"Garanto que não sei por que estou triste ;
A tristeza me cansa , como a vós;
Mas como a apanhei ou contraí,
Do que é feita, ou do que terá nascido,
Ainda não sei.
A tristeza me fez um tolo tal
Que é difícil até saber quem sou."

Fechei o livro devagar e olhei em volta assustada. Eu poderia dizer que o barulho que interrompeu minha leitura vinha da prateleira de livros a minha frente. Deixando o livro na poltrona em que eu estava sentada, caminhei lentamente até lá. Quando olhei para baixo vi um par de tênis preto que eu conhecia muito bem. Edward.

Andei lentamente para trás e me sentei novamente. O melhor a fazer era fingir que eu não tinha ouvido nada. Não queria nem saber o que ele estava fazendo aqui na biblioteca. Ele  nunca vinha até aqui. E foi sabendo disso que resolvi vim para cá hoje. Estava me sentindo muito triste e uma boa leitura sempre me cai bem.

— Olá - disse uma voz baixae  aveludada. Quando levantei meus olhos um lindo par de esmeraldas me encaravam. - Sou Edward Cullen.

Eu apenas fiquei encarando seu rosto simpático boquiaberta. Ele estava falando comigo. Pela primeira vez em sete anos. Comigo.

— Oi - consegui responder com a  voz trêmula enquanto ele mastigava um chiclete com ruído. - Eu sei quem você é. - acrescentei desnecessariamente.

— Sabe é ? - seus olhos eram brincalhões e sua cabeça estava ligeiramente inclinada. Ele estava me avaliando.

Como ele não parecia querer uma resposta apenas assenti.

— Eu disse o meu nome. Agora você tem que me dizer o seu. - disse ele com um sorriso se sentando desleixado na poltrona a minha frente.

— É Isabella - respondi em um sussurro,  baixando a cabeça.- mas pode me chamar de Bella.

— Bella - Edward pronunciou lentamente, como se estivesse guardando o nome - gostei. Mas me diga Bella, você é nova na escola ?

Levantei minha cabeça rapidamente e o encarei. A tristeza se abateu em mim por um momento. Ele nem sabia quem eu era, mas o que eu podia esperar se eu vivia escondida pelos cantos ? Mas pelo menos eu podia me orgulhar de conseguir falar com ele. Ele é a segunda pessoa com que eu converso na escola. A primeira foi Ângela.

— Não - respondi por fim. - já estudo aqui a bastante tempo.

—  Então por quê nunca te vi por aqui ? - perguntou confuso.

Dei uma risadinha.

— Essa é fácil Edward - respondi - é por que sou invisível.

Ele me encarou com intensidade antes de replicar.

— Eu também sou invisível , Bella. - Sua frase estava cheia de coisas que ele com certeza não queria compartilhar.

— Mas acho que temos um tipo de invisibilidade diferente, não ? Enquanto ninguém me conhece, todos conhecem você. - falei e ele riu.

— Acho que sim. Que tal fazemos um acordo ?

— Como assim ? - perguntei confusa.

— Você me vê, e eu te vejo. Assim você não fica totalmente invisível. Nem eu. Topa ? - perguntou divertido , estendendo a mão.

— Fechado - respondi pegando em sua mão. E naquele momento uma espécie de eletricidade cortou caminho entre o lugar onde nossas mãos se encontraram e o meu coração. As sensações que eu sentia só por vê-lo de longe, se intensificaram e se multiplicaram por cem. Para ele era só um toque comum, para mim era como ver  toda a galáxia de perto em segundos. Com toda a sua imensidão e beleza.

Ele soltou minha mão.

— Que livro está lendo ? - perguntou curioso. Corei e coloquei uma mecha de cabelo - que insistia em sair do meu coque desarrumado e cair em meus olhos - atrás da minha orelha.

— O Mercador De Veneza de William Shakespeare. - respondi mostrando a capa do livro a ele.

— Quem é esse ? - perguntou com um careta espocando o chiclete barulhento na boca. Talvez não fosse de bom tom mencionar a ele que era proibido mascar chiclete na biblioteca.

— William Shakespeare ? - questionei e ele acenou com a cabeça. Não aguentei e soltei uma risada. - Ninguém importante. Só um dos maiores escritores de todos os tempos. É como dizia Ben Jonson: "  Ele não era de uma época mas de todos os tempos ". Tanto é que ele já morreu a uns quinhentos anos e ainda hoje suas obras são famosas.

