O Passado do Lobisomem escrita por Heringer II


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Chegamos no antepenúltimo capítulo! O que será que nos aguarda?



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— Então quer dizer que o safado do velho tinha reforço? – perguntou o líder do bando, olhando as minhas informações na folha que o integrante que a encontrou entregou.

— Sim, deve ser essa jovem aí... O nome dela é Evelyn.

— Será que é alguma parente dele? Filha?

— Filha? Duvido. Se aquele cara tivesse filhos, seriam bem mais velhos do que essa garota aparenta. Dever ser alguma sobrinha ou qualquer coisa desse cara.

O líder do bando deu mais uma olhada na folha de informações da garota, e leu o nome do colégio.

— Sabe onde fica essa escola?

— No centro da cidade, por quê?

— Se esse velhote não quer nos deixar em paz, então nós não o deixaremos em paz. Assim que amanhecer, quero que você, juntamente com outro dos nossos homens, vá até esse colégio e sequestre a garota. Hora de ensinar para aquele velho metido a atirador a não estragar o nosso plano.

— Tudo bem, chefe.

— Agora, me ajude a dar um fim nesse corpo aqui.

Os dois saíram carregando o corpo do fazendeiro.

*

Quando amanheceu, minhas olheiras estavam enormes. Como de costume, cheguei um pouco tarde e encontrei Denis e Jeanne na entrada da sala.

— Bom dia. – falei.

— Para você, não deve estar sendo nada bom. – respondeu Jeanne.

— Só estou um pouco cansada.

— Se liga nisso, Evelyn... – Denis falou. - Parece que Aldo atacou outra fazenda.

— Escuta, eu preciso contar uma coisa pra vocês...

Antes que eu acabasse de falar, Denis me entregou o jornal e eu vi a primeira notícia da capa: “Mais um fazendeiro morre em ataque do lobisomem”.

Aquilo me chamou a atenção. Eu tinha certeza que Aldo tinha espantado o bando antes deles matarem o fazendeiro! Eu vi o fazendeiro na porta da casa dele olhando para a gente!

— Mas ele não estava morto... – murmurei, bem baixinho.

— Como é? – perguntou Denis.

— É... Eu preciso falar com vocês. Mas... Não agora.

Esperamos até que todas as aulas acabassem, e nos encontramos na frente da escola, quando todo mundo estava indo para casa, para discutirmos o que eu tinha a dizer.

Contei toda a história, a descoberta que fiz de Aldo, a aula de tiro que ele me deu, o ataque na fazenda, tudo.

— Uau! Por que essas coisas não acontecem quando saímos com você? – perguntou Dennis.

— Mas, pessoal, escutem! O fazendeiro não estava morto!

— Como assim? – perguntou Jeanne.

— Aldo espantou todos os bandidos antes mesmo do fazendeiro sair da casa dele.

— Poderia ter sobrado um deles, e nem você, nem Aldo, viram. – comentou Denis.

— É... Pode ser.

— Evelyn! – Jeanne me chamou a atenção. – Temos que contar isso para a polícia! Tá todo mundo pensando em lobisomem, enquanto os bandidos se aproveitam desse mito para cometerem esses crimes sem serem culpados.

— Não sei se Aldo gostaria disso...

— E daí se Aldo não gostaria? É o certo a se fazer...

— Acho que você tem razão, mas eu só teria coragem de ir se pelo menos um de vocês fosse comigo na delegacia.

— Eu gostaria muito, Evelyn. – disse Denis. – Mas tanto eu quanto Jeanne temos um compromisso hoje.

— Que compromisso?

— O trabalho em dupla que a professora de português passou. Eu e Denis vamos fazer hoje.

— Jeanne! E aquela história de que nossos trabalhos a gente faz juntas?

— Não foi culpa minha, Evelyn! Foi a professora que montou as duplas com as pessoas que estavam na aula, e nesse dia você estava muito ocupada aprendendo a atirar com um rifle.

— Eu mereço uma coisa dessas... Quer saber, depois eu falo com a professora sobre isso. Eu preciso descansar a cabeça, talvez eu passe a tarde toda dormindo hoje. Tchau, pessoal!

