MeliZoe e os Olimpianos escrita por Zoe


Capítulo 21
Conversas da madrugada


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥
GATILHO relacionamento abusivo.



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O vento estava muito gelado em Salt Lake e todos nós tremíamos de frio até ultrapassar as fronteiras do estado. Não conseguimos conversar. Sentia que se eu abrisse minha boca iria vomitar e meu vomito provavelmente atingiria meus colegas.
Ficamos no ar pelo que pareceu menos de duas horas (mas eu senti como uma eternidade). Quando pousamos nossas roupas e cabelos estavam encharcados. Já era de noite, então continuamos tremendo.
O cavalo alado nos deixou na entrada do parque foi embora. Achamos um mapa que dizia que tínhamos uma GRANDE trilha a nossa frente para chegar na President, uma das árvores mais antigas do mundo.
“Nunca fiz tanta trilha em toda minha vida. Quando voltar pro acampamento não vou querer nunca mais ver arvores.” Silvia dizia enquanto tentava enxergar alguma coisa.
“Podemos acender uma tocha enquanto andamos? Estou tremendo de frio.” Vanessa pede com a voz tremula. 
“Não acho que seja seguro acender fogo em área florestal.” Eu digo a ela e vejo ela e Silvia revirando os olhos enquanto Gavin faz um joinha em minha direção.
“Ok, guardinha. Podemos pelo menos trocar de roupa, então?” Vanessa brinca.
“Sim...” Eu respondo, também queria muito tirar essas roupas. Eu era a única que não tinha tomado banho no hotel e as roupas sujas tinham ficado molhadas na viagem.
“Como vamos enxergar na trilha sem fogo?” Silvia nos pergunta.
“Trouxe lanternas.” Gavin nos avisa e eu fico aliviada por não estar sozinha ali. Não teria chegado na metade do caminho.
“Gavin, por favor, se vire pra gente se trocar aqui mesmo.” Vanessa pede enquanto já começa a tirar sua blusa.
“Claro” Ele se vira para outro lado.
Nos trocamos no meio do parque. Vesti um short e uma blusa do acampamento (que evitara usar a viagem inteira, mas agora não parecia mais ser importante). Pensei que essa não era a melhor opção de roupa para fazer uma trilha, mas pelo menos não estava em uma mini saia como Silvia.
O que eu mais adorava em seu look era que eu sabia que ela podia me vencer em qualquer batalha vestida daquele jeito.
Foi a nossa vez de nos virarmos para Gavin trocar de roupa. Ele ainda usava jeans e camisetas perto de nós, nada como outros sátiros que eu vira no acampamento que andavam pelados. Sim, sem roupas.
O pelo escondia muita coisa, mas ainda assim...
Pegamos as lanternas com ele e começamos a andar. O lugar não era nada vigiado para um terreno tão poderoso, mas mortais normalmente não se importavam com a natureza mesmo. Qual a importância de uma arvore que estava ali muito antes que qualquer um deles?
“Eu não lutei com um monstro pelo lenço, encontrei com Pedro.” Confesso, querendo conversar sobre o assunto e precisando de conselhos sobre como agir.
“Filho de Ares?” Gavin me pergunta.
“Sim.” Respondo, simplesmente.
“É tipo um monstro.” Silvia fala, penso o que o garoto tinha feito no acampamento antes de eu chegar.
“Acho que ele precisa de ajuda.” Digo, mas ainda não estou pronta para contar a história toda e minhas impressões.
“Ele te agrediu, Luna... Sem motivo.” Vanessa diz e coloca as mãos no meu ombro como um gesto de conforto.
“Talvez tenha um motivo e ninguém perguntou.” Digo, sem saber porque estou tentando o defender.
“O acampamento realmente deveria ter um conselheiro melhor... Que se importa não só com missões.” Silvia diz e parece ja ter pensado muito no assunto. “É difícil descobrir que você é um semideus. Tem um impacto enorme da sua vida. As vezes é bom ter alguém para conversar sobre isso.” Ela continua.
“Os responsáveis servem pra isso.” Gavin entra no assunto.
“Quem foi o dele?” Pergunto, obviamente não teria sido alguém do grupo delas. Eles pareciam ser muito protetores dos seus. Não poderia ser Dimitri também, ele não parece o tipo de responsável que só fica com o semideus no início da caminhada e depois o larga.
“Não me lembro. Mas ele é responsável por um menino... Cesar, irmão de Bruno.” Silvia é quem me responde. Então ela ja estava lá quando Pedro chegou.
“Ele disse que ninguém sentiria falta dele.” Eu digo, lembrando da conversa e de como tinha me sentido ali.
“Ele tem seus amigos... E a namorada.” Vanessa diz com certa cautela.
“Alguma vez ele já... Agrediu a namorada?” Pergunto com cuidado e hesitante.
“Como assim?” Silvia me pergunta, levantando a voz um pouco.
“Tive um sentimento durante a conversa” Eu confesso a eles.
“Não lembro disso nunca ter acontecido no acampamento.” Vanessa é quem me responde, sua voz parece um pouco tremula.
