Estamos parados no meio do corredor.  Com prateleiras de doces a nossa volta e uma plateia que estamos fingindo que não existe. Enquanto sinto seu corpo tão perto do meu. Seguro seu rosto com minhas mãos e peço mentalmente para que eu esteja fazendo a coisa certa. E enquanto minha mente se transforma em uma tela de cinema para que eu assista os passos que nos trouxeram até  aqui. Consigo sentir meu coração disparado. Sei que estou vermelho, sei que sua blusa de tricô verde está caindo do ombro, que nossos pés estão entrepostos formando o combinado de preto e azul.

Percebo que não gosto só do seu all star azul, mas gosto das blusas verde mesmo sem ser da Sonserina, gosto dos cabelos as vezes laranjas as vezes vermelhos dependendo da luz que os toca, gosto das sardas que também mudam de cor, gosto dos olhos tão azuis quanto os tênis, gosto do nariz vermelho, gosto dos lábios rosados que você pinta de roxo, de vinho, de preto. Percebo que gosto das meias rasgadas que cobrem as pernas, gosto das saias xadrez, dos shorts jeans, das calças rasgadas. De como me faz falar mais do que pretendo, me obriga a tomar a iniciativas. Percebo tudo isso enquanto toco seus lábios com os meus.

Quando nos afastamos seus olhos estão arregalados, certamente não esperava por isso, por um garoto te beijando sem pedir, sem aviso. E eu aceitaria toda bronca que viria, porque sei seu posicionamento sobre isso. Sobre tomar iniciativas não solicitadas. Você parece não acreditar e eu sei que estou perdido.

Estou pronto para começar a me explicar. Para pedir desculpas.

— Rose, eu sinto muito. – Falo coçando meus cabelos.

Suas mãos tiram alguns fios de minha testa.

— Finalmente. - Você diz com convicção como quem aguardou por isso tempo demais. – Finalmente! – Você grita.

Escuto nossos colegas de escola assobiando, batendo palmas. Você não se importa com isso, fica na ponta dos pés e volta a me beijar.

Nos beijamos tantas vezes. Naquele corredor. Tantas vezes que deixamos de chamar atenção. Compro todos os seus doces preferidos. Saímos de mãos dadas. Paramos em frente a vitrine e eu finalmente posso dizer o que sempre pensei.

— Seu all star azul combina com o meu, preto, de cano alto.

Você olha para nosso reflexo. Estamos lado a lado. De mãos dadas. Com as bocas manchadas de vermelho. É a imagem perfeita.

— Eu disse que a gente combina. – Seu sorriso é sarcástico. – Você me disse que éramos bons amigos.

Seguro em sua cintura.

— Somos os melhores.

Beijos sua bochecha. Como ela fez tantas vezes na minha. E sei que sempre lembrarei da garota do all star azul, que me disse oi, que gostou do meu tênis, que perguntou meu nome, que me contou sobre uma banda trouxa, que me deu um suéter, que me fez ir ao baile e fugir dele, que deitou na grama comigo para ver as estrelas, que conhece minha constelação, que usa verde para combinar comigo, que agora não é apenas minha melhor amiga, é a que quero beijar por toda vida.

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você