Atestado médico escrita por Evangeline White


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Heeey guys ♥

Eu amo fazer oneshot grandinha HAUSDHSAD Espero que vocês gostem de ler tanto quanto eu gostei de escrever. Wolfstar merece o mundo. ♥



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A casa dos Lupin não era a mais chique, nem a maior do bairro. Não possuía móveis caros nem nada que a fizesse ser diferente e interessante para seus vizinhos bisbilhotarem. Na verdade, era a última casa de uma rua comum, tão afastada das outras que quase parecia fazer parte do bosque que rodeava a cidade. Não era um lugar que você imaginaria atrair três adolescentes esquisitos e determinados.

Mas lá estavam eles. Parados na frente da grade alta, de mãos na cintura e o sorriso de quem assustaria até mesmo o diabo. James e Sirius trocavam olhares cúmplices enquanto Peter ligava a câmera velha de sua mãe e mirava em uma janela da casa.

— Estou vendo ele — Peter sorriu, apertando o botão do zoom o máximo que a câmera permitia. — Está sentado na janela, estudando.

— Nem doente ele para de ser nerd? — James riu, se pendurando em Peter para tentar ver qualquer movimento. — Vai ser mais fácil assim. Está com o pacote, Pads?

— Sempre, meu caro Prongs — Sirius abriu um sorriso travesso, batendo na sacola amarrada na cintura. — Tem um lugar pela lateral que dá pra invadir. Eu passei por ali na primeira vez que vim ver o Moony.

— E você ainda se pergunta por que o senhor Lupin não gosta de você.

Sirius deu de ombros, resmungando algo sobre não ser valorizado. Seu namoro com Remus era recente, mas as visitas para os Lupin não. Ainda se lembrava da primeira vez naquela casa: a escalada pelo muro, o tombo feio no canteiro de flores, Lyall aparecendo com uma espingarda e Hope não sabendo se ria ou acudia Sirius de um fim trágico nas mãos de homem com zero noção de moda ou comportamento social.

Aqueles eram os sogros dos sonhos para Sirius.

Como era de se esperar da família Lupin, nada havia mudado na casa. Não eram ricos para ficar esbanjando e todos pareciam gostar muito da vida minimalista. Sirius achava um charme isso em Remus e em Hope. Lyall, como sempre, era o esquisito da família com cara de que tinha um porão de caça e tortura. E obviamente isso só fazia Sirius se colar mais no sogro (“lembra as pessoas boas da minha antiga família” suspirava ao lado de Lyall, que apenas lhe dava uma careta antes de perguntar se Sirius tinha parafusos a menos).

— É logo ali, vamos escalar a árvore e depois pular pela grade velha. Tem espaço pra descer.

— Escalar? — Peter engoliu em seco, apertando mais a câmera contra seu peito. — Por que precisamos escalar? Podíamos ir pela porta da frente.

James revirou os olhos, descendo um tapa na cabeça de Peter.

— Claro, vamos entrar pela porta e falar “olá senhor e senhora Lupin, não liguem para nós, só estamos aqui para quebrar todas as suas regras e nos esfregar no Moony com a peste negra. Aliás adorei o quadro novo da sala.”

Peter comprimiu a boca por alguns segundos.

— Eles tem um quadro novo?

E com o silêncio como resposta para Peter, seguiram pelo caminho indicado por Sirius.

 

 

Eis o que acontecia com Remus: o garoto raramente ficava doente, mesmo com toda a porcaria de chocolate que comia. Parecia ser um traço da família Lupin ser tão resistente. Por isso, quando acontecia de adoecer, a coisa era feia. Remus vinha trabalhando meio período em um pequeno centro de recreação infantil, e por infelicidade do destino uma das crianças resolvera passar todos os vírus e bactérias possíveis para ele.

Três dias depois, Remus estava mostrando sinais fortes do que Hope chamava de “gripe de criança” e proibira Remus de pôr os pés para fora ou receber visita. E obviamente que ficar uma semana longe do seu nerd preferido era difícil demais para os Marotos.

