Cheater escrita por Maga Clari


Capítulo 1
Bilhete número 1 e 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791594/chapter/1

 

BILHETE NÚMERO 1.

Podemos falar sobre o seu namorado? 

Não é por nada não. Mas eu tinha que avisá-la. Óbvio que os bilhetes são anônimos. Minha intenção é estritamente ajudá-la, passar a informação. Se eu disser o meu nome, ela nunca vai acreditar. Vai dizer que é fake news, que não passa de uma pegadinha de mal gosto, e na hipótese mais provável exibirá o olhar de irritante-sabe-tudo, alegando que minhas ações teriam sido motivadas por ciúmes — ou inveja — já que o namorado é ele, não eu.

Confesso que faz um pouco de sentido, se você pensar com o cérebro de uma garota da família Granger-Weasley, melhor nota do NIEM’s do ano passado e único ser humano capaz de ter lido todos os livros de romance de todos os países já escritos. É óbvio que Rose terá certeza que estou inventando isso. Eu tenho todos os motivos. Nossas famílias são rivais. O chapéu me colocou na Sonserina. Eu sou um Don Juan. Faz sentido sim. Mas eu precisava avisá-la. Você me entende, não entende?

— Perdeu alguma coisa, Malfoy? — a voz de Pedro Zabine tinha um tom acusatório, mas eu não o daria o gostinho de fingir que aquele era meu nome, mesmo sabendo que deveria respeitar o monitor. — Ei, planeta Terra chamando!.

— Desculpe? — meu tom era irônico, e quase até inocente, enquanto me esgueirava de volta à Sala Comunal. Eu havia sido pego no flagra em minha tentativa mal-sucedida de fotografar o queridinho da Sonserina. E é óbvio que eu perderia pontos por isso. Continuei me fazendo de sonso, entretanto. Igualzinho a ele — Falou comigo?

— E por acaso tem outro Malfoy aqui?

Precisei respirar fundo para não perder o controle. Odiava aquele nome. E todos sabiam e se aproveitavam disso como ponto fraco no meio de uma briga. Sim, pode parecer estranho, mas Sonserinos gostam do estilo guerra fria.

— Estou documentando meu argumento para trocar de quarto. — disse simplesmente, referindo-me ao incômodo persistente do qual meus colegas já não aguentavam mais ouvir-me reclamar.

— De novo isso, Malfoy? Olha… — ele colocou a mão no meu ombro, como se fosse partir para um TED Talk — Entendo que deve ser frustrante conviver com a vida amorosa de seus amigos, mas sua hora vai chegar.

Com um olhar de pena, o monitor-chefe da Sonserina me deixou sozinho outra vez, mais bravo do que já estava. Sei que posso passar a impressão errada. Mas quem come quieto, come mais, esse é o ditado mais verdadeiro que já ouvi. Sempre tive o cuidado de manter minha vida privada o mais segura possível. Um bom adivinho perguntaria o óbvio: Por que esse garoto tinha tanta certeza sobre o que acusava? 

Bom, a resposta é ainda mais simples. 

Porque eu era igual a ele

Só que no pretérito. 

— Pensa rápido! — foi um dos meus colegas de turma. Ele jogou uma bolinha enfeitiçada para mim, que se transformou num broche com um código em runas — Festa amanhã. Essa é a senha.

E com uma piscadinha, Lúcio McLaggen prosseguiu para o dormitório, trocando socos de amizade com outros amigos. Aproveitei para descer do parapeito da janela só para dar de cara com Rose Weasley, em trajes de lã coloridos, transbordando esperança e amor por detrás daquele sorriso que por pouco iluminaria aquelas masmorras cheias de umidade e fedor. 

As meias da lufa-lufa destacavam em sua presença silenciosamente barulhenta e foi quando ela desceu os últimos degraus da escadaria que a decisão me pareceu inevitável. Escrevi o bilhete e encantei-o para que voasse até a altura dos olhos dela.

