I Swear I'll Behave escrita por Coraline GD


Capítulo 13
A.M.




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Abri os olhos e encarei Harry por um segundo, antes de pular da cama e me afastar dele. Jesus! Parecia que o resto do mundo sabia quando eu estava vulnerável! Alguém lá em cima realmente me amava ou odiava muito.

— Espera aqui, um minuto. – apontei para ele e desci as escadas correndo.

Observei pelo olho mágico e vi a cara redonda e avermelhada de Thomas, nosso vizinho. Ele era um verdadeiro patrimônio histórico naquele bairro, conhecia todo mundo e todo mundo conhecia ele, mesmo não sendo tão velho, tinha por volta de uns sessenta e poucos anos. Era aposentado do exército e passava o dia organizando a vida dos filhos mais velhos que moravam com ele, e cuidando da vida dos vizinhos.

— Senhor Thom. Tá precisando de alguma coisa? – perguntei, abrindo a porta apenas o suficiente para ele ver meu rosto.

— Não filha. Eu só... O que aconteceu com você? – disse ele, fazendo uma careta.

— Como?

— Caiu da escada ou algo parecido? Parece assustada e meio... Desgrenhada. – ah, valeu mesmo, minha autoestima agradece senhor Thom!

— Não, eu estava me arrumando. Preciso sair. Mas o senhor ia dizendo... – passei as mãos pelos cabelos e cruzei os braços, encarando ele.

— Certo. Você tem ideia de onde veio esse carrão que está aqui perto? Já perguntei para a Janet e Sue, mas não fazem ideia. – ele fez uma pausa, talvez percebendo minha falta de interesse. – Seu pai não está em casa, está?

— Não, seu Thomas. Ele volta mais tarde. Está na loja. Não faço ideia de quem seja o dono do carro, me desculpa mas preciso ir. Tenho que ajudar meu pai na loja. – dei um sorriso amarelo e comecei a fechar a porta devagar.

— Tá certo, tá certo. – ele deu as costas e eu fechei a porta, respirando aliviada e ainda ouvindo seus resmungos sobre eu ser tão malcriada.

— Que susto! – falei, levando as mãos ao peito quando Harry apareceu atrás de mim.

— Desculpe. Quem era?

— O vizinho, veio fofocar. – meu Deus, 13h12m. – Droga, agora vamos ter que esperar um pouco antes de sair.

— O que fazemos enquanto isso?

— Pensando bem, é melhor sair logo. – falei, rindo da cara que ele fez.

— Você é tão má comigo.

— Você é que não sabe se comportar direito.

— Eu preciso?

Acho que não. Mas nunca ia dizer isso a ele.

— Então Harry, preciso voltar ao trabalho. Já vai ser uma merda chegar atrasada, mas não tenho opção. O que pretende fazer agora? Não vai ficar embaixo da minha cama até eu voltar, vai? – até que não seria má ideia.

— Não é uma má ideia. – ele leu meus pensamentos.

— Não seja bobo. – falei, sorrindo e tocando seu rosto. – Você vai ter que ir embora? Digo, para sua casa?

— Até tenho... – ele me puxou pela cintura e cochichou em meu ouvido. – Mas estou tecnicamente de férias.

— Ah... – férias? No Colorado? Que chato, para ele. – Como assim férias?

— Lembra que você queria saber o que eu ia fazer de férias? Então.

— Acho que ainda não...

— Acho que eu vou ficar por aqui. O que acha? – meu filho! O que EU acho? O natal só pode ter chegado mais cedo!

Pulei sobre ele e o abracei apertado, sem responder de fato sua pergunta. Ele me abraçou de volta e nos girou por alguns segundos. Eu estava no céu em um segundo e no inferno no outro, assim que pensei exatamente no que significava o “aqui”.

— Hazz, quando você diz “aqui”... O “aqui” quer dizer nessa casa? Certo? – por favor, diz que não. Por favor, por favor...

— Hum... Acho que sim, tem problemas para você? Se tiver eu posso...

— Não! De jeito nenhum! – mais ou menos. – Quer dizer, não acho que meu pai ficaria feliz em deixar um garoto morando aqui com a gente, alguém que ele não conhece...

Eu acabei de ter uma ótima ideia. Genial, mesmo.

— Gen, não tem problema. Eu posso arrumar outro lugar.

— Não vai ser preciso Harry. Eu tenho uma ideia. Só preciso que você se encontre comigo na loja mais tarde, por volta das cinco e eu te explico melhor. Tudo bem?

— Claro. Vou aproveitar para cuidar de algumas coisas enquanto isso. Vou sentir sua falta até lá. – oh, ele era um fofo. Além de muito, muito gostoso.

— Eu também, muita.

Nos beijamos mais uma vez contra a porta de entrada e depois eu saí primeiro, vendo se o caminho estava livre lá fora. Ele me deu carona até perto da loja e nos despedimos com muita dificuldade.

— Até mais Gen.

— Até. – eu abri a porta do carro e depois olhei para ele uma vez mais. – E Harry... Obrigada por ter vindo.