Plantados nos galhos grossos da imensa árvore, o trio encarava a casa como a missão do século. Sim, gostavam bastante de Hope e Lyall, mas sinceramente, quando foi que respeitaram as regras de alguém?

— Vamos pular — Sirius sussurrou, apontando para a grade. — Estão vendo? Ali falta uma barra de ferro. Dá pra pular e depois descer pro chão. Venham.

— Depois de você, parceiro.

Sirius foi o primeiro. James sempre gostava de ressaltar como Sirius parecia um felino em qualquer invasão que fizessem, pois arrancava de Sirius aquele revirar de olhos característico. Padfoot era fã de cachorros, fazer o que?

— Wormtail, é melhor vir pro meu galho — James sussurrou ao amigo, estendendo a mão. — Eu levo a câmera. É bem fácil de pular, só imitar o Sirius e eu.

— Mas-

E lá se foi James, seguindo o passo a passo de Sirius. A dupla conseguira, sem muito trabalho, pisar no metal liso, e depois deslizar pela grade e rolar para o gramado. Entre James e Sirius ficava difícil dizer quem tinha mais habilidade; Peter, no entanto, era um caso complicado. Assim que recebeu o sinal positivo de James e Sirius, se esgueirou entre os galhos, quase escorregando para passar de um para o outro.

— Ele vai se matar — Sirius murmurou, com uma careta de preocupação. — Ele vai se matar e vamos ter de esconder um corpo no quintal de um policial.

— Shh Pads, ele precisa de apoio moral — James cutucou Sirius com o cotovelo, embora estivesse tão preocupado quanto. Girava a câmera da senhora Pettigrew entre os dedos com impaciência. — Vai Peter, é só pular!

— Mas isso está alto — Peter choramingou. — Talvez eu deva esperar aqui fora e avisar se alguém aparecer...

— Deixa de ser covarde, Wormtail! É como as aulas de educação física na escola! Um pulo simples!

— Prongs, eu nunca vou bem nessa aula!

James teve de concordar com essa afirmação. Seus olhos corriam por todo o jardim procurando alguma coisa para ajudar Peter ter mais confiança, mas com o barulho vindo da casa, Sirius empurrou o amigo para o lado e se focou em Peter.

— Worm, eu juro que se formos pego agora vou te pendurar pelos pés no bastão da bandeira na escola!

Não era do feitio de Sirius apelar para raiva com os amigos, mas porra! Queria ver Remus antes que fossem presos. Literalmente presos – Lyall era um policial bastante determinado.

— Mas Padfoot-

— Pula logo, Pettigrew!

— A altura...!!

O barulho aumentava, e parecia vir acompanhado de vozes.

— Pula de uma vez! — James apressou.

— Prongs eu não-

— PULA PETER!

Peter pulou, e então...

BOOM.

 

 

Lyall com certeza teria vasculhado o quintal atrás do barulho suspeito e o grito estranhamente agudo se, ao mesmo tempo em que Peter se esborrachava no chão, Hope não tivesse derrubado uma caixa enorme cheia de madeira e porcelanas.

— Por Deus, Hope — Lyall ergueu a esposa nos braços para tira-la do meio daquela bagunça. — Eu disse a você para deixar que eu pegava.

— Não queria que se atrasasse — ela resmungou com uma careta para seu material todo quebrado. — Espero que alguma coisa esteja inteira ainda. Essas porcelanas eram tão caras.

— Espero que nada tenha entrado na sua pele — Lyall balançou a cabeça com um suspiro, não evitando um sorriso ao olhar para o bico da esposa. Com um beijo carinhoso em sua testa, a abraçou pelos ombros, a tirando de perto da bagunça. — Eu te ajudo a limpar quando voltar, se quiser. Mas se precisar pegar algo do alto novamente, me espera ou peça ao Remus.

