Faunt; Terror Nacional escrita por P B Souza


Capítulo 5
Jahan-ko


Notas iniciais do capítulo

E é isso. A gente já tem o nome de três "grupos" no ventilador. OBLT, a Jahan-ko, a Techbot. Quem vai ser vilão, quem vai ser herói?
Já apostaram suas fichas?



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Porto de Santos. São Paulo, Brasil.

14:26, Quinta-feira, 14 de agosto de 2014.

O cheiro de couro tratado não fazia sentido nenhum.

— O quê... — Harward sentiu as cordas no pé e braços... A dor de cabeça veio em seguida. Se lembrou do banheiro, se lembrou que algo estava errado. E então a visão retornou de forma apropriada. — Quem...

A visão o fez se assustar, pulou para trás em um impulso involuntário, mas bateu contra a porta do carro e a cabeça contra a janela. Grunhiu de dor e olhou o homem sentado do outro lado.

— Meu nome é Fahel Al-Basur. — Era um homem com feição dura, cabelos curtos e olhos castanhos, a branca, mas levemente bronzeada, tinha pintas marrom claro na testa. — Você está no carro de um político corrupto, estamos indo para o litoral. Você sofreu um sequestro e a substância aplicada não é venenosa, era um calmante fraco, porém em alta dosagem. O efeito passa rápido, mas a dor de cabeça não. Desculpa pela violência. — Fahel apontou para o próprio lábio, insinuando aonde um de seus homens havia acertado Harward, Harward deslizou a língua pelo próprio lábio sentindo a crosta de sangue seco. — Acho condenável o uso de violência quando essa não é necessária.

— Que brincadeira ridícula é essa? Me solta agora...

— Não posso fazer isso ainda. — Fahel estava sentado ao lado de Harward no banco de trás do carro que balançava em uma estrada de terra, iam devagar, o motorista não olhou para trás em momento algum. — Tenho certeza de que você compreende o porquê. Preciso do vírus que seu irmão criou, e você é minha moeda de troca, a única que pode funcionar.

Harward abriu um sorriso ao entender o que era aquilo. Então rolou os olhos e suspirou olhando para a janela.

— Eu sempre soube que o Ernesto era ganancioso, mas isso...

— Esse nome, eu conheço...

— Ele quem te contratou, claro que conhece...

— Está errado, senhor Faunt. — Fahel disse com tranquilidade enquanto o carro parava. — Ninguém me paga para fazer isso. Eu quem pago as pessoas que não acreditam, e dou fé àqueles que acreditam! Ernesto apenas trouxe o vírus ao meu conhecimento, culpe-o apenas por ingenuidade. No tipo de comercio que ele atuou, não se oferece o que ele ofereceu, não sem os devidos cuidados, mas foi um erro de amador, posso compreender.

— Do que você está falando? — Harward não compreendeu o que Fahel disse, então o carro parou por completo e o motorista desceu do carro primeiro, deixando Fahel e Harward sozinhos. Harward tentou olhar ao redor, mas as janelas eram fumê escuro, só conseguia ver um horizonte aberto, e atrás deles havia mato, muito mato.

— Quando minha organização tomou conhecimento sobre o vírus de seu irmão, foi porque este homem tentou vende-lo no mercado negro sem nenhuma discrição. Tive que sacrificar muitas vidas lutando contra outros grupos que desejavam o mesmo vírus e não teriam a mesma gentileza que estou tendo para tomá-lo de seu irmão. A guerra que comecei quase destruiu minha organização por completa, porém a fé que nos guia é mais intensa que qualquer guerra, nosso objetivo não pode ser comprado ou barganhado, temos que conseguir, e falhar não é uma opção. Por isso fui à guerra para impedir que pessoas ruins colocassem as mãos na arma que seu irmão criou, para impedir que o próprio Ernesto a vendesse, se preciso fosse...

— Não é uma arma...

