Mais alguns dias e eu teria uma folga dessa rotina idiota. Não precisava nem abrir os olhos para saber o que estava à minha espera.

— Anda Hannie! Você vai perder a carona! – gritou meu pai, na porta do quarto.

Se é possível alguém revirar os olhos com eles fechados, foi o que eu fiz. Rolei para o outro lado da cama e peguei o celular para ver as horas. 7h.13m. a.m.

— Morning baby. – sussurrei para o meu papel de parede do Harry Styles, antes de conferir minhas mensagens e redes sociais.

Dezessete anos. Essa era uma idade limite para muita coisa e muitas pessoas. No meu caso, limite para terminar o colégio, prestar vestibular, entrar na autoescola, ajudar meu pai na loja nas férias de verão e o que mais for indispensável para o meu futuro, como diz meu velho.

Estávamos no final de junho, em breve teria férias de julho no colégio e o tão esperado show do One Direction, antes da pausa que eles anunciaram para minha tristeza. Passei o início do ano inteiro preocupada que fosse o último show, ou pior, que eles desistissem de vir ao Colorado e eu nunca conseguisse vê-los. Posso não ter idade para isso, como diz minha melhor amiga Rachel, mas a verdade é que eu faço parte daquela legião de Directioners com o maior orgulho. E tenho certeza que ela vai gritar tanto quanto eu quando dia chegar.

Me arrastei para fora da cama com muito pesar e fui tomar banho, provavelmente já tinha perdido a carona de papai. Quando ele me chamava na segunda vez é porque já estava de saída. Dei uma espiada do alto da escada, só para confirmar minha teoria e voltei para o quarto. Vesti qualquer coisa e mandei uma mensagem para Rachel antes de descer.

“Dia bitch. 23 dias e contando”.

Não era novidade que eu estava muito ansiosa para aquele show. Tanto, que me esquecia que hoje tinha teste de biologia. Merda.

Peguei minha mochila e desci as escadas correndo. Papai tinha deixado um sanduíche pronto na mesa, procurei um suco de caixinha e me apressei porta afora. Tudo que eu menos precisava era ficar de recuperação nas férias do meio do ano. Seria uma morte terrível.

— Gen, você tem que parar com isso. – disse Rachel, assim que cheguei na porta do colégio. Explicando: meu nome era Hannah, mas o nome do meio era Genevieve, Hannah Genevieve Laurent. Pais franceses, sabe como é. E Rachel simplesmente adorava esse nome, ao contrário de papai, que me chama de Hannie desde que nasci.

— Garota! Não, tem, como! – respondi, segurando ela pelos ombros.

— Você precisa crescer, esquecer esse Styles, que você só vai ver há umas cinco mil cabeças de distância e olhar para quem está aqui. Pertinho de você. – falou ela, apontando para dois garotos gatos da nossa turma que passaram na hora.

— Você é uma chata Rach! – falei, batendo o pé e subindo as escadas para entrar no colégio.

— Vamos fazer um acordo: quando sair o resultado da promoção, você me promete que não fala mais nisso até o dia do show. Pode ser?

Apenas revirei os olhos e suspirei alto com a descrença dela. Ela era a única para quem eu tinha contado que me inscrevi para um meet and greet com os meninos. Não custava tentar não é? Eu contava tudo para Rachel, mas isso não quer dizer que ela apoiava meus vícios.

— Tá... – falei, me jogando na cadeira mais próxima assim que entrei na sala de aula.

— Ótimo. O resultado sai sexta não é?

— Sim. E você vai ver só quando eu ganhar!

— Não custa sonhar amiga. – riu ela. – Já contou para o seu pai, do show?

— Hum... Quase.

— Gen! Você sabe que ele tem planos para as suas férias!

— Okay, okay. Hoje mesmo eu falo.

Nossa primeira aula era literatura, como sempre passei uma meia hora fazendo tranças no cabelo liso e loiro de Rachel, que nunca duravam muito, pois ela tinha o cabelo bastante escorrido. E quase passei mal no último tempo com o teste de biologia, mas não me saí tão mal, eu acho. Depois da aula fui para o curso de francês e voltei para casa por volta das cinco. Papai só chegava às sete, o que me dava duas horas para fazer o que eu quiser, como por exemplo, ouvir Perfect no último volume enquanto preparava o jantar.