Hope resmungou que cuidaria da limpeza ao mesmo tempo que Lyall ria. Ele nunca saberia dizer qual dos dois era mais teimoso, mas era isso que fazia o relacionamento mais empolgante.

— Está tudo bem aí embaixo?

Remus questionou na entrada do corredor. A casa em que moravam era alta e dividida por poucos degraus entre os quartos e os outros cômodos. Ele jamais entendeu porque Lyall e Hope escolheram algo assim, mas não reclamava – das casas onde já viveram, aquela era a única que lhe dava seu próprio quarto.

— Sim querido — Hope respondeu, cobrindo o rosto com a manga da blusa. — Foi só um acidente. Volte para seu quarto agora.

Tanto Lyall quanto Remus lançaram um sorriso debochado para Hope, ambos erguendo a sobrancelha ao mesmo tempo. Por mais que dissessem que Remus era idêntico à mãe em muitos quesitos (no estudo e no vício em chocolate, principalmente), Hope sabia que os trejeitos mais sutis vieram totalmente de Lyall. O que era bem irritante para ela, quando ficava em desvantagem.

— O que foi? Gripe de criança é contagiosa! Eu não quero ficar mais doente do que já sou.

— Mãe, eu já estou-

E um espirro alto e dolorido fez o argumento de Remus ir por água abaixo.

— Eu vou trabalhar — Lyall riu, voltando a beijar Hope assim que Remus se arrastou para o quarto. — Desce pro porão para continuar seus trabalhos e deixa a bagunça aqui. Eu ajudo depois.

— Não é porão, Lyall. É meu ateliê de medicina natural.

E ao ganhar aquele mesmo sorriso travesso, Hope empurrou o marido para a porta, evitando qualquer piadinha que ela sabia que viria.          Provavelmente acabaria limpando tudo sozinha, mas de momento não queria pensar nisso. Queria apenas lamentar pela morte de seu conjunto de porcelana favorito.

 

 

— Acho que quebrei a perna.

— Acho que quebrou minhas costelas, Peter. Rola pra lá!

Sirius empurrou Peter que choramingava ao massagear o joelho. Acreditava fielmente que algum osso havia perfurado seu rim, e se estivesse morrendo, voltaria do inferno apenas para arrastar Wormtail junto.

O pulo de Peter até que fora bom, e ele teria conseguido se segurar na grade para descer. Contudo, é claro que o universo não iria cooperar com o garoto azarado, prendendo sua camisa no galho e a rasgando, o que o fez perder o equilíbrio e escorregar, caindo direto para cima de Sirius que tentou heroicamente segurar Peter nos braços.

— Calem a boca vocês dois e andem logo — James não tirava os olhos da porta. — É melhor a gente correr pros fundos.

— Podemos deixar o Peter de isca — Sirius resmungou massageando o barriga. — Porra Worm, você não olha onde cai?

Peter até tentou abrir a boca para responder Sirius com toda a indignação do mundo, mas James já estava correndo para a direção da casa. Com certa dificuldade, Peter conseguiu se colocar de pé e mancar o mais rápido possível. Sirius foi o último da fileira para garantir que não teriam outros acidentes, e se jogou colado na parede em tempo de ouvir o barulho de alguém saindo.

Os segundos esperando Lyall deixar a casa foram os mais longos do trio (salvo talvez o dia em que precisaram invadir o escritório da professora Minerva). “Está limpo” Sirius sussurrou, e James fez um sinal positivo com a mão. Mal o portão foi fechado, os Marotos se esgueiraram pela parede azul de tintura gasta, até encontrarem a janela branca de Remus no alto.

O coração de Sirius disparou, e seu sorriso contagiou os outros dois amigos. Conseguiram. Realmente conseguiram. Apesar de toda a adrenalina, as brincadeiras e a dor, Sirius de repente parecia flutuar, como se tudo o que passara até ali não fosse nada. Como se de repente estivesse onde deveria estar.

— Ei Rose, seu Jack está aqui para te salvar do Titanic! Vou te desenhar como uma de minhas garotas russas.