— Você é bem inteligente - comentou ele casualmente e me surpreendi. Podia sentir o calor inundando o meu rosto e com certeza estava corando por que ele riu.

— Você é bem tímida, né ? - perguntou erguendo a sombrancelha.

— Um pouco - respondi e ele me olhou descrente - certo, sou muito tímida.  Aqui da  escola você  é a segunda pessoa com quem converso, e a primeira a que eu não respondo só com monossílabas. - sorri envergonhada.

— Talvez possamos dar um jeito nisso depois. - o tom de Edward era bem malicioso. Mas não me surprendia. Ele poderia ser o garoto que fazia meu coração sambar no meu peito, porém, ainda era Edward Cullen. - Mas me diz Bella , esse autor é o seu favorito?

— Sim. - respondi - e esse é o meu livro favorito também.

— Ótimo - sussurrou para si mesmo mais alto, acrescentou: - Agora sei seis coisas sobre você além do seu nome : gosta de Shakespeare, o livro favorito é O Mercador De Veneza , é tímida, bonita e inteligente.- assim que ele disse bonita meus olhos se arregalaram e entrei em choque. Era a primeira vez que alguém dizia que eu era bonita.

— O que foi que eu disse ? Você está com uma cara de assustada - disse Edward preocupado. Ele se inclinou um pouco para frente.

— Não é nada - menti. Mas por dentro a felicidade transbordava dentro de mim.

— Está bem. - respondeu ele não acreditando muito em mim. Eu sempre fui uma péssima mentirosa.

— Me responda uma coisa Edward - falei rapidamente antes que ele me fizesse perguntas.- o que faz aqui ? Pelo que sei de você, o seu tipo não é livros. Estava esperando alguma garota ?

Resolvi não contar que eu sabia absolutamente tudo sobre ele. Na verdade, tudo que importava.

— Você nem me conhece para saber se eu gosto ou não de algo. E eu não vivo por aí só com garotas.  — respondeu irritado.

— Eu fiz algo errado ?  - sussurrei. Era a primeira e talvez última vez que eu falava com ele, mas pelo visto eu tinha acabado de estragar tudo.

Ele respirou fundo e seus olhos que antes estavam irritados se suavizaram.

— Não. Me desculpe, é que as pessoas acham que me conhecem e erroneamente fazem um conceito sobre mim. Isso me deixa irritado - respondeu.

— Me desculpe. Eu não sabia - É claro que eu não sabia. Eu nunca pensei que Edward não gostasse de ser um livro aberto para as outras pessoas. Eu sabia muito mais sobre ele, é verdade, mas isso não me dava o direito de jugá-lo.

— Tá tudo bem , Bella. Não se preocupe. - Edward sorriu torto. - Que tal você ler um pouco pra mim ?

— Agora ? - perguntei meio em dúvida e envergonhada pelo seu olhar intenso.

O sorriso dele se alargou.

— É. Agora - respondeu divertido com a minha timidez.

Soltei um suspiro e derrotada abri o livro.

" Sua mente é jogada pelo mar
Onde suas galeras, enfunadas
Como fidalgos ou burgueses ricos ,
Estrelas do espetáculo do mar...

Prossegui a leitura e Edward parecia absorto na história. A certa altura ele se recostou na poltrona e fechou os olhos. Seu rosto exibia uma expressão satisfeita. Estávamos nesta bolha particular, até que o sinal soou estridente.

— Já está na minha hora - disse Edward pulando da poltrona e abrindo outro chiclete. - Foi bom te conhecer Bella. Talvez você possa ler mais pra mim, outro dia. - completou ele dando uma piscadela e um sorriso torto malicioso. Não respondi apenas acenei com a cabeça e tentei não criar esperanças de ocorrer um novo encontro. Ou até mesmo dele se lembrar de mim, na próxima vez. Se houver uma proxima vez, lembrei a mim mesma.

Suspirei vendo Edward se virar e ir até a porta para logo após uma garota que eu não tinha visto, abraça-lo. Os dois trocaram um beijo intenso ao olhar de sensura da bibliotecária. Talvez eu estivesse certa antes. Ele estava mesmo esperando uma garota.