Os Contos Sombrios de Durmstrang: O Ritual Perdido escrita por Alexia Mello e Mayara Germano


Capítulo 7
Capitulo 6




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791291/chapter/7

O sol mal havia ultrapassado as nuvens quando Daniel passou pela passagem secreta entre as duas górgonas em forma de cabra os olhos de ambas apagaram gradativamente enquanto ele se distanciava delas, uma das coisas mais legais que ele conseguia descrever na escola.

Ele se lembrou do olhar assustado da menina da noite passada, Ayse, e como seus olhos estranhamente castanhos-dourados-esverdeados se arregalaram ao ver as estatuas projetarem a passagem que dava acesso ao dormitório feminino, com um dos braços ele jogou a bolsa de lona da qual havia trazido do quarto nas costas enrolando a alça contra a palma.

Os corredores estavam incrivelmente silenciosos, ele desceu as escadas de madeiras, um, dois, três andares até finalmente chegar ao andar principal, havia decidido no meio da noite que iria começar com esgrima, o corpo docente o havia deixado responsável pelas atividades físicas de Ayse e ele queria começar da mesma forma que ele havia começado, esgrima.

Enquanto caminhava uma vaga memoria brincou na superfície de sua mente.

(...)

O ar estava abafado era o meio do verão, passarinhos voavam em torno da clareira, seu pai costumava traze-lo a floresta com uma certa frequência desde que ele havia começado a fazer perguntas do desaparecimento de sua mãe.

Richard era um homem alto, esguio, cabelos pretos como os de Daniel e olhos castanho.

“Você é a cópia de seu pai” – A voz de sua avó se repetia em sua cabeça, ele não achava no começo, mas quando a doença começou a afeta-la e ela começou a confundi-lo com Richard, Daniel começou a levar mais a sério.

Agora ele tinha 10 anos, já sabia se cuidar melhor, entendia quando sua avó tinha seus lapsos devido à idade e a memória fraca, mas mesmo assim se sentia sozinho. Exceto naqueles raros momentos, como aquele, aonde seu pai o arrastava para o meio da floresta muito antes do sol nascer e lhe ensinava técnicas de esgrima, luta e qualquer coisa que ele achasse que lhe fosse útil.

— Um dia... Um dia você irá me agradecer garoto – Dizia enquanto empunhava o sabre em mãos, ele se colocou em posição esperando Daniel que ajeitava a mãozinha sobre o seu.

— Pai – Disse ele animadamente – Se eu conseguir um ponto, você me deixa ver ela? – Perguntou, os olhos castanhos escuros reluzindo contra a luz do dia.

O rosto de Robert se tornou inexpressível, mas somente por um segundo então seus lábios se curvaram em um sorriso brincalhão, os cantos dos olhos formando finas rugas, ele passou a mão pelos cabelos os ajeitando para trás.

— Vamos ver do que você é feito, guri.

Ele ergueu a mão livre flexionando os dedos, chamando Daniel.

Daniel riu e então se pôs em posição de batalha alinhando os pés e os cotovelos, tendo certeza de que havia o colocado certo dessa vez, ele avançou para frente, mas lento demais a ponta da espada do pai já havia encostado em seu colete marrom e vermelho.

Richard riu consigo mesmo.

— Pai! – Reclamou Daniel em alto som enquanto franzia o cenho.  – Não é justo...

A reação somente fez o homem achar mais graça, ele caminhou até o garoto apertando seu ombro suavemente.

— A vida não é justa garoto. Agora, flexione esses joelhos direito e vamos tentar de novo.

Daniel balançou a cabeça seriamente, a boca em uma pequena risca séria, as sobrancelhas unidas concentrado, Richard sorriu enquanto se afastava.

— Mas... pai... – Sua voz fez com que Richard parasse – Se você não me deixar ganhar, como irei ver a mamãe? Como ela vai saber que eu ganhei de você?

O sorriso de Richard se esvaeceu novamente, os olhos se tornando um pouco mais sombrio.

— Não se preocupe, garoto. – Afirmou – Não se preocupe, eu irie contar para ela exatamente o que ela está perdendo, okay? Agora vamos lá... Mostre pra mim quem é que manda.

Daniel riu e então, mais por diversão saiu correndo em direção ao pai erguendo o pequeno sabre no ar, um grito de guerra escapando de sua boca, Richard sorriu e começou a correr, ambos em círculos enchendo a clareira com risadas distorcidas.

Daniel pequeno demais para entender que nunca veria a mãe novamente, e Richard com um coração apertado demais para quebrar as esperanças do próprio filho.

(...)