— Foi um prazer. – olhar para aquele sorriso, sim era um prazer.

Corri o mais depressa possível para a loja e encontrei meu pai fazendo o trabalho que tinha passado para mim mais cedo e com uma cara muito feia.

— Quando eu disse uma hora de almoço Hannah, não quis dizer até as 13h59m.

— Foi mal pai, eu meio que perdi a hora fazendo almoço e cochilei uns minutos. – puxa vida, esse castigo estava indo de mal a pior.

— “Foi mal” Hannah?

— É paizinho... Eu fiz macarrão com queijo! – falei, abrindo o maior sorriso que pude para ele. – Se colocar no micro-ondas um minuto quando chegar aposto que fica perfeito!

— Você é igualzinha a sua mãe... – resmungou ele, largando uma estátua de bronze que segurava sobre o balcão. – Acha que pode me comprar com um sorriso.

— Paaai. Eu tô aqui, não tô? Vou trabalhar e você pode ir fazer suas coisas. Não disse que tinha que ir ao mercado, ao banco e uma porrada de coisas?

— Tá bom, tá bom. Estou indo. Toma cuidado aí e às sete eu volto para te buscar. – acho que dessa vez eu tinha conseguido me sair bem. Aleluia.

— Sim, senhor. Pode ir tranquilo. Não saio daqui.

Sozinha na loja pelas próximas horas e sem muita coisa para fazer, já que meu pai adiantou boa parte do serviço, fiz o que restou e lembrei finalmente que ainda tinha um celular. Pesquei ele de dentro da bolsa que Harry trouxe para mim, ainda não acreditando que ele veio até aqui, e fui checar as inúmeras notificações pendentes. Gente que eu sigo no Twitter... Ah meu Deus! Eles me seguiram de volta! Olhei para os lados e dei alguns pulinhos, aproveitando que não tinha ninguém vendo. Quer dizer, eles: Niall, Louis, Liam, não Harry.

Suspiro. Continuando... Postagens no Facebook, a maioria de Rachel a propósito, mensagens do grupo do colégio, coisas aleatórias sobre as férias; mensagem do grupo do curso de francês, parece que o professor passou um trabalho de férias... Meu Deus, que mundo é esse que as pessoas passam trabalho nas férias?

E por último, porém não menos importante, as mensagens de Rachel... E de Niall? Caramba! É verdade! Lembrei agora que estava falando com ele no dia do show e minha bateria acabou. Parece que faz um século, mas não tem nem três dias direito. Havia duas mensagens dele, aparentemente desistiu com minha falta de resposta.

Ni@u: Posso saber o que vai fazer amanhã? Depois do show?

Ni@u: Quer dizer, se não estiver ocupada com algo ou alguém ;)

Como assim com alguém Niall? Será que... Ele desconfiava de mim e do Harry? Mas... Não... Coitado, deve ter ficado confuso. Uma hora eu ignoro as mensagens dele e na outra bato na sua porta com os tênis na mão. Muito eu. Resolvi responder e tentar amenizar nossa situação. Ou melhor, a situação que eu tinha criado.

Gen: Hi Nini! Desculpa por não responder, meu cel tava morto até agora. rs. Se eu tivesse visto sua msg antes diria q ia trabalhar! Sério! Mas, enfim, como vc tá? Bjo

Feito. Era o melhor que eu podia fazer no momento. Agora, mensagens da Rachel. Observação: as 72 mensagens da Rachel. Algumas perguntando se eu tinha morrido, sido abduzida, fugido de casa, dizendo que eu era a pior amiga do mundo e no fim dizendo que ia acabar comigo e raspar meu cabelo se eu deixasse o Harry escapar. Ah, no início ela também pediu desculpas por não me responder tão rápido, pois estava em um projeto voluntário por dois dias. E no fim disse que aquela voz sensual, sabendo de quem vinha, merecia tudo que eu tinha na vida. Inclusive a amiga. Filha da puta.

Gen: Cooki (um apelido carinhoso que eu dei para ela ter certeza quando não estávamos brigadas), eu vou matar vc! Mas antes de tudo, obrigada pela ajuda! Ele é tãoooo maravilhoso! Espero q esteja se divertindo, mas q volte logo pfv! Bjo

Dava meia-noite, mas não dava sete horas. O tempo estava se arrastando enquanto eu olhava trinta e sete vezes seguidas para o relógio. O bom e o ruim de ficar na loja do meu pai era uma coisa só: tudo ia muito devagar por lá. Para ele, que gostava de paz e tranquilidade em tudo, era ótimo, mas eu ficava numa ansiedade só. Ainda mais hoje. Enviei outra mensagem para Rachel contando do meu plano e ela só me respondeu com um “você tá cada dia mais louca” e um “eu te amo por isso”, mas apoiou cem por cento.

Harry chegou pouco depois das 17h30m e eu mal dei tempo dele entrar. Fui logo agarrando ele e não o deixando respirar, queria aproveitar cada segundo.

— Isso tudo é saudade? – perguntou ele, correspondendo aos meus beijos.

