Os Contos Sombrios de Durmstrang: O Ritual Perdido escrita por Alexia Mello e Mayara Germano


Capítulo 6
Capitulo 5




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O céu encontrava-se em tons alaranjados que se misturavam com tons mais escuros, indicando que o dia havia acabado, trazendo aos poucos a escuridão para o local. O vento gélido batia suavemente contra as maças do rosto da menina, deixando-as levemente coradas, a jovem encontrava-se sentada em frente ao lago negro da propriedade, e mantinha seus belos olhos verdes fixos na embarcação que jazia no local. A bruxa puxou o máximo de ar que seus pulmões lhe permitiam, enquanto inclinava sua cabeça para trás deixando com que seus longos cabelos loiros caíssem sobre o gramado, enquanto desviava seu olhar para a lua que estava cada vez mais visível a medida em que o ambiente ia se tornando cada vez mais escuro.

— Não deveria estar aqui, é perigoso... – Uma voz grossa soou as costas da menina, porem essa sequer se moveu.

Iskra fechou seus olhos por um longo minuto antes de responder seu visitante, soltando todo o ar que havia puxado a pouco. A loura fechou seus dedos em torno do gramado ao seu redor, era como se pretendesse sentir cada centímetro do local, como se quisesse sentir cada folha em suas mãos, fazendo com que a mesma reforçasse seu aperto, e com isto arrancasse algumas folhas, que ela logo soltou, quase como se a sensação de ter as folhas se rompendo por entre seus dedos a despertasse do transe em que ela mesma havia se colocado.

A menina tombou a cabeça para o lado, já sabia de quem se tratava, mas mesmo assim sorriu quando seus olhos verdes se encontraram com os azuis do garoto que agora estava sentado ao seu lado. A bruxa observou cada centímetro do rosto quadrado do jovem, que parecia ter sido esculpido para se assemelhar a um Deus grego, descendo seus olhos para os largos braços do moreno, mas logo voltando a encara-lo.

— Deveria parar com isso – Um sorriso travesso formava-se no rosto de Iskra – As pessoas vão começar a achar que está me perseguindo.

O moreno encarou a loira enquanto ajeitava as vestes, mas sem tirar os olhos desta.

— Todos sabem que é você quem me persegue – Rebateu o jovem retribuindo o mesmo sorriso travesso para a menina.

Iskra soltou um leve e alto riso enquanto observava cada centímetro do rosto do jovem ponderando o que deveria ser dito. A bruxa mordeu o lábio inferior, ainda o encarando, mas desviou seus olhos para seu físico musculoso, no entanto ela nada disse, apenas ficou ali o observando a luz do luar.

A escuridão já havia tomado conta do local, fazendo com que a luz do luar iluminasse ambos os estudantes que se encaravam como se estivessem se divertindo com a situação. Os cabelos dourados da menina pareciam estar mais claros que o comum, devido à falta de luz do local, fazendo-os parecerem brancos e quase se assemelharem ao seu tom de pele.

— Você sonha com isto, não é mesmo? – A menina respirou fundo pela segunda vez na noite, enquanto voltava seu olhar para a embarcação mudando completamente sua expressão.

— Você não está pensando em ir até lá? Ou está?

Iskra observou a embarcação esquelética por um longo minuto antes de desviar seus olhos para o jovem ao seu lado, contudo havia algo diferente em seu olhar e suas feições que a pouco eram sorridentes e divertidas, era como se a graça da piada tivesse acabado e a garota fosse obrigada a retornar à realidade.

— Ainda não é o momento certo, Zi...

O jovem ergueu uma de suas sobrancelhas negras enquanto encarava a menina que o olhava com uma expressão entediada.

Ambos ficaram em silencio por alguns minutos enquanto olhavam para o mesmo local, era como se mesmo em silencio a presença um do outro fosse suficiente para eles, fazendo com que o silencio deles não se tornasse um silencio desconfortável como geralmente acontecia com as pessoas, afinal ambos conheciam-se desde o primeiro ano, então era algo fácil para Iskra saber o que Zion estava pensando, porem o inverso era mais difícil, pois mesmo sendo muito próximos a menina era o tipo de pessoa extremamente reservada e enigmática, o tipo de pessoa que preferia guardar seus sentimentos e problemas para si, talvez um mecanismo de proteção, ou talvez pelo simples fato de achar que não era da conta das outras pessoas, ou por simplesmente não querer incomodar tais pessoas com problemas que não eram delas. O fato é que bruxa era o tipo de pessoa que precisava ser sacudida e pressionada para se abrir com alguém, onde Zion era um dos poucos que sabia o momento certo de faze-la se abrir, e o momento de ficar calado ao seu lado quando esta precisava.

— Aconteceu algo? – A voz grossa do jovem cortou o ar fazendo com que a loura acordasse de seus devaneios.