Quando papai chegou ainda estava compartilhando e clicando mil vezes no link da promoção no computador. Ele me chamou para jantar e deixei uma mensagem para Rachel antes de descer.

“Continua clicando aí pra mim. Hora de jantar”.

Uma das regras de ouro de papai era: sem tecnologia na mesa. Celular, tablet, relógio digital, o que fosse, ele não suportava. O que nos obrigava a: conversar ou compartilhar um silêncio constrangedor. Para minha sorte, éramos entrosados o suficiente para não ficar em silêncio, ainda que eu fosse a tagarela nesse caso.

— O cheiro está ótimo Hannie. Alguma ocasião especial, que eu tenha esquecido? – perguntou ele, observando que eu tinha feito costela ao molho barbecue e batatas coradas, seu prato especial.

— De forma alguma. Só queria comer algo diferente e que você adora pai. – falei, sorrindo e enchendo o prato. Eu também adorava aquilo.

— Então vamos mandar ver!

E eu simplesmente caí na gargalhada. Adorava quando meu pai usava essas expressões e gírias, ele ficava totalmente engraçado, parece que fazia de propósito.

— Pai... – disse, alguns minutos mais tarde, quando ele ia para o segundo prato. – Eu queria falar uma coisa com você, sobre minhas férias.

— Ah sim querida, eu também. Quase me esqueci! – Oh, oh. Ele parecia animado demais. – Se lembra do Eddie Rockford?

— Acho que sim... – respondi, desconfiada e baixando o garfo.

— Então, Eddie está numa nova empreitada, trabalhando com barcos de luxo. E adivinha só? Arrumei uma vaga para você!

— Para eu... Passear de barco? – perguntei, sem entender.

— Não querida, para trabalhar no barco! Não é ótimo? Você vai ganhar experiência e juntar um dinheirinho nas férias? Além de passear.

Não saberia medir na hora, mas poderia jurar que a alegria do meu pai era exatamente proporcional ao tamanho do meu desespero. Tudo que consegui foi assentir e colocar um sorriso amarelo na cara. Eu precisava de um plano, dos bons, e Rachel teria que me escutar mais um pouco.

Passei mais dois dias tentando bolar alguma coisa para me livrar do trabalho de verão ou conseguir manter o trabalho e falar com meu pai sobre o show, sem sucesso. E por fim a sexta-feira – dia do resultado da promoção – chegou. O resultado sairia às cinco, logo, Rachel passou toda a tarde na minha casa depois da escola, ouvindo a rádio e fofocando sobre as coisas do colégio e seu tão esperado intercâmbio de férias. Sim, ela me deixaria sozinha nesse verão, eu de fato precisava arrumar algo de bom para fazer.

Às cinco em ponto estávamos com o rádio ligado e praticamente sem respirar. Rachel podia negar, mas ela era minha amiga e estava torcendo por mim. Ela apertava minha mão tão forte quanto eu a dela.

“E a vencedora é Hannah Laurent, do Manning, Colorado”.

Assim que o cara da rádio anunciou meu nome, mal pude acreditar! Comecei a pular agarrada em Rachel como louca.

— Ai cacete, eu ganhei! Eu ganhei!

— Você ganhou! Você ganhou Gen!

— Eu vou conhecer o Harry! O Louis! O Harry! O Niall! Louis! O Harry! Não acredito!

— Eu também não acredito sua louca!

Nós pulamos até cansar e eu bem sabia que aquele sorriso idiota não ia sair da minha cara tão cedo. Era só um meet and greet, mas... Porra nenhuma! Era O meet and greet! Eu estava mais feliz que pinto no lixo. Agora sim nunca mais ia falar em outra coisa. O único problema, ia ser contar para o meu pai.

— Rachel... Você tinha que estar aqui para ir comigo no show... – choraminguei, abraçando ela.

— Eu pensei que estaria, mas você sabe... Não dá pra eu perder uma oportunidade dessas.

— Eu sei... Mas...

— Nada de mas Gen. Você vai realizar esse seu sonho bobo e fique feliz também! Ai! – tive que dar um tapa nela, por chamar meu sonho de bobo.

— Tenho certeza que se você visse aquela boca sensual do Harry na sua frente, não ia dizer que é bobo.

— Aí é diferente... A propósito, quais os planos para o encontro com o Sr. Harry Gostoso Styles?

— Ai Rachel... Mal sei por onde começar...