Uma gotícula gelada deslizou da raiz do cabelo amendoado, deslizou pela têmpora, vagando em direção ao começo da mandíbula tensa da garota. Severus observou atentamente aquela pequena gota de suor sumir pela pele branca, se perdendo pela gola da camisa que Hermione trajava.

A concentração da garota ao sussurrar um encantamento longo, cansativo e doloroso em direção a moldura ornamental e dourada era enorme, fazia quase duas horas que Snape observava a cena, calado, temendo que Granger desmaiasse a qualquer instante. Ela estava ajoelhada, com as mãos direcionadas a moldura, olhos fechados e um livro ao lado dela, aberto.

Eles não deveriam estar ali. O local era um porão perdido, sob a cozinha de Hogwarts, onde nem mesmo os elfos conheciam. Era apertado, sem janelas, com uma iluminação fraca proveniente de velas. O chão era de pedra polida, porém rustica, assim como as paredes. O local era onde Dumbledore havia guardado o Espelho do Ojesed, que permanecia coberto próximo deles e era onde o material que fazia os quadros dos falecidos diretores ficavam.

“Uma magia antiga, que coloca uma parte da alma morta estampada em um quadro. Não há sentimento, não há decisões, há apenas uma consciência quase nula do que uma pessoa foi, quase como uma marionete vazia”.

As palavras de Hermione ainda estavam gravadas em sua memória, em uma explicação rasa, pelo que ele sabia e entendia.

“Não dá para simplesmente forjar um quadro desse sem a pessoa está morta”.

As palavras sussurradas por Hermione cessaram e no instante que sucedeu, um silêncio denso envolveu o ambiente. Severus deslizou em direção a garota, ajoelhando-se, para poder ambarar o corpo que pareceu desfalecer em seus braços. Seus dedos deslizaram pela testa da jovem, tirando os fios grudados da testa da garota. Ele jamais expressaria nada, mas sentia dentro de si, um sentimento crescente de gratidão por Granger. E algo um pouco mais intenso, mas que ele jamais assumiria.

Ele nem ao menos sabia o motivo de ter aceitado a ajuda de Hermione, quando Albus solicitou que os dois trabalhassem juntos naquilo. Não sabia o motivo também do velho ter lhe dito sobre tentar forjar sua morte após a guerra, pois sua morte, assim como do diretor era algo tão certo, quando o Sol nascer todas as manhãs. Severus sabia que teria que matar Dumbledore e sabia que ele viraria diretor, pois Voldemort jamais confiaria a outra pessoa o cargo, quando Hogwarts fosse tomada. 

Entretanto, lá estava ele, com Hermione inconsciente em seus braços por conta da exaustão mágica. A culpa o percorreu, enquanto mirava o rosto da garota. As gotas de suor ainda presentes, mesmo o local sendo extremamente gélido e a pele macia dela estando fria, como notara ao deslizar os dedos anteriormente.

“A escolha de Granger foi devido a sua alma não estar partida, além de ser uma garota supreendentemente inteligente acima de muitos da sua idade, além dela estar em seu último ano”.