Não consegui esperar para saber se Rose teria lido ou virado-se procurando o remetente. Havia um negocio no meu estômago e meus pulmões haviam fechado o bastante para que eu já estivesse a metros de distância, pegando a brisa noturna do lado de fora do castelo.

Será que Rose Weasley reconheceria minha letra?

 

 

BILHETE NÚMERO 2

Isso vai te fazer chorar. 

Eu preciso deixar claro uma coisa. 

Minha vida nunca foi muito normal, sabe? Pra começar, eu sou uma bruxa. Meu pai é um bruxo. Minha mãe, meu irmão, meus primos, todo mundo é bruxo nesse manicômio que eu chamo de família. É muito esquisito quando você percebe que ser dotado de “poderes” não é normal, considerando todas as outras crianças das redondezas. Desde cedo, fomos educados em colégios de trouxa, socializamos com trouxas e moramos num bairro de trouxas. A minha mãe é a Ministra da Magia e parece viver a sua própria ideologia, tendo uma vida simples e feliz. Porque apesar do cargo de alto poder, ela parecia gostar de brincar de camponesa e dona de casa de vez em quando.

O papai sempre foi um louco apaixonado por ela, sabe? Eu vejo os olhos dele que brilham quando estão juntos ou quando alguém menciona Hermione Granger na conversa. Eu meio que tinha esse sonho infantil de me sentir assim algum dia. E foi como explodir estrelas dentro de mim quando ganhei o meu primeiro beijo. 

Aconteceu durante o intervalo das aulas, enquanto jogávamos conversa fora, numa roda de amigos. Ele estava lá. Lindo, cheiroso, o cabelo sedoso e cheiroso me hipnotizando como um encantador de cobras. Um sorriso lhe veio à boca quando contava uma de suas aventuras com o irmão, que por algum motivo não estava presente naquele momento. Foi quando minha amiga Alice Longbottom me cutucou:

— Fala pra ele, Rose.

— O quê?

— Alô-ô! Sobre seu talento com roupas.

Ah, é. Ele estava falando sobre roupas.

— Você costura? — o olhar dele sobre mim mudou da água para o vinho. Acho que foi aí que ele me notou.

— Sim — respondi, tímida e apaixonada.

— Quem sabe um dia você me mostra.

Não respondi. Apenas acenei com a cabeça e a gente beijou. Okay. Não foi exatamente assim, no meio do nada. É que um de seus amigos que treinavam quadribol deixou escapar uma goles e ele foi arremessado contra mim, na grama, e ficamos os dois nos olhando a centímetros de distância. Ele me olhou, eu o olhei, ele sentiu meu cheiro e eu senti o cheiro dele. Ele riu e eu ri e então nossos lábios se tocaram.

Eu adoro contar essa história… 

Só que algo aconteceu e me deixou curiosa, com aquela coceirinha atrás da orelha. Eu já estava para visitá-lo, porque somos namorados e tínhamos o hábito de ficarmos juntinhos dia de sexta-feira. Comendo besteira e ouvindo música. Mas aí aconteceu. Tomei um susto porque era um papel de rascunho perseguindo meu trajeto. Eu ia para a esquerda e ele também. Eu ia para a direita e ele também. Impaciente, arranquei-o do ar para então ler os dizeres.

“Podemos falar sobre seu namorado?”

Pensei duas vezes, sabe. Podia ser alguém blefando. Continuei meu caminho e outro bilhete se seguiu. Ele grudou na porta que eu já estava para abrir.

“Isso vai te deixar triste”.

Continuei tentando abrir, mas por algum motivo, não conseguia. A maçaneta sacudia, mas não abria. É, aquilo foi realmente esquisito. Tentei ver pela fechadura, mas era impossível enxergar qualquer coisa além da escuridão invisível.

Será que Lorcan estava em apuros?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!