— Não... Quer dizer... Eu não sei... Meus pais... – A menina fez uma pausa enquanto parecia ponderar se devia ou não prosseguir - Eles mandaram minha irmã para Hogwarts...

O bruxo analisou cada detalhe delicadamente trabalhado do rosto da menina, enquanto ponderava o que devia ser dito, para não acabar falando o que não devia, perdendo-se em seu olhar melancólico por um longo minuto.

O jovem engoliu em seco.

— Família é algo complicado... Mas porque a mandaram para Hogwarts ao invés de manda-la para cá? – A voz de Zion era firme e segura, dando o ar de confiança necessário a qualquer um que precisasse.

A bruxa mordeu seu lábio inferior, provavelmente na tentativa falha de reprimir para si algumas palavras.

— Eles dizem que Lieve é fraca, e que morreria aqui... Sem contar que dizem que ela me atrapalharia... Porque sabe... Ela é minha irmã, obviamente eu cuidaria dela...

— E como você se sente sobre isso? Está com ciúmes? Queria ter ido para Hogwarts?

Iskra arregalou os olhos enquanto encarava o amigo, a menina arqueou a sobrancelha loura parecendo estar processando a pergunta do mesmo, quase como se estivesse incrédula com tamanha suposição.

— O que? Hogwarts? Oh! Por Merlin, não! Nem em um milhão de anos! – Exclamou ela levantando sua voz um pouco mais do que gostaria, fazendo com que seu sotaque russo que era quase imperceptível se sobressaísse, causando em um largo sorriso no rosto de Zion que a olhava curioso – É só que... – A loura respirou fundo mais uma vez - Minha família tem a estranha crença de acreditar que a filha ou filho primogênito é sempre o mais poderoso...

O moreno observava a menina que mantinha seus olhos perdidos na embarcação ao fundo.

— Eles estão certo?

Iskra sorriu.

— Minha família nunca errou... Até agora... Mas este não é o ponto... Esquece... Você não entenderia...

— O que eu não entenderia exatamente? Ser o legado da família? Ter todo esse peso nas costas? Ter medo de fracassar? Sou filho único, se lembra? Acho que sei bem o que você está falando – Zion pôde parecer um pouco ríspido com suas palavras, mas aquilo foi o suficiente para fazer com que a loura voltasse sua atenção e seus olhos para ele.

A menina o olhou de certa forma sem graça com a sua insinuação, e quando abriu seus lábios, o bruxo fechou suavemente seus olhos enquanto balançava suave e negativamente sua cabeça, fazendo com que a bruxa tornasse a fechar seus lábios. Aquilo poderia parecer estranho para qualquer um que visse de fora, poderia até mesmo parecer uma pequena briga, mas Iskra sabia bem que aquele era o jeito do garoto de dizer que estava tudo bem, e desta forma eles se entendiam, eles sempre se entenderam, no entanto, este simples gesto fez com que o silencio voltasse a tomar conta do ambiente, fazendo com que a bruxa fosse transportada para o exato momento em que havia conhecido o garoto, a bruxa não sabia o porquê, mas lá estava ela, se lembrando exatamente do primeiro momento em que havia cruzado com o bruxo, aquilo havia sido em seu primeiro ano em Durmstrang...

(...)

O fim da tarde estava se aproximando, porem a bruxa sabia que ainda possuía algum tempo antes que a total escuridão tomasse conta do local. O sol poente refletia-se no enorme lago negro enquanto batia no rosto da menina, mas sem sega-la com a sua luz.

Os cabelos de Iskra pareciam estar mais dourados do que o comum, eles eram longos e batiam contra sua cintura, enquanto esta se movimentava de um lado para o outro atacando um arvore qualquer com seu florete. Os pés da menina se moviam tão veloz quanto seus braços, mas algo em seus movimentos pareciam extremamente desajeitados, o que resultava em sua queda constante, entretanto isso não parecia desmotiva-la, pois a cada queda que esta sofria, era como se seu olhar mostrasse uma confiança e motivação diferente, algo difícil de se encontrar em qualquer pessoa, algo que fez com que o um pequeno menino ficasse ali por horas a observando treinar.

— Não irá conseguir vencer ninguém desse jeito – Disse o jovem aproximando-se da loira que encontrava-se completamente ofegante.

Todos os músculos de seu corpo estavam doloridos, porem assim como as quedas isso não parecia que iria para-la, então sem dizer uma palavra sequer e ignorando completamente o menino, a bruxa respirou alto mostrando para o garoto que estava profundamente incomodada com a presença do mesmo, que simplesmente sorriu de lado enquanto observava os movimentos rápidos e desajeitados da pequena.

— O que pensa que está fazendo? – Vociferou Iskra no mesmo instante em que o menino havia segurado sua mão impedindo-a de prosseguir com o que quer que fosse aquilo que estava fazendo.

