A Roda da Fortuna escrita por Vatrushka


Capítulo 10
Tiragem




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791516/chapter/10

Foram para uma sala de madeira no interior da estalagem. Era relativamente pequena, tinha uma mesa redonda e duas cadeiras de lados opostos.

Balthazar sentou-se em uma das cadeiras, observando Slora andar pelo cômodo com uma sálvia queimando em mãos. A fumaça com um cheiro agradável preenchia o ambiente.

"Pronto?" Perguntou o Malfoy.

"Shh. Tente meditar um pouco. Seus pensamentos estão muito agitados, sinto a confusão da sua energia daqui." Respondeu-lhe a bruxa, pondo 4 pedras diferentes na extremidade da mesa.

O bruxo assim obedeceu, fechando os olhos. Slora sentou-se à sua frente, e após pôr o baralho no centro da mesa, fez o mesmo. Assim ficaram por alguns minutos.

"Pois bem, Balthazar Malfoy, sobre o quê se trata a consulta de hoje?" Perguntou ela, pondo um fim ao seu transe. Balthazar abriu os olhos. Ela continuou, vendo a dúvida estampada no rosto do rapaz: "Saúde, carreira, amor?"

"Amor." Respondeu ele.

'Seu filho da puta.' O pensamento foi espontâneo e genuíno.

Tentando não concentrar nos sentimentos controversos que lhe brotavam - e com um leve medo do quê as cartas mostrariam - Slora passou a embaralhar as cartas de olhos fechados. Conseguia sentir o olhar de Balthazar em sua direção.

Pôs cinco cartas em formato de cruz em cima da mesa. Posicionou-as para baixo. Gostava de revelá-las uma por uma.       

'Deusa, peço que me abençoe e não faça me faça arrepender por isto.' Rezou.

"Bom, Balthazar," Começou ela, posicionando a pilha de cartas ao seu lado. "este arranjo funciona da seguinte forma: a carta de baixo representa seu passado, a do meio, o seu presente, a de cima, o seu futuro. A da esquerda representa você, e a da direita, seu potencial interesse romântico."

"Perfeito." Comentou ele, sorrindo.

'Como eu adoraria lhe dar um soco nesta sua cara de pau agora,' Pensou Slora. 'mas isto arruinaria todo o ambiente que custei para purificar.'

A vidente começou virando a carta de baixo. O diabo.

O bruxo soltou uma risadinha. "Começamos muito bem."

Slora posicionou as mãos sobre a mesa. "A carta conta sobre um intenso desejo seu por outra pessoa. Muitas vezes, não abordado ou demonstrado da forma mais saudável possível no passado. Talvez, de uma forma demasiadamente excessiva."

Balthazar assentiu, com uma expressão séria. "Sim. Sim." Os dois sabiam ao quê estavam se referindo.

'Que bom que ele admite.' Concluiu ela.

"Vou puxar outra carta para complementar." Avisou Slora. Ela assim o fazia quando sentia a necessidade.

Saiu a Imperatriz invertida. "Isto está me dizendo... Não posso negar, estou sentindo uma energia materna muito forte. É sobre a sua mãe. O fato de essa carta estar próxima do diabo, e ainda por cima invertida... Sim. A carência de afeto de sua mãe o fez projetar seus sentimentos em excesso nos outros. Esta é a origem do seu comportamento da época."

Balthazar apoiou seus cotovelos sobre a mesa, projetado para frente pelo interesse. Slora tirou mais uma carta para auxiliá-la. Tirou um 5 de Copas. "Você se decepcionou com esta pessoa no passado. Com seu interesse romântico, digo. Não foi correspondido da forma que desejava."

'Eu até poderia continuar tirando mais cartas para analisar o passado, mas honestamente não sei até que ponto eu terei condições de fazer isto sem me afetar...' Assim, foi de uma vez para a carta da esquerda.

3 de paus invertido. "Bom... Em relação a este exagero na sua forma de demonstrar sentimentos... Vejo que isso foi trabalhado, porquê diminui-se. Moderou-se."

"Ainda bem, né." Ele soltou, com uma risada nervosa. Slora se segurou para não concordar junto.

Normalmente, seria a hora de revelar a carta da direita. Entretanto, queria poder evitá-la ao máximo - o que levou-a a virar a carta do meio primeiro.

A Roda da Fortuna.

'Infeeeeernooooo...!!!' Gritava em sua mente.