— Quando um soldado perde sua espada em campo de batalha um escudo lhe servirá tão bem quanto a espada se preciso for. — Fahel olhou para o motorista lá fora, abrindo o porta-malas, então para Harward novamente. — Eu represento a Jahan-ko, o mundo nos conhece como uma organização terrorista, como se nossa agenda fosse espalhar o caos. Mas eu vivi no caos por muito tempo para saber o que estou fazendo, e está longe de ser Caos. Eu valorizo a vida, mas sei a importância de eventos como esses que vocês chamam de atentados. Um marco na lembrança, para que todos se recordem porque não devem nos subestimar. Um marco para que seu irmão se recorde que não deve me subestimar. Eu valorizo a vida, senhor Harward, mas eu também valorizo sacrifícios.

Então Fahel pegou um aparelho celular do seu bolso. Cadê o meu celular? Harward pensou tentando sentir o aparelho no bolso, mas seus bolsos estavam vazios.

— Essa gravação... — Fahel mexeu no próprio celular e abriu um arquivo de áudio.

“Não sabemos ao certo quantos feridos, mas há confirmação de diversas baixas dentro do prédio da OBLT, que está fechado agora. Os assaltantes se dispersaram após a invasão, porém viaturas estão cercando os perímetros da avenida paulista e arredores...” o locutor de rádio parava então, a gravação acabava ali.

— Estão chamando de assalto a mão armada. — Fahel abriu um sorrisinho de canto. — Seu país não é acostumado com o terrorismo, ainda não imaginam o que está para acontecer.

— O que você fez...

— Se a ação for como o esperado terei o vírus de seu irmão em breve, e lhe soltarei. Se não, sugiro que convença Jonas a me dar o vírus ou a receita para fabricação dele.

— Você fala sobre vidas, mas o que fez para conseguir o vírus? O que fará com o vírus? Não pensa no que vai custar...

— Pensei por tempo demais, e enquanto o fazia via meus amigos morrendo de fome enquanto seus aliados financiavam a guerra que dizimou meu país a ponto da terra se tornar infértil de tantos metais pesados. Você me vê como um louco que pretende jogar aviões contra prédios, mas não vê a razão por traz da ação. — Fahel falava rápido, sua voz era como a de um locutor e parecia ensaiado, tudo saia de sua boca com fluidez, como se o homem não titubeasse em seus pensamentos um só instante. — Não vou derrubar prédios, a não ser que seja necessário. Quero o vírus de seu irmão porque há uma praga que precisa ser eliminada da nossa sociedade, uma quantidade específica e seleta de maças podres, que pretendo tirar do pé antes que outras apodreçam junto. E então os bons poderão continuar de onde pararam. Vidas tranquilas, livres desse sistema arcaico que toma e nunca dá nada de volta

— E por que está me contando isso?

— Ignorância não leva a nada. Quando eu terminar seu estará mudado. Homens com olhos e mentes abertas se erguerão para o lugar daquelas que puxam rédeas e colocam antolhos em vocês. A maioria não será capaz de olhar para os lados no começo, ainda com medo da mudança que eu trouxe, da liberdade. Isso é um perigo, porque nesse momento de transição que ditadores não melhores que os atuais que se dizem eleitos democraticamente, podem vir a surgir. E por isso não faço menção de esconder meus planos, não é lhe surpreender que eu almejo, não é me mostrar superior ou melhor que ti. Respeito-o, assim como respeito seu irmão e respeito aqueles que quero derrubar. E eu quero te levar a algum lugar, levar a todos nós, para um lugar muito melhor que aqui, que agora. Mas primeiro precisamos tirar o que há de podre.

— E quem ficará no lugar? Você?

Fahel olhou para fora novamente, então abriu a porta do carro e desceu, deixando Harward ali, sozinho.

Harward olhou para o banco do piloto, a chave estava ali, mas ele estava amarrado, não conseguiria. Viu Fahel contornar o carro até a porta do outro lado, abriu e olhou para Harward.

