A Roda da Fortuna escrita por Vatrushka


Capítulo 7
Os que vieram antes de nós




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Alguns dias depois, Arias surpreendeu-a jogando um livro em sua frente. Slora assustou-se. "O que é isto, agora?"

"Pensei muito no que você me falou. Sobre bruxaria tradicional. Fui pesquisar um pouco a respeito. Já leu este livro?" Indagou Arias, sentando-se em sua frente.

A bruxa observou a capa. "Relatos de Minha Vida", por Helga Hufflepuff. "Não." Admitiu Slora. "E o quê diz?"

"Bom, houve esta parte que muito me chamou atenção... Em que Helga conhece Rowena." Disse Arias.

 

 

FLASHBACK

 

 

Rowena Ravenclaw havia nascido em uma família nobre da Grã-Bretanha. Condessa de Ravenclaw, como era chamada, era uma jovem muito bonita, inteligente e estudiosa de todas as artes. Seu tutor Marcus Fernsby, entretanto, era um homem católico rígido. Mantinha-a praticamente presa em sua fortaleza, pois pregava que mulheres virtuosas eram as que menos se exibiam. Helga Hufflepuff havia sido chamada para ser sua dama de companhia.

"Lady Ravenclaw deve ser submetida a seus afazeres, sempre no mesmo horário. Sem interrupções ou distrações. Está encarregada a fazê-la cumpri-los com destreza." Explicara Marcus à Helga.

"Sim, meu senhor. Assim o será." Ela respondera.

Quando foi deixada a sós com Rowena, Helga abriu um largo sorriso. "Nada tema, minha cara. Minha mãe serviu a sua - antes de sua morte súbita. Como ela, você também foi abençoada com poderes."

Rowena olhou para os lados, preocupada que alguém as ouvisse. "... Você sabe...?" Disse ela, receosa. Nunca havia compartilhado este segredo com ninguém, por medo.

"Sim, claro que sei. Temos a nossa comunidade. Temos que ficar juntos em tempos como este."

O rosto de Rowena fechou-se em dúvidas. "Então... Quer dizer que você também...?"

Sorrindo, Helga fez um gesto com a mão - fazendo um traço de fogo no ar. O fogo se moldou em um formato de corvo.

As duas começaram a rir como crianças. Rowena estava maravilhada. "Fico tão feliz de ver que não estou tão sozinha, agora!"

Após a descoberta, haviam ficado apenas mais próximas. Helga passava à Rowena todos os conhecimentos que tinha - e a Condessa, sedenta por mais, devorava pergaminhos de bruxaria todas as noites. Com o tempo, Rowena foi sendo introduzida a mais bruxos - como Godric Gryffindor e Salazar Slytherin. Mas também, sobretudo, a outras mulheres bruxas. Costumavam reunir-se em cultos ofertados à deusa, pedindo por segurança e proteção.

Entretanto, a movimentação de tantas mulheres na fortaleza passou a desconfiar Marcus Fernsby. A situação apenas se agravou quando Rowena Ravenclaw se recusou à dar crédito à Igreja quando fundou sua primeira biblioteca. "E o que tem a Igreja nos feito, além de esconder livros, celebrar missas em uma língua morta, nos cobrar dízimos e perseguir inocentes?"

Marcus e muitos outros interpretaram aquilo como heresia. Sem provas contundentes, denunciou Rowena e suas companheiras às autoridades da Igreja por bruxaria.

As autoridades invadiram a fortaleza de sua família para prendê-la. Helga conseguiu salvá-la a tempo, aparatando dali. As outras bruxas, entretanto, não tiveram a mesma oportunidade de fugir e foram queimadas.

Helga as havia aparatado para as terras de Godric Gryffindor - poucos quilômetros de distância da antiga propriedade de Rowena, mas onde sabia que receberiam ajuda. Em choque, ao entender que havia sido traída por alguém tão próximo e que acabara de perder suas posses e muitas amizades, a Condessa pôs-se de joelhos e chorou copiosamente. Helga a abraçou, buscando acalmá-la.

