Little Things escrita por Siaht


Capítulo 6
VI. it's your messed up family tree


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridas!!! ;D
Tudo bem com vocês?
Bom, esse capítulo está um pouco diferente, mas espero que vocês gostem! ♥



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VI

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{it's your messed up family tree}

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— Al, você está acordado? — o garoto sussurrou no meio da madrugada.

Eram duas da manhã e Scorpius Malfoy não conseguia dormir. Sua cabeça estava cheia demais. O fim do ano letivo, a briga com Rose, o fato de que estaria em casa no dia seguinte.

— Não. — Albus respondeu da cama ao lado. — Você está conversando com o espírito obsessor que tem habitado esse dormitório pelos últimos cem anos.

Scorpius revirou os olhos, mas não conseguiu evitar o sorriso. Albus sendo Albus.

— Idiota.

O Potter também riu.

— O que está errado, jovem gafanhoto?

— Como você sabe que algo está errado?

— São duas da manhã e você está acordado.

— Você também está acordado, Al.

— Bom, eu não estou sussurrando seu nome no escuro, não é mesmo, Scorp?

Os dois riram.

— Okay. Você tem um ponto.

— Normalmente eu tenho. Então, qual o problema?

Scorpius procurou as palavras, mas não conseguiu encontrá-las. Queria falar sobre suas inquietações – realmente queria –, mas era muito difícil verbalizá-las. Como traduzir aquele fluxo de sentimentos que se misturara nele durante todos aqueles meses? Albus apenas esperou. Aquela era uma das características que o Malfoy mais apreciava no Potter. Ele esperava, deixava que você agisse em seu tempo, que compartilhasse apenas o que quisesse compartilhar, não forçava nada.

— Sabe por que eu estou acordado? — Al começou após alguns minutos de completa calmaria — Quero que amanhã chegue logo. Quero tanto que mal consigo lidar com a empolgação. Serei obrigado a te matar, se você contar isso a alguém, Malfoy, mas... estou com saudades de casa. Da Lily. Do Teddy. Dos meus pais. Até mesmo de dividir um banheiro com o James e de todas as brigas imbecis que isso provoca. Eu gosto muito de dividir esse quarto com você também, não me entenda mal, Scorp. Mas estou com saudades de casa.

— Isso é bom, não é? Querer ir para casa, querer estar com a sua família.

— É, acho que sim. Mas a gente não perde o sono apenas por coisas ruins. Coisas boas também nos mantêm acordados. Pelo menos, me mantêm.

Scorpius suspirou.

— Queria estar acordado por uma coisa boa também, mas... eu não quero ir para casa, Al. Estou com medo. — o garoto finalmente admitiu.

Não voltara para casa desde que começara Hogwarts. Durante o recesso de fim de ano, inventara uma desculpa para permanecer no colégio. Pensar sobre isso o fazia se sentir uma pessoa horrível. O natal de seus pais provavelmente fora menor do que de costume. Vazio. E, ainda assim, Scorpius não conseguia se arrepender. Agora, no entanto, não havia mais mentiras a serem inventadas. Não havia mais desculpas possíveis. Não havia como evitar o confronto.

— Com medo dos seus pais? — Albus arriscou, confuso.

— Não. — talvez fosse mais fácil se fosse aquilo — Com medo do que estou sentindo por eles. Bom, pelo meu pai, na verdade. E os meus avós. A minha mãe não fez nada de errado. É só que eu... eu... eu estou com raiva dele, Albus. Estou com muita raiva dele. — e ali estava o que ele lutara tanto para não dizer, para não sentir.

Draco fora o herói de Scorpius durante 11 anos. A pessoa em quem ele se espelhava. A pessoa que ele desejava ser. Fora quem lhe ensinara quase tudo que sabia. Quem lhe contava histórias para dormir, o protegera de todos os perigos e o fizera crescer se sentindo seguro e amado. Fora seu pai. Era seu pai. E era um bom pai.

E, quando sua carta de Hogwarts chegara, e seus pais se sentaram ao seu lado e falaram sobre “erros do passado” e sobre como Draco se arrependera de atitudes que tivera durante a guerra – aquela que parecia ter acontecido em um tempo tão distante –, o menino não se importara muito. Pessoas cometiam erros, não é mesmo? Não deveria ser nada muito ruim. No fim das contas, não seria possível que seu pai – seu herói – houvesse feito nada muito ruim.

Mas agora as coisas eram diferentes. Agora ele compreendia quais haviam sido os “erros”. Entendia quem fora o Lorde das Trevas e quem foram seus Comensais da Morte. Entendia no que eles acreditavam e o que haviam feito. Havia estudado um pouco sobre as duas Guerras Bruxas em História da Magia, Rose e Albus lhe contaram o que sabiam, as conversas que entreouvira dos colegas lhe disseram o resto. A soma de todas aquelas informações era horrível.