O chamado, apesar de baixo, tivera o efeito esperado. Sirius não podia ver, mas do quarto, a surpresa de Remus foi substituída por um sorriso radiante, e suas mãos precisaram segurar a gargalhada conforme corria até a janela e se inclinava para ver o rosto dos dois amigos imbecis e do namorado estupidamente lindo.

— É “desenhe-me como uma de suas garotas francesas”, idiota.

E ali estava. Se Sirius estava se sentindo bem só de estar na casa de Remus, receber aquele sorriso foi o suficiente para que seu coração derretesse no peito. Por alguns segundos, os dois apenas se encararam, pouco se importando com o mundo ao redor.

Bem, até James abrir a boca, porque James Potter não aguentava ficar calado por mais de dois minutos.

— Como você está, Moony? — Ele se pendurou em Sirius para tirar uma foto de Remus, antes de devolver a câmera para Peter. — Não está tão morto quanto sua mãe fez parecer.

— Não tem como meu rosto ficar pior do que já é, Prongs — Remus riu das reclamações dos amigos sobre seu humor, e balançou a mão para cortar qualquer sermão. — Estou melhorando, mas vocês não deviam estar aqui. Gripe de criança é contagiosa.

— Tsc, você não aprendeu nada sobre nós, Moons? — Sirius abriu um sorriso charmoso, e Remus se arrepiou. — Doença nenhuma derruba os Marotos. Por isso estamos aqui, não deixamos um dos nossos pra trás.

— Especialmente se esse maroto namora um cachorro carente e chorão — James piscou, desviando de um tapa de Sirius.

Remus deitou o rosto nas mãos, observando aqueles três tentarem brigar sem fazer barulho, o que deveria estar sendo uma tarefa quase impossível. Honestamente, tentava entender como conseguiram invadir o lugar, mas as questões morreram tão rápido quanto surgiam em sua mente. Eram James e Sirius afinal; eles conseguiam tudo o que queriam quando estavam determinados. Mesmo que boa parte dessa determinação fosse para fazer merda.

— É bom ver vocês — Remus alargou o sorriso, o que fez a briga se encerrar. — Mas é melhor irem embora logo, minha mãe ainda está em casa e ela é pior que meu pai quando fica brava.

— Não vamos antes de entregar seu presente.

— Presente?

Sirius sorriu com satisfação ao ver os olhos de Remus brilharem em curiosidade. Oh, adorava atiçar aquele garoto que tinha a alma tão travessa quanto os outros. Desamarrou o pequeno pacote da calça e o ergueu para que Remus visse o embrulho.

— Um presente para passar seu isolamento de forma mais saborosa.

Ah, não podia acreditar. Conseguia sentir o cheiro açucarado de todos aqueles produtos incríveis da Dedos de Mel, e sua barriga roncou por um produto em particular.

— Tem aquele chocolate da caixinha? Aquele do embrulho dourado?

— Com pedaços de avelã, do jeito que você gosta — Sirius garantiu, estufando o peito em orgulho. — E alguns cartões extremamente gays de melhoras que escrevemos. O melhor é o meu, claro.

Peter protestou, alegando que havia se dedicado em enfeitar o próprio cartão, mas Remus voltou a rir e estendeu a mão. Já podia sentir o gosto do chocolate na boca – e o melhor de tudo é que não precisaria dividir com ninguém.

— Consegue jogar? Acho que consigo pegar.

— Jogar?! Quer correr o risco de despedaçar todo o arranjo de doces que fizemos para você?

Peter coçou a cabeça.

— E como vamos fazer para levar isso lá para cima? Não dá para escalar.

Mas nem James e nem Sirius estavam prestando atenção, porque davam aquele olhar um para o outro, e Peter sabia que viria algo interessante – e possivelmente estúpido, segundo as palavras que Remus sempre usava.

— Vai pegar sua Julieta, Romeo — James fez um floreio exagerado antes de ficar de cócoras. — Eu vou ser seu cupido hoje.