O bruxo a encarou por um longo segundo, observando cada detalhe da pequena que a aquela luz solar parecia um anjo, um anjo coberto de lama, mas ainda sim um anjo, o mesmo desceu seus olhos para as vestes da menina parando na altura de seu pescoço onde havia uma marca profundo de corte, a marca já estava totalmente cicatrizada provavelmente por algum feitiço, mas mesmo assim o sangue ainda era terrivelmente visível no colarinho de seu uniforme de esgrima bege.

— Alguém a machucou... – Constatou o menino - É por isso que está desesperadamente tentando aprender esgrima...

— Eu sou uma bruxa! Não deveria lutar fisicamente... – A menina bufou – Isso é ridículo...

O pequeno limitou-se a respirar fundo enquanto lentamente soltava o aperto do punho da menina e falava lentamente e cautelosamente.

— Eu irei ajuda-la com isto... A propósito, meu nome é Zion, Zion Fleamont.

A menina o olhou desconfiada, mas apesar de dar um passo para trás no mesmo instante em que o garoto a saltara, não houve protesto de sua parte.

— Iskra... Meu nome é Iskra Nastya Mikhailovna... “

(...)

Zion cocou a garganta quebrando o silencio, e voltando a atenção da menina para si.

— Ficou sabendo da menina nova? – Iskra voltou sua atenção ao menino erguendo as suas sobrancelhas louras, enquanto com apenas um olhar encorajava o bruxo a prosseguir – Dizem que ela matou um bando de Trouxas...

A menina estudou cada movimento do jovem meticulosamente, no mesmo instante em que processava as informações que havia acabado de receber.

— Sabe que tenho coisas mais importantes a fazer do que ficar a par das fofocas de Durmstrang...

— Como por exemplo? Ficar parada observando uma embarcação fantasma? – Zombou Zion.

Iskra mediu o menino enquanto um sorriso travesso brincava em seus lábios rosados, a menina parecia se divertir com as coisas que passavam em sua mente, mas ela nada disse, a loura simplesmente retirou suas botas, suas meias e se ergueu batendo em suas vestes para retirar qualquer grama que pudesse ter ficado nesta, e tão rápido quanto havia levantado a mesma levou suavemente seus dedos para os botões laterais de seu casaco de pele marrom, que na verdade era o uniforme da escola, fazendo com que o tecido marrom e pesado caísse aos seus pés agora nus, onde logo em seguida a loura fez o mesmo com sua blusa e sua saia, ficando apenas de roupa intima em frente ao bruxo que a olhava com curiosidade. Iskra mordeu seu lábio inferior enquanto começava a encaminhar-se em direção ao lago, e conforme ia se aproximando era como se a leve brisa fosse ficando cada vez mais gélida, mas sua atenção logo fora tomada pelas aguas geladas tocando seus pés, um frio percorreu lhe por toda espinha pelo fato de seu corpo estar quente, mas a bruxa não parou de andar até que encontrava-se quase que totalmente submersa pelas aguas negras do lago, deixando somente sua cabeça para fora.

— Zion! – Chamou a menina virando-se em direção a este enquanto falava alto para ter a certeza que o bruxo pudesse ouvi-la - Você sabia que a primeira diretora e fundadora desta escola morreu afogada, aqui, neste lago? – Logo após essas palavras a menina simplesmente submergiu sua cabeça no lago, desaparecendo de vista.

Iskra não soube precisar por quanto tempo ficou ali submergida, mas o fato é que a verdade era que a menina estava ali testando sua resistência, estava ali querendo saber quanto tempo aguentava, mas toda sua concentração e determinação foram quebradas no mesmo instante em que sentira braços fortes envolverem sua cintura e a puxarem para a superfície.

— Você perdeu o juízo? – Perguntou Zion que estava ofegante e completamente vestido com o uniforme, enquanto segurava firmemente a bruxa que já era pequena, e em seus braços musculosos parecia menor ainda.

Iskra começou a rir com a imagem do menino vindo correndo ao seu resgate, mas esta risada não durou muito, pois a bruxa ouvira o som de galhos se quebrando fazendo com que ambos se virassem quase que instantaneamente, mas mesmo assim o bruxo não havia a soltado.

— Era a menina nova? – Perguntou Zion observando a figura ir embora.

— Sim...

— Ela estava nos observando? Que menina estranha...

Iskra deu de ombros.

— Gostei do casaco dela – Disse a bruxa se desvencilhando dos braços de Zion e indo em direção a margem para pegar suas roupas e sair dali, mas não sem antes bater levemente a mão no lago para espirrar água no rosto do amigo – Ao menos ela deixou minhas vestes – Continuou a menina sorrindo e pegando sua varinha no bolso de seu casaco, para assim poder se secar.


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Notas finais do capítulo

Olá leitores, como estão? Espero que estejam gostando da nossa história, para mais informações sobre nossos personagens segue o link do nosso faceclaim: https://durmstrangtales.tumblr.com/chars



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