— Não. — Fahel respondeu por fim, então puxou os braços de Harward e soltou o nó da corda, deixando que ele soltasse o nó das pernas por conta própria. — Essa escolha é de vocês para fazer, meu dever é apenas lhe dar a escolha, o verdadeiro poder de escolha!

Harward então estava completamente solto. Fahel recuou alguns passos e olhou ao redor. Harward ficou parado, solto, porém estático. Naquele momento podia sair correndo, podia fechar a porta do carro e tentar girar a chave e abandonar os algozes, podia tentar lutar contra eles. Naquele momento ele sentiu o verdadeiro poder da escolha, e da consequência. Qualquer coisa que eu fizer, ele fará algo também.

Não era sensato tentar lutar contra aquilo. Ele estava em desvantagem, então saiu do carro, devagar, se colocou de pé e olhou para o motorista.

— O quê...

— Não se preocupe com o que ele está fazendo. — Fahel respondeu. — Se preocupe com o que você vai fazer.

Eu sei aonde estamos. Harward percebeu. Conhecia o outro lado além da água, conhecia os guindastes e os navios atracados cheio de containers. Mais para frente em terra firme se via apenas os tanques com símbolo da Tudoil Combustíveis. Anos antes ele havia conhecido um rapaz santista na universidade, e ele lhe contou que na cidade era comum o dizer que um dia Barnabé explodiria. Estamos na Ilha Barnabé. Era o maior reservatório de combustível fóssil em São Paulo, caminhando para ser o maior do mundo se dependesse da Tudoil, mas o governo não facilitava.

Na margem do rio havia um barco com remo, de onde o motorista do carro vinha com uma cesta e um guarda-sol fechado. Do porta-malas do carro aquele homem havia tirado um banquinho de montar e uma mesinha dobrável. Na frente deles o homem montava algo como uma cena de piquenique.

— O que você vai fazer?

— Isso é seu. — Fahel então pegou um celular no outro bolso. O celular de Harward. — Nem pense! — Fahel alertou quando Harward pareceu penar em avançar contra ele. — Seu irmão com toda certeza vai rastrear sua localização quando perceber que você não chegou a embarcar no voo. Quando o fizer, estaremos longe, mas ele vai saber aonde te encontrar.

Fahel foi até o cenário montado, parecia um piquenique, exceto que não havia comida alguma, apenas uma cadeira vazia, uma mesa vazia, e uma cesta com um celular. Ele então tirou um papel dobrado do bolso, olhou para o que estava escrito, colocou por baixo do celular dentro da cesta e olhou para Harward.

— Para o barco. — Apontou. Harward não andou, ficou olhando para a cesta. — Não vamos fazer a cena de resistência, eu e você sabemos que é inútil.

O motorista do carro entrava no barco a rema e pegava os remos.

— O que você pretende fazer? Remar até a Síria? — Harward perguntou começando a andar para o barquinho a remo.

— Isso é extremamente preconceituoso, eu sou de Abecásia. Pretendo remar até ali. — Enquanto falava a água do rio começou a farfalhar como se algo embaixo dela emergisse... e de fato isso ocorria.

Harward parou de andar por um instante, e então sentiu as pernas pesarem uma tonelada, tornou-se imóvel.

— Isso é um...

Da água antenas surgiram primeiro, então o topo metálico e o corpo oval, esticado como uma bala de fuzil gigantesca.

— Submarino nuclear russo. — Fahel disse para Harward, sorrindo enquanto o submarino com uma bandeira da união soviética pintada próxima a escotilha de embarque deixava a água escorrer pelas bordas após se revelar.

Então uma pequena explosão atrás dele, o fogo consumiu o carro no qual haviam vindo. Harward olhou para o automóvel, e então para o submarino, lembrando que Fahel disse ser o carro de um político. Tremendo se pôs a andar. Jonas, não venha atrás de mim. Implorou em vão.


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