Apenas Um Drink escrita por Carolline Stephany


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oiee, gente (que eu espero que esteja aqui)! Esse é um conto muito especial para mim, que nasceu em uma madrugada, despretenciosamente, e que gostei muito de ter escrito.
Espero que todas as sensações que eu tive ao escrever sejam transmitidas a vocês enquanto estiverem lendo. Então, se você está aqui, já te agradeço! Espero que goste!



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Restava-lhe apenas uma hora.

Poderia ser pior. Já não tinha mais os fios louros presos em um coque confuso e o moletom sem graça fora trocado por um vestido preto igualmente sem graça – embora muito mais apresentável. Ainda assim, não conseguiu evitar o próprio corpo de acelerar o processo, esbarrando as mãos nos poucos produtos sobre a penteadeira, na pressa.

Teria se arrependido caso não pegasse o celular quando vibrou pela primeira vez. Quase o fez. Mas poderia ser Josh, e Josh não gostava de esperar. A mensagem em si a teria irritado em outra noite; ou melhor: poderia tê-la irritado na mesma noite do ano anterior.

Cada ano conseguia ser pior que o outro. No primeiro, uma noite romântica digna de filmes; no segundo, flores quase murchas como presente; nesse, sequer estaria em casa graças a um jantar da empresa. Mal acreditava que ele se lembrava que era seu aniversário, visto que não se deu o trabalho de parabenizá-la em nenhum momento do dia. As freqüentes mancadas o deixaram bom em desculpas, então perdoá-lo nunca era o problema, e sim como se sentia no meio disso.

Sua resposta foi curta, rápida e, como o esperado, não visualizada. Quase podia vê-lo com uma taça de vinho ao lado de um cardápio de comidas com nomes estranhos, ignorando por completo o aviso do celular, enquanto que ela apenas remexia o corpo, para se desvencilhar da fronha áspera de uma das almofadas baratas.

Mesmo assim, a comodidade de continuar no sofá assistindo a um programa de culinária qualquer, com receitas que nunca faria, foi um sopro bem-vindo até que a realidade badalasse em seus ouvidos. Era seu aniversário.

Josh estava jantando no melhor restaurante da cidade e a data não era minimamente especial para ele. Mesmo assim, seu marido estava tendo a noite dos deuses, enquanto lhe restava apenas a diversão dos plebeus. Por que ela teria que comer sozinha e dormir mais cedo, por falta de companhia, em um dia que supostamente deveria ser importante?

Assim surgiu a ideia. Deve ter sido a mais ousada dos últimos três anos, o que não era um prêmio muito difícil de se ganhar. E, em meio a todos os “porquês”, forçou-se a sair do estofado movediço e agora se encontrava em frente ao espelho, decidindo se passaria ou não o batom vermelho.

A falta de precisão na ideia dava voltas em seu estômago e convertia-se em um sorriso nervoso, por mais largo que fosse. Não pensara para onde iria, mas estava vestida para ir a algum lugar. Definitivamente, não mudaria de ideia após gastar seu perfume favorito. Um motivo ridículo, mas uma mulher não precisava de bons motivos para curtir o próprio aniversário.

Sair da imensidão marrom e bege do apartamento à noite foi, no mínimo, estranho. Os vizinhos que saíram ao mesmo tempo sorriram como se a vissem pela primeira vez. Seu próprio sorriso travou no meio do caminho quando percebeu que não estava muito longe disso. Costumava fazer muitas coisas durante o dia, porém sair não era uma delas.

A brisa que lhe cumprimentou assim que saiu para o lado de fora foi mais gelada que o esperado e a fez pensar mais um pouco antes de dar o próximo passo. Será que deveria voltar e pegar uma jaqueta? Espanou o pensamento, dando passos mais largos para fugir dela. Se voltasse, a hora restante se transformaria em quarenta e cinco minutos, e horas quebradas desanimavam. Entraria para nunca mais sair àquela noite.

 Não se lembrava da sensação de andar à noite. Josh não era o maior fã de andar no escuro sem que fosse para algum compromisso, então eles não andavam. Aos poucos, lembranças até então foscas foram ganhando brilho e o barulho de rodas riscando o chão com menos ímpeto que de manhã e de buzinas esporádicas foi se tornando mais familiar e até palpável. Ainda vivia no mundo real.

A possibilidade de escolher livremente para onde iria a deixou zonza por um instante. Havia um conjunto infinito de opções limitadas que pareciam se fechar a sua frente a cada vez que o ponteiro se movia.

O bar do quarteirão da esquina a chamou mais por sua luz esverdeada que por qualquer outro motivo que, outrora, a teria levado até ali. Foi onde conhecera Josh. Chegava a ser engraçado como a emoção ia diluindo-se como sal em água com o passar do tempo. A nostalgia tornou-se densa demais para ser carregada confortavelmente no estômago, então apenas pararam de ir lá. Ela parou de ir lá.

Já era possível ouvir um pouco da música – um jazz suave que só costumava tocar lá – quando desceu um ou dois degraus da nuvem em que se encontrava. Os amigos de Josh também frequentavam o lugar. Não que quisesse esconder, mas manter as coisas em segredo seria interessante e eles estavam estragando isso mesmo sem saber.

Quantos crimes pretendia cometer aquela noite? A ideia era clara: sentar, pedir uma bebida e matar o tempo até dar a hora de voltar para casa. Desejava apenas a sensação vazia e mentirosa de que não estava passando o aniversário sozinha e no mesmo ambiente de todas as outras noites – e dias também.