— Oh Prongs — Sirius devolveu com igual drama, passando as pernas por cima dos ombros de James — você sempre vai ser o meu cavaleiro de armadura, me salvando de uma vida de tristeza e solidão.

— Gays — Remus se apoiou na janela, para observar a merda que estavam para fazer.

Nas duas primeiras vezes que James tentou erguer Sirius, quase foram de cara ao chão. Era bem mais fácil fazer aquilo na piscina, James pensava. Contudo, usando de muita teimosia (e da sugestão bastante inteligente de Remus ao sugerir que Sirius apoiasse as mãos na parede) James conseguiu achar o equilíbrio para levantar Sirius.

— Olá, Rapunzel — Sirius abriu seu melhor sorriso de conquistador, e Remus não aguentou segurar a risada. — Seu príncipe encantado chegou.

— Oh, estou salvo — Remus conseguiu brincar antes de uma série de tosse interromper o a sequência de frases clichês do casal.

A preocupação de Sirius ficou evidente, e mesmo que Remus tentasse dizer que “estava bem”, Sirius não evitou de lhe tocar o rosto numa carícia suave, correndo os dedos pelas cicatrizes de seu rosto.

— Eu vou melhorar logo — Remus prometeu num sussurro, fechando os olhos ao deitar o rosto na mão de Sirius. — Sinto sua falta, Pads.

— Olha só quem está gay agora — Sirius riu baixo, colocando o presente para dentro do quarto de Remus. — Volta logo pra nós, Moony.

Nenhum dos dois conseguiam explicar sensação quando estavam juntos. Era algo quente, intenso, que explodia do peito e incendiava todo o corpo; ao mesmo tempo, era agradável e calmante, tão leve que acreditavam poder ficar juntos por horas sem sequer se mover, e tudo estaria bem.

Claro que James não concordava tanto com essa afirmação, batendo na bunda de Sirius para chamar atenção.

— Eu não tenho ombros de aço, cara — James ajeitou melhor as pernas de Sirius. — Acelera aí, Romeo. Quero sair daqui com as costas no lugar.

— Faça seu trabalho em silêncio, cupido — Sirius chutou o peito de James, ganhando um beliscão dolorido na coxa. — Peter! Não fique aí parado com a câmera, trouxemos ela por um motivo!

Remus juntou as sobrancelhas, a calmaria ardente de repente sendo substituída por outro sentimento comum quando o nome de Sirius estava envolvido: a preocupação.

— Por que trouxeram uma câmera? O que vocês vão fazer dessa vez?

— Sua falta de confiança em nós me magoa, Moonikins — Sirius levou a mão ao peito, com a melhor encenação de tristeza que conseguia. O que ganhou em troca, contudo, foi o olhar de descrença de Remus. — Temos todo esse trabalho para ver seu rosto lindo e você faz essa sua cara de velho para mim? Vai me deixar excitado desse jeito, Moony.

James exclamou.

— Nem se atreva a ter uma ereção contra meu pescoço, Sirius!

Peter pediu que James falasse mais baixo, mas quando o amigo começava a se exaltar daquela forma (e Sirius dava aquela risada escandalosa) era difícil de contê-lo. Acelerou os movimentos, então, para ligar a câmera.

— Pessoal! Vamos registrar esse momento épico pro álbum!

Com um suspiro de alívio, Peter conseguiu conter a barulheira que o jardim se tornaria. Remus se inclinou um pouco para fora, e Peter ergueu a câmera para pegar os quatro de uma vez.

E o primeiro click da câmera os fez rir com as poses bobas que faziam.

— É melhor vocês irem — Remus falou, acariciando o rosto emburrado de Sirius. — Eu vou melhorar logo, Pads. Seja um pouco paciente.

— Paciência nunca foi o meu forte, Moony.