"Só peço que não me mate de suspense com suas caras e bocas." Alertou Balthazar, segurando muito para não soltar o riso.

Respirou fundo, recuperando o profissionalismo que ainda tinha. Tentou distanciar-se da situação, como se ela se tratasse de terceiros. Ergueu o queixo, fingindo indiferença:

"A Roda da Fortuna representa muitas coisas, dentre elas, destino. Neste caso vejo uma mudança repentina na sua situação com esta pessoa. Uma viragem rápida."

'Ufa. Pronto. Não foi tão difícil falar, foi?' Sentia seu coração acelerado. Talvez mais por adrenalina do que qualquer outra coisa.

"Será que pode tirar mais uma carta, para ficar mais claro? Estou curioso." Ele pediu, com olhos provocadores. Como queria tacar a mesa na cabeça dele!

Contrariada, Slora o fez. Para a sua infelicidade, saiu o 10 de copas. Rangendo entre os dentes, ela admitiu: "Você vai reencontrar esse amor do passado e dessa vez, triunfará."

Em gestos bruscos, revelou as outras cartas. 'Misericórdia, que humilhação.' Na carta da direita, saiu a Rainha de Copas. O significado da carta era bem claro. Sua amada retribui os seus sentimentos.

Enfurecida, levantou-se bruscamente de seu lugar. Sobressaltado, Balthazar a encarava de forma estarrecida - não compreendia o súbito comportamento. Esta marchou para fora da sala, abrindo a porta com força. Em um pulo Balthazar se levantou e a seguiu.

Slora saiu pelos fundos, marchando furiosamente. Balthazar correu atrás dela. "Slora, mas o quê houve?"

"Você sabe o que houve." Ela rugiu, ainda de costas. "Aposto que deve ter se divertido bastante ás minhas custas. Mas muito obrigada, não quero mais participar dessa palhaçada."

"Mas... Do quê...?" O Malfoy ainda a perseguia, confuso. Aos poucos as engrenagens foram se encaixando em sua mente. "Deu que você gosta de mim, não é?"

Slora, então, parou. Apertou os punhos e olhou para o chão. Odiava estar tão vulnerável, tão exposta daquela forma. Odiava não ter o controle sobre a situação. E sobretudo, odiava sua terrível dificuldade em admitir e demonstrar o que sentia.

'Uma casca dura que tive que construir como forma de defesa. Porquê o universo é tão perverso, me impondo situações na qual me traz feridas, e logo depois me impõe outras situações na qual me obriga a cicatrizá-las?'

Seus ombros pareciam rochas de tão tensos. 'Deusa, como odeio isso.' Porque ele? Porque de todos os bilhões homens no mundo, porque justo ele? Ele que lhe lembrava de sua experiência escolar, e por consequência, de seus piores traumas?

'Eu queria enterrar esse passado.' Sentia as lágrimas descerem no seu rosto. De novo. 'Mas o passado continua me perseguindo.'

tão ruim assim pra você gostar de mim também?" Perguntou Balthazar, por fim. Seu tom de voz lhe cortou o coração.

Ela se virou. Viu nele o mesmo menino alegre, brincalhão, descontraído e carinhoso de sua adolescência. Uma parte tão boa do seu passado que permitiu que fosse ofuscada pela pior parte. Respirou fundo pra tentar falar. "O problema não é você, Zay." Foi o que conseguiu dizer. Seu peito estava pesado como uma âncora. "A questão não é essa."

E afundou seu rosto nas mãos, odiando-se. Odiando-se por direcionar nele, justo nele, que lhe havia sido companheiro o tempo todo, as dores e remorsos que tinha por outras situações. Por outras pessoas.

"Me desculpe." Sussurrou ela. "Me desculpe."

Sentiu os braços de Balthazar ao seu redor. Encostou a testa em seu peito, chorando copiosamente.

"Me desculpe. Me desculpe."

Balthazar fazia carinho em sua cabeça. "Está tudo bem." Também chorava. "Está tudo bem."

Quando os dois se acalmaram e conversaram sobre suas questões, voltaram juntos para a sala que haviam deixado.

"Você esqueceu a carta do futuro." Comentou o loiro. Sorrindo, Slora a virou. A carta do Sol.

"O que significa?" Perguntou ele.

Slora sorriu. "Alegria." Disse, acariciando seu rosto. "É o que eu sinto agora."

Lentamente, suas testas se encontraram. Balthazar puxou seu corpo para mais perto, eliminando a distância entre seus lábios.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Roda da Fortuna" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.