— Tchau! – Denis e Jeanne responderam simultaneamente.

Deixei-os a sós e segui em direção a minha casa, mas não percebi que os dois caras do bando que tinham atacado a fazenda estavam me perseguindo. Eles carregavam um saco que pretendiam colocar na minha cabeça e uma arma, com a qual pretendiam me ameaçar. Tudo isso escondido no casacão de couro. Se eu tivesse me ligado que aqueles caras estavam usando um casacão de couro em plenos 35 graus célsius, eu teria suspeitado e me prevenido antes. Mas a minha cabeça estava muito cheia para reparar em coisas assim.

Quando cheguei à parada de ônibus, o coletivo já vinha virando a rua. Havia tipo uma “corrida”, o que chegasse primeiro, me levaria. O ônibus ou os dois bandidos. Eu estava tão exausta e distraída, que não dei muita importância para os dois homens correndo na minha direção. Pensei que eles iria pegar o ônibus também e não queriam perdê-lo.

Quando já estavam a poucos metros de mim, o ônibus parou na minha frente, eu subi, e imediatamente as portas se fecharam.

— Ei, espera! – um dos homens gritou.

— Acho que tem duas pessoas que querem subir no ônibus. – disse eu ao motorista.

— Eles vão ter que esperar, este coletivo está cheio. O próximo deve chegar em alguns minutos.

Não tinha sequer um assento para mim, tive que ir em pé. Aos poucos o meu ônibus se afastou dois caras, que ficaram me olhando, vendo-me ir embora.

Um deles deu um cascudo no outro.

— Isso é tudo culpa sua!

— Culpa minha por quê?

— Devia ter corrido mais rápido, seu animal!

— Eu vou te mostrar quem é animal!

E os dois começaram a se bater ali no meio da rua, até que um deles parou.

— Chega! Chega! Não vamos conseguir capturar a garota brigando assim!

— Não vamos conseguir capturar a garota de forma nenhuma, seu jumento!

— Aquela não! Mas podemos pegar aquela outra que estava com ela.

— Mas o chefe pediu a que acabamos de deixar escapar!

— Pensa! Se capturarmos a amiga dela, ela irá atrás, e é aí que a capturamos também.

— Hum... Faz sentido. Devo admitir que você é bem esperto quando tenta.

— Vamos rápido!

Eles voltaram por onde vieram, indo em direção à escola. Quando chegaram à frente do meu colégio, viram Jeanne e Denis já indo para a rua vizinha.

Os dois se despediram. Jeanne foi para a rua que dá na casa dela, e Denis, na dele. Os dois bandidos o seguiam.

— Por que não pegamos o gordinho? Ele parece ser gordo demais pra correr!

— Se aquele gordo cai em cima de nós, nunca mais a gente anda. Vamos atrás da garota!

Enquanto ia em direção à sua casa, Jeanne colocou um fone de ouvido e ligou seu MP3, colocando aquelas músicas que ela ouvia sempre. Restart, Cine, e afins. A música não permitiu que ela ouvisse os passos dos homens se aproximando.

Era o pingo do meio-dia, a rua estava deserta. Todos estavam em suas casas, preparando o almoço ou já almoçando. Não tinha testemunhas. Jeanne estava na armadilha perfeita.

De um instante para outro, tudo que Jeanne viu foi o escuro causado pelo saco na sua cabeça, ela começou a se debater incansavelmente, amedrontada. Se contorcia, se contorcia, até que sentiu o revólver nas suas costas, e um dos homens sussurrando no seu ouvido: “fique quieta e venha com a gente”.

*

Quando eu fui visitar Aldo na noite daquele dia, expliquei pra ele sobre o que tinha lido no jornal.

— Realmente. – ele falou. – O fazendeiro estava vivo quando saímos de lá. Mas não tem como saber o que aconteceu depois. Eles podem ter voltado e o matado.

— Eles correriam esse risco? Tipo, de encontrar com você novamente?

— Por que não correriam? Eles já sabiam que eu ia aparecer hoje, e mesmo assim se arriscaram.

— Eu só acho estranho que...

