irritada. - Esse era o meu segredo, eu que ia contar. - disse e depois riu - já que meu momento de glória foi roubado, gostaria de complementar, sim estamos namorando, faz algum tempo, esses dias quase fomos descobertas pela Ludmila, porem conseguimos disfarçar. para gente é difícil tocar nesse assunto pois a gente sabe o quanto teremos que enfrentar se quisermos ficar juntas, ainda existe muito preconceito e gente ignorante no mundo, e eu tenho medo do que pode acontecer, mas apesar de tudo, tenho certeza da minha decisão e tenho certeza que te amo. - disse a última parte olhando nos olhos de Cass que a agarrou ali mesmo sem nenhum receio, nos fazendo rir de sua atitude.

Após o pequeno surto das meninas em relação à descoberta do novo relacionamento no grupo, foi a vez de Guga continuar. - Eu tenho medo de falhar, de não ser o melhor em tudo que eu faço, e odeio quando alguém é melhor que eu em algo, talvez pela pressão que recebo em casa de ser bom em tudo, e no fim cabo que não sou bom em nada a verdade. - compartilhou Guga conosco.

— Eu, eu tive muito medo quando me lesionei, medo de não realizar meu maior sonho, medo de ter quebrado minha perna quando me machuquei e ter falhado antes mesmo de começar. - disse Kevin devagar e Ludmila que estava a seu lado segurou sua mão. - As vezes quando eu estava fazendo fisioterapia eu me permitia ser fraco e chorar um pouco, mas não era porque eu estava com dor, aquilo doeu para caralho, mas eu também chorava por pensar que fui burro demais e deixei meu sonho escapar por minhas mãos, e que talvez eu não tenha outra oportunidade, e eu também tenho medo de vocês saberem que eu ainda choro um pouco quando estou sozinho, imaginado como vai ser meu futuro, porque se não for dentro de uma quadra de vôlei, eu não sei o que fazer, sinto que não sou bom em nada a não ser isso e mesmo assim ainda não me sinto bom o suficiente. - Finalizou, então Mel limpou o seu rosto antes de uma pequena lágrima escapar. Ludmila era a última e todos olhamos para ela aguardando o que ela diria, e ela disse aquilo que eu nunca imaginei ouvir de sua boca em público.

— Eu fui assediada.

 


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