Cheater escrita por Maga Clari


Capítulo 2
Bilhete número 3 e 4




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BILHETE NÚMERO 3

Me deixa falar sobre o seu namorado? Ele tem um segredo.

Depois daquele incidente do bilhete encantado, fiquei me sentindo um lixo. Eu não devia interferir na vida de ninguém sem ser chamado para briga. Talvez Rose deva continuar sem saber. Pelo menos, em seu mundinho colorido, ela está feliz. Eu costumava possuir uma imaginação igual a dela quando criança, e crescer depressa me tornou ligeiramente amargurado e cético. Tenho receio que a informação mate a Rose que conhecemos hoje. Assim como matou o Scorpius que vocês não conheceram.

Esse dilema me perturbou a noite toda. Vi o sol nascer nas imediações dos jardins, assistindo as estrelas deixarem pouco a pouco o céu. Senti a brisa gelada de orvalho e me lembrei de quando gostava de correr pelo quintal da Mansão Malfoy e tentei procurar por pistas de quando aquilo já não me agradava mais. Talvez tenha sido diferente de Rose. Talvez eu tenha acordado um dia e não fosse mais apaixonado pelas coisas.

A culpa me veio logo pela manhã quando, no Salão Principal, percebi que Rose e Lorcan sentavam em suas respectivas mesas, separados. Ela mal tocava em sua panqueca de morangos e ele conversava com os amigos, o semblante estranhamente sério. Vi que Hugo, o irmão dela, sentou ao seu lado e então começaram a rir. É, talvez seja coisa da minha cabeça. Talvez seja só o estresse pré-exames. Por isso que a Sonserina resolveu organizar uma festa. 

— Fala, Escorpião! — esse é o meu melhor amigo, Albus. Ele sentou de lado e pegou a minha torrada enfiando na boca de uma vez, sem cerimônia — Já sabe quem vai chamar pra festa de sexta que vem?

— Como assim?

— Você tem que chamar alguém, cara! — ele falou em tom de obviedade — Eu não vou poder te dar atenção. E muito menos Zabine. Estaremos muito ocupados com nossos próprios pares. 

— Ah, é? E quem você vai chamar, cabeção?

Albus virou o corpo todo, suspirando de longe ao me mostrar a mesa da Grifinória. Era uma garota de cabelos cor-de-mel. Olhos âmbar e pintinhas no rosto. Ele só podia estar de brincadeira.

— LONGBOTTOM?! — exasperei, quase engasgando com meu café.

— O quê que tem?

— Ela é filha do professor.

— E..?

— Você está ferrado, Albus.

— Eu gosto de riscos. Torna tudo mais romântico!

— Corajoso...

— Diferente de você, não é mesmo?

E foi tudo até ele pegar outra torrada e ir falar com amigos do outro lado da mesa.

Eu sabia do que Albus estava falando. Somos amigos desde os onze anos, desde o trem. É claro que ele suspeitava do fenômeno acontecendo em meu coração. Só alguém atento como Albus para perceber. Eu podia ser um bom mentiroso para quem está de fora, mas Albus com certeza sabia que existia alguém e que eu tinha medo de falar o nome. Ele sempre foi o tipo de amigo para trocar experiências românticas, contar segredos e pedir conselhos. Ele sabia de tudo. Principalmente sobre meus casos vazios de uma noite só.

Tenho consciência de que bilhetes anônimos me tornam mais covarde do que já sou. Mas se fosse para ter bravura eu estaria na Grifinória, o que obviamente não aconteceu. Cobras e escorpiões agem nas sombras, sem muito alarde. Por isso, decidi enviar mais um.

 

BILHETE NÚMERO 4

Ele está mentindo pra você.

Já era mais de nove horas quando o correio matutino chegou. Eu havia acordado um pouco indisposta. Provavelmente o meu corpo somatizando o aborrecimento da noite anterior. Pensei que fosse melhor esperar que Lorcan falasse comigo, ao invés de ir falar com ele. Havia sido a primeira sexta que não ficamos juntos e ele nem ao mesmo se lembrou! Esperar por Lorcan foi ainda pior, visto que estava óbvio que eu esperaria pra sempre.

Mas foi quando o correio chegou. Meu irmão veio todo sorrisos com sua firebolt nova, enviada por papai. Nós conversamos muito e compartilhamos alguma piadas internas, o que me animou um pouco. Eu queria poder falar sobre Lorcan com ele, mas eu não havia contado ainda. Não me entenda mal, é que se Hugo souber, mamãe vai saber, papai vai saber e minha vida vai se tornar o circo de horrores.

— Ei, irmã — Hugo mudou de assunto de repente — É verdade que a sua turma vai dar uma festa depois dos exames?

— O quê?

— É, eu ouvi o Fred dizer pra Roxy que Dominique disse pra ele que vai ter uma festa sexta que vem.

— Pois ouviu errado.

Não. Eu não queria que Hugo fosse. Ele é só uma criança que deveria ser o nerd que Hermione Granger sempre sonhou. Prometi que cuidaria dele.

— Ah, nem comece.

— Mas, Hugo, eu só quero...

— “...me proteger das drogas, bebidas, prostituição e outras tentações do mundo moderno dos trouxas inseridos já na nossa sociedade bruxa através da troca cultural iniciada desde os anos 2000”. Eu já sei. Tá legal? Eu não vou usar drogas ou me prostituir, Rose. Eu só quero ir numa festa!

— Mas você só tem quinze anos!

— E daí?

— E daí que vai ter gente mais velha lá.

— Não importa! 

— Importa sim. 

— Para de ser mandona!

— Eu não sou mandona, eu só amo você.

Hugo ficou um pouco atordoado e aproveitei para abraçá-lo com carinho, beijando o topo de sua cabeça.

— Tudo bem. Mas você tem que jurar de mindinho que vai se comportar.

— Sempre.

Ele sorriu e unimos nossos dedos mindinhos. 

Foi quando a última coruja de entrega atirou duas correspondências. Uma no meu colo e outra no colo do Hugo. A minha era sem remetente e tinha uma carinha triste desenhada no pergaminho. Eu ia perguntar o que tinha na dele, mas não deu tempo. Só o vi correr para fora do Salão e sumir pelas escadas. 

Pensei em ir atrás, mas já estava acostumada com o comportamento excêntrico do meu irmão. Bem provável que fosse só mais uma carta de amor das garotas do ano dele que se apaixonam perdidamente pelo cabelo dele. Além disso, eu tinha outros assuntos para lidar naquele momento. Como o fato de estar recebendo bilhetes anônimos dentro de Hogwarts, uma instituição que se orgulha em dizer que é “o lugar mais seguro do mundo”. Meu instinto suspeita que seja uma brincadeira de mal gosto e eu descobriria o autor disso logo, logo.

Mas não antes de terminar de tomar café, é claro.


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