Cheater escrita por Maga Clari


Capítulo 5
Bilhete número 9 e 10


Notas iniciais do capítulo

Bom dia amores do meu Brésil!
Tive que me virar nos 30 pra responder todo mundo e escrever esse capítulo. Estou rindo de nervoso porque tenho medo de não conseguir concluir tudo a tempo. Ainda porque eu tinha planejado inicialmente 6 capítulos, mas não sei como vou conseguir finalizar em só mais um agora. Detesto capítulos grandes, tenho horror! Além disso, não quero me perder do trilho, desviar as ideias, precisei interromper mesmo, de verdade. Juro que entendo o lado de vocês, mas vida que segue e eu que lute hahahaha
Bisous mes amis!



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BILHETE NÚMERO 9

Eu consigo ouvir pela parede do dormitório

Achei bem estranho quando Rose Weasley me pediu o resumo de História da Magia. Embora eu seja um dos únicos alunos acordados durante a aula, a relação Rose-Scorpius nunca foi desse tipo. Somos apenas conhecidos que de vez em quando se cumprimentam com um aceno de cabeça e que sabem uma coisa ou outra sobre suas respectivas famílias. Somos Romeo e Julieta numa realidade em que o amor nunca existiu. Em que, ao invés disso, escondeu-se nas pequenas coisas, pequenas atividades da vida diária; num sorriso tímido em páginas amareladas, num olhar calmo diante de uma xícara de café com chocolate, em todos os jeitos e trejeitos ordinários que se tornam fantásticos dependendo de quem os interpreta. 

Eu até que poderia ser Romeo. Rose até que poderia ser Julieta. Mortos os dois pela simples ignorância e ilusão de crer no que pode não ver. 

Talvez eu devesse referir à Bentinho, Escobar e Capitu. Traiu ou não traiu? Enlouqueceu ou não enlouqueceu? Será tudo delírio meu, uma espécie de transe, um feitiço alucinado que alguém me colocou? 

Posso estar inventando as batidas. Posso estar inventando as juras de amor. Posso estar inventando, inclusive, o que sinto quando olho você. Ah, minha flor. Até seu nome já diz tudo. Dele se faz vinho, perfume e licor. 

Não é tão difícil encontrar-se entorpecido quando se trata de Rose Weasley. Eu entendo. De verdade. Juro que entendo o que Lorcan viu nela. Mas é preciso caráter para enfrentar fantasmas e ser sincero com as pessoas que gostamos. É por isso que resolvi contar tudo na festa de sexta-feira. 

— Ficou maluco?! — foi o que Albus me disse, quando anunciei que iria desacompanhado.

— Caso você ainda não saiba, nem todo mundo é desesperado o suficiente para se preocupar com esse tipo de coisa.

— Ex-cu-se-me?!

— Se a carapuça serviu o problema é seu.

Segurei um riso discreto enquanto ajeitava a gola da camisa e colocava uma colônia pós-banho.

— Pelo menos eu tenho coragem de me render ao amor!

— Bom pra você.

Dei alguns tapinhas nos dois lados do rosto dele, exibindo o sorriso mais cínico que havia conseguido. 

— Diga à Longbottom que mandei lembranças.

Então, deixei o dormitório com humor renovado com a possibilidade de espairecer um pouco, ouvir boa música e tomar uma cerveja amanteigada.

Tudo parecia momentaneamente controlado. 

Mas aí ele tinha que aparecer. 

A conversa se seguia do outro lado da parede, no quarto ao lado do meu, o quarto de Lysander. Parei para ouvir.

Por favorSe alguém falar, eu te ajudo. Eu te defendo. Vamos, por favor…

— Eu também queria, gatinho. Mas ainda não dá…

Escutei um choro.

— O que eu preciso fazer pra que você não tenha vergonha de mim?

— Quem disse que tenho vergonha de você?!

— Se não tem, por que não vem comigo?

Silêncio repentino. Clique da tranca. Meu sangue subiu com impaciência. Observei o filho de trasgo como quem observa um Comensal seguidor de Voldemort.

Perdeu alguma coisa, Malfoy? — ele quis saber, os braços cruzados em chateação. Seu nariz já estava de volta ao seu lugar — Tá querendo se livrar de mais pontos e da Taça das Casas?