— Oh, eu sei bem disso. Eu-

Mas Remus não conseguiu terminar a frase, pois a boca de Sirius ocupou a sua, e então todo aquele fervor voltou, explodindo por cada veia de seu corpo. Era para ser um beijo curto, de despedida. Não deveria passar de um selinho. Mas então Sirius a mão de Sirius estava subindo pelo cabelo de Remus e puxando os fios da nuca, e Remus gemeu baixo no meio do beijo pois ooh— Sirius sabia o que aquilo fazia com Remus.

— Vim trazer seu atestado médico — Sirius murmurou com um sorriso malicioso, subindo a outra mão para dentro da camisa de Remus. A pele de Lupin fervia contra os dedos naturalmente gelados de Sirius, e ambos arfaram.

E antes que Sirius pudesse agir com imprudência e saltar para dentro do quarto de Remus, um segundo click e a risada de James abaixo. Sirius sentiu seu corpo desequilibrar quando Prongs virou para Peter, em alguma pose ridícula para mais uma foto.

Mais tarde, agradeceria os amigos por registrar aquela memória. Mais tarde, Sirius daria altas gargalhadas ao se lembrar de tudo o que acontecera e partilharia piadas sobre tudo. Mais tarde, com certeza reviveria o momento em sua mente várias e várias vezes antes de dormir.

Mas naquele minuto, tudo o que conseguiu foi soltar um xingamento alto o suficiente para afastar todos os pássaros da região quando James se desequilibrou, os levando para o chão ao mesmo tempo que Peter gritava e Remus tentava segurar o namorado.

Ninguém soube dizer o que fez mais barulho: o tombo ou os xingamentos de Sirius e James em uníssono.

— Puta que pariu, James! Você precisava ser um otário logo agora?!

— Cala a boca, Sirius! Minha cabeça está tentando voltar ao lugar.

Os gemidos de dor dos amigos se misturavam, e Sirius sentia que o mundo apagaria a qualquer momento. Nenhum dos dois soube dizer quando se sentaram ou mesmo como conseguiram se colocar de pé, mas lá estavam os dois guerreiros, enfrentando bravamente a estupidez tão característica dos supostos gênios da travessura.

— Vocês estão bem?! — Remus perguntou entre uma crise de tosse, se inclinando para fora da janela.

— Vou me recuperar — Sirius massageou a cabeça, sentindo que precisaria se enfiar em uma banheira de gelo para que os inchaços não surgissem.

Peter tinha as mãos correndo pelos braços de James, procurando a origem do sangue que manchava a camisa vermelha. Não era muito fácil de conseguir encontrar, uma vez que mesmo que tontura, o garoto não deixava de ser hiperativo.

— Corram daqui de uma vez — Remus abriu um sorriso encorajador para Sirius, que parecia um bebê manhoso buscando por mais carinho. — Obrigado pelo presente, pessoal. Vocês são os melhores.

James, que até o momento saltava no mesmo lugar para recuperar a noção de lugar e espaço, congelou, de olhos arregalados.

— Vamos voltar — Sirius garantiu a Remus. — Guarde estas palavras, Moons.

— Oh, ele vai guardar, porque será a única coisa que Remus vai ter de você, senhor Black.

Os outros três marotos imitaram James ao congelar no lugar, enquanto o olhar feroz de Hope Lupin dizia claramente que não sairiam impunes daquele jardim.

 

 

— Você não precisava ter sido tão dura com eles.

Remus sorriu para a mãe, horas depois da partida do trio de amigos. Hope os obrigou a consertar tudo o que estivesse quebrado na casa, com uma bela faxina inclusa sob sua supervisão, depois de quase meia hora de sermão sobre os riscos e a idiotice que fizeram. Nenhum dos três ousou questionar Hope, em partes por não querer lhe dar motivo nenhum para que sua saúde frágil piorasse, em partes por ela realmente conseguir soar assustadora, mesmo que mal batesse a altura dos meninos.

Hope deu de ombros, pegando alguns cookies para Remus.

— Ao menos eu dei a eles alguns pãezinhos doces, não dei? Deveriam considerar isso como um sinal de perdão.