Quão problemático seria se a vissem ali? Sequer deveria ser um indício de problema. Ainda assim, desejava que estivessem bêbados o suficiente para não reconhecê-la. O que não seria tão complicado. Mal se lembrava do rosto de alguns deles e acreditava que o mesmo acontecia do outro lado da moeda.

Uma noite de quinta-feira não era conhecida por trazer muitas pessoas a bares, de modo que – graças a Deus – apenas Patrick, o mais sensato dos amigos de Josh, estivesse ali, ao lado da esposa, que acenou assim que a viu entrar. Suas mãos, quase desacostumadas ao movimento, devolveram o cumprimento. Congeladas e beirando a inexpressividade, enquanto que a onda de timidez implorava para que sentasse – longe, bem longe –, e destrancasse o contato visual com o casal.

O bar, agora mais moderno e escuro, quebrou suas expectativas de como o encontraria. As mesas espalhadas pelo espaço mediano apresentavam uma madeira mais nova, envernizada, sem lascas de madeira para fora. Os quadros negros e emoldurados ao lado da bancada e os copos de cristais e garrafas diversas de bebidas (a maioria nunca vira) atrás da mesma compunham o lugar de uma forma que nunca imaginou ver ali.

O banco preto de couro da bancada, o único vazio, a acomodou bem, mesmo que temesse que o homem ao seu lado, já bêbado, caísse sobre si em algum momento. Pela primeira vez na noite, permitiu-se relaxar. Nada deu errado. Nada tinha que dar errado. Sentar, beber e ir embora. Sem complexidade o suficiente para que algo saísse dos trilhos.

Tudo estava bem, mesmo que seus joelhos agitados não concordassem totalmente com isso. Já era a segunda vez que pegava o celular naquele meio tempo apenas para constatar o que já sabia: nenhuma mensagem de Josh. A única diferença era que, dessa vez, já tinha visualizado a sua.

— Vai pedir alguma coisa? – a voz preguiçosa do atendente a fez tirar os olhos do celular e enfim guardá-lo na bolsa meio rasgada e tingida num mostarda feio, que pegou às pressas.

Ele parecia quase pronto para pedi-la para sentar-se em outro assento e deixar aquele a quem quisesse beber de verdade.

— Uma cerveja – as palavras saíram pastosas de sua boca; seu corpo perguntava se era ela mesma, e se seu fígado ainda sabia receber álcool.

A mulher à sua esquerda soltou uma risadinha, mal parecendo preocupada em escondê-la. Em resposta automática, curvou os ombros para frente, mesmo que sua parte racional a lembrasse que não era com essa postura que se desafiava alguém. Não conseguiu evitar. A cada minuto que passava, lembrava que não estava em seu lugar comum. Em que momento de sua vida desaprendera a agir socialmente?

— Você não costuma beber, não é? – perguntou, mantendo um sorrisinho de canto de boca.

Poderia ser a maior besteira (na verdade, tinha certeza de que era), mas não estava preparada para isso. Levou minutos inteiros para decidir tirar a bunda do sofá e resolver fingir que ainda fazia parte do mundo fora dos metros quadrados de seu apartamento para que, em menos tempo que o esperado, alguém chegasse e dissesse que sua atuação não estava tão boa assim.

— Isso deveria ser engraçado? – sua mandíbula travou, deixando as palavras bem menos articuladas que o normal. Aos poucos ia entrando numa postura defensiva antes que seu bom senso dissesse que era uma reação ridiculamente exagerada.

— De jeito nenhum – deu um gole em sua própria bebida. Era um amarelo desbotado que lhe lembrava remédio e contrastava consideravelmente com a cerveja que o barman pusera ali com brutalidade, deixando a espuma derramar pelas laterais. – Apenas sugiro que, se quiser sair bêbada daqui, peça algo mais forte da próxima vez.

Uma risadinha escapou antes que sua implicância inicial a fizesse mudar de ideia. Não estava acostumada com amizades de bares. Talvez fosse assim que começassem.

— Eu não vim para ficar bêbada – reconheceu sua própria voz bem mais macia, desta vez, finalmente relaxando na cadeira.

Beber, sim; embebedar-se, não. Definitivamente. Havia um limite de ousadia para uma noite, e aquele ela não ultrapassaria. Seria muito mais fácil chegar em casa, trocar de roupa e fingir que nunca saiu dali se conseguisse se manter sobre os próprios pés sem cambalear em algum momento.

A mulher assentiu vagamente.

— Posso tentar te acompanhar nisso – ela virou um pouco o corpo para olhá-la, com um sorriso mais simpático e menos piadista. – Sou Daniela. E você?

— Anna.

O nome escorregou estranho e arenoso pelos seus lábios. Houve uma época em sua vida, quando trabalhava em lojas, que dizia seu nome mais vezes por dia do que podia contar. Nessa mesma época, também, costumava fazer amigos com uma freqüência assustadora. Bastante coisa havia mudado desde aquele tempo...

— Anna... – repetiu. Soava bem melhor na voz dela. – Então você não quer encher a cara e certamente não acabou de sair do trabalho – seus olhos varreram o vestido simples de algodão, embora não desdenhasse dele, antes de voltar ao seu rosto com certo interesse escondido nos cantos. – O que te traz aqui?


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Notas finais do capítulo

E é isso, gente! Espero que tenham gostado e aproveitado esse capítulo!
Críticas construtivas são muito bem-vindas, assim como comentários sobre o que achou do capítulo!
Se tiver chegado até aqui, muito obrigada! Espero que tenha gostado!
Até mais!



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