— Se eu quisesse, teria feito pior — respondi, simplesmente, me desgrudando da parede e tomando o caminho das escadas.

Tenho a impressão de que Lorcan ia revidar, mas mudou de ideia quando Hugo apareceu e nossos olhos se encontraram.

Covardão.

 

BILHETE NÚMERO 10

Ela não me parece apenas uma amiga

 

Os bilhetes eram de Scorpius.

Sem sombra de dúvidas, aquela era a letra de Scorpius. A inclinação meio itálica, os pingos bem marcados e os detalhes curvilíneos das letras maiúsculas. Era Scorpius tentando me alertar de algo que nem eu nem ele sabíamos se era verdade. No entanto, pela primeira vez, me permiti supor que Scorpius estivesse com a razão. Que ele estivesse certo sobre Lorcan ser um farsante. Mas em qual contexto?

Confesso ter passado os últimos dias com aquela pergunta sem resposta, seguida, obviamente, por outros bilhetes. Você tem que deixá-lo ir, dizia o último. Eu consigo ouvir pela parede do dormitório, dizia o que havia acabado de chegar, por debaixo da porta. Mas o quê? Você consegue ouvir o quê, Scorpius? Minhas conversas? As nossas? As dele, com outras pessoas?

Meu cérebro começou a rodar em looping quase infinito. O corpo jogado de ponta-cabeça sobre a cama, o cabelo encostando no tapete de bolinhas cor-de-abóbora, e as mãos sobre os olhos, como se tentassem me poupar de algo que eu já não conseguia mais ver.

Tomei um susto daqueles quando Alice Longbottom saiu de seu banho da beleza e inundou o ambiente com seu costumeiro tom de voz de gritaria.

— Vumbora, amiga! Levanta daí! Quer se atrasar, por acaso?!

Alice me puxou pelo outro lado, pelos meus pés.

— Albus vai pensar que dispensei ele, o que nunca ia ser verdade!

Agarrei-me às cobertas, me acabando de rir:

— Cissi — sim, eu a chamava assim — Se eu não te conhecesse diria que foi enfeitiçada por amortentia.

— Amigaaaa! Eu fui enfeitiçada por outra coisa, maior e melhor.

— Ew!

— Levanta logo, criança, para de birra. Que saco! Quebrei minha unha!

Chutei a perna dela e levantei, correndo para o chuveiro. Depois de alguns minutos, estava pronta para acompanhá-la até a entrada da Lufa-Lufa, onde não apenas Albus, mas Scorpius também, assistia aos pares que cruzavam os corredores.

Os dois trocavam palavras enérgicas, embora sussurradas, em tom de segredo. E foi quando consegui reparar nele pela primeira vez em muito, muito tempo.

— Ah. Weasley. Terminou com o resumo?

— Desculpe, precisei de mais tempo para ler tudo. Mas aqui está.

Devolvi o pergaminho que havia guardado em minha bolsa, já antecipando que o encontro com ele acontecesse, mesmo que por acaso. Scorpius ergueu os olhos, mas não consegui decifrá-lo dessa vez. Apenas concentrei-me em guardar a memória daquele instante, para tentar entender depois. 

Meias até a canela, cheias de listras, enfiadas em sapatos de couro de dragão. Jeans com barra curta, rasgos discretos e uma corrente presa no bolso. A camisa de botões fechados era toda solta, como se tentasse vestir-se com classe, mas por o tecido dentro da calça fosse demais para ele.

O sorriso me veio sem querer. Estava para mudar o foco de atenção mas demorei o bastante para descobrir que o já mencionado emo-grunge-heremita parecia reparar em mim também.

— Obrigado — ele disse. E então, virando-se para Albus, completou: — Boa sorte, cara. Longbottom. Weasley. Nos vemos por aí.

Scorpius limitou-se a um aceno de cabeça antes de sumir pelo corredor, deixando-me confusa não somente por aquele contato visual fora de contexto, mas, principalmente pelo bilhete que ele mesmo me deu, ao pegar o pergaminho de minhas mãos. 

Levantei a palma, ao sentir uma coceira estranha, e lá estava escrito o que eu tanto queria saber. Com todas as letras, com todos os pingos marcados, com todos os detalhes curvilíneos e todas as palavras em itálico.

Lorcan é um traidor. Mas a namorada não é você.


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