Godric e Salazar estavam caçando ali por perto, e se aproximaram das duas ao ver a cena. Helga explicou o que lhes haviam acontecido. Salazar foi o primeiro a explodir de raiva.

"Veja." Exclamou ele. "Veja! Veja o que estes trouxas mesquinhos aprontam, mais uma vez! Matam por medo, nos destroem por simplesmente existirmos! Depois o meu discurso é o extremista!"

"Salazar..." Intermediou Godric. "Não é justificativa para virarmos os monstros que acreditam que nós somos... Muito menos recorrermos à magia das trevas."

Salazar aproximou-se de Godric, enfurecido. "Eles. Nos tiram. Tudo! A primeira foi Rowena, os próximos seremos nós!"

"Calem a boca!" Exclamou Helga, surpreendendo-os. "Não veem que ela está traumatizada? Discutam isto depois!"

Por fim, os dois se calaram. Após alguns minutos, ouviram cavalos se aproximando. Salazar olhou na direção dos que vinham. Reconheceu-os pelas vestes. Retorceu-se de fúria.

"Godric." Salazar virou-se para Godric. "Você teve a pachorra de convidar o bispo, líder da inquisição, para caçar conosco?"

Godric rangiu os dentes para o amigo. "Mais do que nunca, precisaremos manter a aparência para sobrevivermos, Salazar."

Salazar não lhe deu ouvidos. Estava farto daquela situação.

Estava farto de se esconder.

A passos largos, foi em direção ao bispo e seus seguidores. Determinado a fazer o que pensava, o que acreditava, ignorou os gritos de seu amigo tentando detê-lo.

Enquanto se aproximava de Sua Santidade, Godric tentava alcançá-lo. "Salazar! Não!"

Em um golpe de adrenalina e ódio, Salazar sacou sua varinha. "AVADA KEDAVRA!"

—--

 

 

 

Slora sentiu um arrepio. Olhou para o lado, pensativa. "Este ciclo maldito de ódio. Só se reproduz de formas diferentes, contra grupos diferentes. Mas a essência é a mesma." Sussurrou para si mesma.

"Sim." Suspirou Arias. "Mas o que me surpreendeu deste livro... É que foi Helga que introduziu Rowena aos cultos à deusa. E que eram esses cultos a forma de união identitária de bruxos na época - antes que Hogwarts existisse."

Slora assentiu com a cabeça. Arias continuou: "E me surpreende que a origem de nossa cultura seja tão... Desprezada. Inferiorizada. Não entendo completamente o porquê."

A bruxa sorriu amargamente. "Não vê? Pelo mesmo motivo que Rowena e Helga foram as denunciadas e perseguidas, mas Godric e Salazar não." Esta deu de ombros. "Porquê eram mulheres. Estes cultos eram organizados por mulheres. E mulheres com poder são perigosas demais."

A professora estralou seu pescoço. "E qualquer coisa que seja relacionado a nós é inferiorizado. Até mesmo a bruxaria tradicional. Até mesmo a ideia de uma deusa."

Arias ergueu a sobrancelha, processando. "Não havia pensado desta forma. Faz sentido."

A mulher suspirou. Seu amigo prosseguiu: "Você participa de algum culto, hoje em dia? Com outras pessoas, que quero dizer."

"Sim. É claro. Manter a tradição viva é nossa responsabilidade, não é mesmo?" Slora respondeu.

O professor sorriu, sem jeito. "Teria como... Se possível... Eu me juntar a você mais vezes?"

Slora abriu um largo sorriso. "É claro. Fico feliz que tenha se interessado tanto assim."

"É que nem você falou." Concordou ele. "É a essência da nossa cultura. Já tentaram matá-la antes. Não podemos deixá-la morrer agora."


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