Remus segurou o riso, agradecendo pelos cookies.

— E também — Hope tomou distância para pegar as folhas verdes para o chá — eu fingi que não vi quando Sirius foi cuidar do jardim debaixo da sua janela e começou a tirar a camisa. Aquele menino é o cúmulo do narcisismo.

— Hum, acho que o cúmulo do narcisismo é o James. Sirius está mais para provocador.

— Espero que essas provocações não façam vocês se esquecerem das camisinhas.

Hope sorriu com satisfação quando Remus engasgou. Era papel de Lyall fazer Remus passar vergonha diariamente, mas Hope gostava de competir com o marido às vezes, ainda que tivesse dito apenas a verdade para Remus. Poderia ter insistido no assunto, mas apenas deixou que Remus se afundasse na própria vergonha e gravasse na memória as precauções com o “provocador Sirius”.

— Daqui uns dias a gripe passa — Hope voltou a falar, de forma mais doce dessa vez. — Só espero que seu namorado fique bem.

— Vamos descobrir essa semana — Remus mordeu outro cookie, deixando o resto para comer com o chá. — Se ver um desfile de carros fúnebres na rua, é ele anunciando que está doente.

Os dois riram, Remus mais que a mãe por se lembrar das vezes em que Sirius adoeceu. Era engraçado ver todo aquele drama, ainda que no final das contas Remus sempre se rendesse aos exageros para cuidar de Sirius. Era assim desde os doze anos, e não seria diferente agora. E ele sabia que, se não fosse uma gripe tão forte, sua mãe teria deixado Sirius ficar.

Bem, Remus cobraria os cuidados depois, de outras formas. E sabia que Sirius o faria. Afinal, pendurado em sua parede, colara as várias fotos que ganhara junto dos montes de doces dos amigos e do namorado, com pequenas declarações bregas e amáveis atrás de cada uma.

Sirius era incontrolável e imprevisível, mas Remus desconhecia pessoa mais fiel e amorosa.

— Remus, onde vai? — Hope se assustou com a levantada brusca de Remus. — E seu chá?

— Pode levar para meu quarto por favor? Tenho algo a fazer.

E sem esperar resposta, Remus voltou para a cama com o mesmo sorriso de quando vira o rosto de Sirius em sua janela, pegando o notebook e abrindo a chamada de vídeo. Sirius, James e Peter haviam sido estupidamente maravilhosos para invadir sua casa, o mínimo que podia fazer era agradecer por toda uma noite.

Quando o primeiro deles atendeu, Remus sentiu o coração palpitar.

— Achei que tivesse morrido no caminho — Remus riu da careta de Sirius, que dizia que o drama estava por vir. — Meu atestado médico não valeu de nada, ainda estou trancado aqui.

— Então vai ter de melhorar logo para vir pegar seu remédio — Sirius piscou, ganhando aquele sorriso de Remus que só via quando estavam para aprontar algo juntos. — Eu nem consegui dizer que te amo antes de quase morrer.

— Talvez por isso a vida tenha lhe dado uma segunda chance.

— Não vou desperdiçar dessa vez.

As telas de James e Peter carregaram, e Remus não soube dizer quanto tempo passou ali, com os amigos. Só soube que quanto mais olhava para eles, mais tinha a certeza de que ficar longe daqueles três não era mais uma opção.

 

 

Três dias depois, Sirius seria encontrado se arrastando na sala dos Potter, amaldiçoado pela gripe contagiosa de Remus, e quando Euphemia contasse isso a Hope, o prazer de estar certa seria quase tão grande quanto a preocupação com o menino. Por sorte (no ponto de vista de Sirius), Remus ainda estaria gripado, e os dois finalmente poderiam partilhar o mesmo espaço, entre cobertas macias e os chás milagrosos de Hope.

Afinal, quando Sirius prometia que iria rever seu amado namorado, nem mesmo a praga da gripe seria empecilho.


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Notas finais do capítulo

Reviews são sempre bem vindos ♥



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