Minha fala foi interrompida com a recepcionista me chamando a atenção.

— Com licença. Desculpe, Evelyn, mas... Tem um rapaz chamando por você no telefone lá da sala.

— Ah... Certo, obrigada.

A moça saiu.

— Eu vou atender o telefone. – falei para Aldo.

— Ok.

Fui até a sala principal, onde a recepcionista me entregou o telefone.

— Alô?

— Muito bonito, Evelyn. – disse Denis, no telefone.

— Denis? O que você quer?

— Não se faça de idiota! Pensa que eu não saquei o seu planozinho?

— Denis, do que você está falando?

— Você convenceu Jeanne a fazer o trabalho com você e me deixar na mão.

— Você tá louco? Só pode ser.

— Isso! Isso! Pode se fazer de desentendida, mas não pensa que me engana não, sabichona!

— Denis! Eu não fiz o trabalho com Jeanne, por que isso agora?

— Ela não apareceu aqui em casa hoje! Iríamos fazer o trabalho hoje! E eu vi o quanto você ficou irritada por ela não fazer a dupla com você!

— Quer dizer que você acha que eu convenci a Jeanne a te largar e fazer o trabalho comigo?

— Elementar, meu caro Watson.

— O quê?

— Referência a livros, você não entende.

— Denis, pela última vez, eu não fiz o trabalho com Jeanne! Eu não convenci ela a te largar e fazer dupla comigo! E agora, se me dá licença, eu estou no meio de uma conversa muito importante com o Aldo. Tchau!

— Espe...

Antes que Denis acabasse a palavra dele, eu desliguei o telefone, e subi, com a cabeça irritada, para o quarto de Aldo.

— Quem era?

— Era um amigo meu, nada importante. Enfim... O que faremos agora?

— Só sobrou uma fazenda para eles atacarem. A fazenda Águas Claras.

— Você acha que eles vão atacar hoje?

— Difícil dizer. Eles estão bem enfraquecidos da última luta. O que pode ser um sinal de que eles não estão com a menor vontade de atacar hoje. Mas, faltando uma fazenda, eles podem querer acabar com o trabalho deles hoje à noite. Sabe, pôr um ponto final na história de uma vez por todas!

— Então, nesse caso...

Mais uma vez, fui interrompida pela recepcionista.

— Com licença, Evelyn. Outro telefonema para a senhorita.

— Diga a ele que eu não quero conversa.

— Não, desta vez é uma garota.

— Ah, deve ser Jeanne. Eu vou atender, quem sabe ela me explica o que aconteceu entre ela e o Denis.

Fui até a sala principal novamente e atendi o telefone.

— Oi?

— Evelyn?

Quando ouvi a voz de Jeanne, fui tomada por um medo misturado com preocupação.

— Jeanne? É você? O que houve?

— Evelyn. Por favor, me escuta. – disse Jeanne, aos prantos, com uma voz de choro e desespero. – Preciso da sua ajuda urgente!

— Jeanne! Pelo amor de Deus, o que está acontecendo?

— Uns caras estranhos me sequestraram, estão me mantendo refém, eles já bateram em mim, já... – Jeanne se descontrolou e chorou desesperadamente. – Eles disseram que se você e o Aldo não aparecerem em uma hora, vão me matar. Eles não estão brincando, eles mataram o dono da casa, estão apontando a arma para mim...

— Jeanne! Onde você está?

— Na fazenda Águas Claras, por...

Um homem tomou à força o celular da mão de Jeanne e começou a falar comigo.

— Sua amiga está bem, por enquanto...

A voz do homem me deixou mais assustada.

— Escute o que eu quero de você, garota. Eu sei que você está trabalhando com aquele... Velhote. Bem, escute, eu quero vocês dois aqui na fazenda dentro de uma hora, do contrário, o fazendeiro não vai ser a única vítima do lobisomem nesta fazenda.

O homem desligou o celular. O medo deixou meu rosto pálido, eu estava prestes a cair desmaiada.

— Evelyn, minha filha! – disse a recepcionista. – Tá tudo bem?

Sem pensar duas vezes, corri até o quarto de Aldo.


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Notas finais do capítulo

Emoções...