“É um lugar com vários adolescentes, não seria normal que acontecesse alguma vez?” Silvia diz, pensando melhor no assunto.
“Imagino que sim.” Gavin é quem responde e parece estar tentando lembrar de alguma situação similar, mas aparentemente semideuses no acampamento só mostravam seu lado divino, e nada do lado humano.
“Thamires é filha de Dionísio, não sei se ele teria coragem de fazer uma coisa dessas assim, na cara do deus.” Vanessa dá sua opinião, não imaginava que Thamires era filha de Sr.D.
“Sr.D não parece um pai presente.” Eu digo e eles riem um pouco.
“É melhor que alguns.” Vanessa continua e me pergunto da sua relação com sua mãe.
“Achei que ela fosse filha de Afrodite.” Confesso, lembrando de como a achei uma das meninas mais lindas que ja havia visto quando chegara ali. Mas depois disso havia conhecido Laura, Silvia, Vanessa, Ariane e até Afrodite. 
“Muitos acham.” Silvia fala com certo ressentimento na voz.
“Eu deveria o denunciar ou conversar com ela?” Pergunto a eles, o motivo de eu ter iniciado essa conversa.
“Os dois” Vanessa responde primeiro, com a voz firme agora.
“Não sei, talvez conversar com ela primeiro...” Silvia começa, mas Ness a interrompe. 
“Os dois.” Ness fala novamente. “E denuncie primeiro. Ela esta envolvida demais e pode não querer fazer justiça.”
“Eu nem sei se realmente aconteceu.” Eu digo a elas, era apenas um sentimento que eu tinha tido ali. Ele não falou nada explicitamente.
“É melhor denunciar e ser mentira do que se manter calada e acontecer de novo.” Gavin da sua opinião sobre o assunto e ainda parece estar bastante confuso.
“Isso não tornaria a vida dele mais difícil no acampamento?” Eu pergunto a eles e Vanessa revira os olhos. 
“Talvez ele não devesse bater em mulheres.” Ness me responde, com a voz mais agressiva agora.
“Talvez nós deveríamos o dar a opção de se explicar!” Eu digo a ela, mas não consigo entender o porque. Eu sabia que as ações dele eram erradas e deviam ser punidas e que eu deveria denunciar para não acontecer novamente, mas quando eu via as palavas saiam da minha boca sem passar pela mente antes.
“E qual desculpa seria suficiente pra você?” Silvia me pergunta, irônica.
“Nenhuma, mas não precisa tornar a vida dele mais difícil.” Eu respondo, um pouco chateada com a reação delas, mesmo sabendo que elas estão certas e eu errada.
“Ele tornou a dela.” Gavin fala.
“Luna, parece um dos joguinhos da minha mãe. Voce é bondosa demais e sente compaixão por ele, mesmo sendo um agressor. Com-Paixão. Tome cuidado.” Silvia me diz e para no meio do caminho para olhar nos meus olhos. Ela me da um abraço breve e continua andando.
“Eu não penso nele dessa forma... Não penso em ninguém dessa forma, só conheço vocês a uma semana.” Eu digo, mas ja não sei se é verdade.
“E não foi suficiente?” Vanessa pergunta, olhando para o caminho escuro em nossa frente.
“Passei dois dias no acampamento, Ness... Não foi suficiente.” Eu digo a ela, mesmo sabendo que não é verdade. Nunca tinha me sentido assim antes, mas sabia que tinha que guardar esses sentimentos só para mim.
“Não achei que você se voltaria contra nós para o defender.” Vanessa continua, mas eu a interrompo no meio da frase.
“Voce esta sendo insensata.” Eu digo, agora com a voz tão agressiva quanto a dela.
“É o meu defeito mortal. Arrogância. Acreditar que estou sempre certa.” Ela diz, parecendo triste agora. Não sabia como ela podia mudar suas emoções tão rapidamente.
“Quando voltarmos vou conversar com Sr.D e com Thamires. Sr.D primeiro.” Eu digo a elas, sendo sincera. Mesmo que eu queria o defender, não posso fazer desse jeito.
“Imagino o que mais acontece por lá e nós não vemos.” Silvia continua com sua expressão de confusa.
“Tudo que aconteceria numa escola normal. Brigas, relacionamentos abusivos, traição, bebidas e drogas, rebeldes com e sem causa, bullying...” Vanessa tenta. Eu nem sabia que era tudo isso que acontecia numa escola normal. 
“Nunca pensei dessa forma.” Silvia falou.
“Ser um semideus nos transforma em adultos cedo demais.” Vanessa continua.
“Ninguem nunca disse que seria fácil...” Gavin começa, citando uma musica do Coldplay que eu conhecia por ser um dos artistas que minha colega de quarto ouvia no internato.
“Ninguem nunca disse que seria TÃO DIFÍCIL.” Eu continuo e eles riem comigo.
Conversamos mais sobre o acampamento e o que acontece lá. Me contaram alguns casos de traições e namorados brigando. Romances entre os diferentes acampamentos e até entre meio-irmãos.
“Acho que eu não me assusto, não somos todos tipo, primos?” Eu digo e Silvia ri alto, depois se para com medo de atrair algum monstro.
“Não é a mesma coisa que irmãos.” Vanessa me responde.