No começo do ano letivo, Scorpius se sentira injustiçado. Uma vítima. Agora conseguia compreender as pessoas que o odiavam ou temiam. Ainda não era culpado de nada, era verdade, mas talvez também se odiasse se estivesse no lugar dos outros. Se fosse um nascido-trouxa, que acabara de chegar a Hogwarts e descobrir um mundo novo, e alguém lhe contasse que a família de um colega específico acreditava que nascidos-trouxas deveriam morrer, ele provavelmente também iria querer distância daquela pessoa. Também sentiria medo, receio, raiva. Sua família não havia cometido “erros”, havia cometido – direta e indiretamente – assassinatos. Mesmo aos 11 anos, o garoto entendia que havia uma diferença. Uma grande diferença.

Ainda havia uma parte dele que queria sair correndo pelos corredores e gritando que era inocente, que não tivera qualquer participação em tudo aquilo, que só agora descobrira aquele histórico sangrento. Essa parte, contudo, ia se perdendo aos poucos, à medida que novos sentimentos eram adicionados a equação. A confusão era o que predominava. Como entender tudo aquilo? Como pessoas que ele amava e o amavam, que sempre foram boas para ele, poderiam não ter sido boas para outros? Como os membros de sua própria família poderiam olhar para alguém como Diana Edwards – a nascida trouxa da lufa-lufa que contava ótimas piadas, tinha uma risada hilariante e deixava que a turma inteira colasse dela nas provas de História da Magia – e acreditar que ela não merecia viver?

Então, ele se perdia naquela espiral de pensamentos, dúvidas e sentimentos contraditórios. O que sua família teria feito com Rose, a filha de uma nascida-trouxa, se tivesse se encontrado com ela há 19 anos? Com a Rose de quem Scorpius gostava tanto... Seu pai dissera que se arrependera de seus “erros”, mas como ter certeza? E isso era suficiente? Às vezes Scorpius achava que sim, dizia a si mesmo que o passado era passado e aquilo não importava mais. Mas então virava o corredor e ouvia alguém como Ronan Finningan-Thomas contando como um de seus pais havia sido torturado durante a guerra. Torturado nos porões da Mansão Malfoy. Nos porões da casa de Scorpius.

A casa em que ele nascera, em que crescera, em que brincara. Seu lar. A casa que um dia abrigara o próprio Voldemort. Em que pessoas foram torturadas. Em que pessoas foram estupradas. Em que pessoas foram assassinadas. Quantos fantasmas assombravam aquela mansão? Como o garoto deveria ser capaz de colocar os pés ali novamente e não se imaginar pisando em poças de sangue. Como poderia acompanhar sua mãe ao piano e ouvir apenas a melodia da música e não gritos de dor e pedidos de socorro? Como poderia se deitar em sua cama e descansar, quando dormia sobre um cemitério?

 Scorpius queria perguntar tudo aquilo a Albus. Queria contar tudo ao amigo. Mas como? Como expressar aquele caos? Como fazê-lo entender? Como explicar que tinha medo de ver seu pai e vomitar toda aquela confusão sobre ele, aos socos e gritos, antes que Draco pudesse sequer dizer “olá”? E como explicar que tinha medo de não despejar tudo aquilo, aos socos e gritos? De simplesmente agir como se tudo estivesse bem e nada houvesse acontecido, como se nada houvesse mudado. O que isso diria sobre Scorpius, então? Como explicar que, por mais que uma parte dele estivesse fervilhando em raiva, a outra estava perdida em memórias de tardes no lago, abraços quentes e eu te amos? Como explicar que a parte que queria berrar e dizer coisas horríveis ao pai nem sempre era mais forte que a que tinha pena dele; a que, no fundo, sabia que ele era triste e solitário? Como explicar que achava que o pai merecia aquela tristeza e solidão? Que merecia sofrer por ter feito aquela bagunça e depois se escondido em sua mansão assombrada, com seu dinheiro e suas antiguidades, e deixado para Scorpius o trabalho de limpar aquela sujeira. Como explicar que, ao mesmo tempo, achava que o pai não merecia todo aquele escrutínio? Como explicar que o homem que ele conhecera durante toda a sua vida não era nem um monstro. Como explicar que, apesar de tudo, Draco era seu pai? E era um bom pai. E Scorpius não conseguia odiá-lo. E Scorpius não conseguia amá-lo.

Não havia explicações possíveis. Não havia palavras suficientes no dicionário. Não havia como verbalizar a mistura de emoções que queimava em seu interior. Então ele apenas disse:

— Eu não quero ser como ele, Albus.


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Notas finais do capítulo

Scorpius, meu anjo, eu tenho os telefones de ótimos psicólogos, se você quiser...
Então, eu sei que a história é uma Scorose e o plano inicial era que que tudo isso viesse a tona em uma conversa com a Rose, mas as coisas ganharam vida própria, Scorpius e Rose resolveram brigar e simplesmente parecia mais apropriado que a coisa toda fosse com o Albus. Sei lá, só fazia mais sentido dentro das personalidades deles. Amanhã a Rose volta a aparecer. De qualquer forma, espero que tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís