No caminho para casa, Kara estava com a mente tumultuada com o peso da decisão que deveria tomar, o que fez com que ela mais de uma vez quase batesse em algum prédio. Ela desceu em um beco vazio, atrás do prédio onde morava, sabendo que seria arriscado demais entrar por sua janela vestida em seu uniforme, principalmente estando distraída como estava.

A primeira coisa que fez quando entrou pela porta de seu apartamento foi mandar mensagem para sua irmã pedindo para que ela a encontrasse assim que saísse do serviço. Sabia que Alex seria sincera caso aquilo parecesse uma má ideia.

Ela sentou-se em seu sofá, enrolada em um cobertor, e começou a fazer uma lista mental de prós e contras. Não sabia se tinha a responsabilidade e maturidade necessária para cuidar de uma criança, principalmente uma ainda tão nova, mas ela sabia mais que ninguém o quanto alguém com poderes parecidos com os seus e que entendesse todos os problemas e dificuldades que ela passou.

Alex chegou depois do final de seu horário de serviço, carregando comida e vinho (mais para si própria que para a irmã, já que o álcool não a afetava). A ruiva entrou no apartamento, encontrando Kara ainda no sofá, perdida em seus pensamentos.

—Eu trouxe comida. – Ela colocou tudo na mesa de centro e sentando-se no chão.

—Quando você chegou?

—Está tão distraída assim? – a loira deu de ombros. – O que aconteceu?

—Não sei como começar a te explicar.

—Talvez pelo começo, Kara. – Alex segurou a mão da irmã. – Como foi em Topeka?

—Tia Martha me ofereceu a guarda de Jon. – a ruiva se espantou de imediato, não tendo certeza alguma de que havia escutado corretamente. – Ela disse que não teria condições de cuidar de outra criança na idade dela e que seria difícil encontrar alguém de confiança para ajudá-la.

—Não é mentira alguma, mas mesmo assim, cuidar de Jon seria uma tremenda responsabilidade. – Kara parecia ultrajada. – Não quer dizer que não acho que você não tenha a responsabilidade suficiente para isso, mas é uma vida que estamos falando aqui. É algo a ser pensado com cuidado.

—Acha que eu não sei disso, Alex? – a loira respirou fundo, se jogando ainda mais no sofá. – Mas eu levo em consideração o fato de não ter Clark perto de mim quando precisei dele e sinto que estar perto de Jon seria a coisa certa. E tia Martha tem razão, ela não conseguiria cuidar dele e encontrar alguém de confiança seria difícil. Eu sei que cuidar de uma criança não é fácil, mas eu estou disposta a tentar por ele.

—Kara...

—Eu sei, e é por isso que eu não aceitei de primeira, Alex. – a ruiva parecia preocupada. – Eu vou precisar de ajuda, principalmente porque eu não sei nada sobre como cuidar de um bebê. Achei que conversar com você seria a melhor opção.

—Se você acha que seria o melhor para ele e para você também eu estou ao seu lado no que você precisar. – a kryptoniana sorriu para a irmã. – Aposto que mamãe também estará, assim como nossos amigos. Só não faça nada precipitadamente. Tem mais que apenas você para sair machucado nisso.

—Eu sei. – As irmãs se abraçaram no sofá. – Obrigada Alex. Não sei o que faria sem você.

***

Kara levou o resto da semana refletindo sobre o assunto e cada vez mais a certeza de que cuidar Jon era a coisa certa a se fazer se firmava em si. Ela havia conversado com Kelly e Eliza, tentando colocar tudo em ordem. Sabia que mudanças haviam de serem feitas em seu apartamento para acomodar uma criança pequena e que precisaria adaptar seus horários de forma que sempre alguém de confiança estivesse com ele, de preferência Alex.

No dia de sua volta para Topeka, Kara voou com uma determinação nunca vista antes. Ela sabia que sua escolha era a certa e que teria toda a ajuda possível para tal. Ao se aproximar da casa de Martha, a loira já podia escutar os gritos de felicidade de Jon, que brincava com a avó.

A loira pousou na casa da mulher e sorriu para o bebê, que se jogou em seu colo assim que a viu. Ela brincou com a pequena criança, soprando delicadamente sua barriga, fazendo com que gargalhasse alto.

—É bom te ver novamente, Kara. – Martha disse.

—É bom ver vocês também.

Elas sentaram-se nos sofás macios, Kara com o Jon ainda em seu colo. A mulher mais velha a olhava com um sorriso em seus lábios, observando a forma como ambos interagiam.

—Você fez a sua escolha?

—Eu... é... – A loira se perdeu por um momento. – Sim.

—E qual é?

—Qual... é?

—Não precisa ficar nervosa. – Martha sorriu para a outra mulher. – Se a sua escolha foi de não ficar com Jon, não tem problema...

—Não! – Kara interrompeu a senhora. – Muito pelo contrário, eu aceito cuidar de Jon. Senti muita falta de Clark enquanto crescia, da ajuda dele. Amo a minha família, não me entenda errado tia Martha, mas...

—Clark também sentiu falta de alguém que o entendesse e o ajudasse com seus poderes.

Jon, que até o momento estava deitado no colo de Kara, chupando seu dedo em silencio, se animou e começou a pular, segurando fortemente nos cabelos loiros da mesma. A avó riu da reação da criança e se aproximou de ambos, passando a mão carinhosamente na cabeça do menino.

—Ele gosta de você. – ela disse, sorrindo para ambos. – Já é um grande começo.

—A senhora sabe que poderá visita-lo quando quiser, não é?

—Eu não me preocupo com isso.

—E prometo sempre lembra-lo da mãe e do pai incrível que ele tinha. – a loira limpou a lagrima que escorreu por seu rosto.

—Eu sei disso. – Martha limpou suas lágrimas também. – Eu não confiaria em outra pessoa que não você, Kara Zor-El.

Os três se abraçaram e permaneceram um tempo assim, até que Jon começou a resmungar. Então as mulheres tomaram a decisão de que Kara iria na frente com o bebê e Martha enviaria as coisas que ficassem para trás depois.  A despedida não foi fácil para ninguém, mas menos ainda para as duas mulheres, já que a criança ainda era pequena demais para entender o que estava acontecendo.

Martha prometeu visitar o neto regularmente, despedindo-se com beijos do mesmo, e então Supergirl partiu pelos céus, carregando o pequeno bebê seguro em seus braços e uma bolsa com o necessário para os próximos dias.

Uma nova fase de sua vida estava começando.