“Meio-irmaos” Silvia continua e sorri para mim.
“Não sei se faz diferença” Eu digo a elas sinceramente. Todos pareciam mais uma familia do que uma escola normal. E estavam todos relacionados. 
“Voce esta falando com duas pessoas que namoram primos aqui, muito cuidado.” Silvia continua, rindo um pouco.
Conversamos sobre o namoro das duas garotas e como elas lidavam quando seus namorados iam para missões. As duas admitiram que iam muito mais a missões do que eles. Aparentemente, Felipe era um “rato de laboratório” e preferia passar todo seu tempo na tenda hospitalar. Andre era “rato de biblioteca” e preferia estudar a teoria do que entrar na prática.
Elas me explicaram que nosso TDAH é o que nos faz ser mais ativos e lutar, mas nem todos se sentem assim tão fortemente.
Sílvia me disse que vira Serena, uma das crianças de Dimitri, lutar poucas vezes. A menina era filha de Iris e tinha herdado seu recente passivismo.
“É bom porque ela passa muito tempo com a mãe. Fica quase o ano inteiro na loja. Iris é uma das melhores mães do acampamento.” Gavin nos diz e eu lembro da deusa e como foi gentil e me ofereceu um lugar para filar lá. Talvez aceitasse passar alguns meses com ela depois que voltar.
“Não tinha percebido que somos todas garotas filhas de deusas aqui.” Vanessa diz. Eramos tres garotas filhas de deusas. Como se a missão ser completamente feminina não assustasse o suficiente.
“Nem todAs.” Gavin diz enfatizando o A.
Falamos muito mais bobagens durante a madrugada e isso deixou nossa mente longe da ansiedade. Iriamos chegar no local um pouco antes do amanhecer. Estávamos muito perto quando parei.
“Estamos lidando com uma flauta que deixa os outros loucos. Alienadora. Meu plano é cobrir nossos ouvidos. Pensei em plantas...” Eu começo. Acho que é o momento certo para pararmos de falar bobagens e nos concentrar no que etar por vir. Porque algo muito grande estava vindo. Eu quase conseguia sentir no ar a energia pesada.
“Posso fazer uma pasta espessa para passarmos em 15 minutos.” Gavin nos diz e começa a tirar algumas coisas de sua mochila. Ofereço a minha também, com algumas plantas que eu colhi no jardim com Matheus.
“Espero que saia depois.” Vanessa disse e eu ri um pouco, sozinha dessa vez.
“Acho que é só lavar o ouvido, Ness...” Eu digo a ela e ela sorri envergonhada.
Gavin misturou algumas das ervas que eu carregava na mochila com um pouco da terra de onde estávamos parados. As meninas ficaram de guarda, com armas à mão enquanto eu tentava ajudar.
O silencio e a aparente falta de perigo estava fazendo todos nós ficarmos loucos.
“Se passarmos isso agora não vamos conseguir nos ouvir durante a batalha.” Vanessa nos alerta.
“Nem antes.” Silvia continua a frase da amiga.
“Se deixarmos pra passar na hora pode não ter tempo.” Eu digo a elas. Parece que estávamos em outra encruzilhada. O que seria pior?
“Agora então. E nos comunicamos por sinais.” Vanessa decide por nós e todos acatamos a estratégia da cria de Atena.
“Luna, por favor, maneire nas estratégias ridículas de batalha. Não vamos ficar nos jogando na boca de m.....” Vanessa não terminou a frase, quando me virei, um homem touro imenso estava parado atrás de mim.
“Luna, você é a líder, a gente mata o minotauro e você corre para o President.” Silvia diz enquanto passava as ervas no ouvido, parecia que ela não iria ouvir minhas reclamações.
“Não acho isso justo...” Eu começo, mas Vanesa ja esta passando as ervas também.
“A vida não é justa.” E Gavin passou as ervas no meu ouvido.
Silvia me empurrou para trás enquanto Vanessa atacava o monstro pelos francos. Sai correndo, como eles mandaram, mas não conseguia parar de os observar.
Vanessa caiu no chão e bateu sua cabeça em uma pedra. Gavin perdera a espada e tentava atacar o monstro com uma ?gaita ?. Silvia o atacava com a espada de todos os lados, mas estava ficando cansada.
Continuei correndo, e continuei quase caindo todas as vezes que me virava para os encarar. Agradeci pelo caminho ser plano e eu conseguir os enxergar. Não tive que andar muito mais para chegar perto do tronco dos meus sonhos. Não havia ninguém ali.
Longe, ainda podia ver Silvia e Vanessa atacando o monstro enquanto Gavin recuperava sua arma. Continuei encarando a luta e quase voltei quando me virei para o outro lado e vi um exército de sátiros me alcançando.
Os olhos loucos que eu nunca esqueceria vinham à frente, tocando a flauta de Atena.


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Notas finais do capítulo

Comentem, amo vcs ♥ ♥
Tão perto do fim que eu quase sinto o cheirinho de parte 2, oq vcs acham?



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