Daniel voltou a realidade passando pelo arco dos corredores em direção ao pátio central, Ayse havia se sentando em um dos bancos de madeira distribuídos em volta, os cabelos castanhos escuros batendo nas costas, ela virou o rosto para ele, a luz que entrava do teto transformando seus olhos em um dourado, ela tinha o rosto em uma forma oval e os cabelos lisos com mechas mais claras na frente e nas pontas, os lábios perfeitamente cheios e o nariz fino e arrebitado.

Havia encostado o rosto sob o ombro e a forma como os cabelos ornavam na lateral do rosto caindo como cascata sobre a blusa vermelha sangue fizeram Daniel engolir em seco.

“Droga, ela parece a droga de uma modelo.” – Pensou enquanto se aproximava.

Ela se ergueu em reflexo.

— Me atrasei? – Perguntou, a menina balançou a cabeça negativamente. Ele sorriu. – Por aqui, Olivia nos liberou a sala de treinamentos.

Ayse se aproximou enquanto ele a guiava por um corredor que levava a ala oeste da escola, ele subiram uma escada de canto que dava de frente a sala de treinamentos, uma sala de portas duplas de madeira com teto côncavo, um espaço amplo com uma arquibancada na lateral, havia espadas diversas penduradas na parede e uma mesa que ia de ponta a ponta da parede com machados, facas e outras variações.

Havia dois bancos mais próximos da sala, Daniel se dirigiu a ele, Ayse tinha os braços cruzados, seus olhos varrendo a sala com atenção, os detalhes eram realmente impressionantes, as escamas das colunas retas subindo até o topo, o floreal em torno das janelas, até a forma como a luz entrava parecia ser artística, os feixes que batiam sobre o chão pareciam formar pequenos diamantes, ela trocou o peso da perna os lábios levemente abertos.

— Você não é de falar muito... Certo? – Observou Daniel.

Ela voltou a atenção a ele.

— O que me entregou?

Ele riu.

— O fato de você conseguir andar com os braços cruzados.... Defensiva. – Explicou. – Você pode relaxar, não irei te atacar.

Ayse soltou os braços o deixando cair na lateral do corpo, o olhar se tornando ácido.

— Melhor?

Daniel assentiu enquanto se abaixava sob a mala de lona e a abria retirando dois florestes e estendendo um para ela, a menina se aproximou o pegando, as sobrancelhas finas se unindo.

— Certo... E isso deve me proteger dos grandões da escola como?

Ele abriu um sorriso enquanto se levantava.

— Vou lhe ensinar algumas poses básicas, amanhã podemos começar com a parte do ataque... – Começou – E sobre os grandões... Não se preocupe. – Ele esticou os braços enquanto andava de costas até o centro da sala – Olhe para mim, eu sou a prova viva de que você não precisa ser grande para ser o melhor.

Ela revirou os olhos enquanto o seguia. 

— Certo... Uau... Se eu ficar tão boa quanto o tamanho do seu ego, acho que vai ficar tudo bem.

Daniel riu enquanto gesticulava para que ela ficasse no centro da sala e se posicionasse como ele.

(...)

Ayse passou a maior parte do tempo reposicionando sua postura e repetindo movimentos que Daniel havia lhe detalhado, ela precisava trabalhar no alinhamento dos pés e na posição do cotovelo, sempre que se lembrava de um ela errava o outro, mas aqueles eram pequenos detalhes dos quais ele disse para não se preocupar.

O relógio bateu as 6:30 anunciando o final do treinamento, Daniel esticou a mão pegando o florete da garota e indo em direção a bolsa que havia trazido.

Ela colocou os braços para trás enquanto balançava o corpo, tinha aula de adivinhação em seguida, não era algo difícil, mas era a primeira vez que Ayse iria se deparar com um ambiente escolar formal, ela não tinha muito ideia do que esperar e a sequer menção disso lhe fazia ficar nervosa, ela apertou os dedos atrás das costas.

— Ham.. Daniel?

Ele a olhou por cima do ombro enquanto puxava o zíper da sacola.

— Você... Am... – Ela engoliu a própria saliva enquanto articulava a frase – Você tem algumas dicas sobre a aula de adivinhação... Digamos que... Eu não tenho muita experiência em salas de aula. – Seus olhos vagaram pelo chão voltando ao garoto, que para sua surpresa sorria, os dentes brancos e quadrados em fileiras, ele jogou a bolsa nas costas a segurando pela alça.

— Não se preocupe, Becky é uma das professoras mais calmas da escola – Afirmou, Ayse caminhou em sua direção – Ela gosta de perguntas então, talvez você queira caprichar nisso. – Incentivou – O básico é, se você tem dúvidas, pergunte, ninguém vai te crucificar por isso.