— Sim! E não podemos perder tempo! – fiquei na ponta do pé e baguncei os cabelos dele, tirando sua touca.

— Assim não quero ir embora nunca mais.

— Então não vai... – por favorzinho?

Estava tudo muito bem, mas não podíamos ficar nos beijando ali para sempre. Meu pai chegaria a qualquer hora e eu precisava dizer a Harry a verdade e explicar meu plano mirabolante. Com muito custo me separei dele, coloquei sua touca de volta e fui me sentar atrás do balcão, para voltar a respirar e pensar normalmente.

— Então Hazz, preciso te falar algo sobre você ficar lá em casa...

— Você mudou de ideia? – ele se aproximou, apoiando as duas mãos no balcão na minha frente.

— Não! Claro que não. Só que, não é tão simples, por causa do meu pai. Ele...

— Ele não deixa você levar garotos para casa. Certo?

— É, bom...

— E faz muito bem. – ele sorriu, zombando de mim.

— Não para você. – falei, dando língua para ele.

— Você está dando língua para mim Hannah? – ele segurou a ponta do meu queixo e se aproximou.

— Imagina. – revirei os olhos sorrindo e coloquei a mão dele de volta no balcão, eu precisava terminar de falar minha ideia! – Mas como eu ia dizendo, ele... Pai!

Meu Jesus Cristo amado! Que horas eram afinal de contas? O que ele já estava fazendo aqui? Eu tô muito, muito, muito fodida.

— Pai... O q-que tá fazendo... Quer dizer... É o que tá fazendo aqui já? Não ia me buscar às sete horas? – minha voz estava mais do que esganiçada, eu teria que agir rápido e esconder a culpa em qualquer lugar para aquilo dar certo.

— Hannah, são quase seis e meia e pensei em te liberar um pouco mais cedo. Não temos muito movimento às segundas. – nem segunda, nem nunca não é pai? – Boa tarde.

— Boa tarde, senhor. – ai Deus, por que ele tinha que falar com Harry? Eu bem que podia ter uma capa da invisibilidade igual a do Harry Potter agora. Que a santa J.K.Rowling me ajude então!

— Pai! Esse aqui é... – respira Hannah, respira! – É o Harry. Ele...

— Prazer Harry. – meu pai apertou a mão dele e os dois trocaram um olhar esquisito, desconfortável eu acho. Meu pai não costumava se dar bem com as pessoas logo de cara. Fato.

— Prazer, senhor Laurent.

— Pai, o H-Harry é... – socorro. – Primo da Rachel. Quer dizer, um primo distante, que acabou vindo para cá na hora errada. Coitado.

Queria poder abraçar Harry para dar veracidade à minha cara de tristeza, mas Deus sabe que eu encostando nele não dá muito certo.

— Como assim? – perguntou meu pai, sem entender. Logo, ele e Harry me lançaram um olhar espantado.

— É que o Harry veio da Inglaterra para visitar a Rachel e os pais nas férias dele, de surpresa, porque ele achou que não conseguiria. Agora, não tem ninguém em casa. – será que dava para eu ganhar um Oscar agora? Por favor?

— Por que? Onde estão os pais dela? – eu sabia que ele diria isso.

— Eles viajaram também. Aproveitaram para ir em um evento fora da cidade e não sei quando voltam, nem a Rachel sabia que iam ficar fora...

— Certo... – agora era hora em que ele estava pensando aonde eu queria chegar com isso tudo. E a hora em que ele decidiria a minha felicidade.

— Então... O Harry veio do outro lado do oceano e agora não tem onde ficar. – olhei para ele séria, tentando fingir preocupação e dó. – Será que ele não pode ficar lá em casa, uns dias, só até os pais dela voltarem?

— O quê? – meu pai quase gritou, enquanto Harry estava se segurando para não rir. Ele não estava me ajudando!

— É pai. Ele não tem dinheiro, o suficiente para se manter e a Rachel mandou ele vir falar comigo e...

— Desculpa rapaz, mas...

— Pai! – fui até ele e o puxei pelo braço, nos afastando de Harry. – Pai, qual o problema? Olha para ele: o garoto está em um país que não conhece, não conhece as pessoas e não veio preparado para ficar sozinho. Poxa vida. Vamos fazer uma boa ação, é por pouco tempo.

— Hannah...

— Pai, ele é primo da minha melhor amiga. Da vida toda.

— Mas Hannie... – quase lá...

— Pai, se a preocupação é eu ficar sozinha com um estranho, não esquece que me botou de castigo o dia todo aqui nessa loja.

Ele deu um enorme suspiro e coçou a cabeça, olhando de soslaio para Harry, ainda parado perto do balcão.

— Tudo bem. – resmungou ele.

— O que disse?

— Tudo bem! O garoto fica!

— Obrigada! – queria pular, abraçar e beijar meu pai, mas seria entusiasmo demais por alguém que eu mal conhecia. Certo? Certo. Portanto, apenas o abracei e fui dar a feliz notícia ao “primo” Harry, o qual eu poderia ver pelos próximos dias ao anoitecer e amanhecer.


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