Ela assentiu parando em frente a porta, Daniel puxou a maçaneta e ambos atravessaram.

— Perguntas. Certo, parece fácil. – Disse assertiva, mais para si mesma do que para ele. Daniel a fitou por um instante desviando o olhar quando ela retribuiu.

— Bem... A minha primeira aula é no mesmo andar, se quiser posso te deixar na porta...

Ayse mordeu o lábio inferior incerta, ela não tinha muitos amigos, na verdade ela não tinha amigos nenhum e Daniel parecia o tipo de cara que tinha amigos demais – Ele não conseguiu os amigos ficando no canto isolado – conclui enquanto aceitava sem palavras. Ela esperou o mesmo levar sua mochila ao quarto e então o seguiu até o quarto andar.

Enquanto caminhavam Daniel pontou alguns alunos, que segundo ele, eram relevantes para que ela entendesse mais ou menos a hierarquia da escola, ele apontou dois garotos altos e fortes, os mesmo do qual Ayse havia o visto no começo das aulas, ambos nomeados Alex, ambos igualmente bonitos, porém visivelmente diferentes.

Estes jogadores do time de quadribol da escola, mais a frente apontou Hailey, a menina de rosto quadrado e cicatriz na sobrancelha da qual Ayse havia criticado as roupas, segundo Daniel a garota era um imã de encrencas e por possuir mais duas colegas corpulentas e iguais a maioria das pessoas mantinha distância.

Ela viu as três a encarando enquanto passava ao lado de Daniel, Ayse tentou ignorar, mas Daniel causava um burburinho incomodo por todo lugar que passava, não havia um aluno, do primeiro ao sétimo ano que não o cumprimentasse ou alguém que soltasse um suspiro, era ridículo e a fez parar para analisar os traços do garoto mais vezes que o necessário naquela manhã.

Antes de se aproximarem da porta ela viu recostada sobre o batente Iskra sua colega de quarto da qual não havia sequer trocado uma palavra, ela gesticulou com a cabeça para ela e o menino forte a sua frente, ambos riam animadamente sobre algo.

— E eles? Qual é a deles? – Questionou.

Daniel pareceu levemente incomodado, mas mesmo assim falou.

— Iskra Mikahilovna e Zion Flaumont, Ambos de família rica e bem-sucedida, Iskra é russa... – Ele ergueu as sobrancelhas como se russo fosse um adjetivo que justificasse qualquer coisa – E Zion, bem... Ele é Zion... Provavelmente as meninas do seu ano saibam mais sobre ele do que eu. – Informou.

O queixo de Daniel se tornou firme enquanto ele encarava a figura do garoto a poucos metros de distância, Ayse encarou mais o menino a frente.

Os cabelos castanhos escuros também haviam sido penteados cuidadosamente para trás, ele tinha braços largos por debaixo da camiseta vermelha, o rosto era quadrado, os lábios finos e o nariz curvado, ambas características estridentes em Daniel, ela o olhou por mais meio segundo voltando a atenção a Daniel.

— Ele é seu... Primo? – Perguntou meio incerta.

Daniel pareceu surpreso, levou dois segundos para que ele se recompusesse.

— Meio irmão... – Respondeu, sua voz se tornando áspera e hostil. – Filho da vadia da minha mãe...

Ayse passou a língua nos lábios, ela não esperava hostilidade de Daniel, na verdade ela não achava que seria possível, ele parecia a pessoa mais legal da qual ela havia visto em Durmstrang, sempre sorrindo, até mesmo quando ela descartava suas piadas baratas, piadas que ela achava que ele fazia apenas para levar um fora. Todavia, lá estava ele, fitando seriamente o garoto musculoso, os olhos escuros pareciam ter ganhado uma cor diferente.

— Enfim... – Disse – Você vai se atrasar... – Comentou enquanto começava a se afastar, conforme seus olhos se voltavam para ela, novamente Ayse sentiu a atmosfera mudar, como se outra pessoa tivesse assumido o garoto que a segundos atrás era inexpressivo, seu rosto se transformando em uma máscara sorridente, mas sem as rugas joviais das quais ela havia visto antes. – Se precisar de um tour pelos dormitórios, eu posso te mostrar o meu. – Ele piscou enquanto caminhava de costas.

— Você sonha! – Replicou ela, ele riu, dessa vez de verdade e então acenou girando em torno de si mesmo

— Amanhã 5:00, Rousseau!

Ela não respondeu, mas ele sabia que ela estaria lá.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Contos Sombrios de Durmstrang: O Ritual Perdido" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.